Conte Sua História de São Paulo: burros e cavalos ajudavam na coleta do lixo

 

 

Reinaldo Serrano
Ouvinte da CBN

 

 

Morava na rua Mariús, na Vila Paulina, zona leste de São Paulo. Era rua de terra. Difícil de acessar. Era 1969. E nos bairros afastados do centro, como o meu, os lixeiros usavam carroças puxadas a burro ou a cavalo. O lixo era recolhidos das latas deixadas do lado de fora da casa.

 

foto 1 naldo

 

Somente quando o asfalto chegou, caminhões da Ford passaram a ser usados na coleta. Se não me engano, tinham um caçamba com porta deslizante em cima e em forma de arco.

 

foto 4 naldo serra

 

Nos anos de 1970 mudaram o modelo de caminhão da coleta. A carroceria passou ser uma espécie de liquidificador grande e deitado para triturar o lixo. Eram caminhões Mercedes Benz. Lembro que perguntei ao meu pai a razão de haver cordas nas laterais do caminhão segurando maços de papelão. Ele disse que os garis separavam o papelão para vender ao ferro-velho — foi a primeira vez que ouvi aquela expressão: ferro-velho.

 

Começaram então a aparecerem os caminhões com prensa que compactavam o lixo. Eram Dodge e Ford de pequeno porte. Tinham alguns FNMs, também.

 

Quando estava com 15 anos, me admirei com um comboio que desfilava pela Marginal Tietê, formado de FNMS, já com a marca da Fiat estampada, e aqueles liquidificadores enormes na caçamba. Era novos e, imagino, seriam entregues à prefeitura. Foram os últimos modelos antes da terceirização da coleta.

 

foto 3 naldo serra

 

Antes, em 1972, outro fato que faz parte da história do lixo. Logo que entrei no primário, apareceu o Sujismundo, personagem que fazia tudo errado em termos de lixo e higiene pessoal. Foi uma campanha de conscientização que marcou a infância de muitos de nós.

 

Mais adiante, vieram os caminhões da Vega Sopave, considerados mais modernos. Não separavam papelões. Tudo era jogado na caçamba deixando-se de aproveitar os recicláveis.

 

Foto 5 naldo serra

 

Curioso como a instalação de uma empresa que lida com lixo pode ser incentivadora da ocupação de um bairro. Foi o que ocorreu com a Vega Sopave, em Brasilândia, que ofereceu moradia a seus empregados e levou considerável número de famílias para a região.

 

Minha família morou na Mooca e na região da Vila Prudente. Atrás do cemitério da Quarta Parada, onde hoje passa a avenida Salim Farah Maluf, havia um lixão a céu aberto. Quando ia a algum enterro, era possível ver aquele mundo de lixo perdido. Hoje, exportamos o lixo de uma cidade a outra, fazendo com que esse material que tratamos como resto transite cerca de 50 quilômetros para seu destino final.

 

Eu sou um lixólogo —- graças a observação dos caminhos do lixo em uma cidade como São Paulo, onde tudo é exponencialmente impactante, em todos os seus aspectos: humano, social, ambiental e econômico. Impactos que podem ser positivo ou negativos, que vão depender da maneira como lidamos com o lixo.

 

Reinaldo Serrano é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. As imagens que ilustram essa história fazem parte da coleção do autor.

A incrível atração do lixo

 

O novo sistema de varrição pública nas ruas de São Paulo, que impõe uma série de serviços às empresas vencedoras do processo de licitação, deve custar cerca de R$ 2,1 bilhões, em três anos. Enquanto lia reportagem sobre o assunto, recebi foto e mensagem de Devanir Amâncio, colaborador deste blog. E não foi difícil perceber a ironia do texto.

Atraídos pelo lixo , lixo desorganizado

“O lixo exerce irresistível atração e poder sobre a vida das pessoas. Um homem e uma mulher conseguem revirar e retirar objetos de uma lixeira – gaiola protegida com cadeado, na avenida São João, no centro de São Paulo.”

Tem razão, Devanir. o lixo é muito atrativo.

Por um banco de reciclagem na sua cidade

 

Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP
Transporte reciclável

Quem são os candidatos à Prefeitura de São Paulo realmente comprometidos com a geração de renda que vem da reciclagem? […]

A reciclagem foi e ainda é vista por alguns setores da sociedade, como atividade – ganha pão – dos miseráveis.Talvez a visão curta de nossos gestores sobre sustentabilidade e desenvolvimento econômico explicaria a falta de uma política de reciclagem na cidade de São Paulo. Quem são os candidatos à Prefeitura de São Paulo realmente comprometidos com a geração de renda que vem da reciclagem ? , e não dos discursos, com frases de efeito sobre o tema ,elaborados por marqueteiros.

Banco de reciclagem

Se a reciclagem dá tão certo para milhares de pessoas , resultando numa importante movimentação financeira para São Paulo e o País, por que não adotá-la como política de prioridade?

Um prefeito ousado e comprometido com o meio ambiente e vida das pessoas criaria o Banco da Reciclagem na cidade de São Paulo […].

Sistema de coleta subterrânea de lixo já existe no Brasil

 

Faz pouco tempo, anunciamos no Jornal da CBN de que a coleta de resíduos sólidos nos Jardins, em São Paulo, seria mecanizada, em um projeto piloto proposto à prefeitura pela Loga, um das duas concessionárias responsáveis por recolher da frente de nossas casas o que nós chamamos popularmente de lixo. Um dos modelos a serem testados será com o uso de conteineres subterrâneos com maior capacidade de armazenamento e menor impacto ambiental.

Uma das empresas que desenvolvem equipamentos de coleta mecanizada para armazenar os resíduos no subsolo é a Sotkon que atua em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Angola e, desde 2010, no Brasil. O sistema é diferente daquele já tratado neste blog que conheci em visita a Estocolmo, na Suécia, no qual o recolhimento é feito a vácuo através de encanamento que “entrega” os resíduos em uma central de tratamento (leia aqui), eliminando completamente a circulação de caminhões, entre outras vantagens.

Mesmo assim, de acordo com a Sotkon, o sistema que já funciona em cidades brasileiras, tais como Paulínea e Barueri, traz redução de custo na coleta por permitir o depósito do material a ser coletado em pontos mais distantes, diminuindo o número de viagens, gasto com combustível e emissão de CO2. Do meu ponto de vista, a vantagem está mesmo no fato de que se evita a colocação dos sacos com resíduos sobre as calçadas o que costuma causar sérios danos com alagamentos, por exemplo.

Cálculos feitos pela Sotkon mostram que o investimento para a implementação deste sistema pode ser recuperado em aproximadamente 1 ano e meio. Abaixo reproduzo vídeo produzido pela empresa que encontrei no You Tube e msotra com funciona o processo de coleta.

Jardins ganhará coleta de lixo em contêiner

 

Lixo na porta do prédio

A cidade não terá os resíduos e material reciclável sugados por encanamento, como o sistema que funciona em cidades americanas e europeias, mostrado neste blog, semana passada. Pelo menos, não por enquanto. Mas um grupo de moradores passará por uma experiência que pode mudar a forma como encaramos a produção, coleta e sepração de lixo (ou o que teimamos chamar assim). Em no máximo três meses, prédios e casas da região dos Jardins receberão contêineres de plástico que serão usados para o depósito do lixo domiciliar, dentro de um projeto piloto a ser realizado pela Loga, uma das duas concessionárias que atuam em São Paulo.

Os resíduos sólidos serão depositados nestas “latas de plástico” que devem ter capacidade de até 1,2m³ em lugar dos malfadados sacos que se amontoam nas calçadas e costumam ser apontados como responsáveis pelo entupimento de bueiros e bocas de lobo, no período de chuva. Os contêineres ficarão sob responsabilidade dos moradores que receberão dois por unidade habitacional: um para resíduos secos e outro para orgânicos. Em alguns locais em que houver maior densidade populacional e espaço serão usados compactadores estacionários de 20m³. Caminhões da Loga retirarão o material através de sistema mecanizado.


Leia a informação completa no Blog Adote São Paulo, da Época SP

E mais entulho no centro

 

Entulho no SUS
 

Por Devanir Amâncio
ONG Educa SP

Em frente ao Sistema Único de Saúde (SUS) /AMA Sé, esquina da rua Lousada com a Frederico Alvarenga,região do Parque Dom Pedro II ,existe um ponto viciado de descarte de  entulho. O  entulho é velho e está a 15 metros da entrada da enfermaria . Restos de comida podre  – fora e dentro de sacos pretos – se misturam com terra , madeira,carcaça de computador  e uma cama.  Dentro de um dos sacos  tem um  cachorro morto  em decomposição . O mau cheiro é terrível , e vem atraindo a atenção  até dos cães .
 
 A   sujeira da região central de São Paulo  não é ocasionada por falta de varrição, mas por falhas  na coleta do lixo  domiciliar   que, somado ao descarte irregular de entulho,  castiga a cidade  e  provoca caos e mortes  em períodos de chuva. Não ter coleta na região central aos domingos é inaceitável. Um grande erro da gestão pública paulistana, que precisa ser corrigido com urgência, se possível, com  a ajuda do Ministério Público.

Quanto ao lixo empresarial, espalhado todas as noites nas principais vias do Centro pelos moradores de rua, não basta a Prefeitura responsabilizar somente as empresas. Vamos multar e pronto. A logística para resolver  o problema é complexa e deve ser  pensada e colocada em prática com as próprias empresas. Assim se tornará mais responsável.

Não podemos esquecer que o centro de São Paulo não é  o Tatuapé,  Zona Leste, ou a Chácara Flora,  Zona Sul. O Centro, pela sua importância,  exige políticas públicas diferenciadas,  autonomia e estrutura administrativa aos órgãos  municipais, inclusive para a sucateada Subprefeitura da Sé, afundada em dificuldades operacionais e  financeiras,  onde faltam recursos para reparos mínimos, a exemplo das demais subprefeituras. 

Os subprefeitos têm vontade de fazer acontecer, mas  se encontram de mãos amarradas pelos poderes limitados que lhe  são dados, por razões políticas , restando-lhes  cargos decorativos e rituais de sobrevida , como o de apertarem mensalmente a mão do prefeito.
 
 A cidade que pode entrar para história  ao proibir de forma radical  o uso  de sacolas plásticas  no comércio – em prol do meio ambiente – não consegue resolver o problema crônico do lixo , agora na porta de uma unidade de saúde (…)

Com a palavra os vereadores da cidade de São Paulo.

 

Secretário sugere síndico de lixo em São Paulo

 

Com a lei do lixo com hora certa, a prefeitura de São Paulo pretende que os moradores cumpram uma outra regra para reduzir o risco de enchentes: só colocar lixo na rua duas horas antes do caminhão fazer a coleta. Muitos ouvintes-internautas tem enviado e-mail perguntando como cumprir a lei se eles trabalham durante todo o dia e a coleta é feita, por exemplo, à tarde. Outra situação descrita: há ruas em que a coleta é de madrugada e para que a regra seja seguida o lixo teria que ser depositado após a meia-noite. Convenhamos, não muito seguro.

Fiz esta pergunta ao secretário municipal de Serviços (e de Transportes, também), Alexandre de Moraes, que sugeriu uma espécie de condomínio do lixo:

Ouça a ideia do secretário Alexandre de Moraes

Empresas e prefeitura brigam pelo preço do lixo

 

O lixo na cidade vai dar muita dor de cabeça ainda para o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e para os moradores de São Paulo. Apesar do otimismo demonstrado pelo secretário de Serviços (e de Transporte, também) Alexandre de Moraes, o que ouvimos no CBN São Paulo, nesta quinta-feira, sinaliza que a queda de braço entre as empresas que fazem coleta e tratamento de lixo e a prefeitura ganhará nova dimensão com o debate sobre o reajuste do contrato assinado, em 2004. O gasto mensal da prefeitura está em torno de R$ 48 milhões com as duas empresas, Ecourbis e Loga.

Os presidentes das concessionárias, entrevistados no programa de hoje, alegam que as empresas estão tendo gastos maiores com novas exigências da prefeitura e o aumento na quantidade de lixo recolhido. Segundo o presidente da Ecourbis, Ricardo Acar, nos três últimos meses de 2009 foram recolhidos 10% a mais de lixo do que no mesmo período de 2008. Alexandre de Moraes nega que isto esteja ocorrendo.

Já o presidente da Loga, Luiz Gonzaga Alves Pereira, põe na conta até mesmo mudanças que serão necessárias para atender a lei que obriga as empresas a coletar o lixo com hora certa. Para ele, haverá necessidade de se realizar número maior de viagens na cidade. Pereira criticou, ainda, o fato de que grandes gereadores de lixo, que teriam de contratar empresas particulares, estão utilizando o sistema público encarecendo ainda mais a realização do serviço. O empresário cobrou mais fiscalização pela prefeitura.

Alexandre de Moraes, em meio ao debate, acusou as empresas de não estarem cumprindo com suas obrigações. Ao ser questionado sobre o serviço que não estaria sendo realizado devidamente, o secretário não foi muito claro na resposta. Disse que as concessionárias não estariam cumprindo com o horário de coleta (mas a lei entrou em vigor na semana passada) e não teriam avançado em serviços como a coleta seletiva (mas foi a própria prefeitura que para tornar mais barato o serviço mudou os prazos)

Ouça as três entrevistas e tire sua própria conclusão:

Ouça o que disse o secretário de Serviços Alexandre de Moraes1401

Ouça as explicações do presidente da Loga, Luiz Gonzaga Alves Pereira

Ouça as justificativas de Ricardo Acar, da Ecourbis

Prefeitura quer lixo com hora marcada, em São Paulo

 

As empresas que recolhem lixo na cidade de São Paulo terão de informar a hora em que o caminhão vai recolher o material deixado pelos moradores, segundo lei sancionada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM). O vereador Floriano Pesaro (PSDB), autor do projeto, entende que as pessoas tem direito a esta informação mesmo porque existe outra lei que obriga o cidadão a colocar o lixo na rua no máximo duas horas antes de ser recolhido.

O problema é que as empresas concessionárias tem dificuldade para definir o horário da passagem do caminhão em virtude de algumas barreiras impostas pela própria cidade, como os congestionamentos. Há ainda um agravante nas segundas e terças-feiras quando a quantidade de resíduos a ser coletada é, em média, 30% maior, explicou ao CBN SP o presidente da Ecourbis, concessionária responsável pela coleta nas zonas leste e sul da capital

Ricardo Acas disse que atualmente a empresa já informa se o serviço será diurno ou noturno e poderia divulgar o “horário teórico” da prestação de serviço, para atender a nova lei, mas dificilmente terá condições de precisar a hora de passagem do caminhão.

Ouça entrevista com o presidente da Ecourbis Ricardo Acas ao CBN SP

Para os moradores de São Paulo existe outra dificuldade. Muitas vezes o serviço é prestado em período no qual ele não está em casa e isto o obriga a deixar os sacos de lixo na calçada antes de sair para o trabalho, por exemplo.

A Limpurb ainda precisa anunciar as regras para que a nova lei seja cumprida pelas concessionárias.