A experiência de viajar de avião: mais trabalho e menos incômodo

 

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Mau humor de viajante à parte, é bem melhor viajar de avião agora do que no passado,  muito mais pelo avanço proporcionado pelas empresas aéreas do que pelo investimento feito pela Infraero, nos aeroportos. Os “privatizados” até que têm conseguido oferecer espaços mais confortáveis, tais como o Internacional de Guarulhos. Nos que estão nas mãos da estatal, contudo, as reformas andam a passos lentos.

 

Acabo de sair do aeroporto de Vitória, no Espírito Santo, de instalações acanhadas, espaço de embarque reduzido, áreas de prestação de serviço semi-abandonadas, goteiras nos aparelhos de ar-condicionado, que parecem desafiar a força da gravidade para se manterem pendurados na parede, e banheiros precários.

 

Dizem os capixabas que há anos ouvem promessas de que o aeroporto, sob a responsabilidade da Infraero, será reformado. Tem até projeto para mudar o sentido da pista e ampliar suas instalações. Uma rede hoteleira construiu seu empreendimento onde deveria ser o desembarque do “novo” aeroporto, contando com o fluxo de passageiros. O hotel já está pronto enquanto do outro lado da rua tem cerca, mato e uma placa anunciando que é área restrita da Infraero – ninguém pode entrar (nem gente competente?).

 

O dinheiro teria sido liberado no pré-Copa, mas se perdeu em algum lugar qualquer.

 

O último a fazer a promessa de melhorias, Eliseu Padilha, já pegou mala e cuia e desembarcou do governo Dilma, na sexta-feira última. Aliás, boa oportunidade para a presidente acabar com mais este ministério e entregar tudo para a pasta dos transportes, o que acho que não deve ocorrer, por isso, em breve, será nomeado mais um “fazedor” de promessas.

 

A verdade é que viajar ficou mais fácil se compararmos com as décadas anteriores. A tecnologia tornou as viagens de avião acessíveis e mais simples – mesmo que muitas vezes ainda tenhamos de sofrer pelo mal atendimento e atrasos sem justificativa. Quem lembra como eram as passagens antigamente? Blocos de papeis intercalados com carbono, escritos à mão, com letras ilegíveis e sempre prontos para serem perdidos pelo viajante. Às empresas cabia armazenar aquela documentação analógica e acumular despesas apenas para mantê-la em segurança.

 

Hoje, imprimimos a passagem em casa por força do hábito, é verdade, pois bastaria dedilhar seu CPF e mais um sem-número de números e letras para o bilhete sair impresso no totem. Os mais avançadinhos o fazem no próprio celular – apenas não consegui entender até agora por que no momento do embarque, quem preferiu economizar papel, perde mais tempo na fila a espera da máquina que lê o código de barras na tela do smartphone. Será que ninguém pensou em colocar um equipamento remoto?

 

A eliminação do check-in foi outra dádiva. No passado – e há quem ainda prefira desta forma – éramos obrigados a encarar enorme fila. Primeiro, com o pessoal da bagagem e dos sem-bagagem misturados. Depois, criaram a fila dos sem-bagagem, mas ainda com exigência de passar tudo por um atendente. Havia um tempo em que era solicitado que, mesmo com a passagem comprada, se telefonasse para a companhia aérea e confirmasse que viajaríamos. Agora, faço check-in em casa ou no smartphone e posso entrar direto na sala de embarque dos aeroportos. Ganhamos tempo!

 

O curioso neste novo procedimento é que as empresas diminuíram seus gastos com material, armazenamento e atendentes, e repassaram aos passageiros o serviço que realizavam antes. E nós achamos bom. Pode ser um paradoxo, mas apesar de termos mais trabalho a fazer, temos menos incômodo para viajar.

 

O dia em que os aeroportos brasileiros avançarem seus serviço  talvez viajar de avião seja tão simples quanto pegar o carro na sua garagem.

O que empresas de massa têm a aprender com a Gestão de Luxo

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

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No mercado do luxo, sabemos que a excelência na qualidade dos produtos e serviços é imprescindível, tanto quanto no atendimento, o que proporcionará a sensação mais importante nesta relação com o cliente: o encantamento. A busca dessa qualificação é necessária também em empresas que não atuam no segmento de luxo. Mas, por estarem em um mercado de massa, os produtos e serviços oferecidos por essas empresas poucas vezes atingirão o mesmo nível. Independentemente disso, com o mundo globalizado e o mercado competitivo, todos precisam estar antenados na arte de encantar – lição aprendida em livro assinado por Guy Kawasaki.

 

Recentemente, observei essa preocupação em um caso envolvendo um casal de idosos e a companhia aérea TAM. Os dois passageiros receberam atendimento de altíssima qualidade nos aeroportos de Guarulhos e de Miami. Um deles, prestes a embarcar em São Paulo, com bilhete em classe econômica, emitido a partir do programa de milhagem, com saúde frágil, sentiu-e mal ao chegar ao aeroporto internacional. No momento do check-in, foi pedido à TAM uma cadeira de rodas para que ele pudesse se locomover. Em menos de 5 minutos, a companhia forneceu não apenas a cadeira, como deixou um funcionário à disposição do passageiro, tendo-o guiado por todo o percurso, desde a passagem pela casa de câmbio, Sala VIP, portão de embarque até entrar na aeronave. Em Miami, no desembarque, o atendimento se repetiu, com o passageiro sendo transportado até a loja de aluguel de carro. O retorno para o Brasil, desde Miami, foi acompanhado da mesma atenção.

 

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As companhias aéreas são geralmente alvo de reclamação no Brasil e têm razão os que as criticam, pois pecam muito em seus serviços, principalmente em terra, por diversos motivos. Nesse caso, porém, é justo elogiar a excelência do atendimento prestado que encantou o passageiro mesmo ele não sendo um cliente da primeira classe ou executiva.

 

A experiência vivenciada pelo cliente é hoje algo percebido não apenas por consumidores de alto poder aquisitivo. Clientes de empresas que não são de luxo nem atuam no mercado premium também têm – e merecem – seu nível de exigência e a expectativa de um bom atendimento. Muitas companhias, de diversos setores, deveriam atentar-se a contribuição que o conhecimento de Gestão do Luxo oferece aos seus negócios, produtos, serviços e marcas, mesmo que atuando em setores mais populares, e aprender como encantar seu cliente, favorecendo a fidelização.

 


Ricardo Ojeda Marins é Professional & Self Coach, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Neste Natal, vamos comemorar em família

 

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O olhar voltado para o painel que anunciava o desembarque dos voos em Congonhas era de preocupação e dúvida, na noite dessa segunda-feira. Muitas pessoas não tinham ideia do horário em que o avião que esperavam aterrissaria em São Paulo. Bem pior: se desceria na capital paulista. Havia a possibilidade de seguir para Guarulhos ou Campinas. A chuva forte havia parado as operações no aeroporto e causado transtorno para muitas pessoas, em ar e terra. Apenas quando se aproximava das 10 da noite, os primeiro voos receberam autorização para chegar. E em meio a centenas de passageiros que saíam do setor de entregas de malas, para mudar o clima no saguão, surge um que estava vestido de Papai Noel. A preocupação da espera foi substituída pela surpresa e curiosidade em torno daquela figura exótica apesar da época do ano. Convenhamos, as roupas de inverno, completadas pelo gorro na cabeça, pouco têm a ver com o verão que acabara de se iniciar no Brasil, marcado pelo início da temporada de chuvas na região sudeste.

 

O Papai Noel passageiro claro que me chamou muita atenção, mas estava longe de ser minha maior surpresa no saguão do aeroporto nessa semana. Um dia antes, no domingo que antecedia a semana de Natal, fui receber parte da família que chegava para as festas de fim de ano, em São Paulo. Havíamos combinado de nos reunirmos em casa, mas não teríamos a presença do pai que ficaria em Porto Alegre. Assim que a porta de desembarque abriu, minha irmã apareceu empurrando o carrinho com mais malas do que costuma transportar, o que não foi suficiente para me antecipar a boa notícia que viria em seguida: meu pai, que você está acostumado a ler às quintas-feiras, decidiu nos acompanhar nas festividades e, sem avisar, embarcou para São Paulo. O que para a turma que mora por aqui, assim como para todos que se juntaram a nós, foi um grande presente de Natal.

 

Nesta noite, véspera de Natal, teremos bons motivos para estarmos juntos e compartilharmos o que vivemos neste ano que está chegando ao fim. Cada um de sua maneira poderá relatar vitórias e emoções, por mais difícil que tenham sido os momentos enfrentados. Apenas a possibilidade de, ultrapassados todo este período e todas as barreiras, estarmos mais uma vez reunidos entre irmãos, mulheres, maridos, sobrinhos, primos, filhos, pai e avô é razão suficiente para comemorarmos. Se há uma conquista da qual temos de nos orgulhar é a de estarmos unidos mais uma vez.

 

Como já escrevi em natais passados, a data sempre foi comemorada em família com rituais curiosos, como as saídas de casa no fim da tarde para que o Papai Noel chegasse e distribuísse os presentes embaixo da árvore. O roteiro era sempre o mesmo, ano após ano, com os irmãos arrumados e engomados fazendo um passeio com o pai até o Morro da TV, próximo de onde morávamos em Porto Alegre, enquanto a mãe ficava em casa para abrir a porta para o Papai Noel. Programa que durou um bom tempo, mesmo quando já tínhamos noção de que o tal passeio era apenas desculpa para a mãe ajeitar os presentes e acender as luzes da árvore. Hoje, mais importante do que o passeio, a árvore e os presentes é a possibilidade de nos encontrarmos.

 

Desejo que você, caro e raro leitor deste blog, tenha ótimos motivos para compartilhar suas alegrias e angústias em família, neste Natal.

Nova sala VIP em NY, velhos problemas em Guarulhos

 

Por Ricardo Ojeda Marins 

 

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Já falamos em alguns de nossos artigos aqui no Blog do Mílton Jung sobre cartões de crédito de luxo. Seletivos e cobiçados, esses cartões oferecem, entre seus principais benefícios, salas VIPs em aeroportos ao redor do mundo. Há apenas alguns dias, a American Express, que tem um dos cartões mais elitizados do mercado, abriu nova sala VIP no Aeroporto La Guardia, em Nova York.

 

A entrada para o Centurion Lounge, localizado no Terminal B, possui mais de 400 metros quadrados, elegantes e modernamente decorados, sendo cortesia aos associados The Platinum Card e Centurion Card, e seus familiares, ou até dois companheiros de viagem. Associados de outros cartões da bandeira American Express podem comprar o acesso ao lounge por um dia mediante o pagamento de USD 50. As comodidades incluem mimos como criações gastronômicas de Cédric Vongerichten – chef executivo no prestigioso restaurante Perry St, coquetéis e vinhos premium, espaço com acesso a internet, assessoria a clientes para reservas com restaurantes, companhias aéreas, hotéis e outros.

 

Impossível não compararmos o novo espaço com a sala vip da Amex no Aeroporto de Guarulhos (SP). Seja pelo que observei em minha últimas passagens pelo Centurion Lounge de GRU Airport seja pelo que leitores e amigos descrevem, é triste dizer que o serviço vem decaindo consideravelmente. Sala cheia, espaço Kids lotado de pessoas (adultas) sentadas no chão, demora na reposição dos alimentos, demora na limpeza das mesas;  enfim, nota-se que o serviço está muito longe da excelência que promete e distante do conceito que se busca: ser impecável. Para um cartão cuja anuidade é R$ 1.200, impecável é o mínimo que todo cliente espera de um atendimento. No Brasil, desde 2006, a marca American Express está sob os cuidados do Banco Bradesco.

 

Ricardo Ojeda Marins é Professional & Self Coach, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

A Copa da Hospitalidade

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

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Como muitos disseram nessa semana pós-Copa, o ano começou. Finalmente. Não há como negar que o Mundial e a ansiedade de esperar por ele tenham se parecido com um “carnaval depois da hora”. Um carnaval pra lá de divertido. E caro, mesmo para os privilegiados que conseguiram comprar ingressos para as partidas. Caro para os que sofreram assaltos e outros tipos de violência. E caro para os que viajaram, se hospedaram e consumiram nas 12 cidades que sediaram os jogos. Diante de muita alegria e festa, não podemos deixar de mencionar aqui o pessimismo pré-Copa do brasileiro. Frases prontas que escutávamos no dia a dia: “imagine na Copa”, “não vai ter Copa” e outras tantas que alertavam para os riscos de um fiasco.

 

Apesar de todos os problemas sociais e políticos do Brasil, e da seleção não ter sido a vencedora, a Copa foi um sucesso. Dentro desse sucesso, inevitável falarmos e elogiarmos a hospitalidade do Brasil. A hospitalidade não apenas como ferramenta de marketing, na qual os convidados desfrutam dos melhores lugares no estádio e de recepções exclusivas e personalizadas em áreas privativas, mas principalmente na hospitalidade do povo brasileiro que, ao redor do mundo, é conhecido por seu jeito alegre, pronto a ajudar, festejar e colocar-se no lugar do outro, seja para entender o seu idioma (mesmo sem muitas vezes ter a menor noção sobre este) ou para colaborar em uma situação difícil.

 

Elogios à parte, é inegável também que os serviços ainda precisam ser melhorados, e muito. Com ou sem Copa. A estrutura dos aeroportos, o atendimento de companhias aéreas, a prestação de serviços em restaurantes, hotéis e resorts de luxo ou não. Por mais que muitos estabelecimentos sejam renomados e considerados de luxo, ainda pecam no atendimento. Afinal, não basta boa vontade. É preciso conhecimento e estratégia das marcas e empresas de não apenas atenderem, mas entenderem cada cliente e, principalmente, encantá-los. O desafio está na mão das empresas, para recrutar, capacitar e motivar seu pessoal para oferecer a excelência em serviços.

 

Ricardo Ojeda Marins é Professional & Self Coach, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Companhias oferecem luxo a bordo e esquecem do atendimento em terra

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

 

A primeira classe de um avião ainda é um mundo restrito a passageiros privilegiados. Um mundo para poucos e cobiçado por muitos. Ali, uma minoria encontra espaço, conforto, boa gastronomia, amenidades especiais e, é claro, boas noites de sono.

 

Cada vez é maior o desafio para as companhias aéreas em exceder as expectativas de seus clientes. Algumas se superam quando o assunto é a excelência do atendimento a bordo. O conforto oferecido a seus passageiros não tem limite e pode chegar a requintes como cabines particulares com portas deslizantes, proporcionando uma privacidade invejável durante o voo. Os benefícios incluem ainda menus assinados por chefs renomados, bebidas premium, lençóis de seda, pijamas, travesseiros e amenidades com assinatura de grifes do peso da Bvlgari e Ferragamo, por exemplo.

 

 

O luxo proporcionado a bordo pode ser, digamos, incontestável. Porém, esse atendimento personalizado e exclusivo ainda deixa a desejar nos serviços em terra prestados por companhias no Brasil, sejam brasileiras ou não. Os atendimentos por telefone e aeroportos ainda demonstram falhas graves: falta de conhecimento sobre destinos e produtos oferecidos pelas companhias, além da falta de educação. Por telefone, por exemplo, todo cliente, independentemente da classe de seu voo, pode ficar na espera por intermináveis minutos para obter qualquer tipo de informação. Os programas de milhagem, aliás, cada vez mais restritos quanto ao uso dos pontos e com mudanças em suas regras, são os que mais causam insatisfação. Falta conhecimento por parte dos funcionários, o que significa falta de treinamento,que gera informações incorretas e deixa os clientes insatisfeitos.

 

Clientes da primeira classe em geral possuem o cartão de milhagem mais elevado da companhia, são chamados de cliente preferencial, pagam valores altíssimos para voar, mas esbarram em falhas a princípio grosseiras e em situações onde se espera no mínimo rapidez, eficiência e gentileza, especialmente no mercado brasileiro; sem contar, com a falta de estrutura de alguns aeroportos no país.

 

Ricardo Ojeda Marins é Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Aeroporto são feitos para funcionar; quando não funcionam …

 

 

Aeroportos são feitos para funcionar, tanto quanto os aviões. Problemas técnicos ou falhas no gerenciamento de crise costumam provocar grandes prejuízos (até mortes, no caso dos aviões): negócios deixam de ser realizados, reuniões não ocorrem, agendas sofrem transtornos e sonhos não se realizam. Especialmente no período de férias, expectativas de famílias inteiras são frustradas, pessoas que se reencontrariam têm de estender a saudade, e planos, às vezes construídos por um ano inteiro, outros por toda uma vida, são adiados. Fora os momentos que nunca mais serão vividos (ou sentidos) pelos passantes.

 

Há situações, porém, inevitáveis, para as quais aeroportos e aviões têm de estar preparados. Nos Estados Unidos, onde estou nessas férias, turistas vivem um cenário de intranquilidade, para dizer o mínimo. Todo dia, milhares de voos são cancelados devido as nevascas que atingem parte do país, que enfrenta um dos seus mais rigorosos invernos. Algumas temperaturas beiram o absurdo, termômetros marcaram -40ºC, em Minnesota, e a sensação térmica pode chegar a -51ºC, em Chicago. Onde estou, mais ao leste, a neve foi intensa e curtimos um inverno de aproximadamente -20ºC, aulas não foram reiniciadas depois dos feriados de Natal e Ano Novo e muitos trabalhadores ficaram em casa. A possibilidade é que o frio permaneça intenso por mais alguns dias.

 

Domingo passado, a caminho do aeroporto La Guardia, em Nova Iorque, cruzamos por painéis eletrônicos anunciando o fechamento do aeroporto JFK, que fica um pouco mais à frente. Logo me solidarizei com as centenas de brasileiros sem condições de retornar para o Brasil, conforme havia lido em reportagens horas antes na imprensa local. Soube depois que um avião da Delta derrapou na pista sem causar danos, mas espalhou neve e medo na tripulação e nos passageiros. A mesma empresa domina os terminas C e D do La Guardia, aeroporto que tem voos mais curtos do que o JFK, e de onde pretendíamos seguir para Burlington, cidade que está a meia hora de uma estação de esqui, Stowe, no Estado de Vermont. Depois do check in feito, malas despachadas, bilhetes na mão e todos assentados na sala de embarque fomos informados que o voo estava cancelado. Mais informações no guichê à direita, orientou o funcionário da Delta. Não demorou muito para percebermos que a diversão ficaria adiada para as próximas férias. Não havia lugar nos voos para os dias seguintes e menos ainda a garantia de que estes conseguiriam decolar em direção à Vermont.

 

E agora você começará a entender porque iniciei este texto reforçando a ideia de que os aeroportos foram feitos para funcionar. Os daqui dos Estados Unidos costumam andar muito bem levando em consideração o número de passageiros e voos diários, além da complexidade de se atender um pais com essas dimensões e o trauma de atentados. É o que se espera de qualquer aeroporto do mundo: atendimento rápido, serviço de qualidade, conforto para o embarque, organização e segurança. O problema é que existem fatores que fogem do controle de seus administradores como as intempéries: vento forte, nevoeiro, chuva ou neve intensas. E para essas tem de se ter um plano de contingenciamento que ofereça o mínimo de respeito aos passageiros, vítimas de todo este processo e, afinal de contas, quem financia o negócio.

 

A experiência que encarei no La Guardia não me dá garantias de que os administradores estejam prontos para essas dificuldades. O valor da passagem, disseram os funcionários, será restituído, bastando fazer contato com a empresa por telefone. Tudo muito simples (e em 20 dias úteis, me parece). Tanto quanto seria para resgatar minhas duas malas que, soube depois, deveriam ser devolvidas em até uma hora e meia. A primeira apareceu uma hora depois em uma esteira rolante de outro voo no terminal em que eu pretendia embarcar. A segunda foi protagonista de uma aventura que me levou a visitar mais três terminais por mais de uma oportunidade, entrar na fila de reclamações quatro vezes – algumas enormes (as filas) – e perceber como é vulnerável o sistema de segurança. Vários passageiros a espera das malas assim como várias malas a espera de passageiros formavam um cenário caótico. A argentina soube que suas malas tinham seguido para Vermont, o polonês teve a garantia de que as suas estavam por ali, em algum lugar qualquer, provavelmente acompanhadas pela minha mala que a atendente, bastante simpática, tinha certeza de que permanecia no aeroporto, apenas não sabia onde. Foram cinco horas de espera até ser informado de que algumas malas teriam sido entregues em terminal próximo dali e, se eu tivesse a sorte, a minha estaria por lá. Dei sorte.

 

Aeroportos foram feitos para funcionar, mas quando não funcionam, têm de estar prontos para gerenciar crises e oferecer o mínimo de transtorno possível ao passageiro que, convenhamos, já teve frustração suficiente ao não alcançar seu destino.

 

PS: com as malas de volta e roteiro modificado, minhas férias vão muito bem, obrigado. E os patrícios estão mais tranquilos por saberem que não me arriscarei em uma pista de esqui, novamente. Ao menos, por enquanto.

Luxo ao alcance do seu passaporte

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

 

Viajar é algo prazeroso e o consumo faz parte desta experiência, independentemente dos viajantes serem ou não apaixonados por compras. Para o brasileiro, fazer compras, sem dúvida, faz parte de seu DNA. E, muitas vezes, o desejo do consumidor já começa a ser saciado antes mesmo de levantar voo.

 

Muitas marcas de luxo estão presentes em aeroportos do mundo, algumas com lojas próprias, outras com “corners” em lojas de conceito “duty free” e muitas apenas tem seus produtos em lojas “duty free”, caso bem comum para perfumes, maquiagens, óculos e outros acessórios. Questiona-se muito se a presença de marcas prestigiosas em aeroportos poderia banalizá-las, principalmente por sua exposição e acessibilidade. Ao disponibilizarem alguns de seus produtos nesses ambientes, as marcas devem ter rigorosa política de distribuição, comunicação e precificação, fatores aliás essenciais para a gestão de luxo. Os circuitos de divulgação necessários à divulgação dos objetos e produtos de luxo acessíveis são seletivos, porém muito mais numerosos e maiores que os do luxo intermediário. No ponto de venda, há um espaço físico reservado a esses produtos, com o seu merchandising próprio. A distribuição é seletiva nos casos de roupa, joalheria, perfumaria e acessórios.

 

 

Um bom exemplo é a prestigiosa grife Hermès, que comercializa algumas de suas coleções de gravatas em lojas “duty free” de aeroportos ao redor do mundo, inclusive no Brasil. A gravata, um dos ícones da marca, é considerada ítem acessível, além de ótima opção de presente – ideal para o consumidor que às vezes se esquece de uma compra ou não teve tempo nas cidades visitadas durante a viagem. Há um cuidado especial da Hermès ao escolher quais produtos vender ali. Dificilmente se verá itens de edição limitada. A grife tem também pontos de venda próprios em aeroportos diversos, em destinos como Londres, Cingapura e Hong Kong.

 

Vale ressaltar que um produto de luxo acessível deve manter a produção com elevada qualidade, a utilização de materiais excelentes e preço ligeiramente inferior. Nesse mercado, seu consumidor-alvo é bem diferente dos luxos intermediário e inacessível. A produção baseia-se na necessidade de fabricar os produtos o mais racionalmente possível, utilizando-se recursos industriais modernos em produção em série, podendo assim rentabilizar a operação.

 

Ricardo Ojeda Marins é Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Conte Sua História de SP: futebol na cabeceira da pista

 

Por Omar Ayub
Ouvinte-internauta da CBN

 

 

Em 1969 mudei da Alameda Barros, 164 (vizinho de fundos da Rádio Globo da rua das Palmeiras), para um bairro longe do centro: Jardim Aeroporto e me tornei o mais novo vizinho do Aeroporto de Congonhas. Para um garoto de 11 anos essa proximidade foi espetacular. Já adianto que apesar do fascínio pelos aviões  não me tornei aviador, piloto ou qualquer profissional ligado a área. Estudei na Escola Estadual de 1º Grau Congonhas (depois denominada Prof.ª Ilka J. Germano) e após na Escola Estadual de 2º Grau Padre Manuel de Paiva. Hoje, somente os edifícios existem, servindo a outras atividades pois as escolas foram fechadas, segundo as autoridades da época devido a baixa procura dos moradores do bairro. Passo pelos prédios e me lembro das salas de aula, dos colegas, da sirene, dos professores e das aventuras que vivíamos na década de 1970. Mas o que gostaria de contar mesmo é de outro lugar que não existe mais.

 

Vizinho a atual Av. dos Bandeirantes e bem “debaixo” da cabeceira da pista do aeroporto na Av. Washington Luís, existia um campo de futebol de várzea, sem um centímetro quadrado de grama, pura terra. Nós garotos que usávamos esse campo o apelidaram de Campão. Não sei se era grande mesmo ou se parecia enorme devido ao nosso tamanho. Acordávamos cedo, aos sábados, para sermos os primeiros a usá-lo, pois a procura era grande e a fila para jogar maior ainda. Enquanto corríamos atrás da bola parávamos de quando em quando para observar os aviões que passavam por cima de nossas cabeças. Parecia que bastava levantar as mãos para tocá-los. Sábados à tarde e aos domingos, o Campão recebia os times de várzea e ficávamos junto a uma torcida numerosa e animada observando e admirando aqueles jogadores uniformizados.

 

O tempo passou muito rápido, a demanda por voos também e a pista do aeroporto precisou ser aumentada. A ampliação custou os sonhos de muitos jogadores e o Campão deixou de existir. Passo todos os dias pela Av. Washington Luís, lembro-me do posto Shell, que já estava lá desde 1969 e foi atingido pelo avião da TAM. Lembro-me das chácaras do bairro que forneciam verduras e legumes e onde hoje existem casas e prédios, mas, principalmente, lembro daqueles garotos que corriam atrás da bola, vibrando, rindo, gritando, sorrindo, xingando…

 

Lá se vão mais de 40 anos e ainda hoje vejo o Wellington, o Antônio, o Paulo, o Claudio Bento, o Augusto, o Mauro Japonês, o Gladstone disputando a bola com a única preocupação de sermos felizes e aproveitarmos aqueles momentos mágicos no Campão, que já se foi.

 


Você pode participar do Conte Sua História de São Paulo enviando texto para milton@cbn.com.br ou agendado entrevista em áudio e vídeo no Museu da Pessoa pelo e-mail contesuahistoria@museudapessoa.net.

De mais um recomeço

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

Férias terminadas, missão cumprida, e agora a longa volta para o Brasil.

 

São cinco horas da manhã, e estou sentada na sala de embarque do aeroporto de Fort Lauderdale, na Flórida. Esta ala está passando por uma reforma e já tem homens trabalhando e martelando. Nada que incomode, mas fica tudo feio e desarrumado.

 

Não sei se você tem viajado pelos Estados Unidos e se já enfrentou a situação de ter que tirar os sapatos para que eles, assim como você e toda a tua bagagem, possam passar por dedos nervosos e Raio X. Esta é minha segunda experiência, e ainda terei mais uma quando chegar em NY para tomar o voo de volta para o Brasil.

 

Minha estreia ‘descalça no aeroporto’ foi quando embarquei, no dia 20 deste mês, de NY para a Flórida. Fui pega de surpresa, de sandália alta, daquelas de uma tirinha fina segurando os dedos e fivela no tornozelo arrematando o pacote. Quando vi que as pessoas tiravam os sapatos, entendi. Não!

 

Pos é, sim! Para tirar a sandália do pé direito foi menos complicado, uma vez que o pé esquerdo, apoiado num belo salto, me dava altura suficiente para esticar a perna direita, pôr o pé na esteira e, só um jeitinho aqui, outro ali, e lá se foi um pé. Mais difícil um pouco foi realizar a mesma proeza com o pé esquerdo, pois o direito, já descalço, me privava de uns sete centímetros. Já se vai tempo do meu tempo de balé, mas fiz um alongamento surpreendente e consegui tirar o segundo pé da sandália e colocá-la numa bandeja. plástica que foi rolando pela esteira, com meus outros pertences, para o exame minucioso de dedos nervosos e máquinas curiosas.

 

Adianta a fita e os dois pés já estão calçados novamente. Ufa! Esquisito, seu.

 

Além da desarrumação da sala de embarque, tenho reparado que a gritante maioria das pessoas não se arruma mais, para nada. Nem para viajar. Ou melhor, principalmente para viajar. Chinelo de borracha, bermudão e camiseta. Um ar desleixado invade o aeroporto que, há não muito tempo, era pura festa. Mas deixa para lá.

 

Meu voo só sai às seis, e preciso que as voltas da vida e do relógio não virem as costas uma para outra, porque o avião que me leva de volta a São Paulo decola às onze e quinze, do aeroporto JFK. Me espera ainda um desembarque, e a tortura da espera por minha mala que será desovada (a gente nunca tem certeza disso) da aeronave e levada para um passeio de carrossel e que venha se oferecer na minha direção. Depois disso, andança apressada pelo aeroporto, até a ala da American Airlines, e descalça de novo.

 

Quando meu pai começou seu primeiro trabalho remunerado, tinha só catorze anos e nenhum par de sapatos. Começou descalço. Isso me dá a certeza de que posso sempre recomeçar.

 

E a vida continua.

 

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung