
Por Carlos Magno Gibrail
A FOX TV em 20 de abril de 1999 espetacularizou a chacina protagonizada por Eric e Dylan no cenário da Columbine High School, em Colorado, nos Estados Unidos, através de transmissão nacional ao vivo. Na hora do almoço entram no refeitório, matam um professor e em seguida caminham carregados de armas automáticas procurando suas vitimas. Depois de 900 tiros e 12 mortos, se suicidam.
Os “bocós” de 17 e 18 anos, como Eric e Dylan eram chamados não tinham efetivado uma ação, mas uma reação.
Lamentável que este preço tão alto para a sociedade americana não tivesse servido de estímulo para que a origem e a causa do “Bullying” não fossem abrandadas.
Ainda hoje, algozes e vítimas carecem de atenção, tanto na América quanto no Brasil.
Aqui, país menos armamentista, mas com estatística vergonhosa, quando de 8ª Economia ostenta 88º em Educação é de se perguntar, preocupadamente, como vamos nesta questão dos maus tratos aos colegas e da violência nas Escolas.
A Plan Brasil, afiliada da Plan International, organização presente em 66 países, que cuida de 75.000 crianças brasileiras, contratou a CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor e a FIA – Fundação Instituto de Administração da USP, para pioneiramente efetivar um mapeamento sobre o “Bullying escolar no Brasil”.
O resultado desta pesquisa foi apresentado, hoje, no auditório da Ação Educativa, em São Paulo.
Moacyr Bittencourt, Country Director da Plan Brasil, antecipou a apresentação da pesquisa, que, responsavelmente, apresentamos um resumo, desejando que este levantamento chame a atenção de todos para que a violência física ou moral possa ser combatida em nossas escolas.
Foram pesquisados 5.160 alunos, 14 grupos com 55 alunos, 14 pais e 64 técnicos, nas 4 regiões do Brasil. Houve fase quantitativa e qualitativa.
70% já viram pelo menos uma vez algum colega ser maltratado na escola
10% vêem todos os dias maus tratos em colegas
9% vêem várias vezes por semana
29% já maltrataram colegas
Regionalmente aparecem as seguintes taxas de maus tratos: nordeste 5,4%, norte 6,2%, sul 8,4%, sudeste 15,5%%.Desconcertante verificar que nas regiões mais ricas as taxas são maiores.
Na internet a incidência constatada é de 17%, com duração de uma semana de ofensas e ataques.
As formas mais comuns de Bullyng são: xingamentos, apelidos, insultos e ameaças. Os locais mais incidentes são a sala de aula e o pátio de recreio. O que é inexplicável, pois denota falta de controle da escola por serem locais de fácil visibilidade e controle.
As reações da vítima: 49,5% nega maltrato 6,6% fica magoada, 6,3% se defende, 5,4% fala com o pai, 5% revida, 4,7% fala com o diretor, 4% pede que parem, 3,3% fala com os amigos, 1,6% fala com irmãos.
As consequências na vítima são a perda do entusiasmo, da concentração e medo de ir à escola. No agressor são as mesmas, isto é, perda do entusiasmo na escola e falta de concentração.
As características da vítima não estão nem na cor nem na etnia. As diferenciações são outras, enquanto o dos agressores concentra-se no desejo de aceitação social, da necessidade de exercer influência sobre os colegas e a busca de popularidade. Além da ausência do medo da punição.
Os professores opinam que por serem externas as causas, isto é, família e sociedade, não podem resolver definitivamente a questão. Agem punindo os agressores com suspensões e advertências, chamando os pais para conversar com educadores e equipes técnicas. Sugerem campanhas, palestras e grupos de discussão. O que faz sentido porque ficou claro na pesquisa que os alunos não identificam o Bullyng.
Os pais afirmam que a escola não sabe lidar e transferem para eles a responsabilidade de resolver conflitos.
Qualquer observador mais atento não terá duvida em afirmar que a solução está na junção da escola com o lar. Lastreado na pesquisa, fica aberto o caminho para a melhoria do ensino em nosso país. Uma grande oportunidade para que o conhecimento obtido da pesquisa venha a ajudar o conhecimento das crianças e adolescentes de hoje.
E, principalmente, a sua felicidade.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve no Blog do Mílton Jung