De linhas de fuga

 


Por Maria Lucia Solla

Ouça o texto De linhas de fuga na voz da autora

Vida e horizonte

Eu já tinha um assunto arquitetado para conversar com você, hoje. Ia falar da atitude de superioridade que muitas pessoas portam, como traje de gala, para circularem pela vida. Mas algo aconteceu, e decidi mudar o foco.

Mais uma criança morreu, esquecida no carro.

Sua idade não importa aqui. O local e o nome dos pais tampouco. O que grita é o modelo de vida que escolhemos, e que nos prende em suas teias e se alimenta de nós e de tudo e todos que amamos.

Crescemos nos preparando para a Vida, e nos preparamos tanto, e tão bem, que acabamos não tendo tempo de viver. Vida acaba sendo um sonho perseguido, mas raras vezes realizado.

Vida é vista como algo que está para chegar
para que a gente possa participar

E é lá que fica estacionada nossa atenção. Longe de nós, longe da vida de verdade. A que está acontecendo aqui, e da qual fazemos parte.

alô
é preciso prestar atenção
Vida não é só a que passa na televisão

Quando eu terminar este curso… quando tiver mais dinheiro, um carro… se ele me amasse… se eu pudesse… se eu fosse mais alto, mais baixo, mais gordo, mais magro, mais bonito, mais feio… mais rico, mais pobre… quando eu chegar lá… quando sair de lá…

é um eterno ensaiar
sem nunca no palco pisar
é uma lista interminável de sonhos
desculpa atrás de desculpa
de medo de participar

Objetivos são necessários, é claro. São pontos no futuro para onde dirigimos nossas linhas de fuga. Agora, é preciso esclarecer que linha de fuga não é roteiro de escape, mas um mapa para não perdermos a perspectiva. É a partir delas, das linhas de fuga, que desenhamos projetos e elencamos o que é preciso para a sua realização.

Tem mais, objetivo e plano de vida podem ser tão perigosos quanto úteis…

como a faca, o remédio, o amor
me prove o contrário você
se puder
por favor

Ouço aqui e ali, e certamente você também já ouviu, a frase: Quando me aposentar, vou morar na praia e começar a viver.

É triste. Muito triste.

E você, o que pensa disso?

Se não pensou ainda, pense; ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira, ministra curso de comunicação e expressão e escreve no Blog do Mílton Jung aos domingos. Ou seja, é protagonista desta Vida há muito tempo.

16 comentários sobre “De linhas de fuga

  1. Putz! Esqueci o celular
    Putz! Esqueci meus óculos
    Putz! Esqueci de passar perfume
    Putz! Esqueci meu relógio
    Putz! Esqueci do meu Lap Top

    Tudo bem, só vou me atrasar um pouco, isso não afetará meu dia, muito menos minha vida. Para quem mora em uma grande cidade, estes pequenos esquecimentos que causam pequenos atrasos, são normais e facilmente perdoados.

    Putz! Esqueci meu filho no carro

    Tudo mal, falta de amor e atenção a um pequeno, que pode interromper uma grande vida. Erro que jamais será perdoado; nem mesmo vc se perdoará enquanto viver.

    Vc pode esquecer tudo que é material em sua vida. Só não pode esquecer que seu “ato” se materializou em vida, e esta nova vida é de sua responsabilidade. Se não quer responsabilidade, seja responsável e “atue” prevenido. Caso contrário n]ao terá moral para viver qualquer nova vida que lhe apareça. È muito bom comprar um bom espelho e poder olhar sem receio a imagem que durante a vida vc talhou. Viu, seu (a) cara de pau!

    Malu, é mesmo muito estranho ouvir: Quando me aposentar, vou morar na praia e começar a viver

    Eu prefiro o título do livro da escritora e, acho que mesmo esquecendo algumas letras, não devemos perder a oportunidade de reescrever nossa istoria.

    Bom domingo

  2. Querida Lu´, por alguma razão técnica , creio , meus comentários há 2 semanas não têm entrado , mas continuo tentando , especialmente , hoje , pois concordei com tudo que dissestes , sobre planos , rotas e fugas . É certo que sem
    objetivos , nada feito , mas é fundamental , não esquecermos
    que vida é o presente , e que temos de mais concreto é o aqui e o agora .
    Então , sem perder o foco , sejamos todos um pouco “cigarras”.
    Bjs , saudosos , Maryur

  3. É triste. Muito triste.
    Porque na verdade, a única vida que existe é esta que está acontecendo agora.
    Este exato momento presente. E ele é realmente um presente.
    O amanhã não existe ainda. Talvez nunca ocorra.
    E o passado já foi.

    Um abraço “agora”!
    eloiza

  4. Bom dia minha querida escrivinhadora dos magnificos textos sempre aos domingos
    Maria Lucia ou Mike Lima.

    Treinei judô durante muitos anos e outras modalidades de artes marciais.

    Durante este meu aprendizado aprendi que para conseguirmos dar um “golpe certeiro no adversário” o famoso IPON,
    Pàra tanto, temos que seguir os princípios:

    -Proposição
    -Deliberação
    -Decisão
    -AÇÃO!

    Quer dizer:

    De nada adianta pararmos na decisão não é verdade?

    Bjus e bom domingo apesar de não estar cavok, vamos mentalmente fazê-lo cavok.

    Armando Italo

  5. Ah! Maryur minha amiga querida,

    eu mesma tive problemas para responder os comentários. É responsabilidade da plataforma do site que tenta se desviar dos ataques de hackers.

    E meu time tá ganhando!! 2X1.

    Mas sabe que quando terminei o texto pensei na cigarra e na formiga?!

    A gente vai sendo moldado…

    Caramba! o Botafogo empatou…

    … moldado e depois põem a gente no forno para solidificar e a gente acredita que é aquilo no que formataram a gente.

    Triste! Muito triste!

    Beijo e ótima semana,
    lu

  6. Armando Ítalo ou Alfa India November,

    Pois é isso que vc disse. Não é uma fórmula simples?

    1. Você sente o impulso de ir numa certa direção.
    2. Avalia, pois nunca é de graça; tem sempre o ganha e perde na situação.
    3. Se você sente que tem cacife para bancar o jogo, decide que vai naquela direção.
    4. Depois disso é dó dar o 1o. passo que vai fazer os 100 primeiros se transformarem em 99.

    Mas a covardia campeia…

    Beijo,
    ml

  7. Maria Lucia,
    Ufa!!! muito bom ler e ouvir tudo isto enquanto há tempo….o Marcel tem toda razão suas palavras foram precisas….vou compartilhar com as pessoas que amo….
    beijos…

  8. Oi Maria Lúcia,
    Hoje em dia em qualquer roda de conversa, em qualquer lugar, é muito comum o comentário : “eu não julgo ninguém” Esta frase (que virou frase pronta) tem seu sentido, porém, acho devemos pensar o que está atrás dela, porque a repetimos tanto, o que estamos querendo falar para nós mesmos ? Meu, o ser humano está sem breque, em todas as áreas.
    Beijos, rosa

  9. Rosa,

    é verdade! Mas, o segredo está realmente aí. A gente precisa exercitar com a gente mesmo, pra poder levar o comportamento novo passear.
    Como a gente se poda em nome do Manual de Sobrevivência, herdado sabe-se lá de quem e com edição onde ainda se escrevia com “ph”, quando o real querer brota e não está listado ali, a gente se flagela, morre de vergonha de si mesmo e se arranha até que o “real querer” morra sufocado.. Enquanto isso, a gente vai crucificando aqueles que ousam se deixar fluir com o fluir da vida.

    Triste. Muito triste!

    Beijo e obrigada pelo teu carinho,
    ml

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