
“.. as coisas mais simples provavelmente são as mais efetivas e poderosas. Ou seja, investimento em pessoas não é dinheiro, é investimento do seu tempo como líder, a atenção que você dá para as pessoas”.
Ruy Shiosawa, Great People
As empresas estão em extinção? A provocação é feita pelo mesmo cara que há dois anos extinguiu a sede da sua empresa para preservar o emprego das pessoas. Eu estou falando de Ruy Shiosawa, que era CEO da Great Place To Work quando a pandemia chegou e tomou a decisão de se desfazer dos escritórios em comum acordo com os demais profissionais da organização. Atualmente, Ruy está à frente da Great People, que reúne dez empresas que prestam os mais diversos serviços — de consultoria a produção de conhecimento — com a intenção de valorizar as pessoas e impactar a sociedade.
Você deve se perguntar, como alguém que comanda um ecossistema com tantas empresas questiona a existência delas. Esse tem sido o papel de Ruy ao longo de sua jornada profissional. Inspirar as pessoas a repensarem processos e comportamentos. Somente assim é possível desenvolver novas culturas e criar ambientes de trabalho saudáveis.
“O que que era uma boa empresa? Opa, uma empresa grande, uma empresa segura, estável, que desse uma carreira cheia de degraus … hoje, isso dificilmente alguém fala nesses termos. Então, hoje não importa se a empresa é grande, pequena — aliás, talvez daqui a pouco não tem mais empresa, tem conexão de propósitos, de objetivos com pessoas que podem apoiar o desenvolvimento desse propósito”.
Para este “empreendedor em série”, cuidar da saúde mental dos seus profissionais foi um dos desafios que a pandemia trouxe às empresas e seus líderes. Por que se um colaborador é diagnosticado com burnout isso está ligado à empresa e deixa de ser um problema apenas da pessoa. É responsabilidade da organização criar mecanismos para detectar esses riscos. Foi, aliás, diante da necessidade de criar estratégias capazes de identificar como está a saúde mental da equipe de trabalho, que a Great People criou a Jungle — uma das dez empresas do ecossistema. Uma das soluções desenvolvidas foi, a partir do uso da neurociência, a criação de uma análise, com mais de 200 variáveis, baseada em textos escritos pelos funcionários, que permite antecipar problemas de transtorno ou fragilidade:
“A gente detectou casos de atenção da saúde mental e detectamos casos graves. O fato de ter detectado no momento adequado permitiu que isso fosse encaminhado a um especialista para ser tratar. Agora, imagina você não dá atenção para isso, o que vai acontecer é que uma hora explode uma hora tem uma crise”.
O futuro do trabalho transformou-se em presente com a pandemia, de acordo com Ruy Shiosawa, e uma das discussões que se aceleraram foi o modelo de trabalho que a empresa deve seguir: remoto, presencial ou híbrido. Para ele não existe resposta única porque isso dependerá das pessoas que compõem aquele grupo de trabalho que chamamos de empresa.
Há realidades diversas e demandas que não são compatíveis, o que pode levar a empresa a perder talentos se não souber conjugar essas diferenças. Alguns têm família e gostariam de ter mais tempo para os filhos, outros preferem ficar na sua casa na praia, onde se sentem mais produtivos e livres, e há quem busque ambientes colaborativos e de aproximação. Os líderes têm de entender que atualmente valoriza-se muito a possibilidade de as pessoas organizarem seu próprio tempo e conciliarem vida pessoal e profissional. Portanto, é preciso flexibilidade.
“E aí qual é o ponto de atenção, como que a gente resolve isso? Liderança! Desenvolver pessoas que gostem de pessoas. E comunicação! Lembrando que comunicação é uma via de mão dupla”.
Diante disso, os métodos de feedback nas empresas ganham importância e precisam ser mais bem desenvolvidos. Chamar o profissional uma ou duas vezes por ano, cumprindo tabela proposta pelo RH, não é suficiente para entender as pessoas e desenvolver os profissionais. De acordo com Ruy, a experiência da Great People, pelo trabalho iniciado no Great Place To Work, comprova que a ferramentas do feedback é uma das mais poderosas para melhorar o ambiente de trabalho. Líderes que ouvem mais seus profissionais, através de feedbacks mais frequentes, conseguem resultados superiores do que aqueles que restringem esse canal de comunicação.
Para conhecer outras estratégias que podem engajar mais os profissionais, desenvolver as pessoas e preservar um ambiente saudável no trabalho, assista à entrevista completa do Mundo Corporativo com Ruy Shiosawa, CEO da Great People.
Ops, antes de pular para o vídeo: talvez você tenha percebido que em todo o texto não tivemos uma resposta exata para a pergunta inicial sobre a extinção das empresas. Se você quiser uma certeza, sim, em breve, estarão extintas as empresas da forma como são, mantendo hierarquias rígidas, com equipes “presas” dentro de escritórios, sem promover melhores relacionamentos entre os times e líderes afastados dos problemas que impactam seus profissionais.
O Mundo Corporativo tem as colaborações de Priscila Gubiotti, Guilherme Muniz, Renato Barcellos e Bruno Teixeira.