De boca e coração


Por Maria Lucia Solla

O que te mantém vivo? Dizem que você é o que come: Cuidado com o que entra pela boca! mas também dizem: Cuidado com o que sai dela.

No primeiro caso a gente ingere combustível para a máquina funcionar; e há quem afirme viver, há anos, única e exclusivamente, de água e da luz solar. Quem sou eu para duvidar!

No segundo caso não acredito que o cuidado more no cuidar com o que sai dela, porque só sai o que está dentro, certo? É lei da Física.

Na área controversa de alimentos tem os minerais, por exemplo, sobre os quais quando eu era pequena nem se ouvia falar. Sódio, potássio, iodo, cloro, ferro, magnésio, cromo; meu Deus do Céu, que suplemento eu tomo!

fibra fruta legume
nada de muito açúcar
nem muito sal
senão você passa mal

colesterol que sobe
colesterol que desce
tem o bom e o ruim
muito complicado para mim

cálcio zinco selênio
hormônio insulina
hemoglobina e proteína
dessa eu ouço falar desde que era menina

Naquele tempo, a saúde vinha da cor. A pele era amarela ou rosada, a gente ficava vermelho de raiva, verde de ciúme e roxo de dor. E sorria, quando estava tudo azul.

Lá em casa quem ditava a dieta era meu pai. Café da manhã tinha suco de tomate feitinho na hora, docinho, gelado, tomado de canudinho; dali vinha o vermelho. Da gema de ovo, da galinha do quintal, na colher, deitada numa caminha de azeite puro, é que vinha o amarelo e o dourado. Espinafre não podia faltar; dali vinha o verde fácil de assimilar.

Na nossa mesa tinha bife, feijão arroz, macarrão com molho vermelho, feito na panela que fazia a sua parte durante toda a manhã; sem pressa, no fogo lento. Encorpava o molho uma porção generosa de bifes enrolados, guardando recheio gostoso, amarrados por linha forte. Quantas vezes fiquei ali olhando minha mãe que bordava, um a um.

A vovó Grazia vinha toda semana e escolhia o feijão na mesa da cozinha: você vai, você fica. A vasilha no seu colo se enchia enquanto eu olhava maravilhada e intrigada. Que coisa! como ela é que ela sabia?! Mas criança falava pouco, de preferência nada, e eu olhava. Que saudade!

Hoje percebo que era de lá que vinha a saúde, era das mãos delas, não das panelas. Era da entrega, do saber a sua missão; e de cumpri-la. Confidentes, às vezes falavam de perto coisas de gente grande, de certo.

Hoje, sabendo daquelas coisas, me sirvo da memória para entender minha história.

A conclusão a que chego, agora, é de que o que te mantém vivo vem do outro e vem de dentro. Vem dele o olhar de compreensão, o nem sempre te dar razão, o te apoiar quando precisa e tirar teu apoio para que você aprenda a nadar.

o que te mantém vivo
não é cálcio proteína ou a boa digestão
é o que entra e sai da tua boca
o que entra e sai do coração

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung

22 comentários sobre “De boca e coração

  1. Oi Malu , saudades ! Vamos ver se ,hoje, recebes meu comentário.
    Gostei e muito do texto , e aos 65 , tenho certeza de que im porta muito mais a essencia do que sai tanto da boca ,como do coração: Sinceridade , coerência , lealdade , amizade .
    A ingesta física nem é tão vital , na receita do bem viver !
    Bjs gaúchos , Maryur

  2. Maryur,

    tenho observado o externo, e -não tem outra- ele é o resultado do que nós exalamos. Mudo eu, muda tudo ao meu redor. E é desse externo que nos alimentamos. Dá pra negar?

    Estou tramando uma chegada aí nos pampas, o mais rápido possível. É só o Lucky me dar o sinal verde!

    Beijos paulistanos,
    ml

  3. Oi querida! Estou de volta, de braço engessado, mas saboreando esta delícia de texto que faz até amenizar minha dor. As crianças também adoraram. Lemos juntos. Foi ótimo te ver esta semana. Um super beijo e um domingo radiante para você. Beijão
    Sandra

  4. Ola Mike Lima

    Você já notou quando em um dia estamos felizes, de bem com a vida e com o todo, de repente, do nada surge alguem acompanhado com uma nuvenzinha escura sobre a sua cabeça, (CB), infeliz, talvez porque está sentindo-se incomodado com o nosso momento de alegria e contentamento, este que surge em nossa frente, com uma simples palavra, se não formos atentos, espertos, fortes é capaz de jogar a moral e a felicidade la para baixo.
    e pronto!
    O que saiu de sua boca é capaz de fazer uma pessoa adoecer, ficar triste estragar o dia a semana.
    Jesus Cristo afirmou que o que ffaz mal para o homem não e o que entra pela boca e sim o que sai!
    A língua é a mais poderosa arma que o homem possui.

    Bjus e uma exelente semana
    Te cuidai ai ok!

    alfa India Novenber.

  5. Olá Malú,

    Falar de mim é fácil: afirmo que aquilo que coloco na boca adentro engorda e aquilo que coloco boca afora reflete simpatia ou repulsa. Não tem meio termo.

    Como eu falo demais, invariávelmente vomito tantas palavras que acabo magoando as pessoas. Sabe falar sem pensar?
    Devo confessar que ás vezes faço isso com pessoas que me amam! Momento homem das cavernas!

    Depois vem o arrependimento, mas aí já é tarde!
    O jeito é pedir desculpas e tentar melhorar! O eterno aprendizado. Não quero ser burro pelo resto da vida!

    Beijos.

  6. Sandra,

    tem dois braços aqui, à disposição.
    E vamos nos ver sempre mais

    Do que é bom e faz bem, a gente quer repetição.

    Beijo e grita que eu ouço daqui,
    ml

  7. alfa india november,

    ah, se reparei! e como!

    Como diz a santa palavra: orai e vigiai! 24 horas por dia, 7 dias por semana, 30 dias por mês -às vezes 31-, 365 dias por ano! Pra manter os vampiros a distância segura.

    E ainda é pouco.
    Bobeou, dançou!

    Mas é no fogo, e apanhando, que o ferro é forjado, certo?

    Beijo e boa semana,
    ml

  8. Cláudio,

    que vc fala pra caramba eu não posso negar
    mas tudo o que disse até hoje
    e que chegou até mim foi bom
    isso eu posso afirmar!

    rsrsrs

    Beijo e boa semana,
    ml

  9. Malu,

    Há alguns anos atrás como bom notívago que gosta de pensar na vida me perguntei:
    -Se vc tivesse ofendido mais, talvez não teria sofrido menos?

    Hj ainda notívago me respondo:
    – Se vc não tivesse engolido tantos sapos, não seria o que é hoje, gafanhoto!

    Com erros e acertos nas palavras, me sinto bem doa a quem doer, mesmo sabendo que minhas más palavras digeridas ou não, acabarão doendo mais em mim; bem no estomago!

    Atchin! Gripe é meu único problema físico/orgânico que me deixa fanho temporariamente, graças a Deus!

    A sua vovó Grazia me receitaria, um chá das plantas de sua sabedoria, que com certeza me curaria.

    Beijos, boa semana e fique longe de mim. Caso contrário, tb ficará com Atchim!

  10. Palavras geram a impressão que fica. O apelo à visão é rapidamente substituído pela marca profunda da palavra, espada poderosa.

    Que ela sirva ao seu propósito como você o faz. Poesia e manhãs de sol.

    Boa semana Malu.

  11. Mama,

    Já falava o MJ né? Assim mencionava Alpha India November (é assim que e-ecreve Armando?)…

    Orai e vigiai… ou seja, no tempo livre, reze… durante o serviço, esteja no AGORA… no PRESENTE.

    Ali, neste lugarzinho que poderia ser chamado de singularidade (se formos meio físicos no nosso pensamento), mora a nossa Fortaleza… alí… nem o que se fala em nossa presença nos afeta, porque não há passado, nem futuro para pesar no cabeção, nem no coração!

    Vai ver esse pessoal da tal comida de Luz, vive de sorver o néctar do AGORA, e nem fala muito disso por aí… só fala que comida não come!

    Beijos Mama!

  12. beto,
    rsrs

    Caramba! gafanhoto?!

    Minha vovó Grazia receitaria: Chá de gengibre socadinho com açucar dourado; aguá nele, uma fervidinha. Abafa. Toma que é uma deliciozura. Sem branquinha, tá? E cama!

    Também dá pra fazer inalação. O chá quentinho na panela, narigão vai se chegando, driblando a quentura. E vai dormir respirando.

    Experimenta e depois me conta.

    Beijo, melhoras e boa semana,
    ml

  13. sérgio, amigo que as palavras me trouxeram,

    que mais temos além da palavra, do olhar, do toque?
    Alguns já ouvem nosso pensamento
    outros nem se tocam com a dor,
    com nosso lamento…

    Deus permita que da nossa boca saiam mais flores do que espinhos, e que no dia a dia nos sintamos cada dia menos sozinhos.

    Teu carinho é precioso. Obrigada.

    Beijo,
    ml

  14. Ae Beto:
    Falando “nos antigamentes………”

    Veja, ilustre passageiro,
    O belo tipo faceiro
    Que o Sr. tem a seu lado.
    Mas, no entanto, acredite:
    Quase morreu de bronquite,
    Salvou-o: Rum Creosotado!

    E tem mais esta opção.

    PS:
    Quando menino, eu lia todos os dias esse anúncio nos saudosos bondes da velha e gostosa S. Paulo de minha infância que não existe mais!

    Estimo as suas melhoras.

  15. Bom dia, Malú.

    Adorei seu texto e os comentários, principalmente o do Ítalo, pois as únicas pessoas que eu conheço e o declamam em reuniões de família são meus tios e mãe, quando começam a recordar fatos cotidianos vividos no passado.
    Bj. Ótima semana.
    Wal

  16. Olá Armando alfa Italo india Nardi november,

    não querendo interferir, e já interferindo, no seu dedinho de prosa, quem é que disse que sua infância não existe mais? E teria Lavoisier vivido à toa?

    No mundo nada se cria, nada se perde; tudo se transforma!

    E por falar em transformação, bendita transformação na comunicação. É mole essa propaganda do Xarope São João?!

    Beijo e boa semana,
    ml

  17. Armando,

    Sou protetor
    Cuidador de tudo e de todos
    Com muito cuidado

    Neste momento gripado
    Curto a delicia
    Se ser o cuidado

    A vc muito abrigado
    Que mesmo tão longe
    Tem a delicadeza
    De se colocar a meu lado

    Os que dizem que Xarope São João tem apenas efeito placebo, esquecem que o principal ingrediente que cura, é o amor de quem nos oferece: Geralmente as mulheres que nos rodeiam. Tem coisa melhor?

  18. Beto

    Nada como começar o dia lendo um belo poema, vindo de pessoas esclarecidas e evouidas espiritualmente, para enriquecer e a calentar as nossas mentes e espírito.
    apesar da virtualidade, “da distancia”, no universo tudo é muito próximo.
    Grande abraço
    Armando Italo

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