Por Denise Domingues
Ouvinte-internauta do Jornal da CBN
Ouça aqui o texto que foi ao ar na CBN, sonorizado pelo Cláudio Antonio
As histórias que meu pai contava…
Sou do ano de 1968, nascida no bairro do Brás e criada até a pré-adolescência no bairro do Tatuapé. Sou filha de mãe de origem caipira e de pai paulistano da gema, de origem típica da década de 1930, uma mistura de espanhol com italiano, do tipo que lembrava o Adoniran Barbosa quando falava.
Das muitas lembranças que trago da infância, uma me deixou marcas profundas: os passeios de carro com meu pai pelas ruas da cidade. Ele adorava dirigir, sempre teve carro – nunca novos – mas sempre os teve. Aos domingos, após o almoço tradicional italiano, servido à macarronada e frango, costumávamos fazer um programa que a mim sempre soou incrível: sair de carro sem rumo pela cidade de São Paulo.
Todos no carro, eu, papai, mamãe, saíamos com roteiros sempre diferentes a cada domingo. Obelisco do Ibirapuera, Avenida 23 de Maio, Estádio do Pacaembu, Praça Silvio Romero no Tatuapé, Avenida Paulista, Igreja do Rosário da Penha, Igreja da Sé. Era uma infinidade de lugares pelos quais passávamos, monumentos, avenidas. Bem que meu saudoso pai poderia ser guia turístico na cidade! A cada lugar visitado, em cada rua que passávamos, lá vinha ele com uma descrição ou história para contar. Aprendi muito. Falava dos lugares, contava suas aventuras de infância passada a braçadas no Rio Tietê e a corridas nas chácaras da zona leste. Contava como eram aqueles lugares no passado, enfim, uma história atrás da outra.
Dentre os passeios que fazíamos, o que eu mais adorava era ir até o Aeroporto de Congonhas. Sempre fui apaixonada pelos aviões e sabendo disso meu pai parava o carro em uma rua próxima ao aeroporto. Lá ficávamos sob os pássaros gigantes que passavam admirando sua grandeza. Eu sempre dizia ao meu pai que um dia eu viajaria de avião. E ele, com sua simplicidade: “avião é coisa pra rico, filha…”. Coisa que nós, definitivamente, não éramos.
Aos 44 anos, tenho a felicidade de dizer que meu sonho foi realizado, já cruzei o oceano de avião, e tenho mais horas de vôo dentro do Brasil do que muito co-piloto. Mas como aprendi com meu saudoso pai a admirar esta cidade, sempre volto. E pretendo ficar por aqui até o fim da minha vida.