Erros de adição

 

Por Milton Ferretti Jung

Arrependo-me até hoje do trabalho que dei ao meu pai no tempo de estudante. Incomodei-o – e à minha mãe, por extensão – desde os primeiros momentos da minha carreira estudantil. Do jardim da infância tenho uma vaga lembrança, mas marcante, pelo jeito. E olhem, leitores, que setenta anos, mais ou menos, me separam dessa etapa.

Derrubei numa das mesinhas da escola o café que levara como merenda. E não quis mais saber de voltar, talvez envergonhado pelo que devo ter imaginado ter sido um grande desastre. Não freqüentei mais jardins da infância. Fiz os meus anos iniciais do primário num colégio dirigido por freiras franciscanas. Tive rápida passagem por um público, mas retornei ao das irmãs porque este me pareceu muito bagunçado. Acho que faltavam professores. Daí para a frente, estive em vários educandários: Roque Gonzales, Anchieta, fui internado no São Tiago,em Farroupílha (do qual fugi mais de uma vez) e, finalmente, no Colégio Nossa Senhora do Rosário, onde meus três filhos também acabaram estudando.

Seja lá como tenha sido, em todos os colégios que cursei minha matéria preferida sempre foi o português. Adorava fazer redações. Tinha prazer em lê-las, depois, diante da turma. Os professores, em geral, modéstia à parte, pareciam gostar das minhas leituras. Creio que já começava a me preparar, sem saber, para a carreira que acabei abraçando – a de locutor. Agradavam-me também tanto as lições quanto as provas de história, que permitiam dissertações orais e escritas. E escrever nunca foi meu problema. Em português, história e línguas – inglês,francês e espanhol (menos latim, que apenas os alunos do curso clássico eram obrigados a estudar), eu me dava bem. Nem sequer conseguia acompanhar com atenção as aulas dadas pelos professores dessas matérias. Quase todos os anos ficava em “segunda época” numa delas, especialmente nas provas de matemática. Acho que hoje já não existem exames orais. Nesses, os alunos, eram chamados ao púlpito e tiravam um papelzinho no qual havia um número, que correspondia ao que teriam de responder. Certa vez, um professor ,ao perceber que eu não sabia a questão que sorteara (?), chegou a me pedir que falasse sobre algo de matemática que eu soubesse. O diabo é que eu, não sabia absolutamente nada de matemática.

Pois não é que descubro agora, com espanto – não muito grande,é verdade – que o Ministério de Educação e Cultura, além de haver quebrado a cara com uma publicação polêmica sobre português, que nem convém lembrar, meteu os pés pelas mãos também na área da matemática. Como esta é uma ciência exata e não permite tergiversações de caráter ideológico, não sei que desculpa será usada para a nova gafe. É impossível explicar somas e subtrações, por exemplo, em que 9 menos 2 é igual a 5 e 8 mais 4 é igual a 11.

O festival de besteiras patrocinado pelo MEC provavelmente não derrubará um ministro, como aconteceu com Antônio Palocci. Para que alguém caia, como o da Casa Civil,é necessário mais do que simples erros de adição.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Menos criança, melhor professor e jornalismo de qualidade

Imagem reproduzida do NYT

Provocado pelo secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, fui ler no site do New York Times reportagem sobre o aumento do número de alunos nas salas de aula, em Nova Iorque. O debate que se espalha nos Estados Unidos se reforça com a constatação de que nas classes nova-iorquinas tem de 10 a 60 por cento mais estudantes do que nas cidades vizinhas e isto estaria provocando a saída de algumas famílias que temem a queda na qualidade de ensino.

O prefeito Michael Bloomberg disse que se a escolha é por classes menores ou por melhores professores, ele prefere com os melhores professores. E, assim, o investimento na educação tem sido neste sentido.

Apesar da indignação das famílias, diz o NYT: “As reduções no número de estudantes na sala frequentemente tem pouco efeito na performance dos alunos”.

O debate se desenvolve há décadas e existem alguns consensos como o fato de que o tamanho da classe tem maior influência entre os mais jovens e o efeito é mais profundo quando existem menos de 20 estudantes na sala de aula.

A indicação da reportagem foi motivada pela conversa que tivemos sobre a qualidade da cobertura jornalística em especial na área de educação. Alexandre Schneider entende que, mesmo críticas e necessariamente críticas, as reportagens poderiam se basear em estudos científicos para termos um debate mais qualificado. No que concordo plenamente.

Tenho como exemplo, a discussão do sistema de progressão continuada, apontado como motivo do mau desempenho dos alunos na rede pública de ensino. Todo trabalho realizado até aqui foi incapaz de demonstrar que a forma padrão – “como era no meu tempo”, costumam  dizer alguns pais – com ciclos de apenas um ano seja melhor que a progressão continuada. Comparado, o desempenho de cada um dos sistemas é bastante semelhante. No entanto, se acompanharmos as notícias sobre o tema a tendência é de mostrar a incompetência do formato atual com ciclos de três ou quatro anos.

A revista Carta Capital promoveu esta discussão em uma de suas edições recentes.

De volta ao tema do NYT e de olho no que acontece por aqui.

No ensino infantil e fundamental, na cidade de São Paulo, o número médio de crianças nas salas de aula varia de 30 a 33, de acordo com o estágio de ensino, segundo dados de 1º. de março. Alexandre Schneider justifica que a quantidade de estudantes por classe tem diminuído nos últimos anos, mesmo com o fim do “turno da fome”, turmas que tinham de estudar das 11 da manhã às três da tarde.

Há determinação da Secretaria para limitar a 32 alunos as salas da primeira série e a 35 as demais, porém quem for ao extremo da capital encontrará classes com até 39 crianças. Situação que se complica a medida que ocorre nos locais mais pobres – Capela do Socorro, M’Boi Mirim, Itaim Paulista, e Perus -, onde a estrutura familiar também tende a ser precária.

Que professores mais bem qualificados poderiam superar esta demanda na rede pública de ensino, não tenho dúvida. Aqui ou em Nova Iorque. Aliás, jornalistas mais bem preparados para o debate, também.

Canto da Cátia: Prefeitura não tem prazo para zerar vagas na educação

A decisão da Justiça pedindo a abertura de 619 vagas em creches municipais no bairro da Penha, na zona leste da capital, não será suficiente para a prefeitura atender a reivindicação de mães e pais que moram nesta região da capital paulista. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse que o esforço da administração municipal tem sido enorme com a criação de cerca de 60 mil vagas em creches e 12 mil vagas em escolas de educação infantil.

A Cátia Toffoletto entrevistou o prefeito durante cerimônia de entrega de uniforme escolar em São Miguel Paulista, também na zona leste, insistiu para que ele falasse sobre prazos para “zerar”  esta carência que tem causado transtorno a famílias que moram na capital, mas Kassab fez o que pode para não se comprometer.

Na campanha eleitoral, ele assumiu o compromisso de que não haveria crianças sem creche até o fim do mandato dele, em 2012.

Ouça a entrevista de Gilberto Kassab (DEM) para a Cátia Toffoletto