A Rádio Guaíba de Porto Alegre, onde comecei a trabalhar como jornalista, anunciou na sexta-feira, dia 30 de abril, o encerramento da síntese noticiosa que estava no ar desde a fundação da emissora, em 1957. Apresentador desde 1964 do noticiário que surgiu com o nome Correspondente Renner, Milton Ferretti Jung, meu pai, consagrou-se como o locutor de notícias que por mais tempo permaneceu no ar no rádio brasileiro. Seguirá na Guaíba, onde participará como comentarista de um programa esportivo, área na qual atuou dezenas de anos na função de narrador esportivo. É para ele que escrevo o texto a seguir:
Pai,
Tua história nos orgulha. Não apenas a nós que te conhecemos tão intimamente e aprendemos contigo. A todos que cresceram no Rio Grande ouvindo tua voz a pontuar os fatos mais marcantes do país e do mundo. Por muitos anos, cada vez que tocava a característica do saudoso Correspondente Renner, programa que se iniciou com a Rádio Guaíba de Porto Alegre, em 1957, sabíamos da importância do que viria a seguir. A seleção das notícias era criteriosa; a redação, precisa; e a locução irretocável.
A forma com que tu transmitias as informações oferecia credibilidade ao noticiário; acentos, vírgulas, indignações eram percebidos na respiração; a entonação das palavras e a pronúncia dos nomes estrangeiros davam a cada um deles o seu verdadeiro sentido. No ar, pelo rádio, uma aula a todos teus ouvintes, dentre os quais eu sempre estive.
Eu era um ouvinte privilegiado, sem dúvida. Enganado, também. Tu deves lembrar quando a mãe puxava nossa orelha em casa: “se tu não te comportares, guri, teu pai vai te dar uma bronca pelo rádio!”. O Christian, a Jacque e eu parávamos a bagunça pra ti escutar.
Faz algum tempo que o Renner, como o conhecemos, não está ao ar. Mudaram-lhe o nome, perdeu-se a qualidade do texto e a importância dos fatos. Recentemente, em erro estratégico, encurtaram-lhe as edições e desfiguraram até mesmo a tradicional característica.
Tu, não. Perseveravas no talento e na exigência com a performance. Que performance! Com as notícias, seguias a transmitir conhecimento, cultura e responsabilidade. Mantinhas vivo em nossa memória este patrimônio do rádio brasileiro, pois se o Correspondente Esso consagrou a síntese notíciosa, o Renner a eternizou nestes 53 anos dos quais 48 esteve sob tua apresentação.
Assim, a decisão da Rádio Guaíba de tirar de sua grade o Correspondente será incapaz de apagar este legado que é teu. É nosso, teus caros ouvintes, para sempre.
A nos consolar, assim que voltares das férias, o radio-jornalismo terá perdido sua mais bela e competente voz, mas o Grêmio terá ganhado um defensor ferrenho no programa de esportes do qual farás parte, na Guaíba.
sou um viúvo da rádio guaíba. daquela, que tinha conteúdo e profissionais que se confundiam com a história da emissora. que era zelosa por sua tradição. sou um viúvo do correspondente renner. acompanhava meu pai pelos corredores no predio antigo na caldas jr. de tanto conviver nesse ambiente, já tinha até decorado o que teu pai dizia, mal sabendo o que signficava aquele monte de siglas “…com notícias das agências France Press, UPI, Associated Press, AJB, Estado, ABR da Central do Interior do Correio do Povo…”. Enfim, lamento pela decadência e o fim desse ícone jornalístico. Fico feliz em saber que a voz inconfundivel desse gremista permanecerá no ar. Até nova ordem contrária…
Tiago, agradeço pelo registro da sua lembrança neste espaço
Nem preciso te dizer,meu filho,qual o tamanho da minha emoção ao ler o teu texto. Não tenho razão para me envergonhar das lágrimas incontidas que derramei com o que te levou a o escrever.
Um beijo
MIlton, que linda oportunidade você está tendo de fazer esse post para seu pai. abraço, Marcos
Qual a diferença essencial entre as expressões telepatia, sugestão mental, transmissão de pensamento?
Influência direta de uma mente sobre outra, sem a intervenção dos meios normais e físicos de comunicação tem uma explicação: Amor e bom senso!
Enquanto recebia a tua mensagem escrevia uma sobre o mesmo assunto .
O amor em comum pelo nosso Pai e o bom senso de saber que os ditos senhores da comunicação não vão além de uma tabelinha do Excel nos deixa em sintonia com essas coisas da vida.
Parabéns pelo belo texto, e claro GOL GOL GOL!!
Beijo
Em tempo: o rapaz que escreve aí é dono de uma voz que por muitas vezes foi confundida com a do próprio pai.
Milton. Ouço você diariamente na CBN e fiquei muito triste com o mais esse equivoco da Guaíba em fazer desaparecer uma de suas marcas registradas: a síntese noticiosa. Profissionalmente, tive uma pequena passagem pela emissora em 2007 e tive o privilégio de, calorosamente, ter sido recebido pelo teu pai, a voz do rádio, diria o Reche. Infelizmente me foi tolhida a oportunidade de estar com outro ícone, o inesquecível Amir Domingues. Era a Guaíba tomando rumos que ainda hoje me fogem à compreensão. Sou Anderson Passos, chegado a São Paulo há dois anos, cansado de dar soco em ponta de faca no minúsculo mercado da nossa terra. Aqui há mais tempo, meu irmão Everson, ex-CBN, venceu e, de alguma forma inspirado por ele, estou aqui nessa metrópole fascinante. Leve o meu fraterno abraço a esse seu pai que tanto nos orgulha. Fico sempre à tua escuta e já convencido que seguirás trajetória ainda mais bela. Abração desse gaúcho torcedor do Fluminense.
E seu irmão era “gaúcho com bota na faca”. Foi nosso colega na CBN e na Rede TV ! Que tua vinda para São Paulo seja tão vencedora quanto a dele. Sucesso e obrigado pela lembrança.
Á distãncia, não dá para entender muito bem esta estratégia de mercado tirando do ar um programa radiofônico de notícias.
De qualquer forma é mesmo o momento da justa homenagem e do respeito à história. Principalmente sendo dentro de uma nação , que dentre tantas qualidades, tem um péssimo comportamento em relação aos acervos,quer sejam materiais ou humanos.
Aos Jung um grande abraço
Eu responsabilizo a falta de referências com o passado que incapacita a avaliação do valor de marcas como a da Guaíba.
– ATENÇÃO OUVINTES, VAI FALAR O CORREPONDENTE RENNER (TRILHA) “AQUI FALA O CORREPONDENTE RENNER, EDITADO PELO DEPARTAMENTO DE JORNALISMO DA COMPANHIA JORNALISTICA CALDAS JÚNIOR, EM COLABORAÇÃO COM O CORREIO DO POVO, FOLHA DA TARDE, ASSOCIATED PRESS E UPI”
E aí seguia aquela voz límpida, segura, clara e convincente de Milton Ferreti Jung. Para mim, que literalmente me criei não somente ouvindo como inúmeras vezes o Milton Jung lendo o Renner, é algo impactante saber que o correspondente foi sacado. Quero o Milton Jung narrando aos domingos. Vou deflagar abaixo-assinado, já … Abraço fraterno aos dois Miltons.
Das narrações de futebol tmbém tenho saudade, mas quanto a estas não reclamarei porque sei que ele prefere o conforto da sala para assistir aos jogos do Grêmio.
Prezado Milton,
Primeiramente parabéns pelo belo e emocionante texto. Para se emoldurar, sem dúvida alguma, pelo gesto de carinho, respeito, reconhecimento e transparência.
Infelizmente a Rede Record demonstrou o quanto desconhece o Rio Grande do Sul, suas tradições e sua história.
Vale lembrar que a gestão anterior da Empresa Caldas Júnior também, teve papel importante nesse processo lastimável de desconstituição contribuindo para o fim de uma era. Porém, foi a Rede Record, capitaneada pelos interesses comerciais de sua Igreja Universal do Reino dos Bispos, a grande responsável pelo desmonte incompreensível da Rádio Guaíba, que apresentava um estilo extremamente elegante e diferenciado, de bom gosto, respeito e credibilidade; que com certeza não se percebe mais nas rádios do Brasil. Foi-se o correspondente do Dr. Milton, as propagandas e locuções discretas, a música orquestrada e da velha guarda de estilo “inigualável” e principalmente, aquela opção no “dial” que deixará muita saudade em muitos perante a mesmice das outras emissoras.
Não fosse a RBS diretamente interessada neste processo todo e talvez a imprensa do Rio Grande do Sul pudesse estar protestando veementemente quanto a esse verdadeiro vandalismo cultural.
Percebo ainda, que os gaúchos tem sim a noção de que a Rádio Guaíba AM/FM e o Correio do Povo são um patrimônio do RS. E o preço desta ousadia a Rede Record era colher logo ali mais adiante… Provavelmente com um final semelhante ao das Casas Bahia, nesta terra de chimangos e maragatos e não de falsos pastores aventureiros.
Abraço a família Jung!
Milton,não poderia deixar de dizer que fostes”brilhante” no que dissestes no texto sobre o pai.Tens razão quando dizes que somos “privilegiados”,pois nos criamos ouvindo aquela frase marcante dita na voz inconfundível do pai “…e atenção ouvintes vai falar o Correspondente Renner…”.Com certeza nunca iremos esquecer!!PARABÉNS!!
Sr. Milton pai.
Não tive a oportunidade de conhecer o teu trabalho, mas sou uma prova de que o teu legado é nosso, ouvintes do teu filho.
Sem sobra de duvidas a Voz e o talento do Grande Milton Ferretti Jung vai fazer falta para quem realmente tinha interesse na noticia de verdade. Ainda me lembro do meu Avô como seu radinho de pilha no ouvido escutando o Correspondente Renner, é um privilégio que infelizmente a rádio Guaíba nos tirou dos Guaibeiros.
Amigo Miltinho! Fomos colegas de “Geral”, tu na Guaíba e em na Zero Hora. A um mês de completar 50 anos, lembro saudoso do meu pai a ouvir a Rádio Guaíba, enquanto caminhávamos sob uma fina camada de geada no interior de Arroio do Meio, onde nasci, no Vale do Taquari. Sou um fanático por notícias e creio que pouquíssimos profissionais como Milton Ferretti Jung soube unir voz, credibilidade e identificação com os ouvintes. Entre teus familiares, também tive o privilégio de conviver com o Cristian, grande locutor, através das lides do porão do Palácio Piratini. Chego à conclusão de que, além de profissional de alto nível, o Milton “Correspondente Renner” Jung foi um pai exemplar. DNA de alta categoria!
GILBERTO JASPER
Jornalista – Porto Alegre/RS
Gilberto: Feliz pelas lembranças, desde suas audições do Renner até sua lide nos bastidores do futebol.
Milton, muito legal teu manifesto não só de chateação por essa surpresa péssima aprontada na última semana, mas de admiração por esse craque da locução que é o Milton Senior, que alegre digo ter a chance de encontrado duas ou três vezes pessoalmente – e tão respeitado, registre-se, que virou hors concours na premiação Prêmio Press e seu nome está no troféu concedido ao vencedor em Locutor/Apresentador de Notícias. Ouvi o “Correspondente” muito tempo nesses 28 anos de vida e sou mais um a lamentar demais a forma como foi extinto. Não me amplio no assunto por nem saber se poderia ou deveria, mas também aqui deixo o meu protesto. Um abraço e te escuto volta e meia pelos “Repórter CBN” nacionais de manhã.
Fiquei satisfeito em ler os belos textos dos filhos do grande e ilustrado radialista Milton Jung. Lembrei os velhos tempos em vocês veraneavam numa praia de nudismo, Cidreira. Entrentaot, para mim, lá permanecei vereando até hoje. Com a retirada do ar do famosso correspondente Renner, quem perde é o ouvinte. Esses pastores mercenários, que nada entendem de jornalismo e das coisas do Rio Grande, cada vez mais estão se ralando, a mesma situação é a do Correio do Povo. Sinto muita saudades, do velho Milton, do Miltinho do Júnior e da Jaque. Um abração a todos.
Décio Itiberê
Boa noite, Milton.
Li seu texto e me emocionei pelas belas palavras dedicadas ao seu pai. Sou paranaense e, durante minha infância no norte do PR, meu pai ouvia diariamente a rádio Guaíba. E, como dito acima, no momento do Correspondente Renner tínhamos que fazer absoluto silêncio. Não me esqueço daqueles momentos…..a bela voz de seu pai está nítida na lembrança.
Parabéns a ele e a vc.