Grêmio 2×0 CSA
Brasileiro B — Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Dois têm 37 anos. O terceiro, tem 35. Os três têm muita história boa para contar. Têm dores e sofrimentos para compartilhar, também. Enxergam o futebol como poucos jogadores o fazem dentro de campo. E exercem uma liderança difícil de ser medida para quem nunca viveu o cotidiano do vestiário de futebol, local em que dramas pessoais, fragilidades emocionais e disputas internas contaminam o ambiente. Situações que precisam ser atendidas na conversa ao pé de ouvido, no puxão de orelha diante dos colegas e, às vezes, em uma chacoalhada de ânimo, naquela corrente de abraços que mais parece curso de autoajuda.
Geromel e Diego Souza (os de 37) e Lucas Leiva (o de 35) são os personagens desta vitoriosa e otimista Avalanche, escrita com sentimento bem diferente daquele que ecoava no inquieto coração deste escrevinhador (que, apenas por curiosidade, tem 59 anos), na semana passada. Lá havia um misto de frustração, tristeza e desencanto com o que havia assistido e ouvido de alguns dos nossos. Que por serem nossos queremos que sejam perfeitos, quando sabemos que as pessoas, por seres humanos que são, não são assim: erram, se omitem, pecam, traem tanto quanto acertam, transformam, glorificam e vencem. Nós somos assim, eles são assim, eu sou assim —- muito mais talvez do que todos os outros.
Lucas Leiva, o mais novo dos veteranos, pediu para voltar. Queria encerrar carreira no time pelo qual é apaixonado. Os torcedores, mesmo escolados com a decepção proporcionada por outros que, recentemente, tomaram a mesma decisão, oferecemos a ele o benefício da dúvida. Teve dificuldade para se readaptar ao futebol (mal) jogado na Série B e aos desacertos de um time que até agora não entendeu o que está fazendo na segunda divisão. Foi reposicionado em campo e dá a impressão que se redescobriu mais à frente, onde mata suas sede e fome de gol. Marcou o primeiro de hoje, o segundo dele nas duas últimas partidas disputadas.
Diego, nosso goleador, soube-se agora, além de enfrentar a violência, a pressão dos zagueiros e o peso da idade, precisa superar a dor de uma hérnia inguinal que entra em campo com ele, acompanha-o em cada disputa de bola e torna os movimentos ainda mais difíceis. Hoje, mais uma vez, subiu ao lado dele, mais alto do que todos os marcadores para, de cabeça, definir a vitória. Se o número de gols somos capazes de registrar —- foram 13 apenas nesse campeonato —, incontáveis foram as vezes em que vimos nosso atacante orientando companheiros, sinalizando o melhor caminho a percorrer, mostrando qual o comportamento adotar diante dos diversos desafios que temos pela frente. Um líder na tabela de goleadores gremistas tanto quanto um líder à frente do grupo de jogadores.
Geromel foi pouco exigido na noite desta terça-feira quando demos mais um passo importantíssimo à Série A. Foi eficiente, como costuma ser, nas poucas vezes em que a bola rondou o espaço ocupado por ele. Mas é personagem, sim, desta Avalanche porque ninguém, nenhum outro jogador, veterano ou novato, se dedicou de forma tão séria à missão de elevar o Grêmio a seu patamar quanto nosso zagueiro, nesta temporada. Em campo, nunca deixa qualquer um que esteja vestindo nossa camisa esquecer o significado de vesti-la. É respeitoso com o adversário. Elegante no comportamento. Sério na execução de sua tarefa. Preciso, muito preciso nos movimentos que realiza.
Lucas, Diego e Geromel, veteranos que escolhi para serem personagens desta Avalanche, são, por merecimento, protagonistas da história do Grêmio. E da nossa ascensão que está cada vez mais consolidada.