Por Miguel Chammas
Ouvinte-internauta da rádio CBN
Anos de 1960, a boemia fazia parte da minha existência. Eu tinha fôlego de sobra e sono de menos. A música de uma forma geral corria por todas as minhas veias. Era na realidade um pé-de-valsa, dançava se preciso fosse de segunda a domingo.
A rotina era marcante. De segunda à segunda, eu freqüentava os night-clubs da “boca do lixo” , desde a Avenida Duque de Caxias até as imediações da Avenida Ipiranga e da Rua da Consolação. Ali, todas as noites, encontrava com meus camaradas para os altos papos que precediam as noitadas dançantes.
Na Rua Marques de Itu, entre as Rego Freitas e Bento Freitas, dois inferninhos tradicionais: de um lado o Quitandinha Night Club e do outro lado o Havana Night Club. Era na porta do segundo que nos reuníamos: eu, o Nino (baterista e boêmio), o João (porteiro da casa), e ainda, o Sr Jair Rodrigues.
Naquela época, Jair Rodriguez lançava o primeiro 45 RPM, tendo do lado A o samba “Deixa que digam…” e do lado B o “Feio não é bonito”. Esse disco havia sido gravado sob os auspícios de uma famosa dupla formada por Venâncio e Corumba que muito ajudou o Jair nas suas primeiras investidas musicais. Eu, na minha humilde condição de amigo da noitada, ajudei o Jair a “caitituar” seu disco em muitas boates da época.
Mas as lembranças chegando a borbotões me fizeram alterar o rumo da prosa, voltemos ao roteiro principal.
Aos sábados, o programa era diferente. Os Duques de Piu-Piu, depois de devidamente infatiotados e devidamente jantados, se dirigiam até a Praça das Bandeiras, canteiro central, onde embarcavam no ônibus especial que os levava até os salões do “Recreio das Carpas”, na Cidade Adhemar. Foi ali que conheci a Ana, uma morena linda e elegante, que trabalhava no Laboratório Lily (um dia ainda conto como nos conhecemos).
O relacionamento com essa moça foi muito forte e se eu não fosse o pilantra que era poderia ter atravessado muitos anos da nossa existência. Mas eu era partidário da liberdade e, então, não querendo perder a tal liberdade ou a “mina” deixava as coisas flutuando.
Eu nunca disse a ela onde morava para não ficar pegando no meu pé. Mas se quisesse falar comigo era só ligar para o 34-40-11 que eu disse ser do dono de um bar em frente a minha casa. Mentira. Era o meu próprio telefone. Quando o aparelho chamava, meu irmão atendia:
-Alô… 34-40-11, o Miguel? Um instante que eu vou mandar chamar.
Eu dava um tempo, atendia a ligação e batia os maiores papos. Ela realmente nunca desconfiou de nada. E eu mantive o romance sem precisar me prender por ninguém.
O amor mais uma vez provava que era cego, surdo e mudo!
Miguel Chammas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte voce também mais um capitulo da nossa cidade: escreva para milton@cbn.com.br
Obrigado Milton por me permitir contar mais uma de minhas historias dos tempos de vivencia na minha eterna SÃO PAULO.
Vou te encaminhar novos materiais que espero possam ser também aproveitados.
Abraço forte
Valeu, Chammas!