Por Elza de Oliveira Reis
Último veículo da era dos românticos, o bonde, além de deixar descendentes importantes – o trolebus e o metrô – deixou também muita saudade.
Pela rua onde eu morava, lá vinha ele, com seus passageiros, na Pauliceia desvairada do poeta, com destino ao Cambuci, Vila Prudente e Ipiranga. E a Rua da Glória se enchia do ruído de suas rodas de aço sobre trilho e o som de sua buzina – o bater de um sino – a lembrar ao pedestre distraído – o perigo.
Eu, criança ainda, gostava de vê-los da janela de minha casa. Eles passavam com destino à Praça João Mendes ou se dirigiam aos bairros com a calma que a nossa cidade de então podia propiciar. Iam e vinham, com seus ilustres passageiros, belos tipos faceiros, salvos ou por salvar de bronquites, pelo Rhum Creosotado como apregoava o anúncio:
“Veja ilustre passageiro
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem a seu lado.
No entanto, acredite, quase morreu de bronquite.
Salvou-o o Rhun Creosotado”
Era ainda o tempo do cavalheirismo: às mulheres, a primazia dos acentos nos bancos de madeira; aos homens, na falta de lugares para todos, a coragem de viajar de pé no estribo,de onde podiam saltar, quando havia lentidão na marcha do veículo. O cobrador passava por eles exercendo o seu ofício: cobrava e registrava o recebimento da passagem, utilizando dispositivo especial para esse fim. Ouvia-se, então, o dim-dim, dim-dim, acusando o recebimento da tarifa.
O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, logo após às 10h30, no CBN SP. A interpretação é de Mílton Jung e a sonorização é de Cláudio Antonio.