Eu também tenho dois pais

Diego Felix Miguel

foto: arquivo pessoal

Há cerca de três anos, meu marido e eu adotamos os irmãos Isis e Aquiles, dois cachorrinhos que foram abandonados quase recém-nascidos na porta de uma associação que resgata, cuida e direciona animais para adoção. Foi em uma feira organizada por essa instituição que os conhecemos, estabelecendo um vínculo afetivo importante, o qual nos levou a formar uma família.

Naquele momento, eu estava vivendo um período de luto pelas inúmeras perdas que enfrentei durante a pandemia de COVID-19. Foram pessoas próximas e distantes que, de algum modo, marcaram minha vida. A última e dolorosa perda foi a do Odin, meu cachorrinho adotado há 12 anos, que exigia cuidados especiais por um grave problema na coluna. Sua partida deixou um vazio imenso.

Alguns meses após a despedida de Odin, quando o luto já estava mais elaborado, decidimos dar um novo passo e nos permitir ser tocados por outro amor. Foi assim que Isis e Aquiles se tornaram parte da nossa família. Desde então, tenho refletido sobre essa troca de cuidados. Eles não têm as mesmas necessidades que Odin, mas diariamente compartilhamos uma relação de cuidado recíproco, agora vivida com mais maturidade e compreensão.

Uma provocação inesperada


Entre as mudanças que Isis e Aquiles trouxeram para nossas rotinas, está o hábito de frequentarmos lojas para pets aos fins de semana. Foi em um desses “passeios familiares” que tudo aconteceu.

Enquanto eu conversava com uma atendente sobre um produto, um garoto se aproximou da Isis e do Aquiles, causando um alvoroço de latidos, rabos balançando e coleiras entrelaçadas. Tentando segurá-los para evitar que pulassem, dividi minha atenção entre o caos alegre e o menino, que, já acarinhando os dois, perguntou os nomes deles.

Depois de ouvir que eram Isis e Aquiles, ele quis saber se eram irmãos. Quando confirmamos, ele olhou para mim e para meu marido e perguntou:
— Vocês são casados?

A pergunta, direta e inesperada, me pegou de surpresa. Vivendo em um país onde a homofobia ainda é tão presente, levei alguns segundos para responder. Finalmente, confirmei. No mesmo instante, o menino abriu um grande sorriso e disse:
— Eu também tenho dois pais!

Logo em seguida, ele correu para chamar seus pais para nos conhecerem. O que mais me impressionou naquele momento, além do sorriso e da alegria com que quis nos apresentar sua família, foi a comparação que ele fez: viu Isis e Aquiles como nossos filhos, da mesma forma que ele se via como filho dos seus pais.

Pais de pets? Como assim?


A pergunta ficou ecoando em minha mente, trazendo várias reflexões.

Nos últimos anos, muitos casais têm optado por não ter filhos humanos e adotam pets, construindo com eles relações de cuidado e afeto. Lembrei do teólogo Leonardo Boff, que define o cuidado como “uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o outro”. Para ele, o cuidado é uma troca íntima que atravessa a existência humana, pautada pelo amor, pela solidariedade e pela proteção.

Refletindo sobre minha relação com Isis e Aquiles, percebo como essa convivência é saudável e transformadora. Nossas rotinas foram adaptadas, e os momentos que compartilhamos são, muitas vezes, o respiro necessário para enfrentar as demandas cotidianas nem sempre agradáveis.

Além disso, essa troca me faz refletir sobre o envelhecimento. Observar a vitalidade deles enquanto percebo as mudanças no meu corpo e na minha maturidade é um aprendizado constante. Não se trata apenas de cuidar, mas de ser cuidado também — um processo que enriquece nossa percepção de tempo, de fragilidade e de reciprocidade.

Essa experiência, seja ela materna, paterna ou fraterna, nos conecta à essência do cuidado. E o cuidado, acredito, é fundamental para um envelhecimento mais pleno e significativo, permeado por vínculos afetivos que constituímos, sejam eles com seres humanos ou animais.

Diego Felix Miguel é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e presidente do Depto. de Gerontologia da SBGG-SP, mestre em Filosofia e doutorando em Saúde Pública pela USP. Escreve este artigo a convite do Blog do Mílton Jung.

Conte Sua História de São Paulo: Vila Mariana me sapecou um desgosto

Rubens Cano de Medeiros

Ouvinte da CBN

Photo by Burak The Weekender on Pexels.com

Primeiro, um descuido. Subsequente, teimosia. E, arrematando a
costura, dúplice insensibilidade e grosseria. Pronto! Eram os
ingredientes da minha “tragédia”.

Daquele bonde camarão, nem senti raiva. Já do motorneiro… E do
motorista – lembro bem – do Fordinho Prefect verde, ah…

Meu quinhão de sangue ibérico levou-me a rogar, aos dois, várias
pragas! Que, como sói acontecer com imprecações, são inúteis, inócuas:
até aumentaram minha raiva…

Descuido que, meia horinha mais, revelar-se-ia fatal. Tínhamo-nos
esquecido – eu e meus pais, à saída, de travar o portão com a tramela.
Sem que notássemos, a danadinha pôs-se a nos seguir. Na nossa
caminhada, subidona da José Antônio Coelho a fora.

Meu sobrenome Cano – foneticamente mal aportuguesado, do castelhano –
motivava que perguntassem: “Você é filho de ISPANHÓR?”. Não era. Mas
neto, sim.

E completavam. “Espanhol é tudo teimoso!”. Minha mãe, fila de
imigrantes da Andaluzia, a Isabel Cano, ela teimava e contrariava! Eu
até que muito insisti, no percurso.

“Manhê! Vâmo voltar, prender ela no quintal…”. Mas qual! Minha mãe
retrucava: “NÃÃÃO! Ela volta, sozinha!”. Voltou? Seguiu-nos até os
trilhos da Domingos de Morais. Até a placa branquinha, PARADA DE
BONDE, no alto, perto de fio trólei.

Lembro nítido! Era 25 de janeiro – íamos passear no Centro. Eu,
moleque, naquele feriado, algum ano da década de 50, não longe de ter
passado o IV Centenário.

Revejo, de memória. Então, o bonde camarão chegou. Um, da linha 101 –
Santo Amaro. De letreiro Praça João Mendes.

A porta da frente se nos abriu – subimos. Incontinenti, ela nos quis
seguir – até botou as patinhas no degrau de ferro, dobrável, da
própria porta. Mas…

O maldoso motorneiro, vendo, fechou abruptamente! Lançou o animalzinho
à frente do carro, cujo maldoso motorista sequer diminui a velocidade:
PLAFT! Doloso, matou! Minha mãe bradou: “Não olha!”. Eu? Horrorizado,
vi tudinho.

De fato, permitiam-se carros no contrafluxo de bondes; porém bastava
frear… Num átimo, aí fechei os olhos. As lágrimas que chorei ainda
gotejavam na triste volta… A cachorrinha jazia nos
paralelepípedos…

Naquele festivo 25 de janeiro, Vila Mariana me sapecou um desgosto.

À época, moleque, eu adorava folhear – ler, mesmo – a bela A Gazeta.
Cujas edições comemorativas nos 25 de janeiro traziam lindas
ilustrações e nitidíssimas grandes fotos em preto e branco – me
encantavam!

Sem exagero, eu lia inclusive… a página policial! Página que – hoje
suponho – bem poderia, no dia seguinte à tragédia, ter estampado uma
certa manchete…

“FERIADO MANCHADO DE SANGUE – BONDE E CARRO ASSASSINOS – POIS NEM
SEMPRE O HOMEM É O MELHOR AMIGO DO CÃO”.

No 25 de janeiro seguinte… Que bom! Outro cãozinho já tinha me vindo
– cicatrizar o coração… 

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Rubens Cano de Medeiros é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

O que diz Bocelli, meu especialista, sobre pensão alimentícia para animais

 

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Ana e o marido viveram felizes enquanto foi possível. Não faz muito tempo entenderam que não se amavam o suficiente para continuarem juntos nem se odiavam a ponto de terem uma separação litigiosa. Além dos laços afrouxados que os distanciaram havia os gatos a aproximar o casal —- três gatos para ser mais preciso. E um cachorro, também.

 

Ficou a cargo dela manter os gatos Cristal, Lua, Frajola e o cão Frederico, na casa onde moravam, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. A cultura brasileira ainda tem dessas coisas. No momento da separação, por mais amigável que seja, os filhos ficam com a mulher, geralmente. O homem — nem todos, é lógico — pega as crianças em dias determinados para passear e se divertir; e terceiriza para a esposa, ou melhor, para a ex-esposa a educação, a disciplina e todas aquelas coisas chatas que precisamos fazer para criamos crianças saudáveis, justas e éticas. Pelo visto, o mesmo ocorre no caso dos filhos de pelo —- como recentemente passaram a chamar gatos e cães de estimação.

 

Sei que separação de casal, guarda compartilhada, divisão de responsabilidade sobre os filhos e até mesmo os pets já ocorreram aos montes e na maioria dos casos não mereceram uma só nota de rodapé no jornal nem uma crônica (?) neste blog. Mas a história do fim do relacionamento da Ana e do marido — que teve seu nome preservado e eu sei lá o motivo disso — ganhou o noticiário por uma curiosidade jurídica. Pela primeira vez, o tribunal determinou o pagamento de pensão alimentícia aos animais de estimação.

 

Segundo reportagem do G1, o acordo estabelecido entre os pais dos animais prevê que a mãe fique com os gatos e o cachorro e o pai pague o valor referente a 10,5% do salário mínimo, o que hoje equivale a R$104,79 por mês. Ele também tem direito a visitas e passeios.

 

A justiça brasileira já havia decretado a guarda compartilhada de animais anteriormente, mas não previa —- até agora —- pensão alimentícia. Ribeirão Preto parece faz história em defesa dos animais.

 

E se não pagar a pensão? Pergunta de gaiato. Acontece isso mesmo que você está pensando: vai para a cadeia. Sabe-se que se tem coisa que se leva a sério no Brasil é esse negócio de pensão. Sem dor nem perdão. Não pagou, prendeu — às vezes até de maneira injusta, como já tratamos neste blog.

 

Em casos como esse —- que me foi apresentado pelo Frederico, não o cachorro do ex-casal, mas o Goulart, âncora do CBN Primeira Notícias — prefiro recorrer a palavra de especialistas. Consultei o Bocelli, meu gato persa. Adianto-lhe que ele é um gato de poucas palavras, mas tive a impressão de que recebeu bem a notícia, pois sabe quanto custa manter um bichano, imagine três — ah, e o cachorro, também.

 

Bocelli ficou em dúvida apenas em relação ao valor. Achou pouco. Sabe que a lei fala apenas em custear comida mas deve ter pensado no preço da ração (especialmente a dele que é de primeira), que se soma ao da areia para a caixinha, às visitas ao veterinário e ao banho mensal —- apesar dele achar que isso tem muito mais a ver com cão do que com gato. De qualquer forma, acredita ser um bom início de conversa.

 

A incomodá-lo apenas a informação passada pela advogada Taís Roxo, responsável pelo caso, de que “tem no Congresso já em trâmite um projeto de lei nesse sentido (em favor da pensão alimentícia para animais)”. Logo lhe veio à mente, os gatos de rua do vizinho que vão começar a coagi-lo a participar de manifestações em favor do projeto de lei, além de os aproveitadores de protesto que envergarão suas faixas contra a reforma da Cãovidência, pelo fim do CCZ ou pela volta da Carrocinha.

 

Para acalmá-lo, sugeri que convidasse seus colegas de raça a se manifestarem através do aplicativo O Poder do Voto, onde podem pressionar deputados e senadores e expressar suas opiniões a favor ou contra os projetos de lei que estão no Congresso. Como Bocelli é gato moderno, adorou a ideia de se transformar em um militante digital.

 

Antes de encerrar nossa conversa, deixei claro que, a persistirem os sintomas, ele jamais precisará se preocupar com essas coisas de separação, guarda compartilhada e pensão alimentícia, ao menos enquanto ficar aqui em casa. Juro que ouvi um miado de satisfação.

Conte Sua História de São Paulo: faltavam os lírios do canteiro da Avenida Paulista

 

Por Elza Conte
Ouvinte da rádio CBN

 

 

 

A Av. Paulista é há muitos anos meu espaço de caminhadas e reflexão. Ela é sem dúvida a imagem de São Paulo. Estamos no verão, todavia a exuberância dos seus prédios faz com que a qualquer momento do dia, haja em seus quarteirões uma suave brisa e uma sombra reconfortante. Caminhar pela Paulista passa a ser refrescante.

 

Há lindas histórias que tenho gravadas em mente, presenciadas nesta importante via de São Paulo, não faz muito tempo um dos inúmeros moradores de rua que lá habitam, e que fazem parte do cenário, tinha um cartaz do seu lado:

 

-

- Eu e meu cachorro estamos com fome, você nos ajuda a almoçar?

 

Parei diante dele e indaguei:

 

— Convença-me a ajudá-lo. Por que você e seu cachorro?
Prontamente o morador disse-me:

 

— Eu prefiro morrer de fome a ver meu companheiro sofrer. O almoço será dividido com ele.

 

Eu convencida daquele amor puro e inocente, paguei a eles e desejado almoço.

 

Hoje outro morador de rua, com uma bandeja de presunto, alimentava seu cão-companheiro, fatia a fatia, delicadamente servida ao animal. Não resisti e perguntei-lhe:

 

-

- Por que você não come também o presunto?
No que ele respondeu:

 

— Eu já comi um lanche de queijo, o presunto alimenta melhor o Rei —- sim, era Rei, o nome do cachorro.

 

Comovente….

 

Outra história antiga vivida na Avenida Paulista é sobre um charmoso bêbado que vivia nos arredores. Era meu caminho para a faculdade na época. Todas as vezes que encontrava com ele, respeitosamente ele dizia:

 

— Boa noite Madame! Ao qual eu sempre retribuía com muito carinho…

 

Uma dessas noites, porque estava muito cansada, fui de ônibus para a faculdade. A Paulista sempre com o trânsito congestionado, estava estranha. Faltavam os lírios amarelos dos canteiros centrais. Para surpresa de todos, no final da Paulista o charmoso bêbado estava com um enorme maço de lírios amarelos nos braços, fazendo graça com todas as moças que passavam:

 

— Boa noite Madame! — dizia de forma agradável.

 

E a cada oferecimento, um enorme aplauso, que se ouvia de todos os transeuntes e pessoas presas no trânsito. Ao qual ele respondia com um não menos charmoso agradecimento, curvando seu corpo tênue e fraco, maltratado pela bebida. Confesso que me arrependi infinitamente por não ter ido a pé naquele dia, e ter ganhado um lírio amarelo, colhido da Av. Paulista.

 

Essa imagem, como dos moradores de rua e seus cachorros, são cenários da vida real vivida na Paulista, onde tudo é possível. Nenhum destes momentos tenho coragem de fotografar porque são de beleza rara e impossíveis de serem registrados. São mágicos e divinos. Apenas histórias de São Paulo.

 

Elza Conte é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Participe desta homenagem à nossa cidade: envie seu texto agora para contesuahistoria@cbn.com.br

Conte Sua História de São Paulo: a volta do Pitu depois de nadar no rio Tietê

 

Por Osnir Geraldo Santa Rosa
Ouvinte da rádio CBN

 

No Conte Sua História de São Paulo, o texto do ouvinte da CBN Osnir Geraldo Santa Rosa:

 

 

 

Da Vila Romana minha família foi para o Tremembé. Isto mais ou menos no ano em que nasci: 1943 — entrada de 44. Na chácara, ficamos até 1953 — este foi o ano em que meus pais, a duras penas e com auxílio de Nossa Senhora Aparecida, segundo minha mãe, compraram um imóvel em Vila Jaguara. Era o fim da linha. Nem os motoristas de táxi do centro de São Paulo conheciam.

 

Eu tive um cachorro, o Pitu — era uma mistura de vira-lata com bassê, mais conhecido por salsicha. Vira-lata que era ficou pouco mais alto do que os salsichas e mais curto, também. Tinha a mesma com dois tons marrons mais fortes no entorno dos olhos. Era doido para pegar ratos, preás e outros animais comuns de se encontrar nas capoeiras.

 

Naquele tempo, não havia a Eng. Caetano Álvares nem a marginal do tio Tietê. Cortava-se pela Cachoeirinha, Largo do Japonês e Moinho Velho para chegar em Vila Jaguara. A primeira aventura do Pitu foi quando a caminho de lá ele caiu ou pulou do caminhão de mudança e eu, que o adorava, pulei atrás. Sem saber disso meu pai, muito lépido, já tinha pulado e retornado ao caminhão. Fiquei eu perdido — até que minha mãe ,sempre atenta percebeu, e o motorista retornou para me apanhar.

 

Era comum na época a molecada pescar e nadar nas perigosas lagoas de onde hoje está o CEAGESP. Atravessávamos o rio Tietê por uma ponte feita com tambores. Era muito mais limpo que hoje, mas, judiado sobretudo com resíduos orgânicos lançados pelo enorme frigorífico Armour. Assim, seguia o nosso Anhembi para o sertão.

 

Pitu sempre ia com a gente. Enquanto nós pescávamos e nadávamos, ele corria atrás de preás, fanaticamente!

 

Uma vez, começou escurecer e nós decidimos voltar para casa. E Pitu não apareceu. Chamamos à exaustão e nada. Chorosos, tivemos que deixa-lo por lá. Os dias seguintes foram tristes. Meus pais e minha avó, Lúcia Freddi Santa Rosa, não nos perdoavam. Pitu era por demais querido de toda a família e dos vizinhos, também.

 

Pois bem, inacreditavelmente, três dias depois do desaparecimento, Pitu retornou. Estava todo ensebado e mal cheiroso — horrível! O fato é que ele atravessou o rio a nado — o cheiro e a gordura impregnados nele eram prova cabal disso — e nos reencontrou-o em casa.
 

 

Osnir Geraldo Santa Rosa e seu cachorrinho Pitu são personagens do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também a sua história: envie seu texto para milton@cbn.com.br.

Barulho no ouvido do vizinho é refresco

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Minha sobrinha Cláudia Tajes resolveu,na última Donna,fazer um texto sobre o barulho. E escolheu como a hora mais silenciosa do dia, a que se situa entre às 12h e 13h. A explicação que ele dá para eleger esta hora como a mais silenciosa do dia aí vai:por que,escreve ela,os operários da obra param a fim de almoçar e oferecem um breve descanso,com isso. Ela entendeu,também que uma obra esteja em construção nas proximidades da sua casa,o que aumenta o barulho.Isso ocorre porque se trata de uma obra gigante,coisa de gente rica.

 

A hora do silêncio passa ligeiro. Tudo o que é bom passa depressa,não é? O ruim é que tão pronto os operários mudam para outro setor da construção,algo pior entra em ação: o especialista começa a operar uma perfuratriz,que arrasa até mesmo os tímpanos de surdos. A Cláudia cita ainda outras fontes dos mais diversos ruídos. O coitado de um Chevette sofre,no dizer dela,produzindo,imagino, um som horroroso. Afinal,nem todos os motoristas possuem carros com alto-falantes poderosos e de som límpido. No Rio de Janeiro você pode descansar os ouvidos com música de qualidade,se é que música em carro com som altíssimo pode ser ouvido sem causar algum mal aos tímpanos.

 

A Claudia se queixa igualmente do menino que estuda guitarra,não lembro se no andar de cima ou onde o capeta busca inspiração para suas músicas. É aí que entram os eletrodomésticos de todos os tipos. Ah!Tem um cara na frente da nossa casa no comando de uma máquina de cortar grama que já viu dias melhores,tamanho é o ronco que produz. Esse desgraçado tem a mania de fazer o seu trabalho aos sábados. Nada pior do que estragarem de alguma forma o soninho que pretendíamos fazer.E chega o domingo. E o torcedor de futebol se acorda. Isso é o de menos:o nosso televisor possui som muito mais do que o dele.

 

Cláudia deve ter esquecido um dos tantos barulhos que recordou neste curto espaço de um dia,principalmente um dia de fim de semana. Esqueceu,porém,o pior:o cachorro do vizinho para quem odeia cães de qualquer raça,sejam os grandalhões,sejam os pequenos ou os diminutos. Fomos premiados com um Pastor que tem mania de latir na garagem. Quando enxerga a nossa gata,enlouquece e se transforma em um Pastor elétrico.Felizmente,entretanto,ela é bem mais esperta do que ele e nos vinga:sabe que o cão não pode atravessar a cerca de ferro e fica tirando sarro do abobado.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Para aumentar a taxa de ocitocina dos nossos cães. E a nossa, também!

 

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Foi a ciência que nos inspirou a tratar do assunto, mas foi o coração que falou mais alto.

 

Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo dividiram com os ouvintes do Liberdade de Expressão, quadro do Jornal da CBN, a experiência de ambos com seus animais de estimação. Foram provocados pelo estudo de pesquisadores japoneses que dizem ter encontrado em um hormônio, a ocitocina, a resposta para a ligação forte entre humanos e cães.

 

Deixando os dados científicos de lado, Xexéo já se apresentou como “cachorreiro” e daquele tipo que, ao ver um dos seus morrer, jura que nunca mais terá outro, para, em seguida, repetir a experiência. Olha ele aí com Arya:

 

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Cony foi mais longe, lembrou-se de Mila, uma cadela que, segundo o próprio, o escolheu e foi personagem de crônica escrita no jornal Folha de SP, em 1975. Até hoje, nosso cronista recebe recados de leitores querendo saber um pouco mais da “moça” que, infelizmente, já se foi.

 


Ouça aqui a nossa conversa no Liberdade de Expressão.

 

Nosso bate-papo não havia se encerrado e no meu Twitter já surgiam as imagens de dezenas de animais de estimação amados por seus donos, cada um com seu olhar e nome especiais. Foi uma sequência de lembranças e juras de amor. Coisa de chamar a atenção.

 

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No meu e-mail, recebi a mensagem do Elmano Baroncelli, do Rio de Janeiro:

 

Da indiferença à paixão. É como podemos chamar a emocionante narrativa do Cony sobre o olhar dos cachorros. Deu pra sentir vc ali no programa com agonia do tempo restrito  correndo e  sem “coragem” de interromper narrativa tão interessante e de uma pessoa que muitos esperavam frio com esse tipo de sentimento. Vivi deve ter cedido, discretamente, seu tempo para se deleitar e também se emocionar com o que estava escutando. Deu pra “ver” a cadela pedindo para voltar com ele no Karman-Ghia e não ser devolvida; deu pra sentir o carinho que ele foi adquirindo por ela. No final, até livro dedicado ela ganhou! Onde vemos a utilização muito engraçada desse “olhar sedutor” dos animais é no filme Gato de Botas com a voz do Antonio Banderas. Quando aquele gato esperto quer alguma coisa lança um olhar irresistível de coitadinho e sempre consegue o que quer! Sou daqueles caras, como disse bem o Xexéo, que quando perde o cão que estimava diz que não vai ter mais nenhum outro, mas que acaba tendo.  Estou na fase do “não quero ter mais nenhum outro”.  Se tiver – e acho que é o que vai acabar acontendo – vai ser uma cadela como a outra que perdi e vai se chamar MILA. Com certeza.

 

Com tantos interessados, na conversa, resolvi buscar nos arquivos da Folha, a coluna escrita pelo Cony. Vale a leitura:

 

Mila Cony

 

Depois de ler em voz alta, aqui em casa, Eros e Ramazzotti, meus cães de estimação, me olharam com aquele olho de quem pede uma crônica igual. Pobres coitados! Posso me comprometer em cuidar muito bem deles, mas escrever como o Cony, ninguém será capaz. Resta-me seduzi-los publicando a foto dos dois aqui no blog. Espero que ao verem este post, a dose de ocitocina aumente:

 

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De achismo

 

Por Maria Lucia Solla

 

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Foi amizade à primeira vista. Eu esperava pelo elevador de serviço, com a Valentina, para caminharmos lá em baixo, e para esticarmos as patinhas, namorando o Mar, mas ele não chegou vazio. O elevador. Elas estavam lá. Mônica e sua filha com um sorriso e um batom vermelho de arrasar quarteirão. Eu não as conhecia. Perguntei se se importavam que minha Valentina entrasse – quem a conhece sabe que ela é sedutora até não poder – e elas imediatamente agacharam para brincar com ela. Imagina, amamos cachorros; responderam.

 

Começou o papo.
Contei a elas que antes da Valentina eu jamais imaginava ter um cachorrinho. Tive cachorros grandes, que ficavam do lado de fora da casa e faziam a ronda nos protegendo, ou eu assim acreditava. Nosso contato não era próximo. O Doberman, que ficava no sítio, era alto e forte, e um pulo dele em mim seria um desastre, mas era eu que cuidava dele e o alimentava. Nosso relacionamento era muito bom, e ele era muito gentil comigo. Fazia festança com os maiores e mais fortes, lambia meus filhos que quase caiam de tanto rir e baixava a cabeça quando vinha me encontrar, para que eu lhe fizesse uma coleirinha na cabeça.

 

Contei também que quando eu via na rua alguém levando seu cachorrinho passear na calçada ou no parque, eu ‘achava’o ó! Sem preconceito, mas não podia me imaginar naquela situação. Eu? Nem pensar! Cachorro dentro de casa? Quarto? Cama?????

 

Isso foi assim, até a Valentina me encontrar, pular no meu colo, colocar seu inexistente focinho no meu pescoço (é uma Shi Tzu) e me conquistar para todo o sempre. Ela faz de mim, a cada dia, uma pessoa melhor.

 

E o papo incendiou e continuou na barraca da praia mais tarde: encasquetamos com o verbo ‘achar’e chegamos à conclusão de que está aí um verbo, num de seus sentidos mais populares, que deve ser mantido longe, ou de preferência aniquilado logo de uma vez.

 

Personagem 1: – Viu como ela anda de nariz empinado?

 

Personagem 2: -Vi e ‘acho’ que ela ‘acha’ que é melhor do que os outros.

 

Realidade: Ela se submeteu a uma cirurgia na coluna e ao se curvar, sente dor.

 

Pronto. Decretamos nossa ação contra o ‘achismo’

 

E você, ‘acha’ muito?

 

Pense nisso, ou não, e até breve.

 


Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

Nos EUA, seu cão rende mais ao médico do que o ser humano

 

 

O doutor Evan Levine é cardiologista em Nova Iorque e vive no estado americano de Connecticut, onde tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Algumas vezes, tenho oportunidade de receber, por e-mail, a coluna que escreve com o sugestivo nome de ”O que seu médico não vai(ou não pode) dizer”. Nesta semana, em seu texto, tenta mostrar como a medicina está mais viável para os médicos que atendem animais do que os que tentam curar o ser humano, ao menos nos Estados Unidos (no Brasil seria diferente?). A crítica tem um alvo: a remuneração proporcionada pelo sistema de saúde americano – algo que me lembra muito a situação enfrentada por profissionais brasileiros de medicina muito mal pagos pelas operadoras de plano de saúde e pelo próprio SUS.

 

Leveni começa o artigo lembrando episódio do seriado Seinfeld, no qual Kramer, o amigo alucinado, leva ao veterinário o cão de um conhecido, alegando que animal de estimação está doente. Ao chegar no consultório, descreve ao médico os sintomas dele e não do cachorro, calculando que seria indiretamente medicado e a um custo bem menor (o vídeo está acima). Do ponto de vista do humor, a estratégia estava correta, mas distante da realidade americana, segundo constata o dr. Levine:

 

“Nesta semana, um colega (cardiologista) contou-me a história de seu cão e os custos para tratá-lo. Infelizmente, seu melhor amigo morreu em consequência de insuficiência cardíaca congestiva, depois de ser submetido a um ecocardiograma que lhe custou US$800, pagamento feito no ato. O tratamento incluiu, ainda, uma ecografia abdominal, que me pareceu desnecessária, e foi realizada pelo veterinário que não é especialista em doenças do coração. A máquina utilizada para realizar o teste foi provavelmente um modelo mais antigo, usado antigamente em seres humanos, que custa uma fração dos equipamentos de eco existentes hoje nos consultórios de medicina. Se ele ou qualquer outro cardiologista tivesse realizado o mesmo tipo de ecocardiograma em um paciente, com uma máquina nova e muita mais cara, teria direito a receber US$250 através da seguradora dentro de um mês. A “eco” para cachorros custou-lhe mais do que o dobro do que ele receberia para a realização de um ecocardiograma em seres humanos! E ele teve que pagar em dinheiro, antecipadamente! Muitos cardiologistas, hoje em dia, têm que pedir autorização da seguradora do paciente e oferecer razões detalhadas para ter direito ao valor cobrado, preferindo arriscar e fazer o exame antes mesmo da instituição assumir este custo.”

 

Dr.Levine diz que gostaria de ser ressarcido pelas seguradoras da mesma forma que os veterinários estão sendo pagos pelos donos de cães. E faz um ótimo trocadilho com mais sentido em inglês do que em português: “I do hope that medicine is going to the dogs”. Brinca, assim, com a expressão “going to the dogs” que ao pé da letra seria “indo para os cachorros”, mas que, em português, significa “ir de mal a pior”.

Nova estação, redobre os cuidados com seu animal de estimação

 

Por Dora Estevam

 

 

Quem tem um animal de estimação em casa? Quase todos nós. Como eu também tenho, duas delas, a Natacha (Labrador fêmea) e a Hanna (Husky fêmea), pensei em fazer um post para você falando um pouco sobre estes bichinhos que são as nossas fofuras. As minhas “meninas” sofrem quando muda a estação, no inverno, então, ficam resfriadas, caem os pelos – o quintal fica totalmente coberto de pelos brancos e beges. Saio correndo atras do veterinário. Como já estou mais bem instruída. penso nesses cuidados um pouco antes do inverno. Conversando com veterinários percebi que é comum apesar de muita gente ainda estranhar tais comportamentos. Tem outros cuidados também que passam despercebidos e um especialista pode nos ajudar. Para esclarecer estas questões, entrevistei o dr. Marcelo Ruiz, da Clínica Veterinária Paulista, do Morumbi, em São Paulo.

 

Ouça aqui a entrevista que gravei com o veterinário Marcelo Ruiz ou leia a seguir:

 

Quais os cuidados com os pets nesta época do ano?

 

Dr. Marcelo: É mais comum nesta época do ano aparecer doenças viróticas, tipo traqueíte virótica ou traquiobronquite dos cães, tem que se fazer as vacinas anteriormente antes que chegue o inverno, pois as gripes são contagiosas entre os cães,é como uma gripe humana. Em dias de frio os cachorros mais sensíveis têm crises de asma, precisa ventilar a casa, principalmente os que ficam confinados em casa. Tem também a troca de pelagem, a alimentação vai influenciar bastante nesta troca, uma ração de alta qualidade pode ajudar a não cair muito os pelos e não vai ficar com falhas no animal, evitando falhas e infecções de pele no animal.

 


Os banhos são necessários?

 

DR. marcelo: A rotina é a mesma. O banho precisa ser em um petshop que têm os secadores especiais e secam bem os pelos até a profundidade para não dar alergia.

 


Eles têm problemas com alergias?

 

Dr. Marcelo: Sim, muitos cães são propensos as alergias, tanto de contato (quando o proprietário limpa o chão com algum produtos não apropriados ) como as respiratórias, sistêmicas, alimentar (precisa dar uma ração especial).

 

As roupas são adequadas para todos os cães?

 

Dr. Marcelo: Os cães não tem tanto frio como nós, só os de pelo curto que tem um pouco de frio e você deve por uma roupa. Já para os de pelo longo é opcional, só que tem que tomar o cuidado de tirar a roupa todos os dias e escovar este animal todos os dias, pois a roupa vai embolar este pelo e isso pode dar problema de pele.

 


Um dica final.

 

Dr. Marcelo: Ame e cuide bem dos seus filhos (pets)

 


Dora Estevam é jornalista e escreve sobre moda, estilon de vida e, também, de PETs, no Blog do Mílton Jung