Por Yukiko Yamaguchi Tame
Ouvinte da CBN

No Conte Sua História de São Paulo, o texto da ouvinte da CBN Yukiko Yamaguchi Tame:
Sou a quarta filha de seis filhos de Shigeru e Mitsuru Yamaguchi. Meus pais chegaram ao Brasil em junho de 1959, trazendo quatro filhos pequenos, poucos pertences na bagagem e, no coração, muitos sonhos.
Ao desembarcarem no porto de Santos, fomos enviados para uma fazenda nos arredores de Campinas. Morávamos em uma casa de barro com telhado de sapê.
Após um ano de trabalho árduo, meus pais conseguiram quitar as dívidas da viagem com o fazendeiro e se mudaram para Parelheiros e, depois, para Piraporinha, onde passaram a trabalhar também como feirantes, além da lavoura. Nessas localidades nasceram mais dois filhos.
Cinco anos depois de chegarem ao Brasil, um golpe de sorte – e uma colheita excepcional de tomates – permitiram que meus pais realizassem um grande sonho: mudar-se para São Paulo. Com o dinheiro conquistado, adquiriram um bar e restaurante no bairro do Ipiranga, mais precisamente na Rua Lima e Silva, 725. Foi ali que começaram, de fato, a se sentir em casa, com esperança de criar os filhos e garantir a eles uma educação digna.
Frequentamos a querida Escola Estadual Visconde de Itaúna, que na época era uma das melhores de São Paulo, com professores excelentes e dedicados.
As festas juninas eram um evento aguardado. A rua era fechada, e as mesas ficavam repletas de quitutes em frente às casas, com fogueiras e brincadeiras. Apesar da dificuldade com a língua, a comunicação nunca foi um problema – meus pais eram brincalhões, respeitados e queridos por todos. Quando chovia e os pedestres corriam para dentro do bar para se abrigar, meu pai logo brincava:
“Chuva lá fora, mas pinga aqui dentro!”
O cardápio do dia também chamava a atenção dos clientes, que se divertiam com a maneira peculiar como meu pai anunciava os pratos:
“MACARONADA E FURANGO FURITO, FEJON ADA, BIRADO PAURISUTA!”
O bar estava sempre cheio, e o que dava um sabor especial aos pratos era o tempero extra: aji no moto, sakê, shoyu e pitadas de gengibre.
Minha mãe, Dona Mitsuru, tornou-se uma figura querida no bairro. Como os fregueses não conseguiam guardar seu nome, passaram a chamá-la simplesmente de Mamãe. Assim, ela ganhou filhos de todas as idades, cores, estados e profissões.
Meu pai, apesar de ser uma excelente pessoa, gostava muito de beber. O problema é que geralmente era uma dose para o freguês e duas para ele. Não foram poucas as vezes em que isso causou confusão, e a polícia precisou ser chamada. Mas ele já era tão conhecido que os policiais brincavam:
“Seu Shigeru, vamos passar essa noite no hotel da delegacia.”
No dia seguinte, ele voltava sóbrio e tudo recomeçava.
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
Yukiko Yamaguchi Tame é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é de Cláudio Antonio. Escreva o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite agora meu blog miltonjung.com.br ou vá até o Spotify e adicione entre os seus favoritos o podcast do Conte Sua História de São Paulo.