De imereceres

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

Tem vezes que me encanto
com a vida e seus encantos
noutras choro a cada hora
me derreto em cada canto

 

nada é como a gente quer
um dia isto noutro aquilo
e vice-versa se você quiser

 

pego a direita hoje
a esquerda na parte da manhã
provo daqui
me queimo ali
tem dia que me sinto homem
tem outro que sou plena mulher
porque nada é de um jeito só
ou do jeito que a gente quer

 

há mundos há fundos
na mente que mente
no coração que sente

 

ele torce
ela distorce
ou vice-versa
se é assim que você quer
um pega o garfo
quando o outro se serve da colher

 

cada um tem o que merece
repito o que sempre disse meu pai
mas não sei não se acredito
nesse tal de merecer
de crime e castigo duvido
vivo dentro e fora
corro atrás de mim

 

deixo o não-dito pelo dito
seja ele bem dito ou mal
afinal sou eu a leiga
mas quem é que é erudito
?
pinto e bordo
aprendo na boa ou não
mas agradeço pelo assim e pelo assado também
que se não se tem tudo o que se quer

 

um dia chega
um dia passa
tanto já passou e passará
sempre
como
se
e quando der

 


Maria Lucia Solla é professora, realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

13 comentários sobre “De imereceres

  1. Bom dia querida, fiquei feliz por começar o domingo com teu poema, danado de bonito, de real e de sensível. Avante guerreira! Deus te abençoe, sempre.
    Bjs gaúchos e saudosos, Maryur

  2. Maria Lúcia, suas palavras me levam à reflexão: será que o caminho que estou tomando é o melhor? Às vezes, percebo logo que o iniciei, mas infelizmente, às vezes a constatação só chega quando já percorri um longo trecho. Mas sempre penso: ainda bem que, seja um pouco ou muito depois, sempre tenho a oportunidade de perceber e corrigir. Então, quero aprender também a reconhecer, rever o que fiz, refazer o que foi mal feito e me perdoar pelo que não sabia. Quero agradecer a oportunidade que tenho, de merecer.
    Um beijo.

  3. Malu,
    quando voltávamos , chovia forte e caiu muito granizo. Fazia até barulho no teto do carro. Nos abrigamos em um posto e depois seguimos de volta. Chegamos em casa e outra vez estavamos bem. A chuva também passou. Ganhamos a tarde que também ja passou e amanhã segue uma nova sentença.
    Outros pontos.
    Novos.
    Que também passarão, senão a sensação da tarde.
    Essa fica!

  4. Querida prima, acho que temos o que precisamos para aprender e nos melhorarmos e não o que merecemos, como nosso pais acreditavam.
    No grau de evolução em que nos encontramos, a dor ainda é nossa maior mestra e quando nos conscientizamos disso, passamos a compreender melhor nossa existência e aproveitar mais as oportunidades. Pense nisso!
    Com carinho
    Magutcha

  5. Maga,

    O que vc disse – claro que eu já devia ter ouvido antes, mas não escutei, não caiu a ficha. Agora soa como música para os meus ouvidos.

    Sim! O que é preciso! Como o ar que respiramos, a água disponível, o sol para aquecer, o vento para levar embora o que já ficou leve…

    Obrigada, meu anjo.
    Continua vibrando.

    Beijo com a boca de cadê(?)

Deixe um comentário