Diego Felix Miguel

“De repente fico rindo à toa
Sem saber por quê
E vem a vontade de sonhar
De novo te encontrar”
“Cheiro de Amor” – Maria Bethânia
Prezada leitora, prezado leitor,
Quero te fazer um convite para iniciarmos essa conversa.
Feche os olhos por alguns instantes e reflita:
Quem você gostaria de levar com você na sua velhice?
Confesso que, no meu caso, a resposta não seria singular, e sim plural.
Lembrei de Spinoza, filósofo holandês que nos ensina sobre os afetos, essas transformações que ocorrem em nós, boas ou ruins, quando estamos em contato com outras pessoas e com o mundo. Afeto é justamente isso: o ato de afetar e ser afetado, registras em nós as marcas deixadas pelas experiências.
Ao pensar nisso, vários nomes vieram à mente. Memórias que relaxaram meu rosto e abriram um riso fácil, despretensioso. São vocês que nortearam meus pensamentos e que, em minha imaginação, gostaria de ter comigo daqui a 20 ou 30 anos.
Mas será que é assim que a vida funciona?
A vida nos ensina constantemente com os imprevistos e incertezas. Até lá, será que essas pessoas permanecerão ao meu lado? Continuarão sendo capazes de me fazer sorrir apenas por existirem nas minhas lembranças?
Não sei. Talvez seja pouco provável. Afinal, a vida não é linear. tudo se transforma, novas relações surgem, vivências inéditas nos atravessam.
Somos afetados o tempo todo. Descobrimos afinidades inesperadas, criamos laços que antes nem imaginávamos. Nesse curso imprevisível da longevidade, somos também ressignificados.
Com certeza essas pessoas estarão comigo de alguma maneira, seja presencialmente na minha vida ou nos afetos que se eternizaram no curso da vida, sejam eles positivos ou negativos.
Às vezes penso que os afetos são eternos, mas isso não significa que mantenham a mesma intensidade. O importante é não nos fecharmos ao novo, às experiências que, no passado, talvez não estivéssemos prontos para viver, mas que podem se tornar significativas o suficiente para permanecerem vivas até nossos últimos dias.
Os amores e os afetos que vivenciamos são diferentes, possuem intensidades distintas. Podem coexistir ao longo das décadas. Amar uma pessoa não anula a possibilidade de amar outra. Que garantia temos de permanecer com as mesmas pessoas até a velhice?
Pois é. Muitas perguntas, poucas respostas.
Como princípio básico, vale, então, considerar: mantenha sua rede afetiva nutrida de bons encontros e memórias, e esteja aberto a ressignificar as possibilidades de afeto conforme cada experiência. Não desperdice os vínculos que são verdadeiramente significativos para sua vida, eles podem, sim, ser eternos.
E você? Quem levaria para a sua velhice?
Diego Felix Miguel é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-SP. Mestre em Filosofia e doutorando em Saúde Pública pela USP. Escreve este artigo a convite do Blog do Mílton Jung








