Hoje o tempo voa, amore!

Por Abigal Costa

@abigailcosta

Foto de Isabella Mendes

Quantos papeis você já interpretou na vida desde o seu nascimento? Quem foi você nesses anos todos? 

Um ou vários personagens?

Se às vezes você pensa “quando eu era criança agia de tal modo”, ou “na adolescência gostava de certas músicas”, ou, ainda, “agora como adulta tenho mais obrigações”, de certa maneira está reproduzindo a ideia de  William Shakespeare que em ‘As you like it’ refere-se as sete idades do homem. Na peça que foi publicada em português com o título “Como gostais”, ele se refere ao mundo como um grande palco e a todos nós como atores que têm hora certa para entrar e sair de cena em sua trajetória de vida, começando pela criança. 

Shakespeare me faz pensar em quantos de nós paramos em um determinado personagem e dele resistimos em sair. Quantos não repetimos a mesma cena, a mesma fala e de forma mecânica? É como se os anos passassem apenas no calendário e não para o sujeito.

Se é certo que nós nos transformamos a cada acontecimento, como caber nas mesmas roupas, nas mesmas ideias, nos mesmos hábitos de criança quando a gente já tem CPF, carteira de habilitação e, muitas vezes, já trocamos a certidão de nascimento pela de casamento. Já funcionamos no modo “Pais” e esquecemos de trocar o figurino.

Dia desses conversando com uma amiga falei da morte como sequência natural para que o palco da vida seja ocupado por novos talentos. Até agora não sei qual a interpretação dela a respeito. Depois da minha fala  tão eloquente fiquei até sem graça em perguntar: e aí o que você pensa a respeito disso? 

De volta a troca natural de papeis e a relação com Shakespeare. O que fica para gente é a necessidade de viver cada personagem como ele é, único e efêmero, embora alguns pensem ao contrário. É saber saborear as transições como rito de passagem para o novo, não como perdas. 

Em “As you like it”, Shakespeare dá luz a reflexão da passagem do tempo e da urgência em aproveitarmos esse tempo vivendo em seus personagens adequados, justos. 

“Agora são dez horas e você pode ver como o mundo oscila; há uma hora em nove, dentro de uma hora serão onze; a cada hora que passa nós amadurecemos; a cada hora apodrecemos; nisso há toda uma história.”

Vamos lá! Pra que você não saia dessa conversa pensando que “nossa, a Big pegou pesado na relação tempo-vida”, vamos trazer o poeta Lulu Santos pra deixar o final mais leve:

“… Hoje o tempo voa, amor 

Escorre pelas mãos

Mesmo sem se sentir

Não há tempo que volte, amor

Vamos viver tudo que há pra viver

Vamos nos permitir”. 

Em outras palavras, Lulu e Bardo dizem a mesma coisa: tua vida está passando! 

Quantos personagens mesmo você ja interpretou até aqui?

Abigail Costa é jornalista, apresenta o programa Dez Por Cento Mais no YouTube, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein e especialização na Escola Paulista de Psicodrama, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

4 comentários sobre “Hoje o tempo voa, amore!

  1. Ótimo discorrer sobre o tema!!

    Me fez pensar nos diversos personagens que temos e como atuamos em cada um deles!

    A relação tempo vida é assim mesmo, um balançar no viver e no bem morrer!

  2. Que texto lindo e intenso.
    Como é importante essa reflexão sobre quem éramos e quem somos, o quanto aprendemos com o tempo e a beleza da passagem de bastão para novas gerações…
    Parabéns!

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