Grêmio 2 x 2 Lajeadense
Gaúcho – Olímpico Monumental
A televisão ainda passava jogos em video tape. A tecnologia oferecida não permitia transmissões de partidas a longa distância, ao menos não a um custo que valesse a pena investir. Jogo ao vivo e em cores era na arquibancada e os mais próximos disputados pelo Campeonato Gaúcho.
Era uma época em que competição daquele quilate não exigia aumentativo para ser valorizada. Desconfio que esta mania de chamar as disputas de Gauchão, Paulistão e outras coisas mais surgiu no momento em que a importância destes campeonatos diminuiu.
Gauchão pra gente era o Paixão Cortês que surge na ilustração do Xico Silva.
Seja como for, foi nas viagens ao interior do Rio Grande do Sul que aprendi como se joga futebol de verdade. Deixava-se Porto Alegre para cruzar o estado e éramos abrigados em estádios de madeira, com alambrado despencando, vestiários precários e torcida adversária vibrando como se fosse final de Mundial.
Foi nestes gramados – forma de dizer porque há muito a grama não era vista nem plantada naqueles campos – que assisti às mais impressionantes retrancas; zagueiros que trocariam um Troféu Belford Duarte pela canela do primeiro atacante que se atrevesse cruzar na intermediária; carrinhos que riscavam o chão e trilhavam o caminho com faíscas da chuteira de cravo antes de alcançar a perna alheia.
E eu gostava muito de tudo aquilo.
Jogar futebol era uma aventura, principalmente para os jogadores que chegavam da capital, sempre um alvo a ser abatido. Mesmo assim, o meu time era melhor e superava todas estas intempéries. Voltava para a “cidade grande” com sangue na camisa, barro nas meias, calção corroído pela poeira e a satisfação pela batalha vencida.
Sofri muito ao lado do campo vendo tudo isso acontecer. Vibrei e chorei com vitórias incríveis. Entendi que no futebol nem sempre o melhor ganha, é preciso também ter mais coração. Sabe aquela coisa de raça e determinação ? Pois é, nos jogos do Gaúcho era mais do que necessário.
Eu fui forjado torcedor neste campeonato, onde ganhei meu primeiro título – história já contada neste blog.
Muitos de nós passamos a nos apaixonar pelo futebol nas competições estaduais que se iniciaram neste fim de semana. Não exatamente neste arremedo de jogos disputados em fórmulas que mal conseguimos explicar aos nossos filhos. Hoje, os grandes times entram em campo preocupados em preservar seus jogadores para os jogos importantes da temporada.
O Grêmio, por exemplo, está de olho na pré-Libertadores, no dia 26 de janeiro, e para se livrar dos compromissos do Gaúcho fará, nos próximos dias, uma sequência absurda de partidas para um time que recém começa o ano – a largada para esta maratona foi hoje. Jogou muito bem no primeiro tempo, sem fôlego para marcar mas com talento na troca de bola. No segundo, cansou, desistiu ou estava desacostumado com as coisas do Estadual.
Distante do Olímpico e de volta ao papel de torcedor de PPV, assisti à partida sem a apreensão do passado. Sinal dos tempos, talvez. Apesar disso, tenha certeza de uma coisa: eu ainda acho muito bom ser campeão Gaúcho.
É impossível,Mílton,não fazer comentário sobre um texto tão bonito. Sua beleza está na lembrança do que foi o Campeonato Gaucho Ao nomeá-lo uso iniciais maiúsculas por uma questão de respeito ao passado glorioso dessa competição da qual os mais maduros e os mais velhos não esquecem. É uma pena que o progresso em todas as áreas também nos tenha arrebatado o romantismo que havia nos seus jogos. Você pode ficar certo,Mílton,os superlativos utilizados hoje em dia não aumentam em nada a importância que os estaduais possuiram. Gauchão,Paulistão? Bah!!!
Milton,
Sou nascido em 1972, mas existem dois momentos de minha infância que jamais esquecerei. Um o campeonato de 1977, com o famoso gol do André Catimba, aquele da malfadada cambalhota. Outro uma vitória de 11 a 0, ou 10 a 1, sobre um time de Bagé. Ambos foram pelo Campeonato Gaúcho, que acompanhava, em Concórdia (SC), pelo rádio.
Anos depois estudei com o filho do Oberdan e tive o prazer de apresentar meu pai a ele, o que, fora o nascimento dos filhos e dos netos, foi uma das maiores alegrias que meu pai teve e que eu pude propiciar a ele.
Hoje meu filho mantém a chama tricolor acesa, e já ensino a ele que ganhar o Campeonato Gaúcho é muito importante. Aliás, anos atrás ele me deu de presente um CD com as maiores conquistas do nosso Tricolor, narradas por ti.
Um grande abraço de um admirador.
Fabiano,
Nesta Avalanche Tricolor já escrevi sobre minhas emoções daquele campeonato de 77, o primeiro título que comemoramos. Inesquecível. Mais interessante é que conseguimos contaminas nossos filhos com esta alegria de ser gremista. Parabéns !