Conte Sua História de São Paulo: a dedicação de Betão, o bicicleteiro da Vila Cruzeiro

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No Conte Sua História de São Paulo o ouvinte da CBN Mario Curcio destaca um personagem do empreendedorismo que marca a nossa cidade:

Uma das figurinhas carimbadas aqui da Vila Cruzeiro, na zona sul da capital, era o bicicleteiro Betão. Ganho o apelido, certamente, por sua altura: mais de 1 metro e 85. 

Betão era conhecido não apenas pela habilidade, mas também pela dedicação. Sua bicicletaria ficava na Avenida João Carlos da Silva Borges, quase esquina com a Rua Bragança Paulista.

Com ele, não havia tempo ruim. Sábados, domingos ou feriados, lá estava, trocando pneus, ajustando câmbios, soldando quadros. Entre um conserto e outro, gostava de contar histórias. No passado, havia sido negociante de carros usados e representante da MZ, uma marca de motos da antiga Alemanha Oriental, nos anos 1980.

Betão já estava com mais de 70 anos e nos últimos 15 dedicou-se exclusivamente às bicicletas. Guardava relíquias em sua loja: quadros de Caloi 10, Caloi Ceci e até uma rara Peugeot 10, dos anos 1970. O coroa era duro de negociar. Não vendia nada por migalhas: “É sempre muito difícil mexer no estoque. Tem muita coisa empilhada. Tem de ser um bom dinheiro pra valer a pena” — é o que dizia.

Betão não trabalhava sozinho. Dava oportunidade a jovens aprendizes e até a moradores de rua da Vila Cruzeiro. 

Em março de 2023, ao passar na loja, fui surpreendido: Betão havia partido, vítima de um enfarte fulminante. Ficaram as boas lembranças de alguém que, com suas mãos incansáveis, ajudou tantas famílias a pedalarem pelas ciclovias da zona sul, construindo memórias que nunca serão esquecidas.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Mario Curcio e o bicicleteiro Betão são personagens do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva sua história agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Ciclovia na Marginal: “Esqueceram do peão de bicicleta”

 

Bicicleta na pistaConstruir uma ciclovia que atenda as centenas de trabalhadores que deixam o extremo sul de São Paulo em direção aos bairros mais nobres pela Marginal Pinheiros e não apenas mais uma faixa de lazer. Encontrar soluções para a travessia dos ciclistas e pedestres que estarão confinados na pista segregada entre o rio e os trilhos da CPTM e a pista da Marginal.

Estes são dois dos desafios que o Governo do Estado ainda terá de enfrentar para tornar realidade a construção da ciclovia na Marginal Pinheiros, segundo cicloativistas que lotaram uma das salas do Palácio dos Bandeirantes, na tarde desta segunda-feira.

O projeto apresentado pelo arquiteto Ruy Ohtake, contratado por uma instituição particular, contempla apenas a parte nobre do traçado, do Parque Villa Lobos até a ponte João Dias, passando pelo Parque do Povo e as estações Cidade Jardim e Berrini, da CPTM (O Andre Pasqualini, nos comentários, me corrigi: o projeto vai do Villa lobos até o Parque do Povo, apenas). O restante do trajeto ficaria por conta da Companhia Paulista de Trens Metropolitano, mas sem que tenha sido entregue qualquer desenho.
Para o dirigente esportivo Marcos Mazaron, da Federação Paulista de Ciclismo, deve haver alguns ajustes no projeto apresentado por Othake, mas a ideia da ciclovia foi aprovada. André Pasqualini, do Instituto CicloBR, está bem mais preocupado: “Esqueceram de olhar para o peão que trabalha com bicicleta, estão vendo apenas os que usarão a pista como lazer”.

Quarta-feira, amanhã, os ciclistas se reunirão com Ruy Ohtake pois até agora não foi apresentada uma saída para quem precisa deixar a ciclovia e atravessar a Marginal, cruzando a linha do trem. Estela Goldestein, da CPTM, ouvida pela repórter Alessandra Dias, da CBN, confessa a dificuldade do Governo para conciliar as necessidades de ciclistas, pedestres e motoristas.

Ouça a reportagem de Alessandra Dias, da CBN

A Secretaria Municipal dos Transportes e a Companhia de Engenharia de Tráfego são as únicas que parecem não estar preocupadas. Sequer compareceram no Palácio dos Bandeirantes para dar sugestões ou, ao menos, ouvir as reivindicações. A rejeição da CET às bicicletas é histórica e reconhecida por pelo menos dois dos secretários municipais que estiveram no encontro – Eduardo Jorge, do Verde e Meio Ambiente, e Walter Feldman, dos Esportes. Oficialmente, não assumem esta opinião, pois estariam atacando o super-secretário Alexandre de Morais que cuida da coleta do lixo, da varrição, dos ônibus, das lotações, dos táxis, do trânsito … Não dá tempo para cuidar das bicletas, mesmo.