Avalanche Tricolor: vamos falar de André, o 77

Goiás 1×1 Grêmio

Brasileiro – Serrinha, Goiânia/GO

André recebe o abraço de Suárez em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Tem nome de goleador. E não foi qualquer goleador. Vamos lembrar: André, sobrenome Catimba, foi quem marcou o gol histórico que nos deu o Campeonato Gaúcho de 1977. Rememorar aquela competição é voltar ao instante em que, ainda adolescente, tive a maior alegria que o Grêmio poderia me dar naqueles tempos. 

Aos gremistas, caros e raros que visitam esta Avalanche, é desnecessário descrever o que representou o título estadual, após amargarmos sete anos de perdas. Hoje, é óbvio, os tempos são outros. Não apenas porque passou como sempre o tempo passa, mas porque as pretensões do Grêmio são muito maiores do que apenas manter a hegemonia estadual.

O André de hoje é bem diferente daquele, também. Quando Catimba entrou para nossa história, tinha idade avançada, 31 anos. Era experiente. Rodado, como se fiz no futebol. Seu apelido era autoexplicativo. De estatura mediana, conseguia furar bloqueios com talento, raça e muita malandragem. Encarava qualquer grandalhão que se atravessasse no seu caminho.  

O de agora é um guri. Apenas 21 anos. Nem apelido tem (ao menos não que valha destaque quando está em campo). Quando muito é lembrado pelo nome composto: André Henrique. Tinha apenas passagem em clubes de pequena expressão: Capivariano, do interior de São Paulo, e os catarinenses Marcílio Dias e Hercílio Luz, onde estava quando foi surpreendido com um convite para jogar na Arena. 

”Caraca, o Grêmio, clube gigante de A” — pensou consigo mesmo, como confessou na primeira entrevista já vestindo a camisa tricolor, em abril deste ano. Até aquele momento, André analisava convites de clubes da série B, lá por Santa Catarina mesmo. 

Se jogar na A era sonho distante, imagine ser o jogador reverenciado e abraçado por um dos maiores artilheiros da história do futebol mundial. Hoje, ao marcar de cabeça, após cobrança de escanteio de Ferreirinha, aos 48 do segundo tempo, foi de Luis Suárez o primeiro e efusivo abraço que recebeu na comemoração do gol que impediu que o Grêmio fosse derrotado, no fim da rodada deste domingo. 

Para marcar seu segundo gol com a camisa do Grêmio —- para mim o terceiro e mais à frente explico o motivo —, André primeiro disputou pelo alto com o zagueiro adversário e forçou o escanteio. Na cobrança que veio da direita, estava bem colocado e subiu muito para se safar da marcação e girar a cabeça em direção a bola, em movimento clássico de quem sabe o que está fazendo, que entende do riscado. 

A primeira vez em que havia comemorado seu gol com o Grêmio foi em jogo já decidido, uma goleada contra o Coritiba, na décima segunda rodada do Campeonato Brasileiro. Bem mais importante do que esse gol, porém, foi o que marcou nas cobranças de pênalti que nos valeram uma vaga à semifinal da Copa do Brasil — e esse não entra nas estatísticas, erroneamente. Depois do empate no jogo corrido e na primeira série de pênaltis, coube a André abrir a cobrança alternada. Teve segurança e categoria para superar o goleiro, estufar a rede, colocar o Grêmio à frente e jogar a pressão para o adversário. Como você deve lembrar, Gandro defendeu a última cobrança e o Grêmio está na semifinal.

André jogou pouco até aqui. Em raras partidas saiu como titular. Na maioria das vezes, entra nos minutos finais. Hoje, foi a campo aos 38 do segundo tempo quando já estávamos atrás do marcador e o empate parecia difícil diante da falta de criatividade do time. Seu esforço e talento no cabeceio nos renderam um ponto importante na disputa acirrada pelas vagas da Libertadores. 

Se alcançará os feitos de seu xará dos anos de 1970 é muito cedo para afirmar. O fato é que aos poucos parece estar se sentindo cada vez mais à vontade e confiante com a camisa do Grêmio, o “clube gigante da A”. E leva nas costas uma feliz coincidência. O número 77 do ano em que o pai dele nasceu (e essa foi a razão da escolha que fez) e do ano em que André Catimba entrou para a história do Imortal. 

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