Conte Sua História de São Paulo: a árvore centenária da Diógenes

Valdir Paulo Soares de Lima

Ouvinte da CBN

A árvore centenária da Diógenes Foto do ouvinte Valdir Soares de Lima

Estou com 64 anos. Sou taxista há 30. Passei minha infância, até os 14 anos, brincando e circulando pela Vila Leopoldina. Assisti à inauguração do centro esportivo Pelezão com a presença do Rei. Na Companhia Cacique de Alimentos, vi Emerson Fittipaldi e o irmão Wilson que frequentavam o local para negociar o patrocínio da Copersucar, na Fórmula 1. A presença deles se tornava um desfile festivo com os pilotos em um Dodge Dart conversível acenando para os moradores que cercavam o carro. Ao lado de onde hoje tem o SESI, havia um campo de de várzea — além dos  jogos de futebol, no meio do ano, se realizava a festa do Divino Espírito Santo, que teve origem em Portugal. Lembro como se fosse hoje: sardinhas na brasa acompanhadas por tremoço ao som de Roberto Leal, que se apresentava no palco.

Na rua Barão da Passagem, quase esquina da Carlos Weber, havia uma companhia metalúrgica na qual tive o prazer de assistir à gravação de cenas do filme “Eles não usam Black Tie” com Gianfrancesco Guarnieri, Milton Gonçalves, Fernanda Montenegro, Carlos Alberto Ricelli. Foi maravilhoso. A lamentar o fato de que o muro em que ficávamos sentados para vermos as gravações que antes era de uma escola, onde fiz o primário, agora é do batalhão da polícia. 

Por falar em lamento: que triste tem sido o tratamento dado a uma árvore centenária da avenida Diógenes Ribeiro Lima, próximo do número 2.000. Ao longo da minha vivência na região, das muitas histórias que ouvi dos moradores mais antigos, as que mais me chamavam atenção passavam por essa árvore. Ela abrigava tropeiros que seguiam a caminho de Sorocaba. A parada sob a copa desta árvore era o último descanso antes da travessia do Tietê. Por ali passavam os boiadeiros que levavam o gado para o abatedouro de Vila Mariana. Por isso, o trajeto era conhecido por Estrada da Boiada, assim como o bairro que circundava o rio, levava o nome de Emboaçava, que em tupi significa ‘lugar por onde se passava’.  Infelizmente, pouco restou desta árvore e sua gigantesca e acolhedora copa: temos apenas um tronco mal tratado, cercado de concreto, já tendo sido alvo de queimadas; um tronco que, além das histórias que contamos, resiste com alguns pequenos galhos verdes

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Valdir Paulo Soares de Lima  é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade: escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outras histórias, visite meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: a aroeira que nos abraçou na cidade

Alejandra Silva Arenas

Ouvinte da CBN

Foto: Giselda Person/ TG

Nos anos oitenta, recém-chegados ao Brasil, tomamos a decisão de comprar nossa casa própria. Esse momento mágico marcou nosso estabelecimento neste país que nos acolheu com a generosidade típica dos brasileiros. Nosso filho de oito anos acompanhava atentamente o processo, enquanto nosso bebê brasileiro ainda não compreendia a importância desse passo.

Quando chegamos ao que hoje é nosso lar, nosso filho correu até o fundo do quintal. Fomos recebidos com braços abertos e um ar majestoso por uma aroeira plantada no centro de um terreno virgem, pronto para ser cultivado. Desde aquele dia, seja a aroeira que escolheu nosso filho ou vice-versa, ele se tornou o mais dedicado guardião da árvore.

Adaptamo-nos rapidamente ao bairro Assunção, em São Bernardo do Campo, vibrante com as atividades das indústrias automobilísticas. A casa já era encantadora por si só, então focamos nossos esforços no quintal. Optamos por cobrir o solo com cerâmicas, deixando espaços nas laterais para um futuro jardim e uma generosa área ao redor da aroeira, conferindo-lhe uma elegância destacada.

Uma vizinha trouxe-nos mudas de plantas similares aos arbustos da pracinha próxima. Encantada tanto pelas mudas quanto pelo gesto, dividi-as e plantei-as em ambos os lados do quintal ainda cobertos de terra. O jardim, assim como nossos filhos e os meninos da vizinhança que vinham brincar, florescia. Para entreter a criançada, estabelecemos um ateliê de pintura, transformando nosso pequeno espaço em um lugar vibrante que crescia tão rapidamente quanto as crianças. 

Numa sexta-feira, o “japonês das flores” visitou nossa casa, trazendo consigo mudas de café. Intrigada por essa novidade, decidi experimentar o cultivo, apesar de não saber muito sobre o assunto. Após comprar as mudas, pedi conselhos ao japonês, que enfatizou a importância de plantá-las com dois metros de distância entre si. Observando as pequenas mudas, que mal alcançavam dez centímetros e possuíam apenas duas folhas, duvidei da necessidade de tanto espaço e optei por ignorar sua recomendação, plantando-as mais próximas uma das outras.

A aroeira cresceu tanto que suas raízes começaram a levantar as cerâmicas do chão, e seus robustos galhos, um dia, danificaram a parede do fundo do quintal, causando problemas com a propriedade vizinha. Chamamos os bombeiros, que, após removerem um de seus grandes galhos, advertiram sobre a possível necessidade de removê-la completamente devido ao risco futuro. Meu filho, profundamente ligado à árvore, passou horas ao lado do galho cortado, pensativo. Durante aquela semana, ele trouxe especialistas em botânica que nos informaram sobre a centenária idade da aroeira e recomendaram podas regulares a cada dois anos para preservar sua saúde.

Os anos seguiram, os filhos e as árvores amadureceram. As mudas, que eram pequenas quando plantadas, transformaram-se em altas palmeiras. Os pés de café, plantados muito próximos uns dos outros por minha inicial desobediência aos conselhos do “japonês das flores”, cresceram mais para cima do que para os lados, complicando a colheita que, com o tempo, dominei, aprendendo a arte de torrar, moer e preparar um café delicioso diretamente de nosso quintal.

Hoje, os meninos que brincavam aqui são adultos casados. De vez em quando, tocam a campainha para apresentar seus próprios bebês. Durante a pandemia, nossa aroeira assumiu uma nova função: foi sob seus galhos que celebramos o casamento do meu filho mais novo. À sua sombra, colocamos a mesa do bolo dos noivos e dos docinhos “bem-casado”. Frases românticas foram penduradas em seus galhos, e ela, junto com as palmeiras e os pés de café, adornou as mesas cobertas por toalhas brancas, mostrando que, de fato, todos somos uma única grande família.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Alejandra Silva Arenas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade visite meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

A boiada de Salles também passa por São Paulo

Por Carlos Magno Gibrail

Manguezais correm risco; São Paulo, também – Foro JULIOCALMON/CBN

Os ambientalistas além de vivenciarem uma semana de luto pela liberação de áreas preservadas, através de quatro resoluções do Conama, órgão do Ministério do Meio Ambiente, estão assistindo ao triste espetáculo das justificativas. 

Pelo menos ninguém pode alegar surpresa, pois o anúncio foi feito em Brasília naquela reunião em que o menos chocante foram os palavrões.

Entenda a história das resoluções do Conama que foram suspensas, temporariamente, pela Justiça

Também não se pode atribuir originalidade quanto ao desrespeito ao meio ambiente. Afinal, a degradação ambiental é um processo extenso e intenso que vem ganhando conotação política e principalmente econômica.

A cidade de São Paulo, por ocasião do dia da árvore, evidenciou as queimadas no Pantanal, na Amazônia e na Mata Atlântica com fantásticas imagens projetadas em edifícios na área urbana. 

Atitude positiva que pecou por não enfatizar o quanto as árvores da cidade também são derrubadas por interesses econômicos. 

A analogia entre as árvores da cidade e da Amazônia, por exemplo, desconsiderando o volume, é válida pela causa e efeito, ou seja, pelo interesse pecuniário e pela degradação. Além disso, enquanto Salles argumenta que as resoluções aprovadas modernizarão o sistema, na capital paulista o Zoneamento é colocado com o mesmo tom de modernidade, alegando que é uma leitura contemporânea para acompanhar o fato da cidade viva.    

Não é preciso, portanto, ir à Amazônia ou ao Pantanal para identificar a agressão ao meio ambiente. Como sentenciou Nelson Rodrigues, basta observar o quarteirão onde você mora, para identificar todos os tipos humanos e a potencialidade e diversidade de relações entre si. O próprio Nelson era uma prova, pois sua primeira viagem ao exterior se deu quando já tinha se consagrado como jornalista. Dramaturgo retratando “a vida como ela é” não precisou sair de sua cidade para entender o ser humano nas emoções e motivações.

É intrigante e até assustador como se pode eliminar um ordenamento que preserva os mangues e aplicar uma fala justificando obsoletismo das normas vigentes. 

Nesse caso, talvez haja necessidade realmente de sair do seu quarteirão e ir até um mangue para atestar a enorme quantidade de vida nessas áreas.

No contexto urbano, temos uma cinzenta cidade como São Paulo em termos de arborização, que só conseguiu manter uma área verde residencial em apenas 1% de sua área total. 

O absurdo é que este 1% está permanentemente sendo vítima do setor imobiliário.

Por exemplo, inserida neste 1% está a região do Morumbi, cuja urbanização original obedeceu ao molde da Cia. City de Londres. A Av. Morumbi, guardando ainda várias áreas arborizadas, foi descaracterizada no recente Zoneamento realizado pelo Município, com aprovação da Câmara de Vereadores — atendendo à solicitação dos proprietários de terrenos, sob a alegação que não havia demanda. A avenida ficou cadastrada como ZCOR 3, isto é, corredor comercial.  

Hoje, diante do Palácio dos Bandeirantes, ainda preservado, resta apenas a Fundação Oscar Americano. O terreno ao lado, ex-Pignatari, teve 70% da arborização derrubada. A uma quadra do Palácio foram cortadas aproximadamente 100 árvores.   

À essa devastação autoral não precisou de índios nem caboclos desconhecidos. Os beneficiários têm seus nomes expostos em placas. E sem vergonha.

Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.       

Conte Sua História de São Paulo: os pássaros da floresta da Nove de Julho

 

Por Fábio Caramuru
Ouvinte da CBN

 

 

Meu nome é Fábio Caramuru, sou pianista e parabenizo toda a equipe da CBN pelo trabalho (mais sobre mim no site http://www.fabiocaramuru.com.br ).

 


Quando eu era criança, com cinco ou seis anos de idade, morava lá perto da Avenida Nove de Julho. E a avenida era muito movimentada, difícil de atravessar

 

Eu me recordo de alguns detalhes interessantes: a primeira coisa que me vem na cabeça é esse Colégio Assunção, que ficava na Avenida Nove de Julho com a Alameda Lorena, em frente da escola onde eu estudava –- até hoje o Assunção está lá, tem aquela capelinha. E há agora um supermercado em parte do terreno, no qual havia uma floresta que era uma coisa impressionante.

 

Não sei se essa floresta era de eucaliptos – tenho quase certeza de que era – tinha ficus, uma série de árvores; e aquilo ficava em frente, pegava toda aquela fachada da Avenida Nove de Julho, uma imensidão de árvores.

 

Você passa hoje lá e não consegue entender por que tem aquilo tudo construído. Lembro que no fim da tarde uma coisa que me chamava muito a atenção era aquele canto dos passarinhos se recolhendo, aqueles pardais, aquela algazarra, aquele barulho. Era uma coisa muito bucólica pra São Paulo: uma floresta em plena Avenida Nove de Julho.

 

Eu me recordo dessa passagem e lembro de ouvir os pássaros no fim da tarde quando começava a escurecer. Lembro também que no trajeto quando a gente cruzava a Alameda Lorena e chegava na Rua Pamplona que era toda de paralelepípedos e tinha o bonde: bonde subindo, bonde descendo.

 

Era incrível aquela São Paulo que vivi!!!

 

Fábio Caramuru é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Para contar outras capítulos da nossa cidade, escreva o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br
 

O princípio do fim: no Morumbi é permitido degradar

 

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

AV MORUMBI PRÓXIMO RUA LEONOR QUADROS

Terreno na Avenida Morumbi próximo a rua Leonor Quadros (foto de CMG)

 

Em 2016, na reunião a respeito do zoneamento da cidade, atendendo o Plano Diretor, a Prefeitura em cumprimento da lei reuniu os moradores e proprietários de imóveis da região do Morumbi, em São Paulo, para decidir os parâmetros para o zoneamento da área.

 

Com marcante atuação,  especificamente de proprietários de grandes áreas situadas na Avenida Morumbi, e por meio de agressivas sustentações, tiveram satisfeitas suas proposições. O objetivo deles era ter seus interesses comerciais atendidos, bem distantes dos desejos de moradores, cuja meta era a preservação do meio ambiente.

 

A alegação básica dos proprietários apontava para o fato de que ninguém mais queria morar na Av. Morumbi, e eles não tinham como comercializar os terrenos dos quais eram os donos.

 

Cabe lembrar que nesta avenida está situada a maior mansão do município. Nela também moram personalidades ilustres da cidade, a começar pelo Governador do Estado, assim como banqueiros e empresários renomados.  E não se tem notícia de que eles estejam mudando de endereço.

Historicamente, a Av. Morumbi abriga a Casa da Fazenda, um símbolo da cidade que remete a origem da plantação de chá, no século XIX; a Capela do Morumbi, que fazia parte da fazenda que deu origem ao nome do bairro; a Fundação Oscar Americano com museu e rico acervo de arte, além do local da residência projetada por Oscar Niemayer e Burle Marx para Francisco Matarazzo Pignatari. Baby Pignatari, como ficou conhecido aqui no Brasil, nasceu em Nápoles, na Itália, foi influente industrial de cobre, prata e aviões Paulistinha, que morou com a princesa Ira Von Fürstenberg, após raptá-la, protagonizando um pitoresco caso do jet set internacional.

Os proprietários dos grandes terrenos da Avenida Morumbi também alegaram tráfego intenso de veículos e excesso de linhas de ônibus que deixam a área em comunicação com toda a cidade. Fatores que, somados ao meio ambiente preservado, tornam a avenida uma mina de ouro para os primeiros empreendimentos imobiliários que ali se instalassem.

 

A sequência do processo que atendeu aos proprietários dos grandes terrenos fez com que a Av. Morumbi passasse a ser categorizada no zoneamento como ZCOR Corredor Comercial  —  chegando a ZCOR3 em vários trechos. Os moradores que vieram para a Avenida Morumbi em busca das características originais de urbanização passaram a correr o risco da descaracterização ambiental. Avenida degradada e probabilidade de contaminação das áreas próximas.

 

Foi o que começou a acontecer a partir de 2018. Iniciaram-se as derrubadas da flora — até com aspectos surpreendentes. No dia da posse do Governador João Doria, por exemplo, um terreno, a uma quadra do Palácio dos Bandeirantes, recebeu multa por tráfego de toras de parte das 100 árvores cortadas e depositadas em cima da calçada. Veja bem, multa da CET e não da Secretaria do Meio Ambiente. Atente também que nenhum dos convidados percebeu o desmatamento, apenas o fiscal de trânsito.

 

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Árvores que foram cortadas para “limpar” terreno na avenida (foto de CGM)

 

A propósito, este terreno devastado completamente pela derrubada de todas as árvores  até hoje está absolutamente vazio e sem indício de operação. As placas de “autorização” para o “desmatamento” foram retiradas e o solo, agora sem sustentação, ameaça a casa vizinha.

 

Hoje, já podemos concretamente, sem trocadilho, vislumbrar na ZC  Zona de Centralidade definida pelo novo Zoneamento, situada na esquina da Morumbi com a avenida Comendador Adibo Ares, um robusto canteiro de obras preparando para a elevação de torres de moradias de alto padrão. Em sentido amplo. Preço e altura, o que contradiz e ao mesmo tempo reafirma a alegação de que ninguém quer morar na Av. Morumbi por causa do trânsito.

 

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Obra na Avenida Morumbi com a avenida Adibo Ares (foto de CMG)

 

Neste momento, ao longo da Av. Morumbi, outros terrenos de porte em trechos absolutamente residenciais, estão também sendo preparados para grandes construções, cuja operação se inicia com o corte de todas as árvores. É uma estranha equação, pois esses empreendimentos irão oferecer as vantagens existentes de infraestrutura e do meio ambiente da Av. Morumbi, mas começam por destruir o meio ambiente.

 

Até quando vamos atender aos interesses de empresários do mercado imobiliário?
Até as próximas eleições?

 

Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.

 

A pressa ainda é inimiga da perfeição?

 


Por Carlos Magno Gibrail

 

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Poucos se importaram com a pressa com que as árvores foram cortadas ….

 

Aparentemente, a pressa nas cerimonias oficiais de posse do governador eleito de São Paulo não afetou as solenidades. Tanto na Assembleia Legislativa, no Ibirapuera, como no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi. Entretanto, se no aspecto operacional e protocolar não houve falhas, há uma tônica de velocidade e mudanças a ser considerada, como característica da personalidade de João Doria.

 

Na campanha à Prefeitura, garantiu que cumpriria o mandato e a sua administração não imprimiria o estilo do político, mas, de gestor. Em 15 meses, descumpriu o prazo e o estilo. Adotou a dinâmica convencional do político e se candidatou ao governo do Estado de São Paulo.

 

Ao ganhar a eleição, teve o aval dos eleitores, que tecnicamente aprovaram a transformação. Daí a decisão de dar prioridade a ida à posse do novo presidente, estar de acordo com o perfil estabelecido e aprovado — e nada mais a declarar: é um político e vitorioso.

 

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… até o fogo aparecer e os Bombeiros, apressados, surgirem para acabar com o incêndio.

 

A não ser um pequeno episódio na quadra da “Revolta dos Eucaliptos”, distante 200m do Palácio. Na antevéspera da posse, o corte de árvores avançou até a noite e também na calçada, onde deixaram troncos e galhos — ao mesmo tempo em que repórteres mostravam os preparativos, sem nenhum deles ter percebido o trecho com o impedimento da calçada. As reportagens envolviam apenas o Palácio, sem o entorno. Talvez por pressa.

 

Na véspera, começou um incêndio no mato deixado impunemente pela empresa executora do corte de árvores e o Corpo de Bombeiros teve que intervir. No local, os bombeiros me informaram que o chamado de socorro foi feito pelos moradores.

 

O pessoal do Palácio ignora o entorno. Talvez por pressa em executar as tarefas internas.

 

Carlos Magno Gibrail, Consultor e autor do livro “Arquitetura do Varejo”, é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung

Um minuto de silêncio e o barulho autofágico

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

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O silêncio, assim como um som de qualidade, é uma situação altamente apreciável e prazeirosa. É, sem dúvida, o cenário recomendável para uma vida confortável e saudável — e propício até para o seu prolongamento. Seu oposto, ou seja, o barulho, pode tornar a existência conturbada. Além do que, a concentração, elemento fundamental na realização de importantes tarefas mentais e físicas, necessita essencialmente do silêncio.

 

O artigo “Um minuto de silêncio” de Mílton Jung, aborda de forma descontraída, a difícil busca pelo silêncio e a sua luta para encontrar um momento real sem interferência de som. Por coincidência, eis que, ao ler a mensagem de Mílton, estou encurralado com o pior som nesta São Paulo, deste Brasil, outrora chamado de Terra do Pau Brasil: o som de serra elétrica cortando árvores.

 

Há três dias, com intervalo no Natal, na mesma área geográfica da “Revolta dos Eucaliptos”, eis que em dois lotes — 121/122, quadras 168 CEP 047703-004 — na Av. Morumbi, serras elétricas agem com o objetivo de derrubar todas as árvores do terreno. Defronte da ex-mansão de Baby Pignatari, onde ficou com a Princesa Ira de Fürstenberg, e a uma quadra do Palácio dos Bandeirantes.

 

Por infelicidade, dois ícones que correm riscos. O terreno da ex-mansão, feericamente arborizado está a venda. O Palácio dos Bandeirantes, inserido em belo espaço verde, de tempos em tempos enfrenta governadores que não querem viver ali ou que desejam mudar a sede do governo.

 

Voltando ao som das motos serras, já foram derrubadas aproximadamente 50 árvores cujo terreno ostenta placa autorizando ação da empresa “Everaldo Andrade Freire Poda de Árvores ME” pelo TAC 247/2018.

 

Insuflado pelo agressivo som do corte de árvores, não é difícil pensar imediatamente no conflito entre o meio ambiente e a ocupação adensada do solo. Enquanto o mais equilibrado seria o racional, respeitando os limites de cada posição, o incongruente protagoniza o conflito. Nesse caso, por exemplo, o interesse daqueles que virão a ocupar este terreno certamente foi despertado pelo verde que o bairro do Morumbi ainda oferece. E a primeira coisa que faz ao chegar é derrubar todas as árvores.

 

É um sistema autofágico. Assim como todas a ações que levam às motos serras. A ponto de, no futuro, atraírem sons muito piores que aqueles que emitem. Pois, se continuarem neste ritmo e nesta expansão por todo o país, teremos em breve no Brasil os sons de tornados e maremotos, atraídos pelas acentuações climáticas.

 

Carlos Magno Gibrail, Consultor e autor do livro “Arquitetura do Varejo”, é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung

A “Revolta dos Eucaliptos” gera caos e indagações urbanas, no Morumbi

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Um eucalipto de 38 metros e 50 anos, ao ser desbastado a pedido dos moradores do condomínio horizontal que o abrigava, causou transtorno, quando parte do seu tronco ao ser removido tombou o guindaste e a carreta que o transportaria — além de atingir a rede de alta tensão.

 

Caos suficiente para atrair as TVs, as rádios e os helicópteros. Afinal, o porte da árvore, as dúvidas quanto a derrubada e o erro operacional contribuíram para a espetacularização ocorrida. Inclusive a proximidade ao Palácio dos Bandeirantes.

 

Visitando o local durante a operação, iniciada na quarta-feira, ouvimos dos moradores que lideraram o pedido à Regional do Butantã os motivos:

 

“Estávamos correndo risco com os galhos que poderiam cair nas crianças”

“Um galho destruiu meu telhado”

“Frequentemente tenho despesa com a limpeza do telhado cheio de folhas”

“A árvore é um para raio intenso, atraindo enorme quantidade de raios”

“Os raios que atraem se espalham pelas árvores vizinhas menores causando a morte delas”

“Não dá para regar as árvores vizinhas, tal a quantidade de água que absorve”

“Este porte de árvore não é condizente com o urbano”

 

É importante ressaltar o clima beligerante que observamos dos moradores em contenda com o Eucalipto. Talvez o momento agressivo que vivemos deva ser considerado, mais do que as recentes chuvas.

 

O histórico do local em termos de preservação já vinha demonstrando uma certa animosidade.

 

É o 14º lote da Rua Comissário Gastão Moutinho, originalmente ocupado por uma residência que foi vendida e demolida para o lançamento de 12 casas. Como a urbanização original não permitia tal adensamento, houve embargo por ação da entidade representativa dos moradores do Morumbi — bairro onde “habita” o Eucalipto. Houve um processo rápido em função do apoio da mídia, principalmente da TV Globo e do Estadão. Foram então construídas apenas seis casas, no formato de condomínio, cujos moradores, tempo depois solicitaram a derrubada do Eucalipto, alegando infestação de cupim.

 

A regional do Butantã enviou equipe para o corte. Com o apoio da rádio CBN, uma ação da entidade dos moradores do Morumbi conseguiu a retratação do engenheiro agrônomo que tinha assinado a autorização do corte da árvore. E a equipe foi dispensada. E os cupins não apareceram.

 

Surge agora, década e meia depois, essa autorização para a derrubada, expedida pela Regional e gerada pela solicitação dos condôminos, possibilitando uma série de interpretações e reflexões — dependentes da orientação social, cultural e comportamental de cada cidadão.

 

De nossa parte é clara a responsabilidade de quem procura uma região com as características do Morumbiem mantê-las. Não é lógico usufruir dos benefícios das árvores sem dar a elas a contra partida.

 

E para quem acredita que as árvores também têm alma, é bom saber que, com a reação do Eucalipto, os moradores foram castigados por 24 horas com barulho, lama e falta de energia.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung

Conte Sua História de São Paulo – 464 anos: a praça com o nome do meu pai

 

Por Natanael Boldo

 

 

Sou o filho mais novo de uma família de sete irmãos: seis homens e uma mulher. Meu pai, Sr. João Boldo, veio de Itapira, no interior de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, instalou-se na Freguesia do Ó, acolhido pelo cunhado dele, irmão da minha mãe, o Tio Paulino. Foi na Freguesia que trabalhou como almoxarife por 35 anos até se aposentar. Foi seu único emprego aqui em São Paulo.

 

Passados alguns anos da sua chegada, comprou terreno no Jardim Cidade Pirituba, na rua Silvino de Godoy, onde construiu a casa que moro até hoje com minha mãe, Dona Teresinha, que está com 89 anos. Meu pai foi um dos primeiros moradores do lugar, chegou ao bairro em 1966. Eu tinha apenas um mês de vida. Era uma casa humilde, com dois quartos, cozinha, sala e banheiro. No quintal, tínhamos galinheiro e várias arvores frutíferas. Da porta de casa, tínhamos uma vista privilegiada do Pico do Jaraguá, lugar onde passeávamos com frequência. Juntava toda a molecada da rua. As mães faziam lanches de mortadela e suco. E por lá passávamos o dia.

 

Criou os filhos com muita dificuldade. Éramos muito humildes. E sempre nos cobrou que fossemos pessoas honradas, honestas … e exigiu que estudássemos. Ao lado da minha mãe, que também é uma mulher guerreira, que nunca frequentou os bancos da escola, puderam nos orientar pelo melhor caminho que a vida tinha a oferecer. Como recompensa, viram seus filhos se formarem.

 

Meu pai também era um músico dos bons, tocava bandolim como ninguém. Aos sábados bem cedo, íamos a Praça da República passear pela feira de artesanato e depois passávamos na loja de instrumentos Del Vecchio, na Rua Aurora. Ali se encontrava com Evandro do Bandolim e seu regional. Não tinha hora pra sair, pois a música rolava solta.

 

Eu ainda era muito criança, mas lembro que aos domingos depois da missa meu pai reunia a família antes do almoço para tocar. Era maravilhoso, música de qualidade e família reunida. Era um autodidata, estudou bem pouco, mas sabia de coisas que doutores não tinham conhecimento. Era um homem que lia muito e estava sempre à frente do seu tempo.

 

Perto de casa havia um brejo onde começou a plantar árvores. Hoje, este mesmo local foi transformado em um parque municipal, o Rodrigo de Gaspari. Fez o mesmo na rua onde moro, a Silvino de Godoy. No terreno que chegou a ter um campo de futebol, passou a plantar todo tipo de árvore: ipês, paineiras, jambo. De tão verde que ficou, transformou-se em praça: a Praça João Boldo, em Pirituba, bairro considerado o segundo mais arborizado de São Paulo.

 

Natanael Boldo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Vamos comemorar os 464 anos da nossa cidade juntos: escreva o seu texto para milton@cbn.com.br.

Cuide bem do seu jardim: escolhas erradas podem piorar a seca

 

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A falta de água voltou ao Jornal, nesta segunda-feira, a partir das medidas duras adotadas pelo Governo da Califórnia, estado americano que está enfrentando período ainda mais rigoroso de escassez. A seca não é uma novidade para os moradores desta região dos Estados Unidos e as ações de combate a crise hídrica fazem parte do cotidiano deles. A discussão, que se estendeu para o quadro Liberdade de Expressão, levou a arquiteta paisagista Amanda Sales, ouvinte da CBN, escrever e-mail para nos alertar sobre o risco de se querer importar a estratégia californiana para o Brasil. Um dos investimentos por lá é a substituição da vegetação por plantas mais resistentes a falta d’’água. Sales lembra que, na Califórnia, a vegetação desértica é nativa e o uso desta vegetação é de fato muito adequada, mas, aqui, a abolição de jardins ou o plantio disseminado de vegetação desértica somente contribuirá para agravar a redução de chuvas.

 

Na mensagem, Sales recomenda a leitura do blog Árvores de São Paulo, escrito por Ricardo Cardim, no qual escreve:

Nesse tempo de escassez de água, cada vez mais são publicadas matérias em diferentes mídias de como criar jardins que “gastam pouca água” e são portanto, mais sustentáveis no quesito. Listas das “5 espécies de plantas que não gastam água” estão em todos os lugares da internet trazendo uma sucessão de cactos e plantas suculentas, principalmente o sedum (Sedum sp.).
Aparentemente essa tendência não representa problema algum, mas na verdade não é bem assim. Primeiramente, “muitas das plantas de deserto vendidas (para não falar todas) são de origem estrangeira, exóticas, e algumas invasoras agressivas dos remanescentes de vegetação nativa, como a agave, que podem provocar perda severa da biodiversidade no Cerrado e Restinga, e a kalanchoe tubiflora, comum nas capoeiras urbanas.
Mas a principal questão é a água. Essas plantas geralmente apresentam um tipo diferente de fotossíntese, a CAM (Metabolismo Ácido das Crassuláceas), adaptada para ambientes áridos como desertos e rochas nuas. Nesse caso, gastam pouca água mesmo, mas podem liberar menos ainda, não contribuindo para o que mais precisamos da vegetação urbana nessa época de seca: liberação de água pela evapotranspiração das plantas que vai umidificar o ar e ajudar na formação de mais chuvas na cidade.

Para entender mais sobre o tema, leia o restante do texto no blog e aproveite outros posts com informações interessantes sobre a importância de conservarmos o verde nos centros urbanos.

 


Aproveite e ouça a entrevista que fiz com Albano Araújo, da The Nature Conservancy, no Jornal da CBN