Tyson diz trocar desejo pelas drogas pelo de ser uma pessoa melhor

 

 

Semana passada, ao escrever sobre MMA aqui no blog trouxe minhas lembranças das lutas de boxes e citei Mike Tyson como ponto final pela admiração que tinha com o esporte. Por coincidência, lendo The New York Times, no fim de semana, me deparo com artigo assinado pelo ex-boxeador no qual fala das tradicionais resoluções de Ano Novo, ponto de partida para tratar de sua maior luta: o vício com drogas e bebidas.

 

Tyson diz que, por ser viciado, faz parte de um grupo que não pode se dar ao luxo de fazer promessas que não mantêm: “a disciplina não é algo por que lutar a cada ano novo – é necessário a cada momento”. Apesar dos pesares, considera-se disciplinado, lição que aprendeu com seu primeiro treinador, Cus D’Amato, com quem trabalhou duro para se tornar o mais jovem campeão dos pesos pesados na história, quando sacrificou boa parte de sua vida social como adolescente e durante anos exigiu de seu corpo ao extremo todos os dias. D’Amato morreu um ano antes de Tyson conquistar o título mundial, em 1986, e com ele se foi o cara que o mantinha sob controle e distante das drogas e bebidas.

 

Tyson conta que os anos de sucesso foram os mais perigosos de sua vida, pois ouvir “você é um Deus” ou “seu retorno é incrível” detonava a certeza de que ele era capaz de beber, se drogar e se conter quando quisesse. Ledo engano. “Quando estava no auge de minha carreira, tinha um sistema de apoio ruim. Abutres gananciosos estavam em volta de mim, colocando suas mãos nos meus bolsos, usando meu status para seu ‘auto-engrandecimento’. Não havia como vencer assim” – escreve. O ex-boxeador conta que estava sóbrio por cinco anos quando teve um deslize e voltou a beber novamente em agosto do ano passado. Em lugar de se esconder, seguir “alto” até se deparar com uma prisão ou um acidente de carro, depois de três dias, ele buscou ajuda, sem necessidade que houvesse uma intervenção: “eu tinha aprendido na terapia a não bater em mim mesmo. Eu lembrei que a recaída é parte da recuperação”.

 

O caminho da humildade e do reconhecimento de sua fraqueza, diz Tyson, o faz se sentir muito melhor: “tive de substituir o desejo por drogas ou álcool pelo desejo de ser uma pessoa melhor”. Encerra o artigo desejando que todas as resoluções mais bem-intencionadas se realizem em 2014. Que as de Tyson, que parece estar construindo uma nova história vencedora, também se concretizem.

 

A falta de educação é mais violenta do que o MMA

 

 

O artigo publicado na quarta-feira, neste blog, assinado por Carlos Magno Gibrail, entra na discussão sobre o MMA, provocada pelo acidente com Anderson Silva. Para começo de conversa, deixo registrado que não me satisfaz assistir às lutas, assim como não gosto de acompanhar muitas outras modalidades esportivas, algumas, inclusive, olímpicas. Na madrugada do domingo, estava mais preocupado com a viagem de férias do que em ver aquela turma agindo com violência no ringue (que agora chamam de octógono). Somente soube da lesão de Anderson Silva quando já estava no aeroporto e a foto da perna redobrada foi suficiente para sentir dor e lamentar o acontecido. Não gosto do esporte, mas admiro Silva pelas conquistas e pela imagem serena que transmite, diferentemente de muitos brutamontes do MMA.

 

Em contrapartida, gostava de lutas de boxes, em especial quando Cassius Clay estava no ringue. Lembro que, ainda guri em Porto Alegre, tive a oportunidade de ver Éder Jofre treinando no ginásio que ficava quase no quintal da minha casa. Eu e meu irmão menor, o Christian, ganhamos do pai, pares de luva de boxe de brinquedo. Protagonizamos grandes embates sobre o tapete da sala de TV que delimitava o espaço do nosso ringue imaginário. Penso que não nos tornamos mais violentos nem alimentamos inimizades. Talvez um ou outro tenha jogado a toalha para reclamar com a mãe um golpe baixo. Desde o fenômeno Mike Tyson nunca mais tive motivação para assistir às lutas na TV. As luvas de brinquedo foram abandonadas.

 

É válida a discussão sobre os benefícios e limites do MMA, pois ganhamos sempre que o debate visa preservar a integridade física do ser humano, mas soa ridícula a tentativa de proibir a exibição dos eventos na TV sob a alegação de que as cenas geram violência. Não bastasse o fato de as lutas serem transmitidas tarde da noite em apenas um canal de TV aberta, portanto, tendo o cidadão o direito de escolher pelo programa que bem quiser. É a mesma lógica que move grupos a pedirem o fim de personagens sórdidos nas novelas e restrições à venda de vídeo game sob a alegação de que causam más influências. Tenta-se resolver os problemas complexos da vida em sociedade com pensamentos simplistas.

 

No Canadá, não muito distante de onde estou, as jogadas brutas e as agressões físicas fazem delirar os fanáticos do hóquei no gelo, nem por isso vivem em uma sociedade mais violenta do que a nossa. O que faz mesmo diferença é o fato de os canadenses estarem em sexto lugar no Pisa com escore 524, enquanto nós aparecemos em 53º lugar com 412, abaixo da média internacional que é 493. Ou seja, a solução não está na proibição do MMA, mas na educação.

 

N.B: A propósito, Carlos, inclua no seu cardápio esportivo hóquei na grama feminino: as meninas fazem frente à Sharapova.

Conte Sua História de São Paulo: O lutador

 

Por Gabriel Leão

Ouça o texto “O Lutador” com sonorização de Cláudio Antonio

“São Paulo é minha ultima tentativa, se não der certo pelo menos eu vou morrer sabendo que eu tentei e não consegui, mas não desisti”, a frase é de Leandro Siqueroli de 21 anos que assim como muitos imigrantes brasileiros e estrangeiros resolveu buscar o sonho paulista e encontrou uma sociedade de contrastes.

Ao chegar se surpreendeu com o tamanho do sistema metroviário e durante dias observou o movimento dos vagões nas estações. O ritmo acelerado dos paulistas espantou o jovem boxeador de Londrina. Notou também a frieza e a melancolia presente nos rostos que andam como se fossem um enxame de formigas com pressa em busca de mais trabalho.

Leandro conquistou muitos títulos de boxe amador no Paraná, mas no profissionalismo de São Paulo eles não dizem muita coisa. Pra trás deixou sua família lamentando a morte recente de seu pai. Passou fome e ficou desabrigado até encontrar uma família nova.

As dificuldades o fizeram pensar suicídio e comenta: “Algumas vezes eu vejo o boxe como uma maldição, da qual você nunca se livra dela é ela que sempre se livra de você. Não importa o que você faça, não importa pra onde você vá, se você é um lutador você sempre estará lutando”.

Certa vez pagou do próprio bolso para lutar e deixou de acertar o aluguel, tinha de sair da residência pela telhado para o proprietário não vê-lo. O amparo veio na forma de novos amigos. O peso-pesado Raphael Zumbano, primo de Éder Jofre, o conheceu pela internet e hoje é seu empresário. Outros pugilistas se tornaram seus familiares.

Miguel de Oliveira, ex-campeão mundial e atualmente treinador de uma das mais caras academias do país o aceitou como seu pupilo. Para conhecer Oliveira não foi fácil, a recepcionista da academia olhou com desprezo para seu jeito caipira e o avisou que o professor não estava presente, Siqueroli preferiu esperar do outro lado da rua. Quando viu o senhor se aproximou e disse: “sou lutador de boxe lá do Paraná e vim para São Paulo me tornar campeão mundial e como o senhor já foi campeão eu gostaria que me desse alguma dica do que tenho de fazer para chegar lá”.

No momento Oliveira ficou sem reação e pediu para o jovem de Londrina voltar mais tarde para um treino com seus alunos. Hoje Leandro tem 3 vitórias todas por nocaute e uma derrota por pontos no boxe profissional.

Quando está fora dos ringues ganha sua vida servindo mesas em um pub irlandês na Vila Olímpia, bairro freqüentado por jovens de classes A e B. E mesmo trabalhando e treinando encontra fôlego para freqüentar o curso superior de gastronomia.

Leandro Siqueroli se apresenta em ringues humildes no interior de São Paulo, mas sonha quase que como uma obsessão com o dia que vai reinar em Las Vegas e até lá se apresenta como “o futuro campeão mundial”.

Participe do Conte Sua História de São Paulo enviando seu texto ou arquivo de áudio para contesuahistoria@cbn.com.br. O programa vai ao ar sábados logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP