Desistir de fiscalizar é entregar o ouro para o bandido

 

A aparição de movimentos instigados pelas redes sociais, a cobrança por transparência nas ações públicas e a necessidade de dialogar com a sociedade são realidades muito distantes de parcela da classe política no Brasil. Tentativas frustradas de cidadãos no contato com seus representantes no parlamento são os sinais mais claros desta realidade. Nestes dias, recebi ao menos duas mensagens de ouvintes-internautas descrevendo o descaso como foram atendidos.

Um deles é Marino Verardi que decidiu consultar os 513 deputados federais sobre qual havia sido o voto deles e a justificativa no pedido de cassação de Jaqueline Roriz, aquela moça que “tem a política no DNA” e entende que não há problema em ser corrupto, desde que tenha sido antes de eleita. Pesquisou no site da Câmara o e-mail de um por um e enviou mensagem a cada um deles, individualmente. Na primeira leva de mensagens fez a pergunta para 150 parlamentares, recebeu resposta de apenas três deles: Dr Rosinha (PT), Edinho Araújo (PMDB) e Eduardo Barbosa (PSDB). Todos disseram terem votado a favor da cassação. Desistiu de continuar o trabalho pois logo percebeu que seria malsucedido em sua iniciativa.

No outro caso, Fernanda de Andrade, moradora de Nova Lima, em Minas Gerais, se entusiasmou com a ideia do Adote um Vereador. Ela enviou mensagem para o vereador Marcelino Antonio Edwirges (PT) nos dias 10 e 22 de setembro. Se na primeira, não obteve resposta, na segunda o e-mail retornou, ou seja, sequer deve ter entrado na caixa de correio dele. Estava lotada ou inoperante – o que no fim das contas vai dar no mesmo. A tentativa dela agora será pelo site do vereador.

O cidadão, nos dois casos, não reivindica nada além de uma resposta, uma atenção, um respeito que seja. Mas os parlamentares parecem não estar dispostos – ao menos parte deles – a incentivar esta conversa. Este comportamento, contudo, não deve tirar o eleitor do seu propósito, é um direito dele cobrar, fiscalizar e monitorar seu representante. É obrigação do vereador, deputado ou senador justificar seu comportamento, ideia e voto. O cargo não o torna imune a críticas e cobranças, menos ainda ao diálogo.

Mesmo que as respostas não apareçam, aos dispostos a encarar a ideia do Adote um Vereador, minha sugestão é que pesquisem sobre o adotado por outros caminhos. No site da Câmara costuma ter os projetos apresentados por ele, uma boa oportunidade para desenvolver o olhar crítico sobre as ideias que o vereador defende. Dê um Google para ver o que está publicado na internet, o que os outros estão falando dele. Procure informações nos jornais da cidade, preste atenção no noticiário de rádio. Todo dado levantado pode virar um post no blog, de preferência agregando sua opinião sobre o tema ou um simples curti ou não curti, ao estilo Facebook.

Desistir de fiscalizá-los é entregar o ouro para o bandido – me perdoem, isto é apenas forma de falar, não tem nenhuma outra conotação a realidade política no Brasil.

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