Prefeitura não desiste e aposta em obras para carro

 

Ligação leste-oeste (Foto Pétria Chaves)

São Paulo parece não aprender a lição e insiste nas obras viárias como solução para a mobilidade urbana. A confirmação da prefeitura de que vai colocar dinheiro público para tornar mais atrativo os anéis viários provocou um congestionamento de críticas que partiram daqueles que consideram um absurdo o esforço do poder público em beneficiar o transporte individual.

Para amenizar o impacto do anúncio, a Secretaria Municipal de Transportes decidiu dourar a pílula, como se dizia antigamente. Explicou que a implantação do Plano de Anéis Viários tem a nobre tarefa de melhorar a qualidade do ar na capital. Esta lógica não leva em consideração o que ocorre historicamente nos grandes centros urbanos.

Mais obras viárias, mais carros; mais carros, mais poluição.

Para esta equação a prefeitura também tem resposta na ponta da língua. Toda obra viária que ajude a fluidez do tráfego beneficia o sistema de ônibus. Na entrevista do CBN SP com o diretor de planejamento da CET Irineu Gnecco Filho acrescentou que está em estudo a criação de faixa exclusiva na Radial Leste.

Este é um dos eixos que fazem parte do Plano de Metas da prefeitura de São Paulo que promete entregar ainda nesta gestão os corredores “Capão Redondo-Campo Limpo- Vila Sônia” e “Casa Verde-Inajar-Centro”. Quando em seis anos colocou apenas dois corredores exclusivos em funcionamento, difícil crer que estas obras serão prioridade na reta final de governo Kassab.

Ficamos, portanto, com as passagens subterrâneas e túneis planejados pela prefeitura, um deles que pretende dar uma saída para a avenida Roberto Marinho em direção ao ABCD paulista. Tem outro que estará na avenida Sena Madureira sob a rua Domingos de Moraes, ligando a Ricardo Jafet e a rodovia dos Imigrantes.

Gnecco Filho afirmou que o Plano de Anel Viário começou em 2005 e algumas medidas foram adotadas. Um exemplo, foi a retirada de fárois em trechos do eixo que começa na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte, e segue até Interlagos, na zona sul. Neste corredor foi feito uma passagem subterrânea para eliminar um dos gargalos no trânsito que era o acesso ao aeroporto de Congonhas.

A CET defende que as medidas adotadas até agora, somando-se a restrição dos caminhões e ônibus fretados em algumas vias da capital, já surtiram efeito no tamanho dos congestionamentos da capital. Segundo Gnecco Fº, com um milhão de carros a mais nas ruas, São Paulo teria registrado em 2010 os mesmos índices de 2007.

O dirigente informou que a prefeitura ainda não sabe quanto vai gastar para realizar todo este plano de anel viário, o que causa estranheza para quem diz ser este um planejamento que se iniciou há seis anos.

Ouça a entrevista com o diretor de planejamento da CET Irineu Gnecco Fº, nno CBN São Paulo

Ouviu-se pouco apoio a proposta da prefeitura de São Paulo. No jornal Folha de São Paulo que publicou a informação nessa segunda-feira, Horácio Figueira não mediu palavras: “É uma ideia de jerico”. (leia mais aqui)

No Jornal da CBN, o urbanista e arquiteto José Fábio Calazãns disse que a proposta apenas vai gerar mais congestionamento na capital paulista. Na conversa com Heródoto Barbeiro ele propôs uma mudança de foco nos gestores públicos

Ouça a entrevista de José Fábio Calazãns, na CBN

O plano da prefeitura vai na contramão da ideia discutida com a Câmara de Vereadores no ano passado durante seminário que propôs estudo para a criação de um Plano Municipal de Mobilidade. A Rede Nossa São Paulo que esteve a frente do debate informa que como resultado do encontro foram destinados R$ 15 milhões no Orçamento da cidade para o desenvolvimento deste plano que pretende beneficiar o transporte público – jamais incentivar o uso do automóvel.

Nem mesmo vereadores da base do prefeito Gilberto Kassab aliviaram às críticas. Aurelio Nomura (PV) que assumirá o cargo nesta terça-feira, no lugar de Penna, eleito deputado federal, disse que esta não deve ser uma prioridade da atual administração que deveria se preocupar com medidas que não incentivassem ainda mais o transporte individual.

Ouça a entrevista do vereador Aurelio Nomura (PV)

Pelo visto, há quem tenha se apaixonado pela ideia da ampliação da Marginal Tietê e está disposto a partir para novas aventuras urbanas com alto custo para o bolso e para a qualidade de vida do cidadão.

A chuva é natural, a tragédia é humana

 

Texto de abertura do CBN São Paulo desta terça-feira, dia 11.01, mais um dia de verão na capital paulista obrigada a encarar a ironia de comemorar sua fundação no mês de janeiro, quando costuma enfrentar seus dias mais difíceis:

… em que mais uma vez São Paulo sofre pela falta de planejamento e dinheiro desperdiçado; em que o paulistano fica parado em enormes congestionamentos e em meio a uma enchente que sequer é novidade; em que a imprensa soma números de mortos nas manchetes, são 9 apenas nesta madrugada, em uma matemática sem graça resultado do desrespeito com o ambiente urbano – entupido de obras, prédios, cimento, falta de cidadania e incompetência administrativa.

Somos todos responsáveis pelo que assistimos nesta terça-feira. Seja porque não cuidamos do nosso entorno; seja porque não cobramos de quem tem nas mãos dinheiro – o dinheiro dos nossos impostos – e equipamentos, também.

O rodízio de carros foi suspenso; mas o lixo que entope os bueiros, impede o escoamento da água, este continua circulando por toda a cidade, jogado indevidamente e esquecido pela prefeitura que se não tem capacidade para recolher é porque também não teve para educar.
As pessoas seguem despencando dos morros, embaixo de suas casas, construídas indevidamente, mas permitidas pela falta de opção oferecida pela prefeitura – a mesma prefeitura que entrega todo o ano a conta do IPTU para estes moradores.

Aqui no CBN São Paulo, os repórteres estarão na rua – como sempre – atualizando as informações, sobrevoando a cidade e monitorando os pontos de alagamento, porque a chuva de verão não tem como evitar, é da natureza. O que não é natural é a maneira como ainda aceitamos esta tragédia urbana sempre que o verão chega.

Beijing restringe licença para novos carros

 

Beijing tem pouco mais de 17 milhões de moradores (penso que a expressão ‘pouco mais’ possa soar irônica) e frota que bate os 4,5 milhões de veículos. Este congestionamento de pessoas e carros não costuma dar muito certo – quem mora em São Paulo conhece bem a história. A capital chinesa tem o que especialistas consideram o pior trânsito do mundo. Por isso, o governo municipal está prestes a tomar medidas drásticas para conter a circulação na cidade.

Nos próximos meses, carro novo apenas se o motorista der sorte. Das cerca de 700 mil licenças concedidas por ano, serão sorteadas somente 240 mil, das quais 88% para carros particulares e o restante para veículos comerciais e instituições públicas. A frota oficial também ficará congelada nos próximos 5 anos.

Carros com placas de fora da cidade não poderão entrar em área central das 7h às 9h e das 17h às 20h, durante a semana.

Vai ficar 10 vezes mais caro estacionar na “zona azul” chinesa e o tempo de parada será reduzido pela metade, de acordo com as novas medidas. Em lugar de 2 yuan por meia hora, o estacionamento rotativo vai custar 10 yuan por apenas 15 minutos.

As mais duras medidas de restrição a circulação de carros na capital chinesa já causaram um primeiro efeito: a compra de “Zero Quilômetro” bateu recordes no mês de novembro, alcançando 95 mil unidades. São os chineses atualizando a frota antes que a lei entre em vigor.

Ao menos por lá, existem 300 quilômetros de trilhos disponível para quem prefere usar o metrô.

A titulo de comparação. A cidade de São Paulo tem em torno de 11 milhões de habitantes, frota que deve passar dos 6 milhões de carros e não mais do que 70 quilômetros de metrô. Na capital paulista, além de restringir caminhão e ônibus fretado, a medida mais drástica adotada pela prefeitura foi o rodízio municipal em vigor desde 1997. E a venda de carros continua um sucesso.

US$ 1 tri de prejuízo em 60 anos de congestionamento

 

Estudo desenvolvido pelo engenheiro Adriano Branco mostra gastos com combustível, perda de produtividade no trabalho, maior desgaste de veículos e vias, entre 1948 e 2008, em São Paulo.

ônibus 1960

Por Adamo Bazani

A imagem é dos anos de 1960, mas o problema persiste até hoje. E, pelo jeito que as coisas estão, não ficará melhor do que isto. Uns poucos ônibus perdidos num mar de carros. Isto que a foto havia sido feita na Rua Augusta, no centro de São Paulo, que tinha uma mão para ônibus.

A cena explica parte das razões de o transporte público sufocar os trabalhadores, aqueles que pagam caro por um serviço desconfortável e até perigoso. As soluções adotadas pelo poder público são paliativas. Um faz de conta.

A majestade das ruas continua sendo o carro. A autoridade prefere beneficiar os 5m2 de espaço ambulante que costuma transportar uma só pessoa em detrimento dos 30m2 ocupados por um ônibus que leva até 100 passageiros.

O transporte de passageiros que é democrático, pois atende uma demanda maior em menor espaço, não é priorizado. Ou seja, não há democracia nas grandes e médias cidades.

O engenheiro Adriano Branco, um dos responsáveis pelo projeto Sistran, que trouxe uma nova geração de trólebus para o Brasil, escreveu artigo recente no qual apresenta dados impressionantes, que mostram que o problema do transporte tem raízes antigas. Ou seja, há muito tempo as autoridades sabem o que se passa e o pior, sabem o que fazer. Mas não fazem.

No ano de 1958, o prefeito Adhemar de Barros contratou uma equipe de economistas e técnicos, chefiada pelo general Anápio Gomes, para verificar a questão da mobilidade urbana. Isso porque, a CMTC quando foi criada em 1947, com o monopólio do transporte de passageiros por ônibus e bonde, transportava em média mais pessoas do que, em 1958, quando as empresas particulares voltaram a dominar o cenário do transporte coletivo.

O índice de mobilidade nos transportes urbanos (incluindo trens) em 1954, auge da CMTC, era de 392 viagens por pessoa em um ano. No início dos anos de 1960, quando as particulares predominavam, a mobilidade caiu para 343 viagens, mesmo com o aumento no número real de passageiros.

O estudo de Anápio Gomes revelou algo inédito: o custo dos engarrafamentos para cidades como São Paulo. Apesar dos índices de congestionamentos serem bem menores do que na atualidade, o fato de se dar prioridade para os carros causava prejuízos de 1,5 vezes o orçamento da cidade.

Já imaginou o que pode ser feito com um US$ 1 trilhão, só na área de transportes?

Corredores de ônibus em quase toda São Paulo, metrô, trem, VLP, VLT, monotrilho, o que for preciso.

Pois é, mas foi justamente isso que a cidade de São Paulo amargou em prejuízos entre 1948 e 2008, de acordo com estudo de Adriano Branco. Isso inclui combustível, perda de produtividade no trabalho, maior desgaste de veículos e vias.

Cada centavo negado para o ônibus ou trem, no futuro se reverte em gastos bem maiores.

Dados da própria SPtrans revelam que em março de 2006 foram transportados 263 milhões de passageiros contra 293 milhões no mesmo mês de 2009. Aumento de 10%, mas a frota só cresceu 0,5% neste mesmo período.

Nesta terça-feira, 20.07, durante uma hora, o programa A Liga, da Tv Bandeirantes, mostrou a rotina dos transportes e trouxe dados importantes. Os repórteres fizeram ‘passeios’ ao lado de passageiros que chegam a fazer viagens de mais de três horas dentro da própria cidade para chegar ao trabalho. (veja a reportagem aqui)

Especialistas são unânimes: resolver o problema não é tão difícil e caro. Os corredores de ônibus são a solução imediata, barata e de ótimo retorno. Basta ter coragem e colocar ônibus e carros nos seus devidos lugares.

Recado aos busólogos

Em vez de restringirem a discussão à beleza ou feiura de tal modelo de ônibus ou a provarem que um OF tem 10 parafusos nas rodas e outro tem 8, busólogos de todo o Brasil deveriam, sim, pensar em questões mais complexas. Aproveitarem o conhecimento que desenvolveram para cobrar de forma séria daqueles que recebem, e muito bem, para operar e gerenciar o transporte público.

Adamo Bazani, busólogo, jornalista da CBN e que se revolta ao ver a situação atual dos transportes.

Foto-ouvinte: Engarrafamento de bicicleta, São Paulo tem

 

Congestionamento na ciclovia

Poderia ser visto como sinal do sucesso, mas é de desorganização, mesmo. Inaugurada há menos de duas semanas, a ciclocia do rio Pinheiros tem apenas duas áreas de acesso e em uma delas houve congestionamento de bicicletas, neste domingo. De acordo com o ouvinte-internauta Ivson Miranda os ciclistas tiveram de esperar quase meia hora para sair da ciclovia pela passarela da Estação Vila Olímpia, na zona oeste. “É isso que acontece quando uma obra é inaugurada com pressa e sem uma boa consultoria técnica”, reclamou por e-mail.

Agora o outro lado

O presidente da CPTM Sérgio Avelleda explica que o congestionamento na saída da ciclovia, no fim de semana, se deu pelo grande número de ciclistas – mais de 3 mil, segundo ele – e apenas no horário de pico, mais próximo do meio-dia. Ele entende que com a inaguração de mais acessos – o próximo será na estação Santo Amaro, em 15 dias – a situação não se repetirá.

Ouça a entrevista de Sérgio Avelleda ao CBN SP

Canto da Cátia: Cidade que para

Construção civil faz protesto

Logo cedo trabalhadores caminharam pela Marginal Pinheiros para chamar atenção das demissões e dificuldades para obter reajuste salarial. Este foi um dos focos de congestionamento na cidade que atingiu a marca de 120 quilômetros nesta manhã de garoa. A Cátia Toffoletto acompanha a passeata que partiu do Shopping Cidade Jardim, novo templo do luxo na capital, onde complexo residencial e comercial está em fase de conclusão. Por incrível que pareça, porém, foram acidentes com ônibus, carros e motos, além de veículos quebrados em diferentes pontos que elevaram a encrenca no trânsito paulistano.