Pneu velho tem solução

 

Há cerca de 100 milhões de pneus descartados que se transformam em risco ao meio ambiente. Empresas de ônibus, entidades de classe e indústria são importantes para o trabalho de reciclagem.

Pneus podem ser reciclados


Por Adamo Bazani

Uma empresa com mais ou menos 200 veículos dispensa cerca de 150 pneus por mês. Este é o segundo maior gasto de uma frota de ônibus. Com a reforma, algumas ainda conseguem reduzir o custo em até quatro vezes se comparar com o quanto precisariam desembolsar comprando novos.

O Brasil é o segundo país no mundo em número de recauchutagem. Já em produção de pneus novos para ônibus e caminhões, é o quinto, fica atrás de Estados Unidos, Japão, China e Coréia.

Existem duas restrições para este trabalho de recuperação dos pneus usados. Primeiro que cada pneu pode ser reformado por três vezes, no máximo. No processo se aproveita a carcaça (a estrutura), reforçando-a e substituindo a banda de rodagem, a parte que entra em contato com o solo. Segundo, a resolução 316 do Contran – Conselho Nacional de Trânsito – , proíbe a utilização de pneus recauchutados no eixo dianteiro. Isso porque, apesar de existirem empresas que fazem um ótimo serviço de recauchutagem, há outras que a preços mais baixos não oferecem tanta qualidade. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária do Estado de São Paulo, as condições dos pneus são responsáveis por boa parte dos acidentes envolvendo veículos pesados: ônibus e caminhões.

Muitas empresas de ônibus também tem dificuldade para fazer o descarte dos pneus. Estimativa da ANIP – Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos – , que reúne grandes fabricantes do setor, dá conta que pelo menos 100 milhões de pneus (não só de ônibus) estejam espalhados em terrenos baldios, áreas de mananciais, leitos de rios, ferros velhos e fundos de garagens de transportadores de passageiros e de cargas.

A ANIP mantém um serviço especial de postos de coleta de pneus inutilizados que tem agradado empresas do setor de transporte público. Mesmo porque nas garagens os pneus inutilizados representam custos, risco de contaminação (atenção para dengue) e ocupação inútil de espaço físico.

Desde março de 2007, está em funcionamento a Reciclanip, uma entidade sem fins lucrativos que recebe pneus que não podem mais rodar e dão diversos destinos aos compostos, desde combustível para indústria de cimento até acessórios femininos e revestimento de piso de quadras esportivas. São mais de 300 postos em 21 estados mais o Distrito Federal. Qualquer empresa pode participar e dar um destino confiável aos pneus que não vão mais utilizar nos serviços de transportes.

A ideia pode contribuir e muito com o meio ambiente. Os pneus são importante fontes de poluição. A queima deles pode gerar mais agentes nocivos no meio ambiente do que um dia inteiro de funcionamento de um ônibus convencional a diesel. Por ser derivado de petróleo, um pneu possui as mesmas características que um combustível, além de ter outros agentes usados em sua fabricação.

pneu matéria

A decomposição do pneu pode demorar de 300 a 600 anos. De acordo com a Reciclanip, os pneus tem diversas aplicações:

• Co-processamento: É o destino de 84% dos pneus reciclados pela entidade. Por ser de alto poder calorífero, são usados como combustíveis em fornos para a produção de cimento. Os fornos possuem equipamentos para tratamento da fumaça emitida.
• Laminação: Os pneus são cortados em lâminas e viram produtos como solas de sapato, cintos acessórios e até tubos para condução de água. Representa 4 por cento do material de pneu reciclado
• Asfalto-borracha: Os pneus são triturados e viram pó de borracha que é misturado a massa asfáltica, dando-lhe um rendimento maior
• Artefatos de Borracha: Servem para fazer tapetes de automóveis, piso de quadra poliesportiva revestimento acústico e até na produção de peças para ônibus. O pneu sai do ônibus e volta para ônibus de outra forma. Representa 12% do tipo de reciclagem.

Por lei e norma do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente -, os fabricantes de pneus são obrigados a dar destinação para cinco pneus velhos a cada quatro fabricados e quatro pneus velhos a cada três recauchutados. A lei, porém, cobra destinação correta apenas para os fabricantes e não aos demais consumidores de grande porte.

A indústria siderúrgica também se beneficia do material que pode ser retirado dos pneus usados. Cerca de 25% do peso de um pneu de ônibus é composto de aço

As próprias empresas desenvolvem seus próprios programas ou participarm de projetos para reduzir o impacto ambiental com os pneus que não podem mais ser usados. A Viação Nossa Senhora do Amparo, de Maricá, no Rio de Janeiro, retira por mês 150 pneus de sua frota de 180 ônibus e envia para órgãos credenciados pelo governo estadual do Rio.

A Catarinense, de Santa Catarina, tem acordo para fornecimento de pneus a empresas homologadas por órgãos ambientais federais e estaduais, já que a empresa tem garagens e pontos de apoio em vários estados.

Em Pelotas, no Rio Grande do sul, uma parceria entre universidades, empresas e poder público é responsável pela fabricação dos Ecotubos, canos condutores de água feitos com a borracha dos pneus.

Outra alternativa usada pelas empresas de ônibus traz uma solução ecológica e ao mesmo tempo lucrativa. É o uso de rodas forjadas de alumínio. São mais leves e flexíveis. Dependendo da configuração do ônibus podem reduzir o peso bruto do veículo em até meia tonelada. Isso gera economia com manutenção, de combustível e pneus, aumentando a vida útil do composto pneumático.

Apesar de poderem custar até cinco vezes mais que a roda de aço, muitas empresas afirmam que a economia posterior vale a pena. É o caso do Grupo Real – que possui linhas do Centro-Oeste para todas as regiões do Brasil. O grupo é controlador da Real Expresso, uma das gigantes do setor.

Por telefone, o gerente de manutenção da Real Expresso, Paulo Sérgio Vilella, enumera as vantagens da roda forjada de alumínio.

“Poupa mais pneu e combustível porque deixa o ônibus mais leve. Além disso, sente menos os impactos dos buracos nas vias por ser mais flexível que as rodas de aço. A perda das rodas de alumínio por impacto se aproximam de zero no ano”.

Paulo Sérgio Vilella também afirmou que as rodas forjadas de alumínio conferem uma estética melhor aos ônibus

O Brasil produz, de acordo com a ANIP – Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos –, cerca de 50 milhões de pneus novos por anos para diversas aplicações, dependendo do ritmo da economia do País. A maior parte ainda ocupa áreas de mananciais, terrenos baldios e leitos de rios.

Apesar das iniciativas, ainda é feito muito pouco. Parte pela dificuldade dos empresários de ônibus, principalmente os menores, de encontrarem destinos apropriados para os pneus.

É fundamental mudar a ótica sobre a vida útil do ônibus e seus implementos. Fala-se muito em tecnologias caras e avançadas para tornar o transporte coletivo menos poluente, mas se esquece de detalhes como a forma de se descartar o material usado, como os pneus de ônibus.

Neste link você encontra os postos de coleta de pneus da Reciclanip, da ANIP.

Adamo Bazani é jornalista da CBN e busólogo. Escreve às terças no Blog do Mílton Jung e torce por uma mundo mais limpo.

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