Por José Geremias Caetano
Corria a década de l940 e chegava a cidade de São Paulo, vindo da pequena Santa Lúcia na região de Araraquara, o senhor Geremias Caetano.
Como tantos, ele trazia na bagagem, sonhos, ilusões e o que mais coubesse. A “Terra da Garoa” logo mostrava a esse homem simples, que a vida por aqui não seria simples, mas ele estava disposto a mostrar a que veio e lutar era com ele mesmo , pois para quem vendia pamonha pelas ruas de São Carlos,na infância,(0 slogam era “olha a pamonha quente, quem não come fica doente” e nem pensar em trabalho de exploração infantil) cidade pela qual ele passou antes de se mudar em definitivo para São Paulo, a luta era só um item da vida e do dia a dia. Faço a ressalva que as pamonhas eram feitas pela minha avó, dona Benta. Consta que minha avó, dona Benta, chegou a enfrentar até uma pequena onça, com a pequena espingarda confiada a ela pelo meu avô Benedito. Por falar na família, não posso me esquecer da avó Rosalina, mãe de dona Yolanda, minha mãe. . .mulheres de fibra e de muito valor!
Voltando ao nosso personagem principal, já deu para percebeu que ele se casou, no inicio da década de 50, com dona Yolanda, minha mãe.
Se a vida já era difícil, os anos 50 se mostram bastante duros e nessa época, nosso personagem já começava a ao título fazer lastro, ao titulo acima, pois ele já trabalhava como mecânico em duas oficinas, na Secretaria da Educação de São Paulo e em uma transportadora que tinha por nome Nova União Portuguesa. Tudo isso durante o dia, pois a noite, meu Pai tocava seu saxofone e também a clarineta, vez por outra arranhava também o violão, nos bailes populares da época conhecidos como “gafieiras”. Imaginem vocês que meu Pai chegou a fazer parte de uma famosa orquestra da época, conhecida como Orquestra do Bem(um maestro muito popular nessa época em que era muito comum se copiar as “big bands ” americanas.). Papai chegou até a tocar com o conhecido maestro Erlon Chaves(sem querer ser maldoso, cada vez que o carro do maestro dava algum probleminha, lá vinha ele atrás de papai, não pelo seu lado musical, mas pelo seu lado mecânico!).Dinheiro ?! Só para se ter uma idéia, eram comuns os “bate bocas” no carnaval, pois mamãe queria papai em casa nessa época e ele afirmava que o carnaval “era o l3º do músico” e lá ia ele “pelos bailes da vida”ganhar o “seu 13º” ! São Carlos, Rio Claro, Araraquara e até outros estados, eram seus destinos frequentes na época do carnaval. Aliás esse bailes eram “empresariados” pelo tio João Francisco, que era de São Carlos e não se deixou seduzir pelo sonho da vinda a São Paulo Capital, e olhem, a qualidade de vida do tio João Francisco, foi bem melhor do que a de papai, que veio para São Paulo Capital, mas isso é uma outra história que vamos deixar para outra ocasião.
E a vida seguia seu curso, Na época do material escolar, tanto meus quanto de meus irmãos, papai se desdobrava nos seus múltiplos empregos e lá vinha ele com o dinheiro para comprarmos o material escolar!
As queixas de mamãe, tomavam vulto, mas papai não ficava em casa, tocando nos bailes, nem no Natal, Ano Novo ou aniversários tanto nossos como de casamento ! Nós não entendiamos que ele não poderia falta aos bailes, pois a concorrência era cada vez maior.
Mas, a vida e as tragédias não se desligam umas das outras. . .em um dos salões que papai tocava na época, o “28”, houve um grande incêndio em que dezenas de pessoas perderam a vida !
A romaria de pessoas em casa não cessava, , , elas vinham prestar solidariedade e saber notícias, já que alguns dos mortos eram músicos da orquestra !
Mas. . . As pessoas eram recebidas por um sorridente Geremias Caetano, que resolveu nesse dia, atender aos reclamos de dona Yolanda, não indo trabalhar e ficando com a família !
O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no programa CBN SP. A sonorização é do Cláudio Antonio. Você pode participar com textos enviados ao e-mail milton@cbn.com.br ou agendando entrevista no Museu da Pessoa no e-mail contesuahistoria@museudapessoa.net
Geremias Caetano, meu tio o qual, era irmão de minha mãe hoje com 96 anos e que se lembra muito dessa época.