Por Julio Tannus

Foi uma festa inesquecível. O mar, a cidade, o folclore, os autores e o público presente. Foram mais de 20 mil pessoas que passaram por Paraty para participar de 135 eventos da Flip, Flipinha, FlipZona e Flip-Casa da Cultura. A programação incluiu blocos, cirandas e bonecos nos cinco dias do evento. Participaram 40 autores de 15 países.
Transcrevo aqui texto sobre o encerramento desta festa literária maravilhosa, onde foram sugeridas várias leituras preferidas pelos autores participantes.
O encerramento da 10ª. Festa Literária Internacional de Paraty foi uma celebração da poesia, do conto, da crônica e do romance, presentes nos trechos de obras que os autores convidados leram para a plateia. Como disse Liz Calder, a criadora da Flip, ouvir dos escritores alguma coisa daquilo que eles mais apreciam em literatura era a melhor maneira de fechar o último dia antes de mais um ano de espera por nova festa.
Amin Maalouf foi o primeiro, e escolheu um trecho do livro de memórias “O mundo que eu vi”, do austríaco Stephen Zweig. O capítulo, intitulado “O mundo da segurança”, fala do estado de bem-estar em que se vivia na Áustria antes do nazismo; e sua escolha, ainda que não explícita, soou como uma homenagem ao Brasil, país que Zweig escolheu para viver seus últimos dias.
A escolha de Dany Laferrièrre foi ler o conto “Funes, o Memorioso”, de Jorge Luís Borges, que narra o reencontro com o personagem Irineo Funes, uma das figuras míticas do escritor argentino.
Já Dulce Maria Cardoso preferiu o primeiro texto em prosa publicado pelo português Herberto Helder, intitulado “Os passos sem volta”, considerado por alguns críticos como o maior poeta português depois de Fernando Pessoa.
Enrique Vila-Matas repetiu o mesmo poema que havia lido seis anos atrás, na Flip. E leu mais uma vez “Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra”, de Fernando Pessoa por seu heterônimo Álvaro de Campos.
Depois dele, Zoé Valdez escolheu Lygia Fagundes Telles, e leu o trecho final do conto “O moço do saxofone”, publicado no livro “Antes do baile verde”.
Ian McEwan selecionou o denso conto intitulado “Os mortos”, parte de “Os Dublinenses”, de James Joyce, no qual um homem redescobre o amor por sua mulher ao ouvir dela, de passagem, um comentário sobre o jovem que se havia deixado morrer por ela.
Javier Cercas preferiu o final de “Dom Quixote”, de Cervantes, capítulo intitulado “Feliz mal entendido”, quando o cavaleiro da triste figura retorna para casa, curado de sua loucura mas agonizante dos sofrimentos de sua aventura. No leito de morte, Quixote manda buscar o tabelião, Sancho Pança e sua sobrinha e herdeira, para ditar seu testamento. Em meio às lamentações do escudeiro, ele encerra sua história: “Já fui louco e sou são”.
Para marcar os 50 anos, dois dias e 17 horas que, segundo ele, se completavam naquele momento em relação à morte de William Faulkner, Juan Gabriel Vasquez escolheu aquele que considera “o mais faulkneriano dos escritores latino-americanos”, o uruguaio Juan Carlos Onetti, de quem passou a ler um trecho de “O estaleiro”.
Luiz Fernando Veríssimo, o último a apresentar suas preferências literárias, decidiu que somente revelaria o nome do autor no final. Leu, então, a crônica intitulada “Imaginação”, que termina como uma ode à literatura: “Estou só, com minha imaginação e um livro”. Depois, revelou que se tratava de Millôr Fernandes, um dos mais profícuos autores brasileiros de todos os tempos, falecido em março deste ano.
Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Publicado excepcionalmente hoje, esscreve às terças-feiras no Blog do Mílton Jung.
Se fosse para eleger o evento que mais combina com Paraty, inegavelmente a Flip seria eleita disparado.
O que me chamou a atenção desta vez foi a declaração de Liz Calder, criadora e responsável pela Flip quanto ao sucesso da mesma, ao eleger a manutenção do formato e do tamanho. É coisa que os ingleses realmente entendem.
Quanto ao texto foi um dos melhores sobre a Flip 2012.
Também penso assim Carlos Magno, a Liz Calder tem sido fundamental para o sucesso da Flip. E agradeço o elogio!