Avalanche Tricolor: Começou a loucura

 

Grêmio 3 x 0 Oriente Petrolero
Libertadores – Olímpico Monumental


Foi estonteante a apresentação do Grêmio nesta noite de Libertadores. Jogadas em alta velocidade, bola trocada com rapidez para o companheiro mais próximo e lançada com precisão para um mais bem colocado do outro lado do campo. A variedade de movimentos também sufocou o adversário que fechava pela direita e era atacado pela esquerda. Quando corria para a esquerda, sofria na direita. Nem mesmo o juiz resistiu ao sufoco imposto pela equipe de Renato.

Nosso técnico voltou a surpreender. Nem tanto pela coragem de colocar apenas um volante – bem verdade que era o volante, Fábio Rochemback – e arriscar com três jogadores de meio-campo talentosos, mas pela criatividade de construir a equipe desta forma. Com o velocista Lúcio a aparecer de surpresa em meio a defesa inimiga e com a conhecida categoria de Douglas, Renato fez do “maldito” Carlos Alberto homem-chave no seu esquema.

O novo talento dá sinais de que entendeu o compromisso assumido no momento em que aceitou o convite para vestir a camisa do Imortal (e que bela camisa, chegava a brilhar na tela da televisão). Com a bola no pé repete o que todos já sabíamos, tem qualidade, entende a partida taticamente e orienta companheiros em campo. Quando a bola está com o adversário, não mede esforços para roubá-la ou impedir seu avanço – é a novidade.

Contida a ansiedade do início de Libertadores, o Grêmio-2011 começa a forjar uma ótima equipe, a partir de um elenco que permite variações na maneira de se apresentar – sem nunca perder duas de suas principais características: talento e pegada.

Soma-se a isto uma torcida maravilhosa que levou quase 36 mil pessoas ao Olímpico Monumental e sou obrigado a encerrar repetindo aquilo que esteve na garganta de todos os gremistas na noite desta quinta-feira: Soy Loco Por TRI América !

Avalanche Tricolor: Agora é pra valer

 

Nova Hamburgo 2 x 0 Grêmio
Gaúcho – Olímpico

Novo Hamburgo é cidade bem cuidada (ao menos era na época em que morei em Porto Alegre), próxima da capital e interessante para quem gosta de calçados. Hoje, estava em festa devido ao centenário do time da casa. Mesmo com todo o respeito que tenho pela cidade colonizada por alemães, dou-me o direito de escrever esta Avalanche de olho no futuro.

Antes que você, desavisado, me acuse de estar sendo prepotente ao não dar bola pro jogo desta tarde, entenda o seguinte: o Grêmio com uma rodada de antecedência havia conquistado tudo que era preciso até aqui neste primeiro turno de campeonato. Líder, isolado e distante de todos os demais adversários – inclusive aquele que você um dia já ouviu falar – entrou em campo para cumprir tabela, literalmente.

Tudo bem, havia uma atração em especial: a estreia de Carlos Alberto que vestiu seu número preferido, o 19, e mostrou que tem personalidade suficiente para ajudar o time no maior dos nossos desafios nesta temporada, a Libertadores. Precisa apenas ser mais bem apresentado aos seus companheiros, coisa que os próximos treinos serão suficientes. O vigor com que voltou para roubar bolas, confesso, me surpreendeu, porque o jogo distribuído com precisão e a forma como leva a jogada já conhecíamos.

Carlos Alberto se unirá a um elenco em formação que ainda precisa de alguns ajustes neste início de temporada, mas que está consciente da importância que damos a competição que se inicia, efetivamente. Até então, havíamos apenas entrado em campo para provar que merecíamos o lugar conquistado no Brasileiro 2010; e o fizemos muito bem contra o Liverpool do Uruguai, como conversamos em Avalanches anteriores.

Na quinta-feira, o Olímpico Monumental será cenário de nosso primeiro passo em busca do terceiro título da Libertadores quando teremos como adversário o Oriente Petrolero, da Bolívia. Ninguém espere um jogo e tanto na estreia. Como falei, ajustes ainda são necessários: dar confiança à defesa, acertar a ala esquerda, calibrar o passe no meio de campo e afinar a conclusão no ataque. Até mesmo o elenco precisa ser fechado.

Nada disso – absolutamente, nada disso – será suficiente para tirar do time que entrar em campo, seja quais forem os escolhidos de Renato, uma marca inconfundível do futebol gremista: a nossa gana pela vitória.

Confira e me cobre: cada bola será disputada como se fosse a última, toda dividida como se fosse vida ou morte e nenhuma jogada estará perdida sem que antes sangue e suor escorram pela nossa nova camisa tricolor.

Porque é assim que forjamos a história do Imortal. E assim será a partir desta quinta-feira, na Libertadores.

Na mesa com o Capitão do Tri

Direto da Cidade do Cabo

Carlos Alberto Torres

Véspera da abertura da Copa do Mundo, o jantar foi em um dos melhores hotéis de Vitoria & Alfred Waterfront, área turística, rica e movimentada. Na mesa, um convidado especial, Carlos Alberto Torres, Capitão do Tri, bom papo e bem humorado apesar da dor provocada pelo nervo ciático que não resistiu a mais de 12 horas de avião entre Rio, São Paulo, Johannesburgo e Cidade do Cabo.

Para acompanhar a conversa, um Saxenburg Pinotage 2004, vinho produzido em vinhedo não muito distante daqui, de sabor amadeirado capaz de agradar a este escriba.

A safra é boa ?

Não é das melhores, respondeu Carlos Alberto. Nós não falávamos de vinho, mas de futebol. “Nenhuma seleção se sobressai”, disse logo de cara.

Fez algumas ressalvas, ao citar a Espanha que tem a melhor formação desde 1962 quando perdeu para o Brasil por 2 a 1, na Copa do Chile. Lembrou da Argentina e os jogadores de ataque, principalmente, citados ao mesmo tempo que Carlos Alberto tocava o peito com a mão fechada, sinal de que acredita que a raça desta turma pode fazer diferença.

“Messi, se entrar no ritmo da Copa, pode dar seu grande salto”, acrescentou quando perguntei quem seria o melhor jogador deste Mundial.

E o Brasil, “Capita” ? Perguntou o anfitrião que escutava a conversa e demonstrava intimidade.

Quando Carlos Alberto Torres fala da seleção brasileira demonstra a mesma personalidade forte que o consagrou em campo. Não esconde seu descontentamento com o time que estreia dia 15 contra a Coreia do Norte, em Johannesburgo. Em entrevistas já havia revelado discordância em relação a convocação feita pelo técnico Dunga e a falta de criatividade.

Preferia ter em campo Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Neymar e Adriano.

“Imagina o Adriano entrando em campo, aquele baita cara, impõe medo no adversário”, explicou assim por que era a favor de que tivesse havido mais cuidado de Dunga com o atacante da Roma.

Para ele, o técnico brasileiro deveria ao menos ter trazido Paulo Henrique Ganso, menino do Santos, time pelo qual Carlos Alberto Torres também fez sucesso, entre 1966 e 1974, com Pelé ao lado. Dunga não teria nada a perder e ofereceria ao torcedor mais esperanças: “tá todo mundo com uma cara assim, será que vai dar ? Não sei, não !?”

Essa coisa de comprometimento com o grupo, pode até ser importante, mas o Capitão do Tri volta a ser taxativo: “Seleção é seleção, seleção é diferente”.

Conta que em um dos muitos eventos internacionais que tem participado – está na África à convite da Visa -, depois de reclamar da ausência de jogadores que poderiam desequilibrar um jogo, ouviu de um interlocutor que Felipão também havia deixado Romário fora do time e ganhou a Copa mesmo assim.

“Mas ele tinha o Ronaldinho Gaúcho”, rebateu com a mesma objetividade e precisão que o levou a marcar o gol que fecharia a goleada sobre a Itália, por 4 a 1, na final da Copa de 70.

Na cerimônia do “pontapé inicial” da Copa da África, transmitida na TV que estava pendurada na parede atrás da nossa mesa, o lance escolhido para representar a conquista do Brasil no México 70, não por coincidência, foi o gol de Carlos Alberto. Ele sorriu quando todos olhamos para a tela e para ele: “Já não aguento mais, vi esse lance umas 50 mil vezes na vida”, desdenhou.

Aquela, sim, foi a melhor safra de todos os tempos.