Adaptação, mudança e coragem para combater enchentes

 

Debate na CBNSão Paulo tem jeito e recursos para enfrentar as enchentes, concordaram os três convidados do debate promovido pelo CBN SP, neste sábado. Há necessidade de se adaptar às mudanças do clima e rever nosso comportamento, disseram eles. Nem todos se entenderam, porém, quando o assunto era saber se as medidas que estão sendo adotadas seguem o caminho certo.

Em torno da mesa do estúdio que discutou “Ambiente urbano e mudança climática”, duas visões contaminadas pelo pensamento político, sim, mas muito bem intencionadas e embasadas: Eduardo Jorge, secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, ligado ao PV, e Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e ex-vereador do PT. Ao lado deles, um técnico disposto a mostrar que há tecnologia e conhecimento sendo desenvolvidos, professor Hélio Diniz, do Instituto de Geociência da USP.

Eduardo Jorge deixa claro que se a discussão é sobre a mudança do clima não há tempo a perder, chegou duas horas antes do programa. Aproveitou para colocar em dia vários e-mails pendentes. Na camiseta desbotada, um recado: o meio ambiente é o equilíbrio. O professor Hélio fez aquecimento antes do debate ao explicar para o pessoal da redação o que leva a terra se mover a ponto de causar a tragédia assistida na área serrana do Rio. E Nabil Bonduki chegou quando todos estavam no estúdio e disposto a apontar erros das administrações municipal e estadual no combate às enchentes.

Com números e ações, o secretário Eduardo Jorge se esforça para mostrar as diferenças no comportamento dos governos paulista e paulistano com os do Rio de Janeiro diante da mudança do clima. Disse que enquanto na capital paulista foram removidas cerca de 20 mil famílias de áreas de risco, em seis anos, na serra fluminense tiraram apenas dez famílias.

Mesmo com estes dados, o problema na capital ainda é grave. Levantamento do IPT que não está à disposição do público mostra que ainda existem 29.993 famílias morando em 407 áreas de risco, informa o secretário.

Bonduki lembra que a prefeitura erra ao promover a saída das famílias através do pagamento de aluguel social. Segundo ele, é preciso políticas habitacional e fundiária para impedir que estes deixem uma área de risco por outra.

Pouco depois, o repórter Juliano Dip relata que encontrou famílias que viveram esta situação no Jardim Romano. Ficaram alagados ano passado, perderam a casa, receberam o aluguel social e se mudaram para o Jardim Pantanal. Estão alagados de novo.

E como o assunto é ocupação do solo, o professor Diniz comenta que fez pesquisa no Vale do Paraíba e identificou que 99% das estradas vicinais foram construídas ao lado do rio, em local impróprio e arriscado. Uma lógica que também marcou o desenvolvimento da capital paulista com avenidas sendo instaladas sobre e na várzea dos rios e córregos.

Foi a oportunidade para Eduardo Jorge alertar para a construção de parques lineares e o risco que mudanças no Código Florestal podem trazer para o ambiente urbano. Na réplica, Bonduki criticou o investimento na Nova Marginal que impermeabilizou a região e beneficiou o transporte individual.

Antes de encerrar perguntei sobre qual seriam as prioridades no combate às enchentes:

Eduardo Jorge

– Remover as quase 30 mil famílias de áreas de risco

Nabil Bonduki

– Políticas habitacional e fundiária para reduzir a especulação imobiliária e baratear o preço da terra;
– Desestímulo ao uso do automóvel com investimento em corredor de ônibus;
Liberar fundos de vales

Hélio Diniz

– Criação de selo verde para infraestrutura, ou seja obras apenas com respeito ao meio ambiente.
– Armazenamento da água da chuva

Acompanhe o debate nos links a seguir:

Governo promove ações para evitar o efeito estufa, diz Eduardo Jorge

Ações do governo são paliativas, critica Nabil Bonduki

Viabilização de Plano Diretor de Macrodrenagem é importante para evitar enchentes, afirma professor Diniz

Quais são as prioridades para evitar novas enchentes ?

Canto da Cátia: Ponto de desrespeito

 

Chuva na cidade de São Paulo

A Patrícia Madeira da Climatempo abriu a conversa ressaltando o número de pontos de alagamento na cidade, na quarta-feira (17.02). Teriam sido 92 segundo dados do Centro de Gerenciamento de Emergência da capital. Fiquei curioso para saber se este é um dado relevante para a avaliação feita pelos meteorologistas e ela explicou que a quantidade desses pontos dá a dimensão do temporal e a capacidade da cidade absorver a água da chuva. Estamos mal, segundo estes números.

Pelas ruas, a Cátia Toffoletto assistiu na quarta às ondas que se formavam na avenida Dom Pedro VI no bairro da Lapa, zona oeste da capital. E, hoje, encontrou o fiscal da CET se esforçando para impedir que novos pontos de alagamento se formem na avenida Eusébio Mattoso, próximo da Marginal Pinheiros.


Ouça a reportagem da Cátia Toffoletto que registrou a ação do fiscal da CET e após foi falar com o prefeito Gilberto Kassab que insiste na ideia de que a população reconhece o esforço dele para resolver os problemas.
(publicado às 19h30)

Isto não é o caos, é uma vergonha

 

(Atualizado em 10.12, 16h04)

Jardim Romano alagados (Pétria Chaves)

Os Jardins São Martinho e Pantanal, no extremo leste de São Paulo, estão alagados desde segunda-feira à noite, quando se iniciou o temporal na capital paulista. Dois dias após a enchente a água ainda toma as ruas pobres do bairro, como mostram as imagens feitas pela repórter Pétria Chaves, do helicóptero da CBN, e Cátia Toffoletto.

Jardim Romano Pessoas Alagadas (Cátia Toffoletto)

A Subprefeitura de São Miguel Paulista que seria responsável por oferecer qualidade de vida aos moradores da região – oficialmente chamada de Jardim Romano – divulgou nota sem oferecer muita esperança a quem está no meio do problema (ou da água): “a Subprefeitura, juntamente com a Sabesp e o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) estudam a possibilidade de desenvolver um projeto de engenharia para a região”. Enquanto estudam, as pessoas levam a vida do jeito que dá.

No CBN SP desta quinta-feira, o subprefeito de São Miguel Paulista falou sobre a situação enfrentada pelos moradores nesta região:

Ouça o que disse o subprefeito Milton Roberto Persoli

Canto da Cátia II: Sem saída

 

Rua da Cantareira

A chuva mal havia começado no meio da manhã, nesta segunda-feira, e a repórter Cátia Toffoletto já se deparava com alagamento da rua da Cantareira, próximo do Mercado Municipal de São Paulo. Sujeira nas calçadas e bocas de lobo entupidas davam sinais de que seguimos despreparados para os temporais na capital paulista.