De grito de amor

 

Por Maria Lucia Solla

Ouça De grito de amor na voz da autora

De grito de amor foto

te amava e odiava na mesma medida
um estica e empurra sem fim
te amava
o ardor me arrancava o sono
te odiava
o tino te arrancava de mim

te amava porque me sabias
odiava por me saberes demais
te amava porque me dizias tanto
odiava por não me dizeres mais

te amava porque era bom pensar em ti
odiava por te pensar demais

te amava porque sabias o que eu pensava de ti
odiava por não saber o que pensavas de mim

te amava porque me inspiravas
sobressaltava cada vez que respiravas
na esperança de que na minha saudade
suspirasses por mim de verdade

te amava quando me olhavas
odiava ao afastares de mim teu olhar
te amava ora bolas
será que é preciso explicar

amava e odiava confesso
te sonhava e orava amém
gritava e me calava no vazio da entrega
será que me sonhavas também

hoje vou levando dia a dia
tecendo minuto a minuto a vida
me atirando me fazendo atrevida
um estica e empurra sem fim
ai de mim!

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e promove curso de comunicação e expressão. Aos domingos, no Blog do Mílton Jung fala de amor e desamor

Conversa de manicure

 

Por Abigail Costa

Estava na manicure. Falamos do dia em que São Paulo travou por conta da chuva. Do marido que teve de andar duas horas a pé de volta pra casa. De uma possível gravidez (dela).

A família continuou na “roda” da conversa, mas o rumo do casal já não era o mesmo.

Separação. É, cada um para um lado. Não dá mais. Tchau.

Enquanto lixava a unha, o assunto ia sendo desenrolado.

– É assim, sem mais nem menos. Cinco, 10 anos de casamento. Meu amor, querida, minha vida. Aí ele chegou em casa e disse que não dá mais.
– Sem mais nem menos? Não teve briga? Ela não torrava o cartão de crédito dele ?
– Nada. A coitada até economizava. No super, ia com a calculadora nas mãos. No jantar, tinha sempre uma receita do cozinheiro bonitão da tv. Vai ver o marido, ou ex, ficou enciumado!

A frase não serviu pra descontrair.
Mas de fato, o que houve ?

-Encontrou outra.
-Mais bonita?
-Não! Mais nova. Ai que medo!

Rapidamente desenhei a história. Filhos, jantar sempre quentinho, conversas sobre o trabalho, fins de semana em família.

Por que o cara desistiu de tudo ? Só porque o outra era nova ?

Esse passar da idade para a mulher é realmente preocupante, No caso de algumas, pra evitar as rugas decidem pelo fim. Pela morte antecipada.

Peraí. Calma! Nem lá, nem cá.

Pense comigo. Você vem aproveitando tudo o que os 20, os 30, os ‘enta’ te trazem de bom e nem tão bom assim.

A gente não fica eternamente no primário, não é?
A gente não fica eternamente jovem, concorda?
Já é difícil enfrentar tudo, agora só falta pensar que “ele” vai te trocar por uma mais nova.

A manicure pensou no que eu disse. Pra ficar mais fácil resolvi fechar a conversa com um tom de auto-ajuda.

-Se isso te acontecer, você ficou com a melhor parte.
-Como assim ?
-Você teve a juventude dele!

Ela fez uma cara de…. então tá.

Pelo sim, pelo não, marquei com a minha dermatologista, estou interessada em novos cremes!

Hã, sobre uma eventual dor de cabeça, indisposição noturna, você me entende….. Nunca tive!

E não sei por que a conversa ganhou um outro rumo.


Abigail Costa é jornalista, escreve no Blog do Mílton Jung às quintas-feiras, e motra em seus textos como é possível amadurecer sem deixar de ser jovem.

De amor que alimenta a alma

 

Por Maria Lucia Solla

Ouça “De amor que alimenta a alma” na voz da autora

Santa

Olá,

Às vezes parece que não se tem nada a dizer. A gente puxa daqui, estica dali e se sente oca.
Carcaça.

Quando o corpo enfraquece, a gente fica sem força para lutar.
Tudo rateia, e você não sai do lugar.
A impotência que se sente, é de assustar

Não existe receita e muito menos remédio milagroso para momentos assim.
É aguentar o tranco e se agarrar à vida.
É dizer o que se tem lá dentro, para fazer que a alma se sinta de novo bem-vinda e te faça sentir vivo sempre, e ainda.

É lutar contra o desânimo porque é ele o barqueiro que leva de nós a alma, antes do tempo previsto, quando a gente está desanimada.
Quando não acredita mais em nada.

Então, é se agarrar ao sentimento de amor que alimenta o invisível, de tal forma que o visível se fortalece e revive.

É lembrar-se de que o segundo passo depois de estar desanimado é ficar desalmado.
Passa-se a ser zumbi!
E o fim triste está aí.

Na imensidão das faces da vida, quem termina assim pena até reencontrar-se com a alma e se reconciliar com ela.

Se não me reconcilio com minha alma todos os dias da vida, se não dou boas-vindas a cada novo dia; a cada nova oportunidade, ao abrir meus olhos depois do sono;
se acredito em tudo o que vejo com os olhos do corpo,
meu corpo fica girando feito bobo da corte, tonteia, falseia e cai.

Insisto na beleza da vida. Insisto na beleza do ser humano. Insisto na possibilidade de redenção – sem obrigação -, sentindo o ar que respiro e agradecendo por ele.

Preciso disso. É o meu modo. E conto para você, não com intuito de ensinar, porque mesmo sendo educadora, não acredito nele. Acredito no aprender.

Só quem sabe aprender pode abrir o seu cardápio e oferecer amostras dos limites que percorre.

Eu teria, hoje, um catatau de gente para enviar a minha gratidão. Vou escolher dois anjos que povoam a minha vida.
Duas Silvanas.
Duas mulheres que se reconciliam com suas almas e a trazem estampada no corpo inteiro.

E você? Está agarradinho à sua alma? Tem uma gratidão especial querendo explodir no fundo do teu coração?

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung e se fortalece a cada frase que compõe, sempre pensando no seu apoio para reescrever o livro “De bem com a vida mesmo que doa”

A Cristo S. N. crucificado estando o poeta na última hora de sua vida

 

De Gregório de Mattos

Meu Deus, que estais pendente de uma madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso cordeiro.

Mui grande é vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito

Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar


Por sugestão do ouvinte-internauta Sergio Emerici Longato em comentário neste Blog

Pra falar de amor

Por Maria Lucia Solla


Olá,

Pra falar de amor precisa ter coragem, porque amor é coisa séria, entremeada de muita bobagem.

Amor é feito de tudo, principalmente de cor, de alegria e de muito bom humor.

Amor é leve mas tido por pesado; é livre, corre solto, e sofre se acorrentado

Não importa. Se eu disser que sei de amor, estou mentindo; num dia disserto, no outro penso: será que enlouqueci? De certo!

Pensando no amor, suspiro, me viro, busco palavras e quase piro!

Faz três dias que me afino, buscando o termo certo, mas não encontro nem um por perto.

As letras brincam comigo; me espreitam e riem de mim, fugindo, se escondendo, quando eu acho que tô podendo.

Me dá as costas não é, palavra danada. Se me irrito, me calo e não digo mais nada. Você vai ver, eu paro de escrever.

Dito isso, penso: que doida esta situação! Eu querendo escrever e as palavras se pondo a correr.

Se vão então as palavras, aos saltos, aos centos e eu correndo atrás delas, tentando salvar  aos menos os seus acentos.

Pensa que vão em procissão, cabeça baixa balbuciando uma oração?

Que é isso, que nada! Saem correndo de mão dada, rindo e pulando, em bando, uma alegre gurizada!

Então me faço menina pra surpreendê-las na esquina.

Não há estratégia que vingue, se a gente se põe muito sério. Amor quer flor,  quer cor, mas aceita também um leve impropério.

Peço a Deus e a Nossa Senhora que me mostrem o rumo do amor e ouço claramente a resposta ao meu clamor:

E amor tem rumo certo? Amor é livre, é solto. Deixa teu coração escancarado de tão aberto que você vai encontrar, de certo!

Ainda teimando, palavras eu tento ajustar. O sujeito vai aqui, e um verbo não pode faltar. E o resultado e que minha mente também teima e continua a falhar.

E ouço ainda de longe a voz de um anjo que insiste. E amor tem regras, menina? Só se você quiser perdê-lo ali, na próxima esquina.

Que é isso? Insisto. palavra é palavra e eu sou gente! Sou o máximo da criação, penso toda imponente.

E é aí que apanho, levo um tombo tamanho que me deixa tonta, sem conseguir pensar, e é só então que consigo do amor começar a falar.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, escreve no Blog do Milton Jung.

Namorar

Por Abigail Costa

Está aí uma palavra que eu ouço com certa sonorização.
Namoro: encantamento, descobertas, interesses.

Uma relação que começa num sorriso e se estende nas palavras. Se fosse comparado as estações, teria a sensualidade do verão, o charme do inverno, a luz do outono e a delicadeza da primavera.

Namoro deveria ser eternizado durante todas as fases do relacionamento. E por algum tempo apenas trocar a aliança. Do lado direito para o dedo da mão esquerda.

Imagine falar isso numa roda de conhecidos há uns vinte anos?

Me lembro de algumas justificativas para não querer namorar. Uma delas, compromisso. Conheci gente que tinha até discursso pronto.

– Isso é ir para a forca!

Ainda bem que muitos deles hoje, já não pensam assim. Buscam o lado prazeroso do namoro e fazem o possível para não pegar pesado nas cobranças, muito menos perder o interesse depois dos muitos anos de convivência.

Serão, de  preferência,   encontros intermináveis mas  com a sensação de ser sempre um dos primeiros.

Aproveite o feriado prolongado para namorar.

Faz bem para o corpo, alma e pele.

Abigail Costa é jornalista e eterna namorada.

De Imaginação

Por Maria Lucia Solla

Click to play this Smilebox slideshow: 164 De imaginação
Create your own slideshow - Powered by Smilebox
Make a Smilebox slideshow

Olá,

Um dia, assim de repente, descobri um você diferente.
Vi chispar do teu olhar  um brilho perigoso;
envolvente.

Teu olhar se fazia espelho que refletia meu desejo com definição digital.
Mas, assim como veio, um dia se foi. Deixou tudo opaco;
no escuro total.

Teus ouvidos eram caixas que amplificavam meus pensamentos.
Um dia, assim como gritavam, se calaram. Pobre de mim;
dos meus sentimentos!

Através do teu olhar, que me traduzia tão bem,
eu compreendia um pouco do que morava em mim.
Aquilo que me dava orgulho, e aquilo que me envergonhava,
também.

Teu olhar era a esperança do beijo que eu acreditava possível,
através do meu louco desejo.
Mas ele se fez ausência na presença, tornando o beijo
impossível.

Ele acendia a luz, quando a dor me impedia de ver.
Mas hoje permite à dor
me envolver.

Teu olhar me perguntava coisas que eu não sabia, então, responder.
Será que foi por isso que resolveu de mim
se esconder?

O olhar pode ser cúmplice, traidor, juiz e defensor.
É ladrão de pensamentos, sem dúvida. É santo;
é pecador.

Na sua passagem, fez nascer em mim um amor tão grande, que jamais conheci.
Será que fui eu que de algum modo o espantei? Não sei;
não percebi.

Só sei que hoje procuro e filosofo de lanterna na mão;
não para encontrar o homem, mas
o seu coração.

Será que de tão romântica, isso tudo eu sonhei?
Vai ver que não vi esse olhar com meus olhos;
apenas imaginei.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, aqui no Blog do Milton Jung, nos faz imaginar que a vida é uma poesia

De Amor

Por Maria Lucia Solla

 

Olá,

Há quanto tempo você não se entrega a um poema?
Acabo de vir de uma linda festa de casamento, e estou permeada de amor.
Então, decidi sair de cena, ler um ou dois poemas, antes de dormir e deixar você aos cuidados de Paul Géraldy, poeta e dramaturgo francês.

Poema de Paul Geraldy

E, em francês, português, ou noutra lingua qualquer, me diga, o que você pensa do amor?

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, faz de seus pensamentos poemas no Blog do Milton Jung

 

O egoísmo do bem

Por Abigail Costa

Passamos boa parte da infância ouvindo frases do tipo:
– Não seja egoísta!  Deixe seu irmão pegar seu brinquedo!

Mais tarde,  outras frases com a mesma palavra soam mais duras:
– Que egoísta! só pensa nele.

E-GO-ÍS-MO = Apego excessivo a si mesmo(a).

E agora? Vai dizer que nunca ninguém  a aconselhou a pensar mais em você; a aprender a dizer não; a se cuidar primeiro,  depois os outros; e por aí vai.

A história é  que ouvimos de um jeito, mas a interpretação pode e deve ser outra. Se não fosse assim,  na escritura sagrada  não haveria entre outros mandamentos:
– Amarás o teu próximo, como a ti mesmo.

Essa é a minha parte preferida. Aquela que, sem remorso, levanto e volto pra cama com a sensação de dever cumprido. Cuidei de mim, antes de… Fiz isso por mim,  apesar de…. Me olhei primeiro.

Tem alguém no mundo que sabe mais de você, do que você mesma ?

Claro, estamos rodeados de gente adorável, mas falo de conhecimento íntimo, daquele de mim pra mim mesma.

Repare que quando nos tornamos egoísta, quando aprendemos a nos ver, o reflexo exterior é quase que imediato.

É como se uma luz, dessas de pisca-pisca, sinalizasse boas novas. As pessoas percebem que aconteceu algo.

A interpretação disso não é cada um por si e Deus pra todos. Não é dessa forma. É saber até onde se pode ir sem se machucar, e perceber até quando se pode ajudar sem faltar a si mesma.

Um egoísmo do bem. Sem prejuízos a terceiros.

No máximo, de vez em quando um estrago no cartão de crédito. No caso de querer  muito, mas muito,  agradar a si mesma !

Esta parte final  da conversa fica para uma outra quinta.

Até mais !

Abigail Costa é jornalista e, sem egoísmo, fala de si mesma para todos nós toda quinta-feira no Blog do Milton Jung