Onde Estamos?

 

Por Julio Tannus

 

Um novo conceito de consumo

 

 
Deixou de ser “um modo passivo de absorção e de apropriação de bens e serviços, com a finalidade de preencher necessidades” para se constituir numa “atividade sistemática na qual se funda todo o sistema cultural contemporâneo”.

 

Uma nova ordem foi estabelecida: a precedência do consumo sobre a acumulação. Um sintoma dessa precedência: muitas vezes compra-se primeiro para depois resgatar o compromisso pelo trabalho.

 

Mudanças mais significativas na oferta:

 

Novos produtos e serviços
Conceito de “serviço” na venda de produtos
Novos meios de comunicação
Novos mercados a partir de novas tecnologias
Globalização – abertura e diversificação
Redução do papel dos Estados na economia
Incremento nos níveis de competitividade entre produtos e serviços
Surgimento dos Mercados Comuns

 

Um novo consumidor

 

As mudanças mais significativas no consumidor:
Maior consciência do poder de compra
Maior consciência de seus direitos
Maior nível de exigência e redução dos limites de tolerância
Maior nível de informação sobre o mercado de oferta
Maior individualidade – mercados cada vez mais segmentados
Surgimento de novos mercados (terceira idade, baixa renda)
Incorporação do conceito de “serviço” na compra de produtos
Preocupação crescente com a relação preço-valor
Preocupação ecológica
Redução do tempo disponível
Consumo compulsivo

 

O sistema de consumo atual

 

E não poderia deixar de citar o filósofo Jean Baudrillard em seu livro O Sistema dos Objetos:

Não há limites ao consumo. Se fosse ele aquilo que consideramos ingenuamente: uma absorção, uma devoração, deveria se chegar a uma saturação. Se dissesse respeito à ordem das necessidades, deveria se encaminhar a uma satisfação. Ora, sabemos que não é nada disso: deseja-se consumir cada vez mais. Esta compulsão de consumo não se deve a alguma fatalidade psicológica (o que o berço dá, a tumba leva, etc.) nem a uma simples coerção de prestígio. Se o consumo parece irreprimível, é justamente porque constitui uma prática idealista total que nada mais tem a ver (além de um certo limiar) nem com a satisfação de necessidades nem com o princípio de realidade. É que ela se acha dinamizada pelo projeto sempre frustrado e subentendido no objeto. O projeto imediatizado no signo transfere sua dinâmica existencial para a posse sistemática e indefinida de objetos/signos de consumo. Esta doravante somente pode ultrapassar-se ou reiterar-se continuamente para permanecer aquilo que é: uma razão de viver… Finalmente, é porque se funda sobre uma “ausência” que o consumo vem a ser irreprimível.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier) e escreve no Blog do Mílton Jung às terças-feiras.

4 comentários sobre “Onde Estamos?

  1. Bom dia Julio,
    me parece razoável dizer que a ausência é aquela afetiva e intelectual que os ajuntamentos urbanos também impõe.
    Solitários na multidão.
    Depois da rotina diária, sobrou pouco tempo para aproveitar os pequenos prazeres por que estamos presos nas armadilhas do transito, do que temos que absorver para seremos úteis, do trabalho e do que precisamos fazer para subsistir.
    Em troca do nosso tempo. propaganda. Outra vez a propaganda. Vezes farsa que me vende felicidade em cápsulas ou em produtos tão eternos quanto durarem. Mudamos a maneira de imprimir a nossa memória nos objetos? Veja que interessante:

    http://www.erratica.com.br/opus/112/index.html

    Abraço.

  2. Olá Sergio, penso também que a ausência é afetiva, intelectual e, alguém já disse, consequência do Fim das Utopias. Nossa rotina urbana tem aspectos cruéis, que nos deixa pouco espaço para fantasias, desejos e prazeres descompromissados. Um abraço. Vou acessar o link sugerido.

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