O bom livro – até aqui – de Steve Wozniak, que criou o primeiro computador pessoal e fundou com Steve Jobs a Apple, traz logo em seu primeiro capítulo uma aula de jornalismo.
Ele descreve brincadeira que fez junto com a mãe durante visita do candidato ao governo do Estado da Califórnia, Richard Nixon, à cidade de San Jose, em 1962.
Compareceu ao evento com um cartaz escrito a mão no qual declarava que o grupo de Operadores de Radioamador da Escola da Serra o apoiava. A brincadeira estava no fato dele ser representante dele mesmo, pois era o único operador na turma de alunos.
A surpresa de Wozniak, descrita em “iWoz”, editado pela Évora, no Brasil, é que sua foto apareceu na primeira página do jornal local como se fosse uma verdade:
Foi divertido e tudo, mas algo me incomodou, e digo que continua me incomodando até hoje. Por que ninguém percebeu a brincadeira? Ninguém checa os fatos? A chamada do jornal dizia algo como: “Steve Wozniak, alundo do sexto ano, representa um grupo da escola a favor de Nixon”. Eles não entenderam que não existia grupo algum da escola, que era tudo uma brincadeira que minha mãe havia preparado para mim. Isso me fez pensar ser possível contar qualquer coisa a um jornalista ou a um político que eles simplesmente acreditriam. Isso me deixou chocado – foi uma brincadeira que todos consideraram fato sem nem mesmo pensar duas vezes a respeito. Aprendi com isso que, em geral, as pessoas acreditam no que contam para elas – tanto brincadeiras quanto histórias malucas.
A história serve para lembrar que jornalista tem de ser desconfiado por natureza sob o risco de contar apenas a verdade que interessa à fonte, quando nosso papel é publicar toda a verdade – que, afinal, é o que interessa ao cidadão.

