Conte Sua História de São Paulo: passeava no cavalo do Seu Oliveira antes de o Ibirapeura ser parque


José Luiz da Silva

Ouvinte da CBN

Quando ouvi o senhor Francisco Assunção Ladeira, em entrevista em 2001, dizer que, na época em que era vereador, em 1948, ao passar pelo Ibirapuera, deparou com vários garotos brincando e lhe veio a ideia de projetar um parque com toda a infraestrutura — o que realmente foi feito —, fiquei deveras emocionado. Talvez um dos garotos que ali brincavam pudesse ser eu mesmo!

Morei de 1945 a 1950 nessa região, precisamente na Rua Octavio Nébias com a Rua Maria Figueiredo. Eu e outros meninos éramos assíduos frequentadores do parque, que tinha muita área verde, vários campos de futebol, eucaliptos e lagos onde nadávamos e até andávamos de carona nos barcos.

Na rua em que eu morava, havia uma padaria que, dentro do estilo da época, tinha cocheiras, carroças e cavalos. O proprietário era o senhor Oliveira, um português nato que, após um sermão, me pedia para levar um dos seus cavalos para pastar. O objetivo do sermão, na verdade, era evitar que eu montasse no cavalo e, sempre com o dedão em riste e o linguajar enrolado, encerrava dizendo: “…intendesti, oh mulequi?” E eu respondia: “Sim, sinhô.” Só então, seu Oliveira liberava o animal.

Bastava descer a ladeira de terra da Rua Maria Figueiredo e adentrar a Rua Tutoia para aproveitar o barranco que havia no local — que servia de trampolim — e montar no cavalo. Cavalgávamos em passos lentos até o Ibirapuera, onde nos juntávamos a outras pessoas e a outros animais, como ovelhas e cabras leiteiras, cujas ordenheiras vendiam canecas de leite tirado na hora. Era uma delícia, tudo isso, no nosso Ibirapuera de antigamente.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

José Luiz da Silva é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é de Cláudio Antonio. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: joguei panela no Canindé

Por Antonio David Bravo

Ouvinte da CBN

 

 

Os meus contemporâneos se lembram. Na meninice, naquela época de antanho, sem iPod, iPad, iPhone e iCloud, tínhamos que ser criativos nas brincadeiras. Todo o nosso lazer acontecia na rua. Morei no Canindé, na Rua Madeira, número 160. Era a última casa da rua, que tinha 160 metros de extensão. Eram tantos os moleques que as turmas precisavam ser divididas em do começo; do meio e do fim. 

Futebol, corrida, briga e todo tipo de competição eram constantes entre as turmas. Quando não, nos juntávamos para competir e guerrear com as ruas vizinhas. Tínhamos na vizinhança o canil da PM, que ocupava uma área de 200 mil metros quadrados. Era só pular um muro de dois metros e meio de altura e todo aquele espaço era nosso. Apostávamos corrida em cima do muro. Não lembro de nenhum moleque ter quebrado um braço ou uma perna, apesar do muro ser todo torto.

 

No início da década de 50, o sistema de coleta de esgoto começou a ser implantado. Buracos foram abertos no meio da rua e as manilhas de diâmetro enorme foram a glória para a molecada: tínhamos trincheira, barro, esconderijos, enfim, tudo o que desejávamos para as nossas brincadeiras. 

 

Inventamos o Jogo da Panela, que era disputado entre dois e até cinco competidores. Tínhamos de fazer uma panela de barro com fundo do tamanho que a mão permitisse e com laterais de mais ou menos 8 centímetros de altura. A panela era jogada no chão com força e de cabeça para baixo. O impacto criava uma pressão interna e o fundo explodia. O buraco que se formava no fundo tinha que ser pago com um remendo feito pelo barro dos adversários. Ganhava quem conseguisse obter todo o barro do outro time. A turma do fim da Rua Madeira era sempre a campeã.  

 

Foi ali, no querido Canindé, entre lagoas e o rio Tietê, que, em 1956, a Portuguesa ergueu seu estádio, inicialmente apelidado de Ilha da Madeira. Lusa que completou 105 anos, em 14 de agosto. E, assim como a extensa maioria dois bairros na cidade de São Paulo, o meu Canindé também assumiu uma nova feição. 

Hoje, o bairro se ampliou e vem sofrendo uma notável mudança cultural imposta pela influência boliviana que transformou a região num centro de compras populares. Imigrantes vindos da América do Sul e da África alteram os contornos que no passado foram estabelecidos pelos tradicionais portugueses, italianos e árabes que ali fizeram a minha história.  E, consequentemente, a minha história de São Paulo. 

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Antonio David Bravo é personagem do Conte Sua Historia de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: meus joelhos têm as marcas da Vila Sabrina

Denise Moraes

Ouvinte CBN

Vista aérea da Vila Sabrina Foto: divulgação

Olhei-me no espelho do elevador e reparei nos meus joelhos: não tão bonitos quanto minha mãe queria. Lembrei dela falando desde bem pequena — uns seis anos?: “Menina, não seja tão moleque! Cuidado com os joelhos, depois ficam todo marcados…”  

Não adiantou nada, eu sei.  Os tenho cheios de marcas. Algumas adquiri depois de adulta mesmo, em minhas trilhas e passeios, em pedras e galhos. E quer saber? Me orgulho delas. Quanto as marcas de infância, amo mais ainda, porque são dos bons tempos em que eu sumia na rua em que morava, sempre descobrindo os lugares mais incríveis para brincar. 

Por um tempo, era no campinho, perto do largo da Vila Sabrina, onde havia um enorme terreno vazio, sem casas, sem nada. Mas um trator ficara remanejando a terra por muitos meses, uma bendita terra preta que minha mãe odiava, porque grudava de um jeito na roupa!! E eu, no meio dos meninos, acho que eu era a única menina, subia nas montanhas de terra que afundava um pouco quando a gente pisava. Lá de cima rolávamos e gargalhávamos. 

Em outro tempo, passávamos horas brincando dentro de um depósito de materiais de construção, subíamos nas prateleiras que armazenavam madeira e de lá pulávamos sobre os montes de areia. Minha mãe tinha a melhor das intenções, pois ela temia pelos machucados. Mas que tempo bom!

Vila Sabrina era uma vila distante de tudo, lá para os lados da Vila Maria, terra do Jânio Quadros. Cheguei a ver meus primos nadarem no rio Cabuçú, sob a vigilância do meu pai. Ele me carregava nos ombros. Eu com uns três ou quatro anos. Não me deixava colocar o pé no chão que estava encoberto de água, devido ao transbordamento desse riozinho, depois de uma forte e longa chuva de verão. 

As chuvas de verão eram muito bem-vindas. As enchentes não atingiam casas nem causavam os estragos de hoje em dia. Havia muito terreno permeável, muito mato, as pessoas, sabiamente, não construíam próximo de rios. Hoje, esse riozinho, na melhor das hipóteses, deve ter sido canalizado, pois a última vez que vi, era um esgoto a céu aberto.

Uma pena que nossos governantes provavelmente não acreditavam e não acreditam em Deus, pois a natureza, manifestação divina, jamais poderia ter sido desprezada e morta pelas mãos do homem. Quem sabe um dia, se ainda der tempo, nós, paulistanos, sobreviventes dos desmandos políticos, saibamos decidir por uma cidade melhor.

Denise Esperança deveria ser meu nome.

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Denise Moraes, por que não, Denise Esperança é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: brincadeiras nos paralelepípedos da minha cidade

Gláucia Rosa

Ouvinte da CBN

Imagem criada no Dall-E

Nasci no Hospital Nove de Julho, na época em que meus pais moravam na Vila Mariana. Vivemos na rua Dona Avelina até os meus 5 anos de idade.

Os muros das casas eram baixos, bem como seus portões. Acreditávamos que o “velho do saco” levava, em seus enormes sacos apoiados em suas costas, crianças desobedientes. Sim, éramos constantemente ameaçados de sermos carregados pelo “velho do saco”. Mas, imagine você, aos quatro anos de vida, a menina travessa, com muita energia, corria e brincava na rua.  Rua de paralelepípedo. 

Será que os nascidos no século XXI sabem ou já pisaram numa rua assim?  Eu não só pisei como me ralei algumas vezes.

Digo sempre que estreei meus joelhos nos paralelepípedos da Vila Mariana. O primeiro tombo, inesquecível! Mesmo porque foi curado com mertiolate — o que arde, cura!. 

O progresso e as melhorias da pavimentação chegaram e, nos meus cinco anos de idade, mudamos da Vila Mariana para o Planalto Paulista. Sensacional! Ladeiras lisas. As ruas já com asfalto pareciam um escorregador. Brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, queimada, pula-corda e os meninos mais velhos e descolados ousavam se arriscar, ladeira a baixo na “pilotagem” de um carrinho de rolimã “made in home”.

Que época interessante. Nós, crianças até a década de 1970, amávamos quando, à noite, a luz do interior de nossas casas e das ruas era, repentinamente, cortada, e não chovia. Claro, era a combinação perfeita para deixarmos de fazer nossas tarefas escolares, buscar as lanternas e correr para a rua, onde encontraríamos com nossos amigos e amigas e as brincadeiras começavam.

Nossos pais, com olhos a postos, nos vigiavam atentamente sobre os baixos muros, pois, a escuridão era algo assustador… Era mesmo?

Assim que a luz voltava, se antes das dez da noite, ok, poderíamos seguir mas, se já passasse meia hora que fosse, “stop”, parem tudo, vamos entrar e dormir. Amanhã é dia de aula e vocês têm que acordar cedo!

Esta história é uma pequena recordação de uma infância paulistana, vivenciada nas décadas de 60 e 70, que se passava, literalmente, na rua que tinha casas com portas abertas ou destrancadas. Época em que se podia encontrar cadeiras nas calçadas, sobretudo, no verão, ocupadas pelas moradoras das vizinhança, para aquele bate-papo.

Pensar que Sampa um dia já foi vivida com pouco ou quase nenhum medo nas suas ruas que, majoritariamente, eram palcos de brincadeiras e felicidade.

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Glaucia Rosa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Mundo Corporativo: Francisco Nogueira e Nina Campos propõem análise e diversão para simplificar as relações na empresa

Francisco e Nina em entrevista no Mundo Corporativo. Foto de Priscila Gubiotti

“O palhaço traz essa verdade do lúdico da leveza das relações e a psicanálise traz a verdade do sujeito essa verdade que vai ser revelada a partir do inconsciente ..”

Francisco Nogueira, psicanalista

O bobo da corte era uma figura comum na corte dos reis e rainhas medievais na Europa. Acredita-se que sua origem remonte ao antigo Egito, onde havia uma classe de pessoas chamadas “bufões sagrados”, que eram responsáveis por entreter os faraós e suas famílias. Durante a Idade Média, os bobos da corte eram contratados pelas cortes reais para entreter os membros da realeza e seus convidados. Tinham, também, uma função social importante. Eram frequentemente os únicos membros da corte que tinham permissão para falar livremente com o rei ou a rainha, sem medo de represálias. Eles eram muitas vezes considerados conselheiros informais e podiam fazer sugestões ou oferecer críticas construtivas que outros membros da corte não se atreveriam a fazer.

Os “reis” corporativos – donos, CEOs e presidentes de empresas – talvez devessem buscar naquela referência do passado uma solução para enfrentar os desafios do presente. É o que se deduz a partir da experiência de Francisco Nogueira e Nina Campos, sócios da consultoria Relações Simplificadas, entrevistados no programa Mundo Corporativo. Ele é psiquiatra e psicanalista, enquanto ela é palhaça, no caso a palhaça Consuelo. Em dupla e na união do conhecimento e da arte de ambos, Francisco e Nina desenvolvem treinamentos em algumas das principais corporações do Brasil:

“Quantas coisas as pessoas gostariam de dizer umas as outras que elas não dizem. O palhaço dá essa licença. Então, quando eu estou de Consuelo em geral a conversa da equipe flui melhor e é mais direta. Todo mundo se sente autorizado de uma forma acolhedora a dizer o que está pensando”

Nina Campos

É verdade que quando o palhaço entra no palco corporativo, muitos o rejeitam porque afinal quem tem tempo a perder com … palhaçadas. Daí a importância de o trabalho ser complementar, tendo o psicanalista para promover o conteúdo e realizar intervenções e o palhaço (no caso a palhaça) para desconstruir as pessoas, com leveza e bom humor.

“Esse trabalho na medida em que traz leveza pode falar coisas que estão circulando na cabeça das pessoas e pode precipitar essa informação, trazer o não dito para a consciência”

Francisco Nogueira

A ideia de criar relações simplificadas, que está no nome da consultoria mantida por eles, é uma alternativa à utopia de se ter relações perfeitas que, diante de toda a complexidade do ambiente corporativo, se torna inalcançável. Porém, não se engane: almejar o simples não é fácil. Exige um desenvolvimento pessoal e uma sofisticação do ser: O problema é que muitas vezes não se percebe que estamos vivendo em lugares de sofrimento, haja vista que boa parte das pessoas que deparam com a pergunta sofre com andam as coisas no ambiente empresarial, a resposta que Francisco e Nina mais ouvem é que está tudo normal.

“A gente está perdendo essa capacidade de investigação do nosso mundo interno. As relações sofrem, as pessoas sofrem, a ansiedade aumenta, a depressão se agrava. E aí começamos a ter problemas muito sérios de saúde mental dentro das organizações. Isso vai impactar a organização, isso vai impactar as pessoas, isso vai impactar produtividade e todo mundo vai sofrer”

Francisco Nogueira

Na combinação de experiências, a despeito de a empresa estar ou não preocupada com a sua saúde mental e com as relações internas, Francisco recomenda que as pessoas façam análise, cuidem do seu mundo interno, porque isso organiza os pensamentos e ajuda a entender melhor o sofrimento do outro e a sair de um padrão de cobrança para um padrão de tolerância. Enquanto isso, Nina sugere que as pessoas divirtam-se:

“Brincar vai trabalhar o pensamento não linear que é o que as empresas mais estão procurando: a capacidade de inovar, a capacidade de criar, que vai fazer com que as nossas relações sejam mais inteiras e leves”.

Nina Campos

Para aprender mais com a experiência da palhaça e do psicanalista, assista à entrevista completa do Mundo Corporativo:

O Mundo Corporativo tem as participações de Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Priscila Gubiotti e Rafael Furugen.

Conte Sua História de São Paulo: as capuchetas da rua das Vertentes

Por Reinado Nogueira

Ouvinte da CBN

Foto de Abriles_ no Flickr

 

O ano era 1966 quando nasci na maternidade do Brás, saudosa e bela, que me proporcionou a Luz Natal que carrego até hoje.

Tive uma infância muito legal, na rua das Vertentes, ali na Vila Constância, na zona norte – que era o meu mundo. Todos os dias, lá pelos meus cinco ou seis aninhos, ficava no muro de casa olhando a rua esburacada e não asfaltada que se estendia em uma subida longa à minha esquerda até sumir no horizonte.

Ahhh, como eu tinha o sonho de um dia vencer aquela subida e conhecer o que havia além daquele morro onde o sol se punha. Eu imaginava um mundo totalmente diferente e cheio de luzes, cores e movimento, onde tudo seria moderno.

Um dia fomos acordados por barulhos estrondosos de tratores e máquinas Era o progresso. O asfalto chegara! Simmmmmm, minha rua seria asfaltada. Será que agora eu conseguiria vencer aquela subida? 

Foi só em 1973, um idoso com meus sete anos, que decidi subir a rua até o seu fim e dar um perdido em casa — ops, para aquela época, isso era crime de estado e me valeu uma bronca federal da Dona Teresa, minha mãe. Ao menos descobri que o mundo poderia ser desafiador, com um visual totalmente diferente lá de cima e nada seria impossível: bastava querer!

Voltando aos limites. Descobri que poderia ser mais. Aos 12 anos e sem dinheiro para comprar minhas pipas, eu dobrava jornais velhos e fazia capuchetas, baratas e práticas. Desafiei os grandes que dominavam os céus e derrubei mais de um, o que me rendeu a fama de herói da rua.

O tempo passou e como diz João Nogueira em sua música “Espelho…”: “troquei de mal com Deus por me levar meu Pai”. Não foi papai. Foi minha mãe quem foi levada em um terrível acidente, em 1983. 

Passado o trauma, comecei a trabalhar cedo e como era fã de quebrar limites com 17 anos já era um pesquisador na área de tecnologia. Na época, havia o CPD – Centro de Processamento de Dados, onde comecei como digitador, operador de computador e depois programador.

No antigo colegial, graças a minha curiosidade entrei para um grupo musical afro, cantando Kunta Kinte, na Banda Raízes. Acabamos por ganhar um concurso estadual de música no Teatro Elis Regina. 

A faculdade chegou. Era à noite. Retornava para casa nos ônibus elétricos da CMTC, entre 11 e meia-noite, com aquela neblina forte e a tradicional garoa. Tempos diferentes, sem os perigos de hoje. Eram cansativos, também. Dormia em média cinco hora. Era felizes, porém, com minhas escolhas.

Nos anos de 1990, lecionei em programas de graduação e pós-graduação. Hoje, são 33 anos de docência, com muito orgulho. Casado, com filhos e netos, procuro todos os dias trazer a metáfora da rua das Vertentes para a educação dos meus queridos. Aquela rua me ensinou a transcender os meus limites.

 

Professor Reinaldo Nogueira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Fique atento porque já estamos nos programando para mais uma série especial do Conte Sua História: escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br ou o nosso podcast.

Conte Sua História de São Paulo: como criança, brinquei entre os pingos de chuva

 

Por Ivani Dantas
Ouvinte da rádio CBN

 

 

Olhei para aquela chuva de verão e pensei em quantas vezes tive vontade de me enfiar debaixo daquelas gotas mornas, pisar nas poças d’água, correr por entre os pingos como na infância, na volta da escola!?

 

Aquelas calhas jorrando água pelos muros, correndo pelas sarjetas e a sensação única da água entrando pelos sapatos, inflando nossas meias como bexigas. E o melhor: sem a severa proteção da mãe, que não permitia esses riscos de se pegar um resfriado.

 

Vou? não vou?? Não, não cabem mais as dúvidas de outros tempos… Encaro olhares sutis de reprovação? E o cabelo? Vai ficar horrível? Interrogações eternas.

 

Tirei as sandálias pensando em quantas chuvas de verão vão me convidar a essa alegria de criança nos próximos 67 anos. Fui!

 

Que delícia pisar naquelas poças d’água enquanto os amigos pensavam seriamente em chamar um atendimento de emergência, antecipando, no chamado, a necessidade indiscutível de uma camisa de força… Será que pensaram? Que importa?

 

No meio da minha farra aquática vejo Juju, a florzinha adolescente, desabrochando para a vida, querendo também soltar as amarras e participar daquela festa. Apesar da presença da mãe, não havia os riscos nem super proteção. A parceria fez brotar ainda mais a vontade de correr, se não pelas sarjetas, hoje tão sujas e contaminadas, mas em torno do prédio, o que era possível.

 

Uhu!!! Bora lá!

 

Oportunidades não se perdem assim…

 

Curtimos nossa transgressão. Agora falta encontrar o que vestir de uma criança de 67 anos numa menina de 13. Opostos? Que nada! Lá foi a Juju, linda no meu vestido colorido e atemporal com suas formas perfeitas, cheias de vida para gastar.

 

Recolhi minha flacidez no meu vestido de listras que me aqueceram a alma lavada. E não é que aprendi?

 

Obrigada parceirinha amada! Você, como a chuva, me fez muito feliz!!

 

Ivani Dantas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é da Débora Gonçalves e a narração de Mílton Jung. Conte você também a sua história enviando seu texto para milton@cbn.com.br

Conte Sua História de SP: o mundo está aqui

 

Por Esmeralda Marcato
Ouvinte-internauta

 

Ouça o texto que foi ao ar na CBN, sonorizado pelo Cláudio Antonio

 

Ah! falar ou escrever sobre a cidade de São Paulo, é muito fácil, porque vivi momentos mágicos, como ver todas as noites o céu estrelados com trilhões de estrelas brilhantes que iluminavam toda a cidade. Havia festas nos clubes; cinemas em todos os bairros; as ruas eram enfeitadas para comemoramos as festas juninas, o Carnaval, o Natal; enfim, as amizades eram as mais ricas e cristalinas. As crianças brincavam o dia inteiro na rua, tinham toda a liberdade e corriam alegremente. Brincavam de mãe da lata, bolinha de gude, bola de meia, pega-pega, pique, esconde e esconde, perna de pau, pipas. E à noite as crianças se encontravam para conversar e trocar ideias, e rir muito com piadas e histórias que inventavam.

 

Com o tempo tudo isso mudou. O céu perdeu suas estrelas, as crianças, a magia de brincar, as ruas ficaram desertas, os cinemas fecharam, os clubes não existem mais, os enfeites das ruas desapareceram no tempo e no espaço, as amizades são muito superficiais, nada dura. Que pena! O progresso veio e eliminou toda a beleza e a riqueza desta gigante e majestosa cidade de São Paulo. Mas continuo admirando-a e a amando a cada segundo, porque “Ela” é única, e sendo assim, posso declarar o meu eterno amor, o meu carinho à toda a população. Porque “Ela” abraça e recebe todas as pessoas do Brasil, da America Latina, Europa, Ásia, o mundo inteiro está representado nesta grande cidade. Parabéns São Paulo. Milhões de felicidades para você. E que cada pessoa possa renascer um pouco desta linda e bela magia que foi São Paulo, principalmente no tocante as amizades e a união das famílias. Conto com todos vocês. Amem essa cidade com a alma e o coração, diariamente.

 

Esmeralda Marcato é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade. Escreva para milton@cbn.com.br. Ou agende uma entrevisa, em áudio e vídeo, no Museu da Pessoa. Para ouvir outras histórias de São Paulo vá no blog, o Blog do Mílton Jung

Apesar de tudo… (parte 2)

 

Por Julio Tannus

 

… adoro a cidade de São Paulo. Passado um tempo morando na Rua São Lázaro logo após nossa chegada de Paraty, mudamos para a Av. Leôncio de Magalhães, 1.509, no Jardim São Paulo, no início dos anos 50.

 

O primeiro encontro: tínhamos em casa uma geladeira americana da marca Gibson. Era a única casa da vizinhança que possuía geladeira. Em um dia de muito calor, logo pela manhã, toca a campainha de casa. Ao atender a porta vemos, eu e meu irmão, duas menininhas loiras com forte sotaque alemão, que nos faz o seguinte pedido: “vocês podem dar um pouco de gelo?”. A partir daí ficaram nossas amiguinhas e passei a contar em alemão e a aprender algumas palavras dessa língua, e outras coisas mais. E também saber que várias famílias alemãs haviam fugido da guerra e vindo morar em São Paulo.

 

O primeiro susto: em frente a nossa casa, do outro lado da rua, ficava a Casa das Mangueiras. Uma enorme casa com várias mangueiras no jardim da frente. Éramos, eu e meu irmão, assíduos dessas árvores na época em que ficavam carregadas de deliciosas mangas. Até que um dia, ao chegar da feira com minha mãe, nos demos conta que algo de anormal se passava em casa. Meu irmão havia sido mordido por um dos ferocíssimos cachorros buldogues da Casa das Mangueiras. Se não fosse o caseiro acudir imediatamente, certamente ele teria sucumbido à ferocidade dos cães. Pouco tempo depois, um dos cachorros se soltou e entrou em nossa casa, onde finalmente teve seu fim.

 

As primeiras brincadeiras: Andávamos de carrinho de rolimã pela avenida, e também de bicicleta. Nas festas juninas fazíamos fogueira, fogão de tijolo onde assávamos batata doce, soltávamos fogos de artifício, balão e muita diversão, todas no espaço público. Na calçada de terra batida tínhamos nosso campo para jogar bola de gude. E também espaço para empinar pipa como diziam os paulistanos, que nós de Paraty chamávamos de “papagaio”. Os amigos eram de vários perfis: um deles se tornou comandante da Polícia Militar, outro que só andava de gravata e cujo apelido era “gravata” não sei que fim levou. Quando juntos, além das brincadeiras da época, gostávamos de chamar de “frangueiro” o goleiro Poy, que morava na vizinhança, e era do time do São Paulo e da Seleção Brasileira de Futebol.

 

A primeira mudança: Em meados dos anos 50 fomos morar no bairro dos Campos Elíseos, perto do antigo Palácio do Governo do Estado de SP, na Avenida Rio Branco no edifício Cícero Prado. Um prédio de 100 apartamentos onde a grande maioria era habitada por judeus, muitos deles fugidos da perseguição na Alemanha nazista. É com eles que me aproximei de Sigmund Freud. E também aprendi sobre a cultura judaica: aos sábados ia aos apartamentos onde moravam judias religiosas para acender o fogão de suas casas. Em frente ao prédio, fizemos um campo de futebol em plena Avenida Rio Branco, pois nesse trecho a avenida era apenas uma rua estreita.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Conte Sua História de São Paulo: Brincadeira de rua

 

As ruas de terra batida se transformavam em campos de futebol e para tanto bastavam alguns pedaços de pau que ganhavam o formato de gol e o desejo da criançada se divertir. É deste tempo que o ouvinte-internauta Sebastião Martins Vieira lembra em trecho do depoimento que foi ao ar no Conte Sua História de São Paulo. Seu Sebastião, pauslistano, nascido em 1941, gravou suas histórias no Museu da Pessoa.

 

Ouça a história de Sebastião Martins Vieira, sonorizada pelo Cláudio Antônio

 

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, a partir das 10 e meia da manhã, no CBN São Paulo. Você pode contar mais um capítulo da nossa cidade enviando texto para milton@cbn.com.br ou agendando entrevista em áudio e vídeo no site do Museu da Pessoa.