Aos 133 anos, São Caetano tem negócio de família

 

No setor de transportes, duas famílias se destacaram e tiveram participação importante no desenvolmento da cidade do ABC Paulista que comemorou mais um aniversário, nesta semana

BENFICA

Por Adamo Bazani

Dizem que a família é a estrutura da sociedade e sem uma família unida é impossível ter sucesso. A história de duas famílias empreendedoras no setor de transportes confirma essas máximas na cidade de São Caetano do Sul, que completou 133 anos em 28 de julho. Aliás, boa parte dos negócios da cidade ainda é baseada em estruturas familiares, mesmo abrigando gigantes internacionais como a General Motors que está por aqui desde 1930.

Tais famílias presenciaram o simples distrito de Santo André se tornar município independente, com um dos melhores índices de qualidade do País, segundo o IBGE.

Assim como em todas as cidades, os transportes foram fundamentais para o crescimento urbano e integração entre o local de trabalho e a casa de operários e profissionais. Além disso, os desbravadores urbanos do transporte também integravam os municípios que cresciam cada vez mais e se aproximavam de maneira a confundirem seus limites.

São Caetano do Sul teve várias empresas de ônibus. Porém duas delas, sem desmerecer as outras, sintetizam bem a época em que a cidade cresceu muito e sofrer com a carência de mobilidade urbana: o Grupo Benfica e a Vipe – Viação Padre Eustáquio.

A história das duas famílias responsáveis por estas empresas começa em lugares bem diferentes.

Uma destas sagas tem início em aldeia de Alvarelhas, em Carregal do Sal, em Portugal. Filhos de Manuel Nunes Figueiredo Freitas, comerciante, nos anos de 1940, quando a Europa se ressentia da Segunda Guerra Mundial, três jovens portugueses se aventuraram no sonho que era a América, em especial o Brasil, visto como paraíso mediante a instabilidade que viviam os países europeus.

Manuel, o filho, e os outros irmãos, Filipe e Arnaldo, vieram para o Brasil e iniciaram em diversos ramos. Entre eles em transportes. Distribuíam com um velho caminhão, comprado com poucos recursos e com muitas prestações, doces para comércios em diversas cidades do ABC Paulista e Grande São Paulo.

Sempre observadores, percebiam que a medida que entregavam os doces, o número de pessoas nas ruas se tornava maior. Viram que era mais lucrativo o transporte de pessoas do que de cargas. O transporte de pessoas ainda tinha muito mais espaço para o crescimento. Sendo assim, juntaram todas as economias. Passaram dificuldades, mas em 1955 conseguiram comprar em São Caetano do Sul, a Viação São Bento Ltda. Torcedores fanáticos do Sport Lisboa Benfica, os irmãos batizam a empresa com o nome do time.

Aliás, São Bento que na história do ABC Paulista, pelo menos, é um grande amigo de São Caetano. Isso porque as terras da cidade por muitos anos foram de propriedade do Mosteiro de São Bento.

A recém adquirida Viação São Bento, tinha 25 micro-ônibus velhos, usados, que já tinham vindo do Rio de Janeiro. A industrialização na cidade crescia e o número de passageiros também. Assim, a frota foi renovada e mais serviços criados. Os negócios de transportes só prosperavam ao ponto de nos anos de 1960 a família ter fundado outra empresa de ônibus na região: a FIMAR, iniciais de Filipe, Manuel e Arnaldo.

Os irmãos formavam com o tempo um grupo cada vez mais poderoso de transportes. Em 1975 comprava a Viação Boa Vista, em Barueri. Em 1977, o nome da empresa foi mudado para B.B. Transporte e Turismo e já contava com 50 ônibus.

Enquanto a família de portugueses crescia nos transportes em São Caetano do Sul, outra família também começava a atuar no setor. Mas desta vez, a origem da história é Minas Gerais. Fábio Eustáquio de Oliveira, nasceu em 1946, em Belo Horizonte. Filho de caminhoneiro começou desde cedo sua paixão pelo volante. Com 14 anos de idade, deixou os estudos para dirigir caminhões e ajudar os irmãos que eram feirantes. Enquanto os irmãos gritavam os jargões típicos de feiras, vendendo frutas, Fábio dirigia, carregava e descarregava o caminhão.

A exemplo da família Figueiredo de Freitas, da Benfica, os irmãos Oliveira visionavam as necessidades de transportes de passageiros, que aumentavam com o crescimento econômico e urbanístico de Belo Horizonte. Outro exemplo de que na época, quem entrava no ramo de transportes dava tudo para conseguir um espaço. Tanto na questão de empenho no trabalho e inteligência nos negócios como na questão financeira. Os Oliveira foram outra família que empenhou tudo por um ônibus e o resultado foi promissor. Com 21 anos de idade, Fábio Eustáquio conseguiu, junto com os irmãos Carlos Antônio e João, financiar um velho ônibus em 48 prestações, em 1967. O ônibus prestava serviços para a Prefeitura numa linha urbana convencional.

A demanda crescia com o surgimento nesta década de indústrias de ramos variados em Belo Horizonte. Não demorou muito para que a família já contasse com uma frota de seis ônibus. Mas em 1983, a Prefeitura de Belo Horizonte reestruturou os transportes na cidade e a família não concordou com os termos desta renovação dos serviços e decidiu não participar das mudanças. Cada irmão seguiu um rumo diferente. João, Maria Antônia, mulher de Carlos Antônio, que havia morrido nove anos antes num acidente de carro, e Fábio Eustáquio.

VIPE 9602 BXJ 4805

Fábio, no entanto, dizia ter os transportes nas veias e começou a procurar em todo o País uma oportunidade de trabalhar no setor. Foi em 1984, em São Caetano do Sul, que portugueses e mineiros se encontram com um interesse em comum: transportar vidas e auxiliar o progresso. E os objetivos se casaram mesmo. O Grupo Benfica, aproveitando-se do crescimento de serviço de fretamento no ABC devido a industrialização, queria investir mais neste segmento. E Fábio Eustáquio queria operar ônibus urbanos.

Em 1984, inicialmente Fábio comprou duas empresas da cidade, Viação Santa Paula e Viação Tucuruvi. No mesmo ano, em outubro comprava as linhas da Benfica na cidade. As outras empresas tiveram os nomes mantidos. Como a Benfica continuava constituída, mas operando urbanos em outras cidades e fretamento em quase todo o País, o nome teve de ser alterado. Fábio então decidiu unir a fé aos negócios e batizou o braço urbano da Benfica que havia acabado de comprar de Vipe – Viação Padre Eustáquio, em homenagem ao religioso que nos anos de 1940 era reconhecido em Minas Gerais por fazer milagres.

Tanto a Benfica como as empresas de Fábio Eustáquio se estruturaram devido ao intenso trabalho. Tanto de seus criadores, como de funcionários e passageiros, que dependiam dos ônibus para trabalhar. E São Caetano do Sul tem toda sua história ligada ao trabalho.

A história da cidade

Em 1553, quando Santo André havia sido formada, a área de São Caetano era conhecida como Tijucuçu. Em 1631 e em 1671, respectivamente, o capitão Duarte e Fernando Paes Leme doam as terras para o Mosteiro de São Bento que forma a fazenda Tijucuçi. Em 1717 foi erguida a Capela de São Caetano Di Thiene, o padroeiro do Pão e do Traballho.

Em 1730, os monges fundam uma cerâmica, que durou centenas de anos na cidade. Após libertar todos os escravos e sem mão de obra disponível, a fazenda dos monges é desapropriada pelo governo imperial que forma o núcleo colonial de São Caetano em 28 de julho de 1877, data que é considerada de fundação da cidade. Porém, o município só se tornaria autônomo em 21 de dezembro de 1948, quando após plebiscito realizado em outubro, o governador do Estado, Ademar de Barros, concede a emancipação. O apêndice do Sul foi determinação de Ademar, para diferenciar a São Caetano do ABC da São Caetano de Pernambuco.

Apesar de cidade moderna, várias marcas do passado podem ser vistas como o chaminé da cerâmica, a portaria estilo colonial da GM e os nomes Benfica e VIPE circulando nas ruas do município.

Adamo Bazani é jornalista da CBN, busólogo e escreve no Blog do Mílton Jung

Um comentário sobre “Aos 133 anos, São Caetano tem negócio de família

  1. Boa noite. nem sei porquê estava aqui me lembrando da minha infância e juventude. Quando minha familia viemos do Pernambuco para morar em São Caetano do Sul. Nas décadas dos anos 70 Eu me lembro com todas as letras que fui com minha irmã Marli trabalhar na casa do senhor Arnaldo de Figueiredo Freitas. Conheci este senhor português tão agradável. E seus irmãos Felipe e Manuel. Meus pais moravam em São Caetano na rua Bom Pastor na Vila Gerte. Meu pai e meu irmão trabalhavam de cobrador na Empresa Turismo Bem Fica. Eu Mariluce e minha irmã Marli na casa dos Patrões. Que nessa Época moravam no Jardim América em São Paulo na Rua Bela Cintra. Aos finais de semana o senhor Arnaldo e a senhora Rosa sua esposa nos levavam de carro para nossos pais. Aos poucos eles foram nos levando nos pontos de ônibus para aprendermos andar na cidade. Era muito legal. Eles nos deixavam na avenida Paulista no ponto determinado e ficavam aguardando o ônibus e seguiam o trajeto do ônibus. E nos aguardavam na parada do Parque Dão pedro no Ipiranga. E faziam a outro Tragetória era o ônibus da empresa deles. Bem Fica sentido São Caetano Vila Gerte. Me lembro com Satisfação. Eles tinham 2 filhos: Roberto de Figueiredo Freitas, e Marilene Alves Freitas. Quando os conheci. A Marilene completou 18 anos..teve uma linda festa. Ela ganhou seu primeiro carro, era um Chevette preto. Eu estava La. Eles me chamavam de Luci. A Marilene estudava psicologia e o Roberto Era casado com Noemí Freitas. E Tinham uma filha chamada Tatiana. Acho que tiveram mais filho. Mas só conheci a Tatiana que nasceu nessa década. Com um tempo Marilene se Casou com um médico Carlos Rodrigues Carreira. Tivermos contato com essa família de Portugueses até os anos 90. Depois fiquei sabendo que o senhor Arnaldo havia falecido. Tenho essas recordações da minha infância e juventude. Que era tão grande a nossa simplicidade. Eles nos faziam sentir protegidas. As lembranças deles em nós ensinar tomar ônibus. Eles seguindo a tragetória para aprender mos andar na Cidade grande com segurança. Em fim lendo essa Matéria da Cidade de São Caetano do Sul tenho essas Recordações da Empresa Turismo Bem Fica. E da Família Figueiredo Freitas!!!

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