
Hoje tem Brasil na Copa. E lá vai a Nona Helena para o guarda-roupa tirar a camisa da seleção, guardada com carinho na gaveta a espera da partida seguinte. O uniforme é obrigatório para jogos do Brasil desde que se conhece por torcedora. Este ano, como a Copa é por aqui, caprichou na indumentária e, na loja perto de casa, comprou a corneta e a peruca verde e amarela. Aos 88 anos, espera pela seleção brasileira com a ansiedade de criança e não se cansa de se emocionar com o hino nacional. Provavelmente, legado dos tempos de aluna em que se perfilar no pátio da escola, antes da aula começar, era obrigação transformada em prazer. Sentada no sofá diante da televisão, porque ninguém é de ferro, põe a mão sobre o peito, acompanha a torcida reunida no estádio e não perde o ritmo quando levada a cantar à capela. Há quem jure que os olhos se enchem de lágrimas já nos primeiros acordes. Os netos acham divertido, os filhos tem orgulho e a Nona faz questão de espalhar na família que é apaixonada por jogo de Copa: “não perca um sequer!”. Quem vai jogar no lugar de Hulk, se é que Hulk não vai jorgar, ainda não sei, mas que ela vai estar a espera da seleção, não tenho dúvida.
A Copa tem dessas coisas. Provoca as mais estranhas reações em seus torcedores. E você deve ter visto muitas delas nas arquibancadas apesar de estar completando somente agora a primeira rodada de jogos. Existem torcedores enlouquecidos que vestem fantasias bem mais apropriadas a baile de Carnaval. Tem torcedores alucinados que saltam e cantam, e cantam e gritam, e continuam saltando, independentemente do que esteja acontecendo em campo. Tem os sofredores que fazem careta, roem unhas, esbravejam e choram o revés. Tem os críticos que parecem saber bem mais do que o técnico, gesticulam e orientam suas seleções mesmo que ninguém os ouça no gramado. Tem o torcedor do telão, que passa os 90 minutos pedindo para ser flagrado pelas câmeras de TV. Tem os religiosos, que agradecem aos céus cada graça alcançada nem que esta seja a desgraça do adversário.
Eu sofro muito mais quando o Grêmio está em campo do que a nossa seleção, o que não me tira a pressão. Ainda mais que, como já contei algumas vezes, torço por aqueles que admiro e o Brasil comandado por Luis Felipe Scolari merece minha admiração. Não vou vestir a camisa, encaixar a peruca ou cantar o hino (os ouvidos da família agradecem), mas esfragarei as mãos, massagearei as bochechas e pentearei o cabelo para trás com a ponta dos dedos quantas vezes forem necessárias. Ou até a seleção me convencer de que a vitória está garantida, o que costuma acontencer lá pelos 45 do segunto tempo.
Eu, assim como a Nona Helena, que não é minha nona mas a peguei emprestada para este texto, também sou apaixonado por jogo de Copa. E você? Vai torcer como? Porque hoje tem Brasil na Copa.