de absinto

 

por maria lucia solla

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somos vítimas de um mal olhado com vistas grossas
mal de proporção aflitiva
que causa dano à saúde individual e à coletiva
dano que dilacera cofre público e privado
que afasta o aspirante a bom do teu lado

desmancha casamento destinado a durar mais e quiçá para sempre
e arranca de nossa mão o que a vida oferece toda faceira de presente.

mal silencioso
sorrateiro
disfarçado
matreiro

encaroça o teu angu
empana o sol e traz para o prato
o camarão empanado nu e cru

mata mais e causa muito mais dano do que gripe aviária suína vaquina e passariina
e nem se fala nele
a gente se distraí criticando botando culpa olhando para o lado de fora que não está menos feio menos violento e nem menos bolorento que o lado de dentro

ou olhando por outra lente
o lado de fora está tão violento sujo mal administrado e vilipendiado
quanto o lado de dentro
uma confusão danada
e a gente distraída vai deixando pra lá
empurrando a vida com a barriga lipoaspirada

é o mal de conto de fadas
exposto ao qual fomos paridos educados e programados
mal que frequenta mesa cama e banho
que cria um banzé tamanho
nos rouba o alimento o sono e o prazer
deixando-nos de mão amarrada sem ter nada o que fazer

percebe
para um pouco e pensa

você tem à frente uma vida imensa
um dia da tua vida não vale mais nem menos do que toda a vida intensa do teu bisavô

para um pouco o que está fazendo e vem me escutar
o que pode acontecer é não gostar e me desligar

a mulher busca marido-príncipe-encantado
que a venha resgatar das mazelas da vida e das garras do anti-herói malvado
mas exige que conserve sua porção sapo bem dosada
porque afinal de contas o sedutor é o batráquio
e nele ela está viciada

e chega o príncipe lindo cheiroso gostoso montado
num pimpante cavalo branco malhado
invocado
príncipe de cavalaria
e ela não sabe o que fazer com o cocô da montaria

cravo e rosa hoje vendem página sangrenta de jornal
e gozam sucesso póstumo na mídia virtual

ali babá e seus ladrões têm marca recorde
a cada soar de violão
a cada acorde

o que tenho a dizer é isto
apaga tudo aquilo em que acreditava até agora
aperta o reset
e te prepara para o mundo novo que já chegou

deleta
resseta
arrasta para a lixeira
ultrapassa finalmente a fronteira

e diz comigo

meu Deus meu amigo
afaste de mim o absinto
e não permita que eu deixe de sentir o que hoje eu sinto

maria lucia solla é terapeuta e professora de língua estrangeira, aos domingos escreve no blog do mílton jung de forma maíuscula mesmo quando tudo é escrito em em minúsculo