Cuecas e mudanças eleitorais

 

Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

Dinheiro em cuecas, nas meias. Os acusados, previsivelmente medíocres e disléxicos, se valendo de um português sofrível, processam suas habituais negativas estúpidas, em nítido deboche da inteligência das pessoas. Impeachment? Depende de política, de relação maioria x minoria. Pode se consumar? Depende de maioria x minoria. Maioria x minoria? Depende da maioria.
Conviria lembrar que essa vergonhosa cronologia de escândalos que assola o país foi antecedida de episódios que, embora afastados no tempo, não podem ser relegados.

Sem compromisso com rigores cronológicos, vale localizar aquele que se converteu num clássico: o caso dos deputados pianistas, flagrados por fotógrafos em 13 de junho de 1985 quando votavam por seus colegas de Plenário. Depois vieram todos aqueles das décadas de 80, 90 e os anos do terceiro milênio. O episódio do Mensalão deveria se constituir num ponto de inflexão para determinar novas posturas. Contudo, isso não aconteceu, vez que os casos de corrupção seguem espoucando por todo o país.

Ante tais antecedentes, o episódio do Distrito Federal foi apenas mais um na contabilidade. Eliminar a corrupção é tarefa impossível. Todavia, qualificar parlamentos e Governos é possível. Como? Votando melhor, com mais lucidez e menos tolerância aos despreparados e oportunistas.

A cada eleição, especialmente em vista da próxima, para o Congresso Nacional, esta possibilidade efetivamente se renova. Afinal, “Infelizmente, vivenciamos tempos muito estranhos, em que se tornou lugar-comum falar dos descalabros que, envolvendo a vida pública, infiltraram na população brasileira – composta, na maior parte, de gente ordeira e honesta – um misto de revolta, desprezo e até mesmo repugnância. São tantas e tão deslavadas as mentiras, tão grosseiras as justificativas, tão grande a falta de escrúpulos que já não se pode cogitar somente de uma crise de valores, senão de um fosso moral e ético que parece dividir o País em dois segmentos estanques – o da corrupção, seduzido pelo projeto de alcançar o poder de uma forma ilimitada e duradoura, e o da grande massa comandada que, apesar do mau exemplo, esforça-se para sobreviver e progredir”, já dizia o Ministro Marco Aurélio em discurso de posse no TSE.

Como se vive num país constitucionalmente organizado, somente por meio de alterações constitucionais e legais é que se poderá vislumbrar a modificação deste sistema que tolera abusos e acintosas prerrogativas a políticos irresponsáveis e imaturos, alguns verdadeiros psicopatas e delinqüentes.

Sugestões? Tenho várias.

As 10 primeiras:

Eliminação da reeleição para todos os mandatos executivos (Presidente, Governadores, Prefeitos e seus vices);
Limitação dos mandatos parlamentares a apenas 3 legislaturas;
Redução drástica das publicidades institucionais dos Poderes Públicos, verdadeiros gastos de dinheiro público em pedagogias inúteis;
Diminuição da Câmara dos Deputados (a PEC 280/08, sob convincente Justificação, reduz a atual composição de 513 para 250 parlamentares, ou seja, praticamente à metade);
Eliminação do Senado Federal e aproveitamento de sua estrutura e servidores para outras finalidades prementes;
Conversão das milhagens aéreas dos parlamentares num fundo de passagens do Congresso Nacional, disponível via controle pela internet e sob relatórios mensais ao TCU;
Introdução de um critério estabelecendo o exame da vida pregressa para as candidaturas, em todos os níveis;
Eliminação do Fundo Partidário gerenciado pelo TSE a partir do Tesouro Nacional (mais de 1 bilhão de Reais foram repassados aos partidos políticos nos últimos 13 anos);
Introdução de um mecanismo constitucional e outro na Lei das Eleições permitindo a investigação e condenação de infratores por práticas de doações e financiamentos ilícitos e criminosos de campanhas eleitorais a partir do momento da descoberta do fato e não apenas nos 15 dias após a diplomação, como vigora hoje;
Regulamentação e profissionalização dos lobbies.

Isto para começar.

Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral e autor do livro “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung dando publicidade as regras do jogo político.

7 comentários sobre “Cuecas e mudanças eleitorais

  1. Concordo em quase toda a explanação do Dr. Antonio Augusto, mas quero ressaltar o político psicopata, essa infelizmente é uma realidade triste para a municipalidade, há casos em que um vereador “fica de mal” de outro vereador se esse segundo invadir a região dele. Ora, se foi eleito pela Cidade, deve legislar, fiscalizar o Exceutivo e seus órgãos em toda a cidade.Concordo que tenhamos representantes que se identificam mais com essa ou aquela região, mas devemos conhecer o trabalho e ter contato com outros até para que a sugerida troca de representantes ocorre de fato.

  2. Não podemos esquecer que os politicos da cidade de São Paulo, do alto escalão, prefeito, etc estão cojitando em aumentar os seus salarios por volta acima dos DUZENTOS POR CENTO.

    Na semana passada foi veiculado na midia que o prefeito Cassab & Cia Ltda., solicitou aprovação para gastar, jogar na lata do lixo, desessete milhoes de reais, destinada a publicidade!

    Transporte publico, saude publica, enchentes, burqqueira, lixão a céu aberto que se tornou a cidade de São Paulo, favelização, e mais projetos de total interesse publico, como sempre ficarão para depois e o povo que se dane.

    Vale apena assistir esse video
    Já diz tudo!

    http://charges.uol.com.br/2009/12/02/brasileiros-cantam-saudosa-maloca/

  3. Antonio Augusto Mayer,

    Creio que todas suas sugestões sejam sonhadas por todos que tem bom senso.

    Muito interessante a informação sobre o Fundo Partidário. Com certeza é mais uma informação desconhecida por muitos. Eu era um deles.

  4. Segundo o renomado psiquiatra argentino Hugo Marietán, o psicopata político “não muda”, daí os mesmos personagens incidirem nas mesmas condutas reprováveis. Quanto ao Fundo Partidário, que decorre de lei federal, entendo-o como a fonte oficial da mediocridade política, eis que repassa quantias mensais aos Diretórios Nacionais dos Partidos Políticos. Vamos seguir debatendo a Extinção do Senado, uma Casa obsoleta, retórica e onerosa.
    Antônio Augusto.

  5. Chegamos no exato momento de parar para pensarmos em estados independentes
    Ou retornar a monarquia, devolver o Brasil para Portugal e pedir desculpas pelos estragos

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