E a chuva é que leva a culpa

 

“Chuva mata um sem-número de pessoas”.

A manchete se repete a cada noticiário. Está no rádio, na TV, na primeira página dos jornais e em toda rede. Está errada na análise, apesar de certa na síntese jornalística. Editamos o cotidiano e neste exercício corremos o risco da injustiça e imprecisão, como neste caso em que a causa natural não tem culpa do que fazemos na natureza.

A chuva não matou, nós estamos cometendo suicídio.

Morreram às centenas neste verão porque ao tomarmos o rumo das cidades, há 50 anos, não preparamos o ambiente urbano para esta invasão. A cidade de São Paulo tinha 3,8 milhões de pessoas na década de 60 e, atualmente, conta (se é que dá pra contar) com mais de 11 milhões. Ganhamos uma cidade de Londres inteirinha, sem planejamento nem pensamento.

Esta população se espraiou desenhando uma mancha urbana por onde ainda não havia cidade – em alguns lugares é de se duvidar que já tenha. Sem encanamento jogou o esgoto no córrego, sem coleta despejou lá também o lixo produzido. Sem lei nem autoridade, ocupou terrenos, tomou a várzea do rio, escalou morros, e se amontoou nas favelas. Cada um se virou como pode.

Hoje, 20% dos que vivem em São Paulo estão no entorno das represas de Guarapiranga e Billings, que deveriam apenas nos servir a água já escassa na região metropolitana.

Os prédios cobrem suas áreas de lazer; as casas põem o cimento sobre a terra; os grandes pátios são pintados de asfalto; ruas e avenidas passam por cima do córrego; bairros são fundados abaixo do rio.

Gastamos – ou gastaram por nós – mais de R$ 1,3 bilhão para tirar área verde e construir novas faixas na Marginal e esquecemos de aumentar investimento para rebaixar a calha do Tietê.

Tiramos – ou tiraram de nós – R$ 12,8 milhões que deveriam ser colocados em obras antienchente na zona leste para terminar uma ponte estaiada no Tatuapé.

Não surpreende que em sete anos, a cidade de São Paulo que tinha 315 áreas de risco passou para 400. Surgiram mais de 12 por ano, apenas na capital.

Os gastos da prefeitura em publicidade subiram para R$ 126 milhões nem por isso se pensou em campanha permanente e medida educativa para mudar o comportamento do cidadão que joga lixo na rua.

Desperdiçamos mais de R$ 1 bilhão por ano enterrando lixo e não botamos um tostão na ampliação de centrais de reciclagem.

E a chuva é que leva a culpa?

Somos todos responsáveis pelo que assistimos no noticiário. Seja porque não cuidamos do nosso entorno, seja porque não cobramos de quem tem nas mãos dinheiro – o dinheiro dos nossos impostos -, equipamento e poder.

Se a chuva é natural, a tragédia é humana. E o que se fez no ambiente urbano, desumano.

12 comentários sobre “E a chuva é que leva a culpa

  1. É preciso prestar mais atenção no processo eleitoral.
    Enquanto se falou em Deus, aborto, etc bem que poder-se-ia ter discutido os mananciais ameaçados, e principalmente a demagogia ora comprovadamente criminosa ,que incentiva ocupações irregulares para obter votos
    A culpa não é da natureza ambiental , é da natureza humana.

  2. Ola Milton
    E ainda vem por ai o novo aeroporto a ser projetado nas matas da Fazenda Melhoramentos em Caieiras.
    Imagine o que vai ser desmatado?
    O tal do trem, metro de superficie no Morumbi, “para facilitar e transportar os nobres torcedores” da copa de 2014 entre congonhas e morumbi.
    O famigerado trem bala Campinas, São Paulo (Campo de Marte) Rio de Janeiro.
    Sendo que toda esta fortuna poderia ser aplicada antes de tudo no saneamento basico, retirada das populaões que moram nas varzeas, margens de rio e represdas, enconstas de morros, reflorestamento, limpesa de rios, piscinões, transporte publico, saude, educação, etc.
    Mas como agora a moda e os interesses estão voltado somente para a copa de 2014 o resto vai ficando, vai ficando.
    Sem esquecer do que é gasto nos grandes eventos em São Paulo,m shows pirotecnicos, etc.
    Tipo
    Pão e circo para o povo.
    Leiam no meu blog artigo sobre por favor.
    http://www.blogdoaitalo.blogspot.com
    Não sou contra investimentos, nem no que se refere ao lazer.
    Mas este não é o momento para politicos ficarem pensando somente no que mencionei acima, de acordo com o que vem acontecendo em São paulo, Rio de Janeiro e piorando dia a dia
    E a culpa realmente não é das chuvas e nem de São Pedro
    Pois chuva sempre existiu com a mesma intensidade ate mais.
    Caso contrario São Paulo vai afundar de vez a exemplo das tragedias acontecidas em
    Teresopolis, Petropolis, na região serrana do Rio de Janeiro.

  3. Bom dia Milton
    Realmente a chuva é fenômeno natural, mas a calamidade tem sido negligência pública! É certo viver em situação de risco, como acontece nas áreas de morros? É certo não cuidar do lixo e jogar os detritos em locais desapropriados? Sendo assim, vem a natureza e mostra a sua força. A lei da natureza é assim, é feita sem decreto humano mas traz uma solução que nos faz repensar a vida é frágil. Toda vida vem da água, ela cria , alimenta e detona tudo que criou.
    Luciah

  4. Excelente texto! Disse o que precisava ser dito, mas quase ninguém diz.
    Agora os prefeitos se esforçam em gastar verbas emergenciais (normalmente sem licitação). Depois das chuvas, tudo será esquecido e nenhuma medida de prevenção será tomada. E veremos tudo de novo a cada ano!
    A chuva é uma ótima desculpa, porque ela não pode se defender. Mas se nem o mais básico – limpeza de galerias e desassoreamento do Tietê – está sendo feito, imagine as decisões de infra-estrutura, que não contam votos…
    Aliás, por que as coisas mais importantes não dão votos? O povo é masoquista?
    Abraços,
    Grilo D

  5. A culpa é nossa. De todos!
    Por q sempre focar somente nos governantes? Lógico q eles administram mal, mas o clima está mudando pois não estamos cuidando da natureza. Rios estão transbordando e destruindo tudo. Isso é culpa de nós q estamos destruindo o planeta..

  6. A culpa é nossa!

    Se andarmos pelas ruas de São Paulo perguntando as pessoas em quem votaram para vereador nas últimas eleições, ninguém lembra mais. Ninguém leva a política a sério votam apenas por votar, cumprindo uma obrigação imposta, simplesmente para não perder aqueles míseros reais recebidos “como esmola” em forma de bolsa família.

    Com a divulgação do projeto do Adote um Vereador, cheguei a conclusão de que o cidadão não tem a mínima noção de seus direitos e deveres junto a comunidade em que vive. A primeira ideia que vem a cabeça é o resultado financeiro, se não vou ganhar nada porque me envolver com isso? A resposta está aí, no belo texto escrito por quem batalha pela cidadania paulistana diuturnamente, e não adianta reclamar.

    Em 09/02/2010, Kassab fez o maior estardalhaço no piscinão bananal como divulgou a Folha (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u691897.shtml). Há menos de um ano depois é lamentável a situação que se encontra aquele píscinão, completamente assoreado, cheio de lixo, frequentado por consumidores de drogas, crianças nadando livremente em um córrego de desagua ali, os muros e as grades que cercavam destruídos, descarte de entulhos na “entrada” lateral e apenas uma máquina e um caminhão que deveriam limpar o dito reservatório estavam parados e seus operadores no maior papo.

    Para fazer algumas fotos do piscinão, praticamente precisei pedir licenças aos drogados que estavam por ali. Me cercaram como se fossem os donos do pedaço, consegui fazer algumas fotos com a condição de não fotografa-los e me retirei do local.

    Como conhecia o piscinão desde a época de sua construção, na quarta feira quando visitei a região e várias pessoas me falaram que graças ao problema de comporta (eu confiei na informação porque sabia que ali existia uma comporta) tinham perdido tudo mandei um e-mail ao Milton relatando o ocorrido.
    Após o Milton levar o problema ao ar, rapidamente a Subprefeitura da Freguesia/Brasilândia responsável pela região fez sua defesa explicando que lá não existia comporta. Fiquei sem chão, sinceramente não sabia o que fazer, resolvi visitar piscinão e tentar esclarecer as coisas. Acabei passando por metiroso e por tabela levei o Milton junto, posso ter muitos defeitos que são compensados pela minha honestidade. Dentro de minhas dificuldades de locomoção (quem me conhece sabe o que estou falando) acredito ter esclarecido o ocorrido.

    Publiquei no blog Vila Nova Cachoeirinha Urgente o resultado da visita ao piscinão, espero assim ter cumprido meu papel de cidadão e esclarecido a questão.

    Ao Milton e seus ouvintes, peço desculpas e prometo ficar mais atento se existir uma próxima vez.

    Abraços a todos!

    http://vilanovacachoeirinha.blogspot.com/2011/01/piscinao-bananal-em-estado-de-abandono.html

  7. Aquela ponte estaiada no Tatuapé, que sai de lugar nenhum e vai para nenhum lugar! Completamente sem sentido! E Ainda por cima o dinheiro gasto nela foi desviado do que deveria ser para obra antienchente?! Não dá pra acreditar em tanta irresponsabilidade!
    Mas Milton! Com um sistema político desses, não vejo como o cidadão pode fiscalizar atos dessas autoridades. De repente ficamos sabendo que tal e tal verba foi desviada, que uma rua que nunca foi alfaltada consta como se tivesse sido e o dinheiro já foi embora… e assim por diante. Sinceramente, acho muito difícil o cidadão brasileiro fiscalizar os poderes públicos deste Brasil. Diga-nos como podemos começar.

  8. Enquanto tivermos o sistema de hierarquia dos governos atual, com a distância do poder e população, e a acomodação da população, não haverá ação efetiva para resolver estes problemas de urbanização, ocupação, trânsito, transporte público, saúde, segurança.
    Todos estes serviços que nos atingem diretamente dependem de esferas de governo que estão muito distantes. e verbas são perdidas no caminho.
    Precisamos de ações mais Preventivas, imediatas e mudanças na estrutura do estado. tudo isto se iniciará com maior participação dos cidadãos.

  9. Em quanto a cidade vai sendo dizimada, acabada, afundada por causa das enchentes, pessoas morrendo de fome, de frio, soterradas, afogadas nas enchentes e a ma administração, pois verba é que não falta, diante do absurdo que pagamos de impostos em SP, os interesses politicos e financeiros apoiados pelos lobbys que ditam as normas, vejam agora o que a prefeitura está querendo fazer com a histórica Rua Santa Efigênia conhecida mundialmente.
    Dizem que é para revitraliza-la e acabar com a criminalidade e a cracolandia.
    Desculpa esfarrapada para permitir que as construtoras e incorporadoras possam construir seus predios e mais predios.
    Absurdo
    http://blogdoaitalo.blogspot.com/2011/01/santa-ifigenia-rua-do-comercio-paulista.html#comments

  10. A chuva não é a culpada

    Por Ednei Fialho Lopes

    Há muitos anos as cidades brasileiras passam por sérios problemas nos períodos das chuvas, típicas do verão, as vezes mais intensas, e infelizmente nos deparamos com alagamentos, deslizamentos, acidentes, mortes e perdas materiais, a história é sempre a mesma, mas é interessante – e ao mesmo tempo lamentável – notar que os governantes, a população e até mesmo alguns veículos de comunicação, responsabilizam as chuvas!

    As chuvas fazem parte de um processo vital e natural, em alguns períodos são mais intensas e severas, e em uma escala muito acima do normal podem trazer algum transtorno, mas o que vemos em todo o Brasil é a ocupação indevida das várzeas de rios, encostas, morros, uma invasão sem limites que destroem matas ciliares e biomas inteiros, e aliados ao fato de que grande parte da população ainda joga o lixo pela janela do carro, do trem, na rua, nos rios, só agravam a situação, entupindo calhas e sistemas de esgoto, uma poluição desenfreada.

    Os Governos deveriam investir mais em infra-estrutura, saneamento básico e criação de leis e programas específicos relacionados com coleta seletiva e reaproveitamento de resíduos (com aumento da fiscalização e multas mais rígidas) e padronização de calçadas “permeáveis” – especialmente nas grandes cidades – que obriguem cada cidadão a manter uma porcentagem do seu terreno com terra, jardim, e quem sabe uma árvore!

    Estamos em pleno período de chuvas, pessoas estão sofrendo, morrendo, cidades inteiras estão se destruindo, bens materiais estão sendo perdidos, TODOS (governos, empresas e pessoas) estão lamentando, mas é preciso fazer mais do que isso, é preciso agir, cada um tem a sua responsabilidade para evitar essas tristes ocorrências, e enquanto isso não acontecer, me parece mais fácil culpar as chuvas, já que depois do Carnaval o “ano começa” e ninguém mais vai falar desse assunto.

    Acesse:
    http://climatechampion.blogspot.com/2011/01/chuva-nao-e-culpada.html

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