Crucifixo crucificado

 

Por Milton Ferretti Jung

 

A decisão do Conselho de Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, obrigando a retirada dos crucifixos dos prédios do Judiciário, era de se imaginar, como qualquer medida capaz de provocar polêmica, e essa foi uma delas, ganhou grande repercussão não digo em todo o estado, mas, pelo menos, na capital gaúcha. Lembro que a crucificação dos crucifixos – e não vejam aí um pleonasmo – acolheu, lembro, solicitação da Liga Brasileira de Lésbicas e entidades de defesa dos homossexuais. Católicos e evangélicos praticantes, que levam a sério a religião, estão, com certeza, entre os que nunca viram qualquer problema nem nunca se sentiram mal ao se deparar com a imagem de Jesus no ápice do seu calvário.

 

É claro que li nos jornais manifestações favoráveis à retirada dos crucifixos. Houve um magistrado, cujo nome não lembro, que citou até mesmo os desmandos cometidos por uma Igreja extremamente preconceituosa e cheia de pecados, na época da “Santa Inquisição”, visando a defender a atitude de seus colegas. Vi, entretanto, em compensação, dois desembargadores, entre muitos outros, frontalmente a favor da permanência das esculturas. Resumo-as, começando com a de Carlos Marchionatti:

 

“O crucifixo, no âmbito do Judiciário, representa a Justiça e o Justo. Cristo foi um homem justo, como devem ser os juízes”

 

O desembargador Alexandre Moreira, ouvido pelo jornal Zero Hora, disse não ver porque retirar, pois mais que um símbolo religioso, a cruz é um lembrete aos juízes para que não se precipitem ao julgar. Precipitação, concluiu, como a de Pilatos com Cristo, que acabou crucificado no lugar de um assassino, Barrabás. Paulo Brossard, ex-ministro da Justiça, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, ex-senador e ora advogado, lembrou que Cristo foi julgado três vezes, três pelos romanos e três pelos judeus, sem que fosse obedecido o rito processual. Pôncio Pilatos, para Brossard foi um juiz covarde, lavou as mãos na hora de decidir. A entrevista foi concedida ao jornal ZH quando da visita do jurista Paulo Brossard ao arcebispo Dom Dadeus Grings.

 

O jornalista Flávio Tavares, também na ZH, no último domingo, ao escrever sobre o assunto, pergunta com muitas propriedade: “Desejarão as lésbicas repetir a intolerância de que foram vítimas?” Para Tavares, ”dizer que somos um Estado laico que não admite símbolos religiosos é falso e inadmissível. A ser assim, teríamos de terminar com o Natal e os feriados religiosos que pululam no calendário”. Se alguém estiver estranhando que preenchi meu espaço com opiniões alheias, lembro que já dei a minha, sem a brilhante argumentação, é claro, das que reproduzi nesta quinta-feira. Se isso me redime, digo a quem interessar possa, que as assino embaixo.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quntas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

2 comentários sobre “Crucifixo crucificado

  1. Quem sou eu para falar do Veríssimo mas no texto ele lembra da Igreja como instituição e esquece o Cristo como Cristo.
    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,territorios-livres-,851801,0.htm
    Aqui a reflexão de alguém que trabalha no tribunal
    http://macfuca.blogspot.com.br/2012/03/pegaram-o-cristo-pra-cristo.html

    Tudo depende de como queremos ver, parece que chegamos no ponto onde o extremo reclamado por uns agora passa a ser o extremo dos outros. E mais um vez sobrou para o Cristo.
    Abraço
    Christian

  2. Se não me engano,o Veríssimo é ateu. E,além disso,tens todo o direito de criticá-lo se achas que ele escreveu besteira como a dessa coluna em que se mostrou favorávelà retirada do crucifixo do tribunais gaúchos.

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