Avalanche Tricolor: Feliz 2023!

Grêmio 3×0 Brusque

Brasileiro B (pela última vez) – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Gabriel Santos, esperança para 2023

Eu merecia! Você merecia! Um jogo tranquilo, sem compromisso. Com jogadores soltos em campo, trocando passe sem medo do erro.  Movimentando-se com leveza e destreza. Arriscando chutes de fora da área e tabelando na cara do gol. Com liberdade para criar e se movimentar. Assim foi a partida de despedida do Grêmio na Série B diante de sua torcida, na noite desta quinta-feira. 

O primeiro a brilhar foi Guilherme que marcou um golaço ao se livrar do marcador e bater forte e bem colocado — o primeiro dele desde que vestiu a camisa tricolor. Depois, foi a vez de Gabriel Silva, com seu bigode de pós-adolescente e cabelo cortado à moda antiga, que está apenas desabrochando no futebol. Marcou duas vezes — o segundo gol mais lindo do que o primeiro.  

Lá atrás, Adriel, com corpo esguio e movimentos seguros, pouco foi exigido, mas se fez presente quando requisitado. Mesmo que do goleiro se espere defesas precisas e bom posicionamento, confesso a você que me chamou atenção a forma como lança a bola com os pés e a intervenção que fez de cabeça em uma das poucas tentativas de contra-ataque do adversário. São sinais de um talento cada vez mais exigido à posição.

Na defesa, Bruno Alves apenas confirmou ter sido das boas contratações para a temporada, enquanto Kannemann, com todas as dificuldades físicas que encarou, tem de ter seu contrato renovado o mais rapidamente possível. Time que se preza não pode abrir mão de uma liderança como ele. Leonardo Gomes é outro nome que apareceu na reta final e precisa ser mantido na lateral direita.

No meio de campo, Villasanti é imprescindível; Lucas Leiva, necessário; e Bitello, uma revelação — foi nosso maior destaque no ano e fará diferença na Série A. 

Fora do jogo, vi Diego Souza, nome mais importante de nosso ataque, que estava no camarote comendo pipoca, na tranquilidade de quem sabe que fez o que precisava para nos devolver à Primeira Divisão. Se permanecer no elenco será jogador importante pelo que representa ao grupo, apesar de não ter capacidade de ficar em campo por muito tempo. 

Não vi Geromel, mas soube que treinou durante a semana, mesmo que tenha sido poupado depois da conquista alcançada. Hoje à noite, senti falta de uma homenagem ao capitão. Ele merecia essa menção, pois foi irretocável em todos os jogos que participou. O Grêmio lhe deve muito.

Tem ainda Biel e Ferreirinha, ambos em recuperação, que têm velocidade e podem dar ritmo ao time, em um esquema mais ajustado e num esquema mais bem treinado. Tem também Campaz — se o cito é porque ninguém pode ter custado tanto sem nunca nos oferecer muito. Quem sabe ano que vem não seja o ano em que seu futebol vai esplandecer.

O Grêmio precisará ir além para se fazer relevante nas competições que disputará em 2023. Por enquanto, vale o fato de termos nos credenciado a voltar para a elite do futebol brasileiro com duas rodadas de antecedência.  Que a nova direção saiba fazer do Tricolor um grande time e nunca, nunca mais nos faça passar o que passamos neste ano. 

Eu mereço! Você, caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, merece! Um time melhor. E um Governo muito melhor para 2023.

Avalanche Tricolor: obrigado, Greg!

Náutico 0x3 Grêmio

Brasileiro B — Estádio dos Aflitos, Recife/PE

O abraço da vitória em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Greg,

Você e eu sabemos que o domingo foi estranho. E estamos cientes de que o próximo talvez seja ainda mais. As coisas que vêm acontecendo na política assustam e preocupam. Não estão do jeito que a gente gostaria. Acompanho de perto suas preocupações. Justificáveis, diante do País que você sonha viver: igualitário, justo e generoso — como você. 

A despeito dos acontecimentos e dos sentimentos que afloram, hoje também era um dia de remexer na nossa memória afetiva. Retomar as emoções que vivenciamos há 17 anos, quando você e o Lo eram guris de calça curta e cabelo comprido. Mal sabiam ainda o que levava o pai a sofrer desesperadamente diante da televisão que transmitia um jogo de futebol. Entraram no quarto, onde eu assistia ao despedaçar do meu time na Segunda Divisão, para entender meus lamentos. Logo se uniram a mim, me abraçaram e assim ficamos até o instante final quando vencemos o que ficou conhecido por “Batalha dos Aflitos”. O pai chorou e vocês, constrangidos com a cena, foram solidários.

Foi lá que vocês foram forjados gremistas, mesmo que você tenha vestido uma camisa tricolor ainda nos tempos em que dormia em um berço, quando fomos campeões brasileiros, em 1996, o ano que você nasceu. Foi lá que você entendeu que aquele time tinha uma importância para o seu pai que se sobrepunha à razão. E nunca mais me deixou só nesse sofrimento. 

Comemoramos títulos, vibramos com os gols, reclamamos dos jogos mal jogados e dos reveses nas nossas jornadas esportivas. Nos divertimos na final do Mundial e curtimos juntos a alegria dos torcedores pelas grandes vias e locais turísticos de Abu Dhabi. Ano passado, foi você quem me confortou na inevitável caminhada à Série B. E me ensinou que, independentemente da competição que estivéssemos disputando, seguiríamos vibrando com gols e lamentando as derrotas. Ou seja, nada nos faria deixar de ser gremista.

Neste ano, foi você quem esteve ao meu lado partida após partida. Ajudou-me a suportar o futebol enfadonho, encontrou consolo nos pontos perdidos fora de casa e na sequência de empates que nos impedia de acelerar a ascensão. Foi você quem me fez mais feliz a cada gol que comemorou comigo. 

Neste domingo, não seria diferente. Sem ser indiferente a importância e a gravidade do que acontece no Brasil, lá estava você sentado comigo diante da televisão para assistirmos ao Grêmio contra o mesmo adversário e no mesmo estádio de 2005. As circunstâncias eram outras, é claro. Não era vida ou morte. Não havia arquibancada lotada. Nem o oponente tinha mais qualquer chance de se manter na competição. Mas a memória estava fervilhante e a ansiedade era enorme. Confirmar a passagem à Série A com duas rodadas de antecedência era o mínimo que merecíamos depois desta temporada ingrata de 2022. 

A partida se fez fácil mesmo com o futebol difícil que jogamos. Quis o destino que a revelação do ano se sobressaísse aos seus: Bitello fez dois gols e renovou a esperança de que em 2023 vai brilhar no meio de campo gremista. Lucas Leiva, o volante cabeludo da “Batalha dos Aflitos”, que voltou da Europa para fazer parte desta campanha, agora jogando mais à frente, também marcou o seu para tornar ainda mais completa essa sua história com o Grêmio. 

Foi o segundo gol, o de Lucas Leiva, que me fez acreditar que nada mais nos impediria de subir. Foi a cena dele abraçado, em comemoração, a Geromel —- ninguém mais merecia esse retorno do que nosso capitão —- e a Diego Souza —- minha reverência a nosso goleador —, três ‘veteranos’, que me fez cair em emoção. 

O desejo era de virar criança mais uma vez, correr para abraçar o pai e ser abraçado por ele. O pai não está mais entre nós. Contive-me! Ou quase! Os olhos marejaram, a lágrima escapou e escorregou pelo rosto, sem que eu conseguisse esconder a vergonha daquele sentimento. Você, cúmplice, me poupou. Compartilhou sua alegria. E foi parceiro como sempre! 

Ao seu lado, estamos de volta à Série A! E por ter sido ao seu lado, essa caminhada foi bem menos árdua do que poderia ter sido diante da conjuntura que enfrentamos — no futebol e no País. 

Obrigado, parceiro!

Avalanche Tricolor: como sempre!

Londrina 1×1 Grêmio

Brasileiro B – estádio do Café, Londrina/PR

Diego comemora mais um gol, em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O Grêmio pode garantir passagem à Série A daqui uma semana, jogando diante da torcida, foi o que disseram os jornalistas esportivos durante a jornada desta tarde de sábado. Vai depender da combinação de resultados dos demais jogos e, claro, de uma vitória em casa na próxima rodada. 

Não me esforcei a entender essa matemática porque precisa tirar pontos daqui, colocar outros ali e somar onde é possível chegar. Perda de tempo, agora. A ascensão está próxima quase que por inércia. Mesmo que a campanha seja de altos e baixos, de vitórias, de algumas derrotas e de muitos empates, os adversários colaboram em seus tropeços. Se não der domingo que vem, dará na sequência. Temos três rodadas para alguma coisa dar certo. Talvez até consigamos subir enfrentando o Náutico, no Recife — o que, convenhamos, não seria uma novidade.

Hoje, foi mais do mesmo. Um time de contradições. Quando esteve melhor, não conseguiu transformar a performance em gol. Quando o desempenho piorou, marcou. Contou com a presença dentro da área de Diego Souza, o atacante que ainda tem torcedor com coragem de reclamar. Subiu mais alto e de cabeça concluiu para as redes. Como sempre.

No segundo tempo, o técnico decidiu “fechar a casinha” — no meu tempo chamavam isso de retranca. E foi aí mesmo que a “casinha” se abriu. Escalou nove jogadores da intermediária para trás: um goleiro, dois zagueiros, três laterais e três volantes. Com tal congestionamento não é de se surpreender que uma bola haveria de resvalar na mão de alguém. Pênalti visto pelo olho eletrônico. E cobrado no meio do gol. Gol! Como sempre.

De diferente mesmo só o fato de ter sido o primeiro ponto conquistado fora de casa sob o comando do novo-velho treinador — até aqui, longe da Arena, só havia somado derrotas. A despeito de tudo isso, voltaremos à Primeira Divisão, como sempre!

Avalanche Tricolor: personagens da nossa história

Grêmio 2×0 CSA

Brasileiro B — Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Lucas Leiva comemora o gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Dois têm 37 anos. O terceiro, tem 35. Os três têm muita história boa para contar. Têm dores e sofrimentos para compartilhar, também. Enxergam o futebol como poucos jogadores o fazem dentro de campo. E exercem uma liderança difícil de ser medida para quem nunca viveu o cotidiano do vestiário de futebol, local em que dramas pessoais, fragilidades emocionais e disputas internas contaminam o ambiente. Situações que precisam ser atendidas na conversa ao pé de ouvido, no puxão de orelha diante dos colegas e, às vezes, em uma chacoalhada de ânimo, naquela corrente de abraços que mais parece curso de autoajuda. 

Geromel e Diego Souza (os de 37) e Lucas Leiva (o de 35) são os personagens desta vitoriosa e otimista Avalanche, escrita com sentimento bem diferente daquele que ecoava no inquieto coração deste escrevinhador (que, apenas por curiosidade, tem 59 anos), na semana passada. Lá havia um misto de frustração, tristeza e desencanto com o que havia assistido e ouvido de alguns dos nossos. Que por serem nossos queremos que sejam perfeitos, quando sabemos que as pessoas, por seres humanos que são, não são assim: erram, se omitem, pecam, traem tanto quanto acertam, transformam, glorificam e vencem. Nós somos assim, eles são assim, eu sou assim —- muito mais talvez do que todos os outros.

Lucas Leiva, o mais novo dos veteranos, pediu para voltar. Queria encerrar carreira no time pelo qual é apaixonado. Os torcedores, mesmo escolados com a decepção proporcionada por outros que, recentemente, tomaram a mesma decisão, oferecemos a ele o benefício da dúvida. Teve dificuldade para se readaptar ao futebol (mal) jogado na Série B e aos desacertos de um time que até agora não entendeu o que está fazendo na segunda divisão. Foi reposicionado em campo e dá a impressão que se redescobriu mais à frente, onde mata suas sede e fome de gol. Marcou o primeiro de hoje, o segundo dele nas duas últimas partidas disputadas.

Diego, nosso goleador, soube-se agora, além de enfrentar a violência, a pressão dos zagueiros e o peso da idade, precisa superar a dor de uma hérnia inguinal que entra em campo com ele, acompanha-o em cada disputa de bola e torna os movimentos ainda mais difíceis. Hoje, mais uma vez, subiu ao lado dele, mais alto do que todos os marcadores para, de cabeça, definir a vitória. Se o número de gols somos capazes de registrar —- foram 13 apenas nesse campeonato —, incontáveis foram as vezes em que vimos nosso atacante orientando companheiros, sinalizando o melhor caminho a percorrer, mostrando qual o comportamento adotar diante dos diversos desafios que temos pela frente. Um líder na tabela de goleadores gremistas tanto quanto um líder à frente do grupo de jogadores.

Geromel foi pouco exigido na noite desta terça-feira quando demos mais um passo importantíssimo à Série A. Foi eficiente, como costuma ser, nas poucas vezes em que a bola rondou o espaço ocupado por ele. Mas é personagem, sim, desta Avalanche porque ninguém, nenhum outro jogador, veterano ou novato, se dedicou de forma tão séria à missão de elevar o Grêmio a seu patamar quanto nosso zagueiro, nesta temporada. Em campo, nunca deixa qualquer um que esteja vestindo nossa camisa esquecer o significado de vesti-la. É respeitoso com o adversário. Elegante no comportamento. Sério na execução de sua tarefa. Preciso, muito preciso nos movimentos que realiza. 

Lucas, Diego e Geromel, veteranos que escolhi para serem personagens desta Avalanche, são, por merecimento, protagonistas da história do Grêmio. E da nossa ascensão que está cada vez mais consolidada.

Avalanche Tricolor: o sorriso de Lucas Leiva

Grêmio 3×0 Sport

Brasileiro B – Arena Grêmio, Porto Alegte/RS

Lucas Leiva comemora gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Punho cerrado, braço estendido em direção ao céu e corpo elevado por um dos colegas. Assim Lucas Leiva comemorou o primeiro gol dele desde que voltou ao Grêmio e o segundo na vitória importantíssima desta noite — não apenas porque nos deixa mais próximo da classificação à série A , mas também porque corremos o risco desta ser a última partida na Arena, nesta temporada. Havia também um sorriso estampado no rosto desse gremista que, após vitoriosa carreira no exterior, decidiu encerrar sua jornada no time do coração.

Um sorriso que não escondia o alívio de quem sabia da dívida que tinha com o clube, pois desde que retornou não havia conseguido impor o futebol que lhe alçou ao sucesso. O próprio Lucas confessou, ao fim da partida, a frustração de não ser capaz de repetir com a camisa do Grêmio o talento que lhe projetou internacionalmente — ops, não é de bom tom usar essa palavra em uma Avalanche Tricolor, vamos então mudá-la para mundialmente. 

Nesta terça-feira, jogando mais à frente , pela total ausência de armadores e criadores no meio de campo, Lucas demorou para entender sua função. Participou de alguns lances, mas sem o diferencial que esperamos de alguém com a capacidade dele. 

Foi no segundo tempo, quando se imaginava lhe faltaria fôlego para manter a intensidade na marcação na saída de bola, que Lucas apareceu. Iniciou a jogada do primeiro gol no meio de campo e participou da sua finalização já dentro da área adversária, com a conclusão de Biel — em tempo: é incrível a dedicação desse menino de apenas 21 anos. O segundo gol, como já disse, foi de autoria dele e resultado de lançamento de Diogo Barbosa e da presença de Rodrigo, recém-entrado, dentro da área. Lucas disputou com o zagueiro e bateu forte, estufando as redes.

O sorriso na comemoração voltou a se repetir na entrevista final, ao comentar o placar elástico sobre um adversário que vinha se assanhando na competição e já era visto como uma “touca” do Grêmio, diante das estatísticas favoráveis nas últimas temporadas. Lucas Leiva estava feliz com o gol e a vitória — o terceiro gol foi marcado por Bitello. Uma felicidade que me representava em campo. Uma felicidade apropriada para o momento, sem a ilusão de que está tudo resolvido e menos ainda de que estamos esbanjando qualidade técnica.

Foi o próprio Lucas Leiva quem disse ao repórter que o abordou ao lado do campo que no Grêmio nada é fácil, tudo vem com sofrimento, mas, no fim, na maioria das vezes, as coisas dão certo. 

Que Lucas siga nos dando o direito de sorrir!

Em tempo: o que você vai ler a seguir, é claro, é opinião de um torcedor gremista; mesmo assim, espero que você tenha parcimônia em compreender o que penso sobre o assunto. Torcedores do Santos invadiram o gramado e um deles tentou dar uma voadora no goleiro Cássio do Corinthians. O time paulista foi punido com perda de mando de campo nos dois próximos jogos da Copa do Brasil, no ano que vem. Alguns torcedores se engalfinharam nas arquibancadas, na partida contra o Cruzeiro, e o Grêmio foi punido com a perda de três mandos de campo, que se for mantida representará o fim da presença gremista em seu estádio nesta temporada. É justo?

Avalanche Tricolor: você não tem ideia

Novo Horizontino 2×0 Grêmio

Brasileiro B – Estádio Jorjão, Novo Horizonte/SP

Foto de Lucas Uebel

Foi hoje pela manhã que terminei de escrever o texto que você encontra abaixo deste. Com os dias corridos como têm sido esses últimos, não havia conseguido publicá-lo na sexta-feira que antecede a apresentação do programa Mundo Corporativo, como gosto e costumo fazer, com o objetivo de oferecer ao ouvinte e leitor acesso às informações completas que vão ao ar no programa de rádio. 

Atrasei a entrega, considerando o prazo que minha disciplina me impõe, porque a semana foi intensa tanto quanto cansativa. Foi feliz, também, já que os resultados alcançados foram bastante positivos —- os meus resultados, lógico! 

Encontrei plateia entusiasmada diante da mensagem que apresentei em palestra e ouvintes carinhosos e acolhedores pela visita que fiz a Manaus, no meio da semana. Em São Paulo, de um frio arrepiante, também tive dias gratificantes, tanto pelo que aconteceu na profissão como na vida pessoal. Dias que se encerram aqui no interior de São Paulo onde aproveito a companhia da família em meio a uma reserva florestal.

Compartilho tudo isso, em um espaço que seria dedicado apenas ao futebol, porque foi o atraso no texto escrito que me fez ter acesso a recomendações de uma especialista em gestão e desenvolvimento humano, na manhã deste sábado, antes de começar a escrever esta Avalanche. Ela recomenda que não se haja impulsivamente frente a situações difíceis ou que exijam sensibilidade. Pede para que se ouça atentamente o outro, observe-se a situação com cautela e se dê um tempo para responder, permitindo que nossas ideias, às vezes animalescas, migrem do cérebro reptiliano para o cérebro racional.

Oportuna lição, porque você não tem ideia do que o meu cérebro mais primitivo estava doido para escrever nesta Avalanche depois do que assistimos na noite de ontem, em Novo Horizonte. Ou, se você viu o jogo, talvez tenha ideia, sim!

Avalanche Tricolor: contagem regressiva para o fim da maldição

Grêmio 2×1 Vasco

Brasileiro B – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Thaciano comemora o gol da vitória em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Empurrado pelo torcedor e motivado pelo treinador, o Grêmio venceu um dos adversários diretos pela classificação à Série A. Saiu atrás, com um gol tomado logo nos primeiros minutos, não esmoreceu e virou o placar ainda no primeiro tempo. Bitello fez um gol de “chiripá”, nome de uma indumentária que os gaúchos vestiam antigamente que serviu para batizar esses chutes que saem meio enviesado mas chegam ao seu destino. O outro, de Thaciano, aos moldes “carretão”, aquela máquina movida por tração animal capaz de moer o que havia no caminho. 

Jogou melhor que o adversário e brigou de igual para igual —  o verbo é mais apropriado para o que os dois times apresentaram na disputa pela bola na etapa final. 

Enquanto jogou futebol, o fez com intensidade e velocidade, haja vista o gol da virada: se iniciou com o corte da defesa, a bola foi para Thaciano que encontrou Biel disparando na frente, em uma desabalada correria; o mesmo Thaciano chegou livre na cara do gol, recebeu e marcou. Contra-ataque de carteirinha.

Quando o futebol não se expressava mais,  demonstrou dedicação, esforço e entrega. Teve carrinho com direito a vibração de zagueiro, catimba para conter o desespero do adversário, um goleiro que fez ao menos duas grandes defesas e um ferrolho com três e até quatro volantes de marcação para impedir a pressão no fim da partida.  

Seis pontos à frente do quinto colocado e com 92% de chances de se classificar, faltam agora nove partidas para o fim do campeonato, quatro delas em casa quando teremos o torcedor no cangote para fazer o time resistir ao adversário, e ao futebol precário. Será preciso marcar pontos fora de casa, também, para não corrermos riscos.

A maior motivação está na promessa do treinador de que a meta é subir e o bom futebol a gente vê depois —- suficiente para engajar uma torcida desacreditada no potencial do clube, desde a tragédia do ano passado. Curiosamente, nada diferente do que tínhamos até aqui — até os velhos desafetos do torcedor estiveram todos em campo na tarde deste domingo —, mas o futebol é assim mesmo: a narrativa vale mais do que os fatos. E enquanto a narrativa for vitoriosa, prevalecerá. Que siga sendo ao menos até que a gente se livre dessa maldição. Estamos na contagem regressiva.

Avalanche Tricolor: os estranhos fenômenos que permitiram a vitória do Grêmio

Grêmio 2×1 Vila Nova

Brasileiro B — Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Thaciano comemora segundo gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Para falar da vitória gremista nesta noite de sexta-feira, destaco dois momentos que me chamaram atenção na partida.

No primeiro, o VAR cconvoca o árbitro depois do segundo gol do Grêmio. Pior do que a dúvida de ver o gol ser anulado, é o risco de o lance retornar à origem e um pênalti ser assinalado; de o 2 a 0 que o placar da TV já registrava se transformar em 1 a 1, em meados do segundo tempo. Foram quatro ou cinco minutos de discussão, revisão e ameaça de correção. Acostumado com os acontecimentos dos últimos tempos, do alto do sofá de minha casa, já previa o pior porque assim tem sido nossa jornada desde a tragédia do ano passado: se alguma coisa pode dar ruim, dará ruim.

No segundo, um escanteio a favor do adversário é assinalado quando o cronômetro já havia corrido mais de seis minutos desde os 45 finais. Era resultado de uma sequência de tentativas de ataque que pressionavam nossa defesa e provocavam um sofrimento desmesurado na torcida. Um gol naquele momento seria a decretação do empate — já havíamos tomado um aos 33 do segundo tempo —, da manutenção da série sem vitórias e a abertura da temporada de horrores na reta final do campeonato. Antes de o cruzamento se realizar, meu descrédito previa o pior. Tinha a impressão de que nada seria capaz de impedir aquela bola de entrar no nosso gol. E o pior esteve perto de ocorrer, porque a bola foi mal rebatida pelo Grêmio, ficou dentro da área e por duas vezes o adversário teve a oportunidade de marcar.

Do lance em que o VAR tentou anular à iminência de gol nos acréscimos, algo estranho para esses tempos complexos que vivemos aconteceu: nem o árbitro sinalizou o pênalti nem os atacantes adversários conseguiram botar a bola na rede — nesse caso, bem que um deles enxergou o canto aberto e empurrou a bola naquela direção, mas quis o destino que fosse desviada para a linha de fundo.

Nada do que fizemos em campo, nesta noite, foi muito diferente do que vinha sendo feito até então. Feitos que nos colocaram há algum tempo entre os quatro primeiros classificados mesmo que diante de alguns resultados capengas. 

Houve a pressão inicial — neste caso premiada com um gol bastante cedo —- e o espaço para o adversário se aproximar da nossa área; assim como houve um esforço descomunal dos nossos jogadores para revelar disposição na marcação e a imprecisão em muitas jogadas de ataque. Houve até Diogo Barbosa (que por sinal jogou bem e participou dos dois gols) e Thiago Santos, no mesmo time —- o que faria as telhas do Estádio Olímpico despencarem na cabeça de qualquer um que por lá se atrevesse passar. Houve vaias para Campaz e muxoxos para qualquer outro que não fosse capaz de fazer em campo o que a torcida imaginava na arquibancada.

Nada mudou. Nem se poderia esperar por isso, apenas porque a direção do Grêmio decidiu demitir todo o comando do departamento de futebol – com medo de perder votos na eleição do conselho deliberativo do clube, no próximo dia 24 – cometendo mais uma injustiça contra Roger. Mas estou convicto de que alguma força qualquer decidiu nos ajudar, nesta sexta-feira. Dessas coisas que a gente não sabe explicar direito. Dessas que alguns chamam de sorte ou azar. Outros falam em sobrenatural. Os atrevidos dizem que é coisa de quem nasceu com aquilo virado para a lua. 

Acho que é um pouco de cada coisa, porque tem gente chegando que dá a enteder que foi iluminada por forças superiores, pois mesmo que trace linhas tortas consegue escrever a história do jeito que deseja.  

Avalanche Tricolor: que venha Setembro, logo

Criciúma 2×0 Grêmio 

Brasileiro B – estádio Heriberto Hülse, Criciúma/SC

A defesa de Brenno em foto de LucasUebel/GrêmioFBPA

Que Agosto se vá e não deixe saudade! Foi o que pensei ao fim da partida da noite de terça-feira, apesar deste ser o mês de meu aniversário. A sequência de maus resultados — três derrotas e um empate — me remeteu ao dito popular de que “agosto é o mês do desgosto”,  má-fama que surgiu na Idade Antiga com crendices romanas de que, neste período do ano, um dragão cruzava o céu —- claro que expelindo fogo pelas ventas, porque não fosse isso, o espetáculo de horror não estaria completo. 

A coisa era tão séria e se espalhou pelo mundo que, em Portugal, se dizia que “casar em agosto traz desgosto”, o que fazia com que muitas mulheres adiassem a cerimônia. Necessariamente não era por medo do azar, mas pelo fato de que no período as embarcações deixavam a costa rumo ao Novo Mundo levando seus maridos, o que sempre era uma viagem de risco. Na lista de “malfeitos” do mês, uma lenda que corria entre cristãos dizia que 24 de agosto é o Dia do Diabo. Coincidência ou não, mesma data em que Getúlio Vargas cometeu suicídio — fazendo com que o mês ficasse ainda mais mal-afamado entre os políticos brasileiros.

Convencido de que os maus agouros, as três derrotas e os nove gols tomados eram de responsabilidade do Agosto, antes de começar a escrever olhei nossa performance nas partidas disputadas neste mês e percebi que a primeira semana havia sido bem melhor: ganhamos os dois jogos que disputamos, um fora de casa, coisa rara, e outro de goleada.

Minha pesquisa agora cedo derrubou com minha tese da noite de ontem. Minha desculpa para o desempenho abaixo do esperado e desejado se frustrou. Descobri que meu consolo para o que estamos assistindo em campo era tão frágil quanto o futebol jogado, neste momento. 

A despeito dos motivos que tenham nos levado a essa queda de rendimento que Setembro chegue logo e possamos voltar a sorrir com vitórias, gols e classificação garantida.

Avalanche Tricolor: da esperança na política e no futebol

Grêmio 0x1 Ituano

Brasileiro B – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Gabriel Silva dribla em foto de LucasUebel/GrêmioFBPA

Venho de três dias especiais para quem dedica sua vida ao jornalismo. Cobertura de eleição por si só é daqueles momentos para os quais nos preparamos com parcimônia, apuro e equilíbrio. No meu caso, tive o privilégio de mediar as entrevistas com três dos candidatos a presidente da República — infelizmente, os dois principais refugaram, fugiram da raia e se furtaram da oportunidade de conversar com milhões de pessoas que nos acompanham na CBN e nos jornais O Globo e Valor. São daquele tipo que têm medo de perder e só arriscam o resultado quando é inevitável.

Quando estamos diante de pessoas que se candidatam ao cargo máximo do país há necessidade de planejamento e estratégia, pesquisa antecipada e atenção redobrada. Por candidatos que são têm suas artimanhas para transformar a entrevista em palanque eleitoral, driblar os temas mais complicados e contra-atacar no primeiro vacilo do “adversário”. É preciso estar atento, saber a hora de dar a bola para ele jogar e saber a hora de retomá-la; respeitar o adversário, sem subserviência; atacá-lo, sem violência. Qualquer vacilo de nossa parte: gol deles!

Há uma cobrança intensa do público, parte dele contaminado por suas ideologias e “torcidas organizadas” — termo usado por Lula, em entrevista ao Jornal Nacional, para definir o papel dos militantes dos partidos. Uma visão reducionista sobre a política, como fez questão de lembrar Ciro, do PDT, candidato que esteve na sabatina promovida pela CBN, O Globo e Valor Econômico, nessa sexta-feira, no Rio — cidade que me abrigou nesses últimos dias.

Foi, aliás, pouco antes de se iniciar essa sabatina, quando os jornalistas costumam trocar algumas palavras amenas com o entrevistado, a espera do início dos trabalhos, que Ciro falou de futebol. Disse ser torcedor do Guarany de Sobral, cidade em que nasceu, no interior do Ceará. Citou dois ou três clubes pelos quais tem admiração pelo Brasil e quando soube que eu sou gremista, lembrou que o candidato dele a governador no Rio Grande do Sul era o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, que quando caiu para a segunda divisão, teve de abrir mão de suas pretensões políticas.

Você não tem ideia como eu adoraria saber, nesta altura do ano, que Romildo estaria candidato e bem cotado no Rio Grande do Sul. Não, não tem nada a ver com as minhas preferências políticas, mas é que se ele estivesse candidato, certamente o Grêmio não estaria na B.

Dito isso, de volta as conversas e fatos de uma eleição. 

Foi uma semana interessante, mesmo diante de candidata que, em princípio, teria pouco a contribuir para o debate nacional, como é o caso de Vera, do PSTU, partido de linha trotskista, entrevista na quarta-feira. Não desdenho de suas propostas que, inclusive, agradaram parte da audiência, pelo que li nas mensagens recebidas. Quando digo que teria pouco a contribuir, o digo porque não tem expressão na opinião pública como mostram as pesquisas. Foi uma boa surpresa ouvir algumas de suas histórias. Aprendo sempre. E mais uma vez aprendi. Permitir-se ouvir os diferentes, nos torna melhor, nos enriquece.

Estive à frente de Simone, do MDB, na quinta-feira. A candidata repetiu algumas das frases que marcaram sua campanha. Tentou mostrar otimismo mesmo diante das dificuldades eleitorais que tem para assumir uma posição mais competitiva. Tem percentual de intenção de voto quase tão inexpressivo quanto sua outra colega de disputa, Vera. Saiu da entrevista sem marcar gols. E conseguiu se defender bem de algumas investidas dos jornalistas.

Ao fim e ao cabo, cumpri minha missão, ao lado de excelentes colegas jornalistas da CBN, Globo e Valor, e deixei o Rio satisfeito pelo resultado do trabalho, mesmo que o foco que tive de ajustar tenha me mantido longe deste blog por alguns dias. Talvez você, caro e raro leitor desta Avalanche, não tenha percebido. Mas eu senti falta, sim. Adoro a arte da escrita, mesmo que não seja exatamente um arteiro nessa prática.

Cheguei em São Paulo ao fim da tarde. Em tempo de me atirar no sofá, e ligar a TV com a intenção de me divertir assistindo ao Grêmio jogar em casa. Não foi exatamente uma diversão que meu time me proporcionou como o resultado, destacado no alto desta Avalanche, deixa explícito. Frustrei-me com a possibilidade de subirmos na tabela de classificação, abrirmos vantagem sobre os adversários que estão menos cotados e demonstrarmos um time mais maduro diante de seus adversários.

Menos mal que nossa chance de passar para o segundo turno, ou melhor, para a série A, permanece, apesar de três partidas com resultados insatisfatórios. Para me consolar, lembrei de frase dita por Ciro, que está bem distante dos dois primeiros colocados na pesquisa, mas mesmo assim insiste em dizer que, se os adversários vacilarem, quem sabe ele não consegue dar uma volta de 180 graus, esticar a perna no alto, alcançar uma bola cruzada e se consagrar marcando um gol de bicicleta ao fim do jogo. Se Ciro tem essa esperança, quem sou eu, como gremista, para não tê-la.