Conte Sua História de São Paulo: minha cidade aos 18 anos

 

Por Neusa M. Stranghette

 

 

Fim dos anos 60, morava em São Caetano e trabalhava em Santo André.  Na época, férias não era sinônimo de Disney, Paris, Roma, nem resort no Nordeste. Quando muito um cineminha e um dia na Praia José Menino.  E lá estava eu de férias, sem nada para fazer. Resolvi me dar uma tarde de lazer e ir assistir a Dr. Jivago, no cine Metro. Coloquei um vestido de passear, sandália combinando, afinal estava indo para a Cidade. Peguei o ônibus mais ou menos perto de casa e fui descer no Parque D. Pedro.

 

Subi toda a Rua Tabatinguera, passei por uma Igreja, que recentemente fiquei sabendo é a Capela do Menino Jesus e de Santa Luzia. Atravessei a Praça da Sé, fui pela rua Direita onde as pessoas realmente caminhavam pela sua direita. Praça Patriarca, Viaduto do Chá, passei atrás do Teatro Municipal e, finalmente, cheguei na Avenida São João para a sessão das duas da tarde, no Cine Metro, que ainda era bonito e chique. Era moda usar muitas pulseiras coloridas de plástico, e entre campos de girassóis e nevascas, venturas e desventuras de Jivago e Lara, quando lágrimas eram enxugadas discretamente era aquele som, “plac-plac, plac-plac”, de pulseiras batendo! Mas o romantismo do filme resistiu bravamente por mais de três horas. E no fim refiz todo o caminho de volta para casa, flutuando com o Tema de Lara ao fundo.

 

 
Hoje, o cine Metro é uma Igreja evangélica, a Avenida São João perdeu quase todo seu charme e o que se vê são prédios pichados e decadentes. O Teatro Municipal ainda mantém sua imponência. Ninguém mais respeita a direita na Rua que leva seu nome, entrar na Catedral da Sé só nas missas com muita gente, e não faço idéia de como está a Rua Tabatinguera.  Do Parque D. Pedro, uns três anos atrás, um motorista de taxi só faltou mandar eu me abaixar no banco para me tirar do Hospital da Móoca onde tinha ido visitar uma amiga. 

 

Ao menos ficaram boas lembranças! E escrevendo este texto percebi que, naquele dia de férias, meu programa mesmo foi atravessar praticamente todo o Centro velho de São Paulo, ida e volta. 

 

Como é bom ter 18 anos.

 

Neusa M Stranghette é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade. Marque uma entrevista em áudio e vídeo no Museu da Pessoa pelo e-mail contesuahistoria@museudapessoa.net ou envie seu texto para milton@cbn.com.br
 

2 comentários sobre “Conte Sua História de São Paulo: minha cidade aos 18 anos

  1. Também vivi estes glamourosos tempos paulistanos quando as pessoas eram educadas, politicos pareciam ser mais honestos e competentes, nossas leis eram mais severas, ainda não existia a violenta especulação imobiliária que chegou com tudo junto com o poderoso lobby formado pelas construtoras, incorporadoras e politicos gananciosos, megalomaníacos, que só legislam em causas próprias e para os seus mais chegados, estes que surgiram somente para matar de vez nossa São Paulo que um dia foi bela, aconchegante, glamourosa, de gente educada, chic, elegante, limpa, clara, humana, existia qualidade de vida, matas nativas, nao tinha o numero absurdo de favelas como nos dias de hoje.
    Muitos da nosso historia foi destruida, dizimada, por exemplo a Av Paulista, o centro da cidade que agora esta apodrecido, fétido, esquecido, com centenas e centenas de mendigos, moradoires de rua, drogados, traficantes, toda sorte de marginalidade, lojas sendo fechadas, edificações abandonadas, sujas, pichadas.
    Como paulistano nato e realista afirmo veementemente que viver em São Paulo atualmente não é tarefa das mais fáceis.
    Esta muito dificil em todos os aspectos diante do caos sem fim que tomou conta de toda a nossa cidade sem chances de melhora!
    Parabéns pelo texto.

  2. Pô mêo. Você só publica comentários bem elaborados e dirigidos a elite!
    Vocêis tem pubrica comentário da perifa.
    Onde a chapa é quente. Onde nóis enche laje com mutirão, pega busão, joga bola no terrão, temos cabelos crespos.
    Nós também somos cultos. Pagamos nosso IPTU, nossos carros são financiados pelas mesmas instituições. Então meu! Pensa nisso.

Deixe um comentário