Avalanche Tricolor: Casimiro tem razão

Grêmio 1×1 Bahia

Brasileiro B – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Thiago Santos comemora gol em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

“É ruim contra ruim” disse o filósofo esportivo das redes sociais, Casimiro, há algumas rodadas, após assistir ao time de coração dele perder para o meu time de coração. Do seu jeito, eloquente e hiperbólico, que conquistou o Brasil — e meus guris aqui em casa —- definiu bem a “Maior Série B de Todos os Tempos” — foi esse o título que o pessoal do marketing batizou a competição que reúne seis ex-campeões brasileiros e põe em jogo quatro vagas de acesso à primeira divisão. Esqueceu de combinar com os times.

Dentre a criatividade dos publicitários e a fala crua do comentarista, fico com esse último. É a realidade de um campeonato em que ver seu time jogar fora de casa tem se transformando em um martírio. Com a exceção de praxe que toda regra nos impõe, os clubes de melhor desempenho não têm muito mais do que 50% de aproveitamento como visitante. Uma performance mediana, sinônimo de medíocre. Por isso, garantir os três pontos em casa faz diferença na competição.

O Grêmio perdeu dois pontos hoje à tarde, depois de um primeiro tempo em que jogou melhor e desperdiçou seus ataques. Foi punido com um gol nos acréscimos, no único lance em que o adversário impôs perigo. No segundo tempo, foi um deus-nos-acuda: o Grêmio subia de maneira desorganizada, tomava decisões erradas e sequer conseguia desperdiçar gols, pois não era capaz de proporcionar perigo dentro da área adversária. 

No raro momento em que fizemos uma jogada de linha de fundo, Guilherme, que entrou no intervalo e não precisou de cinco minutos com a bola nos pés para ser vaiado pelo torcedor, fez um cruzamento preciso para Thiago Santos concluir de cabeça. Nosso volante, outro que havia entrado no intervalo para desespero de parcela da torcida, que até hoje o vê como símbolo do rebaixamento (em tempo: há gente muito mais culpada pelo que aconteceu com o Grêmio), estava predestinado a marcar. Momentos antes havia concluído para as redes, em um gol anulado devido a um impedimento na origem da jogada. E não teve mais uma chance, naquele que poderia ter sido o gol da virada, porque Diego Souza se precipitou sobre ele na conclusão de um lance de área, nos acréscimos.

O resultado final só não foi lamentado porque a combinação da rodada conspirou a favor, com o empate entre os outros dois times que buscam à classificação —- um deles, o de Casimiro —, em jogo, aliás, que não se encerrou devido a violência de torcedores e a invasão de campo. Cenas de entristecer e desmerecer o título que os marqueteiros deram ao Brasileiro B.

A três rodadas do fim do Campeonato, o Grêmio está mais próximo do acesso. Nem tanto pelo que tem feito nessas últimas partidas. Muito mais pelo que seus adversários deixam de fazer. A preocupar, o fato de dois desses jogos serem fora de casa e o Grêmio terá de mudar a rotina da B fazendo ao menos três pontos no estádio adversário —- um deles o do Náutico, no Recife, domingo que vem, o mesmo cenário da Batalha dos Aflitos. Aflitos? Sim, aflitos é como estamos nós torcedores nesses momentos finais de uma disputa que, como diz o filósofo Casimiro, “é ruim contra ruim”.

Avalanche Tricolor: o Grêmio renasce para o futebol

Grêmio 2×0 Náutico

Brasileiro B – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Geromel perfeito como sempre, em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Há 17 anos, o Grêmio renascia para o futebol em uma partida que entrou para a história, enfrentando o mesmo adversário desta noite. Na época, foi protagonista de um feito inacreditável que ganhou nome e sobrenome: Batalha dos Aflitos. Daquele tempo, não apenas por coincidência, estavam, hoje, na Arena, Galatto, Anderson e Lucas Leiva. Mais do que eles, estava em campo o mesmo espírito aguerrido de um time que se notabilizou pelos resultados impossíveis, a ponto de ter conquistado o direito de usar “Imortal” como epíteto. E isso foi essencial para a vitória neste fim de sexta-feira que, guardadas as devidas dimensões, também nos fez renascer.

A sequência de partidas invictas e a presença constante nas últimas rodadas na zona de classificação não eram suficientes para o time conquistar a admiração e o engajamento dos torcedores. A qualidade do futebol jogado era sofrível. A bola, maltratada. A vergonha da queda estava na postura dos jogadores que pareciam entrar em campo arqueados. O constrangimento de estar na Segunda Divisão falava mais alto do que o desejo de deixá-la. 

Hoje, depois de um primeiro susto, que não durou muito mais do que três minutos, a postura do Grêmio foi outra. A marcação forte lá na frente sufocou o passe de bola adversário. A precisão das nossas jogadas era visível com a aproximação dos setores, o deslocamento mais rápido dos jogadores e a chegada frequente ao gol adversário. Uma entrega que não se via até então com tanta intensidade, por mais que alguns jogadores se esforçassem para oferecer isso ao torcedor.

Quando se aproximava o fim da primeira tempo, dirimindo qualquer temor de que o que assistíamos era apenas uma ilusão, abrimos o placar com um gol de Ferreirinha, que começa a voltar à equipe depois de longo período de lesão. No segundo tempo, mesmo que o ritmo tivesse diminuído, a ideia de jogo imposta por Roger se mantinha, com alguns jogadores se destacando acima da média, como Villasanti e Biel. Aos 34 da etapa final, após uma sequência de jogadas no ataque, Bruno Alves concluiu de cabeça e ampliou o placar para dois a zero.

Era, sem dúvida, um Grêmio diferente que assistíamos em campo. E o torcedor logo entendeu o recado, oferecendo em troca seu apoio e incentivo. Aplaudiu, cantou e vibrou como nunca nesta temporada. A alegria do futebol estava de volta, mesmo com algumas limitações e deficiências que precisam ser corrigidas. Roger sabe disso e tem se esforçado nesse sentindo, já prevendo o aproveitamento dos reforços que chegam — em especial Lucas Leiva, sim, nosso volante que iniciou sua jornada na Batalha. 

Agora já estamos há onze jogos invictos, seguimos na quarta posição mas já pedindo passagem para os poucos adversários que estão acima na tabela de classificação. O Grêmio ressurgiu para o futebol nesta noite sob o comando de Geromel que tem sido, sem dúvida, o principal jogador desta equipe, pela sua liderança e pela qualidade que desfila nos gramados. O que fez na Arena nesta sexta-feira foi coisa de outro mundo. Colocou os atacantes adversários no bolso, desarmou, deu chapéu, driblou, saiu para o ataque e ofereceu assistência aos seus colegas. Ninguém mais do que ele merecia ver o Grêmio redivivo para o futebol.