Esta maldita obra humana

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Trabalha na Guaíba de Porto Alegre e se consagrou na narração esportiva e locução do “Correspondente Renner”. Apesar de muitos o conhecerem como a “Voz do Rio Grande”, seu talento também se expressou na escrita, em crônicas que foram publicadas no Correio do Povo e nos extintos jornais Folha da Manhã e Folha da Tarde. A insistência da família o tira do confortável papel de ‘palpiteiro’ do blog para protagonista. A partir de hoje, integra a equipe de comentaristas do Blog do Mílton Jung para orgulho de todos nós (e do Gregório e do Lorenzo, também):

Deslizamento e morte em Mauá

Estou estreando neste blog, agora não mais com comentários eventuais e descompromissados sobre isso e aquilo, às vezes usando um pseudônimo, outras, o meu próprio, que só é diferente do nome do dono deste espaço, na internet, porque não é acentuado. Quando meu pai me registrou, inspirado no autor de “Paraíso Perdido”, o poeta John Milton, os cartórios não exigiam o acento na letra “i”.

Gostaria de iniciar este prazeroso trabalho, um pedido que foi quase uma ordem do Mílton e de Gregorio e Lorenzo, meus netos, tratando de amenidades. O que acontece no Rio de Janeiro, que enfrenta tragédia sem precedentes em nosso país, obriga-me a me fixar nela. Na manhã de hoje, com o número de vítimas fatais aumentando a cada instante, ouvi Gilmar Altamirano da Universidade da Água, um dos entrevistados do Mílton, no CBN-São Paulo, dizer que aquilo que está ocorrendo, é culpa nossa porque “invadimos a natureza”. É uma frase pequena, mas absolutamente verdadeira, embora não seja, é claro, a única explicação para a desgraça que se abate sobre moradores e turistas nas várias cidades atingidas por chuvas torrenciais e constantes.

Meu filho, no seu blog, disse, em outras palavras, mais ou menos a mesma coisa que o seu entrevistado (leia aqui). Até assistir às imagens da tragédia, imaginava que nada poderia ser mais destrutivo do que os tsunamis. Enganei-me. O Rio e mesmo São Paulo (em escala bem menor, com certeza) pagam altíssimo preço, seja no lado humano, seja em forma de prejuízos materiais, pela invasão da natureza. E por tudo que a acompanha nesta maldita obra humana.

10 comentários sobre “Esta maldita obra humana

  1. Milton Ferretti Jung, seja bem-vindo neste blog onde aprendemos a discutir vários assuntos com os grandes profissionais da escrita e tbém com textos de internautas colaboradores anônimos. Adoro dar meus pitácos nos assuntos, mesmo maltratando as palavras às vezes. Mas ler seus textos será bom para aos poucos aprimorar minhas missivas. Sucesso sempre.

  2. Prezado,
    Milton Ferretti Yung,
    No estudo da Semiótica enquanto disciplina e Ciência, a compreensão das teorias pode, para uma melhor assimilação de temas específicos, ser complementada com as análises que surgem a partir da transposição destas teorias para exemplos práticos.
    O estudo dos signos, com bases nas teorias de Charles Sanders Peirce, em especial quanto à classificação destes em relação ao objeto, pode ser compreendido através das leituras das próprias obras deste autor e, mesmo, de outros que o usaram como referência. Esse processo de compreensão, através da leitura de textos selecionados, se dá de forma complexa e gradativa.
    Esta complexidade tem relação com o próprio conceito de semiótica, bastante amplo. Segundo Santaella (2004, p.13) “A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e sentido”.
    Os ícones apresentam uma relação de similaridade e contiguidade, indicando que existe uma relação que não é total. Para ser um ícone precisa ser signo e, além de ser signo, deve significar um objeto. Para Peirce (1975, p.27), “(…) ícones – signo que se assemelha àquilo que significa, da forma como a fotografia se assemelha ao objeto fotografado; o ícone é um sinal que se refere ao objeto que denota, em virtude de certas características que lhe são próprias”.
    Para analisarmos os signos icônicos foram escolhidas algumas imagens, ressaltando, segundo Santaella (2002, p.18), que “Peirce dividiu os signos icônicos, ou seja, os signos que agem como tal em função de uma relação de semelhança com seus objetos, em três níveis: imagem, diagrama e metáfora”. Vamos nos ater às imagens, sem adentrar no campo de suas diferenciações com o diagrama e a metáfora.
    É importante destacar que a fotografia se “assemelha ao objeto fotografado”, em certos exemplos, o que não significa tomar esta citação como afirmativa de que todas as fotografias são ícones. Tal afirmação não pode ser feita, devendo as fotografias serem analisadas caso a caso e como imagens.
    Ao fazer referência à fotografia, é necessário observar em que categoria as fotografias analisadas se inserem. Se à categoria das fotografias em si próprias, se das fotografias jornalísticas ou das fotografias publicitárias e, ainda, se são flagrantes ou instantâneas.
    É preciso, num primeiro momento, estabelecer a que categoria pertence a fotografia a ser analisada. Perceber esse fator é essencial para as observações que se seguirão e que serão fundamentais para a classificação das fotografias enquanto ícones ou índices.
    Dependendo do contexto, as fotografias jornalísticas são ícones porque entram em cena, por exemplo, o enfoque do editor e a própria mensagem que o jornal ou revista deseja transmitir com a utilização da referida fotografia. Nesses casos, existe uma relação de similaridade, mas a representação do objeto não se dá na totalidade.
    As fotografias, enquanto imagens fotográficas, podem ser de natureza indicial ou icônica, sendo necessário antes de classificá-las, analisar a natureza delas.
    Essa manipulação a que se refere Santaella tem relação direta com as fotografias publicadas em um jornal impresso, em meio a uma reportagem, que representam algo que vai além da similaridade com o objeto, sendo trabalhadas para transmitir uma dada mensagem aos leitores. Isso é reafirmado por Peirce (1975, p.117): “Com efeito, importante propriedade característica do ícone é a de que, observando-o diretamente, podem ser descobertas outras verdades concernentes a seu objeto, além daquelas que bastam para determinar a sua elaboração”.
    É possível compreender, além da fotografia, pelo título e pelo texto ao qual ela está relacionada diretamente, o que extrapola o processo físico-químico que envolve o “tirar” de uma fotografia, o retratar de uma imagem fotográfica. Podemos, nesse contexto, descobrir “outras verdades concernentes ao seu objeto”.
    Ao analisarmos a fotografia acima, podemos afirmar que são ícones, inseridos em um contexto jornalístico, dando sentido à mensagem transmitida pela matéria “Esta maldita obra humana”. Essa fotografia publicada reforça o sentido da mensagem jornalística, que é o de expressar que a obra humana é sinônimo de crescimento, com desenvolvimento em todas as áreas ou de destruição.
    O mesmo processo e a mesma classificação devem ser feitos quando tomamos para análises as fotografias instantâneas ou fotografias de flagrantes. Elas diferem das fotografias quando inseridas em contexto publicitários ou jornalísticos e se assemelham às fotografias em si próprias.

    As fotografias em si próprias são resultantes de fenômenos físico-químicos, onde uma dada realidade, após ser registrada pelo fotógrafo e seu equipamento, fica contida em um negativo, que ao ser submetido a processos com reagentes em uma câmera escura, é revelada uma imagem em um papel especial. Assim, as fotografias em si próprias são imagens que representam exatamente os objetos fotografados, pela conexão física que apresentam com o objeto.

    O termo indicador também é chamado por índice (Seme). Conforme algumas características dos índices, ao fazermos as análises pertinentes aos exemplos selecionados, quando da abordagem das fotografias publicitárias e das fotografias jornalísticas, vamos complementar o nosso estudo através das colocações de diferentes autores da Semiótica.
    Essa representação exata, que caracteriza as fotografias em si próprias como índices, não nos permite considerar interpretações e contextualizações. Se essas ações forem empreendidas, será descaracterizada a classificação do índice em questão.
    É por essa razão que a fotografias em si próprias, são classificadas como índices. Quando fazemos referências às fotografias em si próprias, observemos Peirce (1975, p.109): “O fato de sabermos que essa última é o efeito de radiações partidas do objeto torna-a um Indicador e altamente informativo”.
    As análises realizadas neste estudo, tendo como eixo principal a teoria peirceana dos signos e as relações entre os signos e seus objetos, contida na segunda tricotomia dos signos, enfocaram exemplos selecionados de imagens fotográficas, divididas em fotografias em si próprias, fotografias jornalísticas e fotografias publicitárias, e de imagens televisivas, em meio a um noticiário, a teledramaturgia e a comerciais.
    Milton Yung,
    Já faz anos que exploro o mundo dos códigos e dos signos pelo estudo da linguagem, da comunicação, da psicanálise, do saber e de muitas outras formas. No entanto, nunca defini meu objeto! Porque cada linguagem propõe um paradigma de mundo diferente.
    Quando jovem, meu professor de Semiótica, Naief Sàfady afirmou:
    – "Nascemos apenas com uma idéia na cabeça e não fazemos outra coisa senão desenvolvê-la ao longo de toda a nossa existência."
    Disse para mim mesmo:
    – "Será, então, que não é possível que haja uma mudança de vida?" Que reacionário! Perto dos 62 anos de idade, entendi que meu professor tinha razão: de fato, durante toda a minha vida persegui tão-somente uma única idéia. O único problema é que não sei que idéia é essa!
    Creio que estou chegando lá. De tanto me dedicar à semiologia, estou cada vez mais convencido da possibilidade de que o mundo não existe, de que ele nada mais é do que um produto da linguagem.
    Abraços e um ótimo Ano Novo! O prefeito da Calábria, senhor Felice Spingola, envia-lhe um forte abraço e um feliz Ano Novo.
    Nelson Valente

  3. Prezado Sr Milton Ferret Jung

    Seja muito bem vindo!
    Certamente a sua presença aqui no blog com seus vastissimos conhecimentos profissionais e de vida será muito importante para todos.
    Tal pai tal filho!
    Abraços
    Armando Italo

  4. Milton Ferretti Jung, o Prof. Nelson Valente toca num aspecto bem interessante a respeito da Semiótica. É uma ciência que envolve a Moda o Jornalismo e muitas outras áreas.
    Aqui no Blog a escolha da foto a encabeçar os artigos tem sido um interessante exercicio de busca e escolha.
    Esta foto acima que mostra trabahadores em movimento pode perfeitamente aludir à construção ou a descontrução. Vai depender da cognição de cada um.É como Valente termina o comentário, o mundo não existe, o que temos é a linguagem, produto da massa de informação e da capacidade de análise e reflexão de cada um.

  5. Sr. Mílton:a obstinação dos netos e filhos nâo seria por menos. Tenho certeza de que a cada artigo teremos uma aula de experiência e sabedoria de um homem que já fez muito para o jornalismo Gaucho. Que bom ter a sua companhia por aqui. Beijos, Dora.

  6. Tem um poema do Carlos Drummond onde ele diz: “impossível compor um poema a esta altura da evolução da Humanidade. O último trovador morreu em 1914…”
    O poeta se refere à guerra, aos massacres e declara que não há mais lugar para a poesia…ao final de tudo, diz: “os homens não melhoraram e matam-se como percevejos. Ihabiltável, o mundo é cada vez mais habitado. E se os olhos reaprendessem a chorar, seria um segundo dilúvio.
    (Desconfio que escrevi um poema).
    Esse poema mostra a incrível capacidade do ser humano de buscar alguma arte, algum sentido…a partir da dor. Silvio Caldas e Orestes Barbosa em “Chão de Estrelas”, também tiram algo de belo na casa que cai aos pedaços: “a porta do barraco era sem trinco, mas a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão…tu pisavas nos astros distraída, sem saber que a ventura desta vida, é a cabrocha, o luar e o violão…”
    O nascimento de Noel Rosa completou 100 anos em 2010. Lembrei-me agora da música que o notável músico fez inspirado em um desabamento de barraco. Claro que a arte não serve de alento para quem sofre a perda de alguém querido ou mesmo para todos nós que acompanhamos angustiados todas as notícias da tragédia no estado do Rio. Ainda assim, é sempre bom ver como cada artista externa a angustia vivida…
    Aqui está a canção de Noel…
    MEU BARRACÃO
    “Faz hoje quase um ano
    Que eu não vou visitar
    Meu barracão lá da Penha
    Que me faz sofrer
    E até mesmo chorar
    Por lembrar a alegria
    Com que eu sentia
    Um forte laço de amor
    Que nos unia

    Não há quem tenha
    Mais saudades lá da Penha
    Do que eu, juro que não
    Não há quem possa
    Me fazer perder a bossa
    Só saudade do barracão

    Mas veio lá da Penha
    Hoje uma pessoa
    Que trouxe uma notícia
    Do meu barracão
    Que não foi nada boa
    Já cansado de esperar
    Saiu do lugar
    Eu desconfio que ele
    Foi me procurar

    Não há quem tenha
    Mais saudades lá da Penha
    Do que eu, juro que não
    Não há quem possa
    Me fazer perder a bossa
    Só saudade do barracão.”

  7. Prezado Milton Ferretti Yung,

    Seja bem-vindo ao século da defesa civil, em que o novo divisor das águas da civilização contemporânea bem que poderia ser como os países lidam com as desgraças naturais.
    O flagelado ambiental é a parcela que mais cresce entre os miseráveis do planeta. A Cruz Vermelha Internacional calcula que já existe no mundo mais pessoas desterradas por tragédias climáticas do que os 19 milhões de refugiados de guerra e seus números podem chegar a 200 milhões até 2050.
    E no Brasil, que já sepultou mais de 500 vítimas das chuvas, as temidas “supercélulas”ainda pairam. Ao todo, as Américas contabilizaram um em cada três desastres provocados pelo clima desvairado em 2010 e nos últimos 12 meses, quase 14 milhões de latino-americanos perderam terra e teto.
    Abraços, em especial ao Prof. Dr. Carlos Magno, com seus comentários apropriados e com conhecimento apuradíssimo em Semiótica.

    Nelson Valente

  8. Prezados Milton Jung dono do “bolicho” e nosso Milton Ferretti Jung, a voz gaúcha, agora em texto, para todo o Brasil e para os desgarrados no exterior – agora temos um sólido “Back Ground”! Inteiramente de acordo com a questão da invasão dos seres humanos nos domínios absolutos da Natureza. Se com responsabilidade, previdência e tecnologia já não é possível submeter a Mãe da Vida, imagine na tentativa de apropriação indébita… Mas quero propor outra questão: O Presidente do Grêmio fez muito barulho, porque sabia que tudo o que ele conseguiria em relação a Ronaldinho, seria uma pouco de exposição na Mídia. Entretanto, o efeito pode ser desastroso na motivação do plantel tricolor. Essa gente não aprende….

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