Por Carlos Magno Gibrail
Um eucalipto de 38 metros e 50 anos, ao ser desbastado a pedido dos moradores do condomínio horizontal que o abrigava, causou transtorno, quando parte do seu tronco ao ser removido tombou o guindaste e a carreta que o transportaria — além de atingir a rede de alta tensão.
Caos suficiente para atrair as TVs, as rádios e os helicópteros. Afinal, o porte da árvore, as dúvidas quanto a derrubada e o erro operacional contribuíram para a espetacularização ocorrida. Inclusive a proximidade ao Palácio dos Bandeirantes.
Visitando o local durante a operação, iniciada na quarta-feira, ouvimos dos moradores que lideraram o pedido à Regional do Butantã os motivos:
“Estávamos correndo risco com os galhos que poderiam cair nas crianças”
“Um galho destruiu meu telhado”
“Frequentemente tenho despesa com a limpeza do telhado cheio de folhas”
“A árvore é um para raio intenso, atraindo enorme quantidade de raios”
“Os raios que atraem se espalham pelas árvores vizinhas menores causando a morte delas”
“Não dá para regar as árvores vizinhas, tal a quantidade de água que absorve”
“Este porte de árvore não é condizente com o urbano”
É importante ressaltar o clima beligerante que observamos dos moradores em contenda com o Eucalipto. Talvez o momento agressivo que vivemos deva ser considerado, mais do que as recentes chuvas.
O histórico do local em termos de preservação já vinha demonstrando uma certa animosidade.
É o 14º lote da Rua Comissário Gastão Moutinho, originalmente ocupado por uma residência que foi vendida e demolida para o lançamento de 12 casas. Como a urbanização original não permitia tal adensamento, houve embargo por ação da entidade representativa dos moradores do Morumbi — bairro onde “habita” o Eucalipto. Houve um processo rápido em função do apoio da mídia, principalmente da TV Globo e do Estadão. Foram então construídas apenas seis casas, no formato de condomínio, cujos moradores, tempo depois solicitaram a derrubada do Eucalipto, alegando infestação de cupim.
A regional do Butantã enviou equipe para o corte. Com o apoio da rádio CBN, uma ação da entidade dos moradores do Morumbi conseguiu a retratação do engenheiro agrônomo que tinha assinado a autorização do corte da árvore. E a equipe foi dispensada. E os cupins não apareceram.
Surge agora, década e meia depois, essa autorização para a derrubada, expedida pela Regional e gerada pela solicitação dos condôminos, possibilitando uma série de interpretações e reflexões — dependentes da orientação social, cultural e comportamental de cada cidadão.
De nossa parte é clara a responsabilidade de quem procura uma região com as características do Morumbiem mantê-las. Não é lógico usufruir dos benefícios das árvores sem dar a elas a contra partida.
E para quem acredita que as árvores também têm alma, é bom saber que, com a reação do Eucalipto, os moradores foram castigados por 24 horas com barulho, lama e falta de energia.
Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung
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