Pelo direito de opinar e escolher

 

A internet nos abriu inúmeras possibilidades e democratizou a transmissão de informação e opinião. Infelizmente, este espaço nem sempre é usado da melhor maneira possível e os abusos são frequentes em especial quando bárbaros se aproveitam do anonimato. É comum identificarmos na área destinada aos comentários ofensas pessoais, baixaria e despropósitos. Em muitos casos vira terra de ninguém ou de alguém que confunde aquilo com liberdade de expressão.

Foi muito dura a luta por este direito no Brasil. Por nascimento, minha geração já se apoderou quando boa parte da violência da ditadura havia passado. Peguei, na luta estudantil, apenas o fim deste processo e me orgulho daqueles que me antecederam e foram corajosos o suficiente para encarar a situação. Sei lá se eu teria tanta.

Por tudo isso, é justo o desejo de que os fóruns abertos para discussão pública fossem mais bem valorizados, explorados de forma a agregar valor à sociedade. Sempre foi esta a minha vontade. O que parece não foi assim entendido por alguns ouvintes-internautas que acompanharam o bate-papo com minha colega Ceci Melo que precede o Jornal da CBN – quatro escreveram reclamando, acusando-me de ser contra a liberdade de expressão.

O tema principal da conversa era a decisão da Justiça que condenou o rapaz que, por ciúmes e vingança, publicou na internet fotos nuas de sua ex-namorada e usou para isso o e-mail dela. Ceci ficou incomodada com o fato de que ao ler os comentários deixados em um site havia pessoas que defendiam a atitude do ex-namorado. Disse a ela para não perder tempo com estas mensagens. Não valem a pena.

E sustento esta posição. Precisamos selecionar o que lemos ( o que vemos e ouvimos, também). É um direito nosso (meu e seu, também). Deixei de ler comentários deixados em alguns sites e o faço apenas naqueles espaços que considero mais adequados, onde sejam publicados temas qualificados menos propensos a baixaria; blogs que apresentem argumentos coerentes mesmo que defendam posições diferentes das minhas; fóruns de discussão nos quais o moderador impede palavras de baixo calão e ofensas pessoais, por exemplo.

Diga-se, reproduzo este comportamento em relação a todas as mídias: livro, jornal, rádio e TV.

Nada disso, porém, pode ser confundido com algum interesse meu em cercear as opiniões alheias. Cada um escreve o que quiser, expõe sua personalidade como achar melhor, desnuda seu espírito nas palavras que publica, e assume a responsabilidade por seus atos (apesar de muitas vezes o fazer de maneira covarde); mas eu continuarei selecionando minhas fontes.

Neste blog que escrevo, os comentários têm moderação muito mais por uma questão de segurança do sistema, pois todas as opiniões são publicadas – exceção àquelas (raras) que contenham ataques pessoais a terceiros. Com frequência respondo a cada um que me dá a honra de usar este espaço para publicar sua opinião, hábito que mantenho desde quando a interação com o ouvinte-internauta era feita apenas por e-mail (começou em 1998, na CBN).

Faço este esclarecimento pois acredito na máxima de que comunicação não é o que digo mas o que você entende. E, pelo que li nas mensagens enviadas pelos ouvintes-internautas – duas no e-mail, uma no Twitter e uma neste blog -, não gostaria de que estes e outros mais que não se pronunciaram ficassem com a impressão de que defendo qualquer tipo de censura.

Convido-os, sim, a ajudarem a qualificar este espaço democrático conquistado pela sociedade, tomando-o para si e comentando com argumento e coerência – o que, me parece, já o fazem dada a qualidade das opiniões enviadas.

9 comentários sobre “Pelo direito de opinar e escolher

  1. Olá Milton,

    Moro em Londres e sou ouvinte da CBN SP via internet. Já trocamos alguns ‘twits’ e sou ouvinte de ‘carteirinha’ da CBN.

    Ouvi o seu comentário ontem pela manha com a colega jornalista sobre o tema das fotos e de ‘perder tempo’ lendo comentarios na internet, e fiquei um pouco surpreso da maneira da qual voce expos o seu ponto.

    Apesar de entender o que voce estava tentando transmitir, confesso que seu tom foi digamos… ‘não do Milton Jung que conhecemos’. Ficou claro o desconforto de sua colega que politicamente e profissionalmente (e por uma questao de tempo) deu o assunto por encerrado, mas devo dizer que me simpatizei e defendo o ponto de vista da amiga jornalista, que naquele momento foi mais feliz.

    A internet é isso, um canal aberto para todos exporem seus pontos de vista e opinioes, assim como voce o faz brilhantemente atraves até das midias sociais afora. E da qual espero que as pessoas vejam como uma forma de informacao e nao o de ‘perder tempo’.

    Gosto do seu trabalho e continuarei ouvindo a CBN daqui de Londres. Gostei da recente troca do ‘stream’ da CBN-SP assim posso ouvir tambem pelo meu Android phone.

    Saudacoes,
    Sergio Montini.

  2. Caro Milton,

    Infelizmente existem covardes que se escondem em pseudônimos para agredir pessoas em redes sociais, e não são poucos.

    Acredito que a liberdade de expressão deve ser usada com moderação, não é pelo fato de ser livre que vamos sair por ai agredindo as pessoas a torto e a direito. Cada um que responda e pague por suas palavras. Acham que mesmo anônimos não serão identificados, puro engano.

    Compartilho de sua opnião, devemos selecionar o que lemos e escrevemos, por isso somos livres.

    Abraço!

    http://adoteumvereadorsp.webnode.com.br/

  3. Bom dia,
    sobre o assunto em questão (comentários mal intensionados)
    em parte concordo contigo quando diz que as pessoas perdem a razão quando fazer comentários agressivos, porém quando a Ceci Melo disse que estes comentários representam um pensamento da sociedade, você abruptamente interrompeu-a dizendo que isso não é verdade. Acredito que é verdade sim, pois algumas pessoas utilizam o anonimato para atingir outra(s), e isto nada mais é do que comportamental, ou seja, parte da sociedade – pequena ou grande – ao achar-se anônimo manifesta o que nada mais é do que seus sentimentos – bons ou ruins – o que no último caso é uma pena.
    Acredito que a sua vontade de se manifestar positivamente acabou por faze-la de maneira não compreensivel. Mas valeu, o tema é oportuno.
    Um abraço
    .
    Infelizmente isso ocorre, e analisar estas manifestações para conhecimento não é crime, inocência é fazer de conta que não existem, e a tem o direito de querer conhecer o perfil das pessoas.

  4. Olá, Milton

    Ouvi ontem e hoje também seu bate-papo com a Ceci.
    Acho que não existe nada melhor do que poder ter liberdade, em todos os sentidos, inclusive a liberdade de se expressar. Mas, como disse alguns amigos acima, precisa haver moderação. Acho que comentários agressivos, baixaria, palavrões, acusações, malícias, refletem unicamente o "caráter" daqueles que os escrevem, pois, se aproveitam do anonimato para expressar seu pensamento. Essas pessoas são falsas, pois, certamente, frente a frente com a pessoa (s) citada (s), não teriam coragem de dizer o que escreveram.

    Tudo em excesso é prejudicial, e a liberdade de se expressar não fica à parte.
    Assim como vc, leio o que têm consistência, transparência e é produtivo. Não perco meu tempo lendo baixarias, ofensas e coisas insignificantes.
    Enquanto a liberdade de expressão online permitir, vamos ter que conviver com isso.

    Admiro seu talento. Sempre que posso, estou na sua escuta.

    Ana Maria.
    Apucarana/PR.

  5. Dos meios de comunicação presente em nosso cotidiano, parece que a Internet é a única ferramenta que realmente dá vez e voz ao cidadão comum. E por ser uma ferramenta ainda nova em nossa vida acabamos muitas vezes usando de forma incorreta e muitas vezes de uma forma ofensiva contra alguém ou contra uma instituição. Até mesmo a imprensa que tem profissionais competentes e qualificados acabam cometendo exageros. Alguem se lembra do caso da Escola Base, onde seus proprietários foram praticamente linchados e massacrados pela mídia por abuso sexual a crianças que estudavam na escola e mais tarde todos nós ficamos sabendo que os proprietários eram inocentes. Só que já era tarde. A escola foi saqueada e depredada. Só que em nome da tal liberdade de expressão a vidas desses cidadão nunca mais voltaram a ser o mesmo. Um dos proprietários chegou a ter 3 infartos desde 1994, quadros depressivos e por ai vai. É a partir desses erros que o jornalismo comete que se faz raciocinar as relações éticas da mídia, do compromisso com a verdade e não com a vendagem, de como uma mentira pública pode destruir a integridade das pessoas. Ora, um blog, orkut, facebook e twitter não é diferente. Uma vez feito o estrago, dificilmente se recupera o mal que foi dito, seja ela qual midia foi divulgado. Liberdade de Expressão sempre, agora, libertinagem de expressão eu deleto rapidinho. Opinião com argumentos e trocas de informação é sempre benéfico para qualquer um. Xingamento e palavras chulas com ofensas não é benéfico para ninguem. ” Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamas”. Gosto de comentar e opinar sobre as questões do blog, sei que as vezes até maltrato as palavras, mas procuro fazer de uma forma que não ofenda ninguém.

  6. Não ouvi o bate-papo,mas se bem conheço o Mílton,duvido que tenha se manifestado contra a liberdade de expressão. Gostei da frase que Armando Ítalo postou sobre o assunto: “Uns compreendem,enquanto outros apenas entendem”.

  7. Caro Milton, sou ouvinte assiduo da CBN há pelo menos 10 anos, graças ao apreço que tenho pelo nosso ilustre Heródoto Barbeiro. Quando soube da noticia da saída dele, fiquei um pouco chateado, mas continuo fiel à CBN.

    Acordo cedo e frequentemente escuto o bate papo entre a Ceci e o Senhor. Não estou fazendo nenhuma critica pessoal, pois não te conheço neste sentido, mas gostaria de pedir mais gentileza, cortesia e humildade nos seus comentários com a Ceci. Hoje, por exemplo (17/agosto/2011), quando a Ceci e o Sr. comentaram sobre a votação no parlamento, que pode modificar o salário dos deputados e a necessidade da iniciativa popular para pressionar essa mudança, o Sr. começou o seu comentario com a expressão “MAS”, o que dá a entender que o comentário anterior (da Ceci) era falso ou errôneo, porém vocês estavam opinando no mesmo sentido. Outras vezes o Sr. já fez isso e me senti incomodado. Não vou deixar de ouvir a CBN por isso, e por gostar muito da qualidade do serviço prestado pelo Sr. e sua equipe, me sinto no direito de oferecer esse feedback. Espero que vc entenda e não se ofenda.

    No caso que citei, por exemplo, você poderia ter dito “é verdade Ceci, vc tem razão. A população possui uma tremenda força, mas ainda não sabe do seu poder de mobilização…”.

    Obrigado pelo espaço.
    Jose Carlos
    31 anos, mineiro de BH, residente no RJ desde mai.2011 e ouvinte da CBN desde o ano em que fiz Vestibular – 2000.

  8. Sobre o incidente ocorrido em São Caetano com a criança de 10 anos que atira na professora e depois se mata, Chamado de caso isolado, porém não tão isolado assim. Eu sempre tivo contato com armas quando criança, com 12 anos já havia atirado com vários tipos de armas. Meu pai praticava tiro ao alvo, tiro ao prato e caça esportiva (nunca peguei gosto por isso) Quando criança, assisti todos os filmes de Faroeste, SWAT, entre outros cheios de tiros. Eu nunca tive vontade de matar ninguém, e na minha época de criança (10, 12, 14 anos) o acesso a armas era muito maior que agora. Eu acho que estamos passando por um processo degradante sobre cultura, valores, educação, etc…Como é o policial hoje ? ou o professor? Já somos a segunda ou terceira geração de uma educação degradada. Como é o comportamento do pai da criança. Tenho uma filha pequena, e quando vemos filmes com mortes, eu explico que tudo aquilo é só um filme, depois que acaba a filmagem, todos se abraçam e vão tomar banho para lavar a tinta vermelha, mas também explico que eles estão imitando uma realidade muito triste que acontece ou já aconteceu. em resumo, um dos problemas é a educação. Outro problema que vejo é que a sociedade está confusa. Ontem tinham duas garotas de uns 18 anos se beijando na escola, a noite, numa área pública. Se fosse um casal eu poderia pedir que fossem mais discretos, mas nesse caso não se pode falar nada, pois se disser, cometeria o crime da homofobia. Outro caso relevante, sobre o cidadão honesto. As empresas estão judiando demais dos consumidores, o indivíduo que é honesto, sofre muito, isso é revoltante. Será um Buling? No mercado preços marcados errados, no banco diversas tarifas desconhecidas, se compra um produto e precisa de uma garantia, está perdido, quem reclama, com muita paciência, talvez consiga alguma coisa. Comprei uma moto Dafra, tive reclamar no procom, eles nem me ouviram, nem quiseram pegar meu caso, em fim, está tudo muito desgastante, acho que o problema é mais sociocultural do que a exibição de armas.

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