Conte Sua História de São Paulo: meu pai construiu um “bangalô” para a família

Por Sandra Regina de Almeida Torres
Ouvinte da CBN

No Conte Sua História de São Paulo, a ouvinte da CBN Sandra Regina Torres fala desta gente que chega, que cresce e constrói a cidade com criatividade e perseverança:

Em 1960, minha mãe e minhas duas irmãs — uma de 8 anos e a outra ainda bebê — embarcaram na cabine de um caminhão Chevrolet. O motorista, sensibilizado, decidiu não deixá-las na carroceria junto aos outros passageiros, que incluíam meu pai e as inúmeras malas e sacos de pano. O destino era a capital de São Paulo. Minha mãe, exausta, cuidava das crianças e trocava as fraldas de pano da bebê.

Meu pai, que me contou essa história, não se queixava das dificuldades do trajeto. Preferia lembrar com orgulho das mudanças que percebia: o tom de verde da vegetação ficava mais viçoso à medida que se aproximavam da capital. Ele, marceneiro quase analfabeto funcional, reconhecia as árvores e madeiras pelos nomes.

O segundo momento que ele contava com orgulho foi ao chegarem ao centro da cidade: minha irmã bebê, até então apática, ficou encantada com os luminosos dos prédios, os semáforos e os faróis dos carros. A família nordestina, formada por um pai branco e uma mãe negra, ficou por um bom tempo admirando aquele cenário deslumbrante.

Trinta anos depois, meu pai construiu sozinho nossa casa própria de 20 m², a que chamava de “bangalô”, entre Vila Sônia e Taboão da Serra, acessado por uma pinguela sobre o rio Pirajussara, sem asfalto e com água de um poço cavado por ele. 

São Paulo, para meu pai, era como uma grande feira livre: “Aqui tem tudo o que você imaginar; é só procurar”.  Ele se encantava com a criatividade e as inovações. Um dia, voltou do centro animado porque os motores dos ônibus haviam sido movidos da frente para a traseira dos veículos, oferecendo mais conforto aos passageiros. Mesmo com um salário mínimo, encontrava soluções engenhosas para economizar — como consertar lâmpadas de filamento ou improvisar papel higiênico com folhas de jornal.

Ele também tinha um olhar artístico. Emoldurava recortes de jornais que recebíamos dos vizinhos: imagens do parque Ibirapuera decoravam a sala, enquanto a catedral da Sé era fixada no quarto.

Nunca se arrependeu de ter migrado. Orgulhava-se da decisão e repetia que faria tudo de novo.  Sensível aos mais carentes, parafraseava com frequência a boa música de Eduardo Gudin e Roberto Riberti que ele nem conhecia:Se eu fosse deus, a vida bem que melhorava, se eu fosse deus, daria aos que não têm nada”

Por fim, encerro esse texto lembrando que São Paulo, uma cidade que acolheu minha família, também acolhe exemplos como o Padre Júlio Lancelotti. Parabéns, São Paulo. Feliz aniversário!

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Sandra Regina de Almeida Torres é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva você também o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

((os textos originais, enviados pelos ouvintes, são adaptados para leitura no rádio sem que se perca a essência da história))


Seja ano novo!

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

“Um navio no porto está seguro. 

Mas não é para isso que navios foram feitos”

John A. Shedd 

Não sei se acontece com você, mas o dia 1º de janeiro sempre me faz pensar além de uma simples transição no calendário. Para mim, o Ano Novo carrega um significado profundo: é o momento de navegar por mares ainda desconhecidos, guiados pela esperança e pelo desejo de renovação.

Embora a vida siga como no dia anterior, há uma atmosfera especial no ar, permeada pelo desejo de mudança, de que as coisas sejam melhores e nossos sonhos se tornem realidade  É como se o mundo inteiro conspirasse para nos lembrar de que podemos mudar o rumo, ajustar as velas e sonhar com novos horizontes. 

Em meio a esse clima festivo, faço um convite: feche os olhos e pense em três desejos que você realmente gostaria que se realizasse em sua vida. Não vale coisa impossível! Apenas aquilo que, com um pouco de esforço e sorte, possa ser alcançado.

Esforça e sorte? Ou coragem? Talvez, esforço, sorte e coragem!

Coragem. É ela que transforma sonhos em ação. Sem um gênio da lâmpada, a imprevisibilidade da vida exigirá decisões, mudanças de planos e de rumos, a enfrentamentos e ações na busca por aquilo que dá sentido à vida.

Seria mais fácil se houvesse mágica, mas somos confrontados pela realidade e descobrimos que, para atingirmos o que nos é valioso, será necessária uma mudança de atitude que só pode acontecer dentro de nós mesmos. Precisaremos soltar as amarras, deixar o porto seguro e modificar padrões de comportamento que já não nos servem.

Desejamos ser amados, mas tememos a vulnerabilidade que o amor exige.  Queremos reconhecimento, mas evitamos a exposição. Buscamos liberdade, mas nos aprisionamos no medo do futuro. Almejamos o sucesso, mas procrastinamos diante do esforço necessário. 

É muito mais que uma mudança no calendário. 

É muito mais que uma lista de desejos a serem realizado. 

É uma mudança de perspectiva.

É ser ano novo!

Ser ano novo é inspirar, apoiar e levar esperança a quem precisa. É ser a luz em meio à tempestade ou o vento que impulsiona alguém a seguir adiante. É ter a ousadia de navegar além de nós mesmos, para se tornar uma força transformadora na vida de outros.

Também é olhar nós mesmos com compaixão e gentileza. É aceitar as falhas, recomeçar, perdoar-se. É zarpar com confiança e esperança, acreditando que novos mares trazem novas possibilidades. Ser ano novo é permitir que a força e a coragem possam nos guiar rumo ao que mais desejamos alcançar. 

Então, seja ano novo!

Que você realize os desejos que carregou para este momento e, sobretudo, que navegue com coragem rumo a um Ano Novo cheio de significado e conquistas para você!

Simone Domingues é psicóloga especialista em neuropsicologia, tem pós-doutorado em neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das fundadoras do canal @dezporcentomais, no YouTube. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung. 

Rasgando o Véu da Ilusão: cuidado com o que você vai descobrir

Tive o privilégio de ser convidado para escrever o texto de apresentação do livro “Rasgando o Véu da Ilusão – ensaio sobre coragem, liberdade e autenticidade”, das psicólogas Abigail Costa, Aline Machado e Vanessa Maichin.

O livro já está à venda pela editora Dialética e o lançamento oficial, com presença das três autoras, será neste sábado, dia 14 de dezembro, às 16 horas, no Restaurante Bar Alfândega,
na rua República do Iraque, 1347, Campo Belo, São Paulo, SP. Confirme sua presença aqui.

Apresentação de Rasgando o Véu da Ilusão

Mílton Jung

Há livros que não apenas lemos, mas que parecem nos ler de volta. “Rasgando o Véu da Ilusão – ensaio sobre coragem, liberdade e autenticidade” é um desses. Quando comecei a leitura dos textos originais de Abigail Costa, Aline Machado e Vanessa Maichin, não imaginava que, ao final, seria mais do que um leitor passivo, mas alguém profundamente tocado, como se, página após página, tivesse rasgado alguns dos véus que me acompanhavam há anos, me levando a descobrir a alma e o coração, no sentido de despir-me das sombras que os ocultavam.

A cada capítulo, fui confrontado com as ilusões que construí ao longo da vida para me proteger das incertezas que, ironicamente, ainda me assombram. As autoras, com uma coragem que admiro e invejo, se revelam em suas fraquezas e, de maneira quase cirúrgica, mostram como essas ilusões nos moldam, nos limitam e nos prendem a uma ideia de perfeição que, muitas vezes, é um fardo. Quisera eu ter a coragem delas para assumir todas as minhas fragilidades.

Foi desconcertante, quase constrangedor, ser confrontado por verdades que me surpreenderam, mesmo sendo eu íntimo de uma das autoras. Sim, caro leitor e cara leitora, devo confessar: sou casado há mais de 30 anos com Abigail. Não poderia omitir essa informação. Revelo isso porque acredito que essa transparência permitirá que você, ao ler esta apresentação, desenvolva um olhar crítico mais apurado, consciente do viés pessoal que pode colorir minhas palavras.

Em diversas passagens, me peguei relendo os trechos onde a finitude e a vulnerabilidade são tratadas com tanta franqueza. Era como se Abigail, Aline e Vanessa, com suas diferentes vozes, estivessem ali, do meu lado, me dizendo: “Sim, é difícil, mas é preciso encarar isso, sem filtros, sem ilusões.” Nesse olhar sincero, encontrei ressonâncias com minhas próprias batalhas. Não é fácil aceitar que o perfeccionismo, tantas vezes visto como virtude, pode ser, na verdade, um véu que nos separa da vida como ela realmente é – imperfeita, sim, mas também autêntica e rica em possibilidades.

Como se as provocações das autoras não fossem suficientes, ainda deparei com o prefácio de Alexandre Cabral. Ah, o prefácio… De uma profundidade que não permite passagens rápidas, que obriga o leitor a parar, pensar e questionar. Foi então que percebi que o que deveria ser um simples prefácio havia se transformado em algo muito maior – não apenas uma introdução, mas uma parte essencial dessa jornada literária.

Essa transformação do prefácio em algo tão significativo é uma prova do poder da palavra quando usada com propósito e sensibilidade. Não é apenas uma abertura; é um convite a uma reflexão que transcende o texto introdutório comum. Ao final, percebemos que o prefácio de Alexandre Cabral não é só um prólogo, mas um verdadeiro pórtico, imponente e necessário, que nos conduz ao coração das questões levantadas no livro.

Ao concluir a leitura, percebi que “Rasgando o Véu da Ilusão” não é apenas um livro sobre coragem, liberdade e autenticidade. É uma jornada, daquelas que começam na primeira página e continuam muito depois de fecharmos o livro. Uma jornada que nos convida a ser protagonistas de nossas vidas, a enfrentar as incertezas, a deixar para trás a ilusão de controle e a abraçar, de uma vez por todas, a beleza da imperfeição.

Prepare-se para ser provocado, questionado e, quem sabe, transformado. Boa leitura!

Com que cara?

Por Nina Ferreira

@psiquiatrialeve

Foto de Darya Sannikova

Com que cara você vai dizer para o seu chefe que está insatisfeito com sua falta de autonomia e que pode fazer diferente e melhor?

Com que cara você vai contar para seu parceiro ou parceira que não gosta quando ele/ela faz silêncio e não te conta o que está acontecendo?

Com que cara você vai assumir para todo mundo que quer mudar não só de emprego, mas desistir de tudo e recomeçar em outra carreira?

O que dirão sobre você? Pensarão que você é ingrato, só reclama, está louco!?!

Olhe no espelho.

Você tem rugas, manchas na pele… tem seu olhar carregado de dores, angústias e histórias.

Essa é sua cara.

É com ela que você tomará as atitudes que precisa pra fazer sua vida melhorar.

É com ela que você vai descobrir o que quer e falar o que tiver que falar pra fazer acontecer.

Porque é você quem acorda e dorme com seus sofrimentos e suas batalhas. É você quem sente os medos e a tristeza de estar vivendo uma situação que te incomoda. É você quem não pode fugir disso tudo, porque isso tudo te pertence.

Então, vai com a sua cara, assume suas vontades e fala, faz, movimenta.

Os outros podem criticar ou não entender.

Deixa eles com o mundo deles.

Cuida de você.

E, então, já imagina aqui comigo:

Com que cara você irá comemorar seu sucesso e suas conquistas?

(Saboreie!)

Dra. Nina Ferreira (@psiquiatrialeve) é médica psiquiatra, especialista em terapia do esquema, neurociências e neuropsicologia.

O peso do que não existe

Por Nina Ferreira

@psiquiatrialeve

Carregar o que não é verdadeiro… pesa.

Dizer que adora rock, quando se gosta é de pop.

Usar roupas coladas no corpo, quando se gosta é de moletom.

Comer salmão, quando se gosta é de frango frito e linguiça calabresa.

O que não existe é chato de manter – as aparências podem até reluzir, mas são ocas e pesadas, te deixam vazio e te inundam de angústia… Nunca está bom o suficiente!

O que não é seu, mas você se propõe a carregar e expor na sua vitrine, te rouba horas e dias preciosos de vida. É tanta preocupação e esforço para manter… que cansa. Vida chata. Quando isso vai acabar mesmo?

Pode acabar agora.

Olha aí dentro e me diz: o que realmente é seu?

Quais ideias você que pensou? Quais gostos foi você que descobriu que tem? Quais sonhos e ambições fazem seu coração se encher de alegria?

Pronto – isso existe. Tudo isso é seu e, portanto, é mais leve. Não existe esforço em construir e manter – existe entusiasmo, persistência, coragem… verdade pura que te move para frente e pra cima!

Esquece o que não existe, para de carregar peso que não é seu.

Para de carregar o peso da aparência.

Viva o que, realmente, existe em você – viva feliz e leve.

Dra. Nina Ferreira (@psiquiatrialeve) é médica psiquiatra, especialista em terapia do esquema, neurociências e neuropsicologia. Escreve este artigo a convite do jornalista Mílton Jung.

O verdadeiro amor não é correspondido

Dra. Nina Ferreira

@psiquiatrialeve

Photo by Jonathan Borba on Pexels.com

Você gosta, cuida, demonstra amor. Então, você para e espera – O que será que vem por aí, o que vou ganhar de bom?

Vazio. Silêncio. Nada.

A pessoa só segue a vida, se arrumando no espelho, com olhos fixos no celular, fazendo o relatório do trabalho… Você espera mais um pouco, mais umas horas, mais uns dias… Vazio. Silêncio. Nada.

“Que ingratidão. Não valorizou meu esforço, minha dedicação. Isso não é amor.” – Esses pensamentos pulam na sua cabeça e martelam infinitamente (é ensurdecedor). Afinal, amor de verdade é quando é correspondido, dizem… Será?

O amor nasce de um sentimento de respeitar e gostar junto de uma decisão de cuidar e desejar o bem. Sim, amor é construção da pessoa dentro de si; ela tem um objeto-alvo ou uma outra pessoa-alvo, porém, o amor é dela e quem sente é ela.

As consequências boas do amor são o peito preenchido, o suspiro doce, a sensação de um cobertor aconchegante. Então, sentir o amor é bom, porque é bom. A gente sente e saboreia!

Você não precisa ser correspondido, não precisa que criem isso dentro de você – está nas suas mãos, no seu corpo… no seu coração.

Vamos aos exemplos… 

  • Você se ama porque sabe da luta que trava todos os dias pra levantar da cama, resistir à preguiça, fazer coisas que precisa, mas não gosta; 
  • Você se ama porque sabe da luta entre o bem e o mal, a generosidade e o egoísmo, a coragem e o medo… A luta entre a luz e a sombra que trava aí dentro, quando as coisas dão errado, quando se compara com outras pessoas, quando toma decisões sobre sua carreira ou seu relacionamento. 

E, pelos mesmos motivos listados acima, você ama pessoas ao seu redor.

Você merece ser amado por resistir, por seguir tentando, por lutar pra ser melhor. As pessoas merecem ser amadas por isso também.

Não precisa de retorno. Não precisa ganhar algo em troca. É respeito, admiração, consideração: por si mesmo e pelos outros. É amor. 

Então, se você amar e não vier nada em troca… Siga amando. 

Ame soltando – Porque estar ali oprime e sufoca.

Ame colocando limites – Porque o outro precisa aprender e você precisa se manter íntegro.

Ame sendo você uma pessoa melhor – Seja compassivo, compreensivo e sábio e entregue o melhor ser humano possível, se colocando como referência e como eixo para outras pessoas que não sabem amar.

O amor verdadeiro não é correspondido. 

O amor verdadeiro é autossuficiente, se preenche e se basta – É amor e ponto. 

Não economize. Ame.

Dra. Nina Ferreira (@psiquiatrialeve) é médica psiquiatra, especialista em terapia do esquema, neurociências e neuropsicologia. Escreve este artigo a convite do jornalista Mílton Jung

A grande sacada de Naomi Osaka: a coragem de confessar que tem medo

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Twitter de @naomiosaka

A tenista Naomi Osaka foi punida com uma multa de 15 mil dólares por não ter participado da coletiva de imprensa após ter vencido a primeira rodada, na estreia do torneio de Roland Garros. Para a surpresa de todos, Naomi desistiu de participar do torneio e divulgou que sofre de depressão, desde 2018, apresentando crises de ansiedade antes de conceder entrevistas. O fato ocorreu no fim de maio, em 2021, e a sinceridade da tenista número 2 do mundo, provoca debates sobre a saúde mental dos atletas até agora.

Diferentemente do medo ou ansiedade adaptativa, aquela que a maioria das pessoas experimenta numa entrevista de emprego ou num primeiro encontro amoroso, o transtorno de ansiedade é caracterizado por medo e ansiedade excessivos, desproporcionais e persistentes, causando sofrimento ou prejuízos no funcionamento social, profissional ou em áreas importantes da vida da pessoa.

No transtorno de ansiedade ou fobia social, o indivíduo é mais temeroso, evitando interações ou situações sociais nas quais exista a possibilidade de ser avaliado, como encontrar pessoas que não sejam familiares ou falar em público. Nessas situações, a pessoa teme agir de maneira que evidencie seus sintomas, como ruborizar, tremer ou tropeçar nas palavras, o que poderia gerar um julgamento ou avaliação negativa por parte das outras pessoas.

Evitar intencionalmente essas condições, o que chamamos de esquiva, em geral, reduz momentaneamente o nível do medo ou da ansiedade. Por outro lado, essa evitação irá reforçar a ideia de risco ou ameaça, fortalecendo também a crença de incapacidade para enfrentar e superar tais circunstâncias. 

Será que dizer NÃO para situações que possam causar prejuízos à saúde mental seria um sinônimo de esquiva ou evitação?

Infelizmente, muitas pessoas não conseguem ou não podem assumir as próprias dificuldades, fragilidades ou vulnerabilidades.

O que as pessoas pensariam? 

Como reagiriam ao saber que uma pessoa que obtém tantas vitórias, que é competente ou talentosa no que realiza, sofre de um transtorno mental?

“Ansiedade? Depressão? Coisa de quem não tem o que fazer ou quer chamar a atenção”

O preconceito e os estereótipos nos conduzem a julgamentos rápidos e conclusivos. Multas, punições, expulsões… Foram essas as soluções inicialmente pensadas para o caso da tenista. Naomi abandonou o torneio não porque estava fugindo de enfrentar os perigos ou ameaças, mas, possivelmente, porque percebeu a necessidade de se afastar de situações tóxicas, impostas, que exigiam dela algo que naquele momento não poderia ou não queria realizar. Percebeu que precisava se afastar como um sinal de cuidado consigo. De preservação de sua saúde mental. 

Recuar não é fácil, mas, por vezes, necessário; não como fuga, mas como saída para que o sofrimento seja notado. Envolve limite e autocuidado, além do cuidado com o sofrimento de outras pessoas que passam por situações semelhantes. 

Em saúde mental, por vezes é necessário que alguém traga à tona as suas dificuldades para que as pessoas despertem e se solidarizem com todos os que passam por situação semelhante.

Após o desabafo de Naomi Osaka sobre a sua saúde mental e sua repercussão, a organização dos torneios Grand Slam mudou seu discurso e lhe ofereceu apoio e assistência, mencionando a possibilidade de mudança nas regras, a fim de melhorar a qualidade de vida dos atletas.

Naomi, você não fugiu dos seus temores! 

Ao escancará-los, sinalizou que os transtornos mentais não são exclusivos de fracos e derrotados, fazem parte da vida humana, da vida de qualquer pessoa. Se esquivar nem sempre é a melhor saída, mas pode ser o caminho que nos permita um recomeço. 

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Youtube. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

Sou maricas, sim!

Foto: Pixabay

 

Foi o presidente Jair Bolsonaro quem disse: somos um país de maricas! Somos não! Se o significado for a covardia, como no espanhol, não somos, não!  Este é um país de brava gente. Porque é preciso muita coragem para sair da cama todas as manhãs sem saber o que será do amanhã. Se lá fora o vírus vai me matar. Uma bala vai me atingir. Um louco resolve se vingar porque ao fim da saliva apela à pólvora. Tem de ter muita coragem para enfrentar os desafios do escritório, do armazém e da rua; do medo do desemprego, da falta de educação e do hospital sem leito para me atender.

Agora, presidente, se maricas é ser afeminado, sou sim, maricas. Porque ter alma fêmea, feminina nos faz melhor. Nos torna acolhedor, solidário. Em Alma Feminina, canta Daniela Mercury: “… porque sou guerreira; tenho alma de mulher; sou fé, sou brasileira … tenho alma de menina e uso a força da voz para falar de amor”.

Então, sou maricas, sim!

E isso não me faz pior: tenho coragem de assumir minhas fragilidades. Não tenho medo de compartilhar essas fraquezas. De ter desejo de chorar diante da covardia de quem ataca os mais fracos. De sofrer ao assistir pusilames travestidos de líderes desdenhando  o peso de uma morte — uma não, mais de 163 mil mortes —; incapazes que são de identificar o quanto a violência por atos e palavras impacta a saúde mental de jovens, especialmente de jovens que na sala de aula, no pátio da escola ou na plataforma digital são vítimas de ataques, que agora chamamos de bullying —- palavra que para o presidente não faz sentido, porque com ele é na pólvora, é na porrada. 

Ele é machão — da pior espécie. Eu sou maricas, sim!

Tomado por essa alma feminina que todos devemos preservar sem medo, preocupo-me com a maneira como tratamos a morte de um rapaz de 33 anos que havia se colocado à disposição da ciência para salvar vidas e desistiu da sua própria vida, sabe-se lá por quê. Nesse caso, não apenas pelo presidente — que comemorou, sem aspas, a morte e a paralisação de testes de uma vacina que poderia dar vida a outras pessoas — mas pela maioria de nós que tratou o suicídio como algo banal, descreveu com detalhes o laudo e a jornada à morte. Uma morte sempre difícil de explicar, que leva embora jovens, muitos vítimas do bullying, do desrespeito, dos machões de taverna. 

É preciso que estejamos atentos em casa, com sensibilidade para ouvir o que nossos filhos, nossos jovens não são capazes de falar; nos mostrarmos sempre acolhedores para entender como está batendo o coração desse menino ou dessa menina; uma gurizada que tem seus sentimentos tolhidos por essa cultura machista em que tristeza é frescura, depressão é coisa de vagabundo. Depressão, tristeza, solidão …. um caminho que se for percorrido com gente acolhedora —- como somos os maricas, nós de alma feminina —- se torna mais fácil. E pode ser transformador no rumo que vamos tomar em vida.

O suicídio jamais pode ser tratado com a irresponsabilidade com que se tratou este tema nas últimas horas aqui no Brasil. É coisa muito séria. Quem tiver dúvidas de como abordar o assunto, seja politicamente seja jornalisticamente, busque orientação nos manuais da Organização Mundial de Saúde. Quem tiver dificuldade para falar do tema, busque o Centro de Valorização da Vida, que tem uma experiência incrível, formada por pessoas que estão sempre à disposição para ouvir, abraçar e ajudar. Para nos salvar!

Mundo Corporativo: Fabiano Barcellos diz como ter coragem para mudar

 

“O primeiro passo é você entender o que você não quer. É você responder para você o que você não quer. Dizer não para o que você não quer. E depois, em um segundo momento, começar a pensar no que você quer, começar a dizer mais sim para você do que sim para a sociedade, do que sim para o que os outros acham” — Fabiano Barcellos

Você está satisfeito com a profissão que exerce? Acha que está na hora de mudar? Para que essa transformação ocorra é preciso coragem, muita coragem. E para que essa coragem o leve para o destino que você deseja é necessário que se adote algumas estratégias. Sobre esse assunto, o empreendedor Fabiano Barcellos falou com o jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da CBN.

 

Autor de “Coragem para vencer —- descubra como mudar seus hábitos e realizar o dobro na metade do tempo” (Editora Planeta), Barcellos contou parte de sua experiência profissional, em que depois de três anos trabalhando como médico cardiologista decidiu investir em vendas online. Hoje, é um empreendedor sem que tenha abandonado o atendimento aos seus pacientes. De acordo com ele, ao acrescentar uma outra função no seu cotidiano pode se dedicar mais à medicina que considerava a ideal, com menos dias no consultório e mais tempo para cada um dos pacientes.

“A vida é curta de mais para você aceitar coisas que não te deixam felizes. Claro que a realização financeira é boa, é fundamental, mas hoje a coragem é … não importa onde você esteja .. você quer sair daí? Quer. Enche o peito, vai para cima, estuda, esteja perto das pessoas que você precisa estar e vai atrás dos seus objetivos”

Quatro dicas de Fabiano Barcellos para que a coragem apareça:

 

  1. Entenda o que você não quer;
  2. Pense o que você quer;
  3. Diga sim para você;
  4. Entre em movimento — busque meios, caminhos, ambientes e pessoas que  estejam onde você gostaria de estar

 

 

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, às 11 horas, no Twitter (@CBNoficial) e na página da CBN no Facebook. O programa vai ao ar aos sábados, às 8h10, no Jornal da CBN ou domingos, às 10 da noite, em horário alternativo.

Mundo Corporativo: coragem para experimentar depois dos 50 anos

 

 

“O mais importante é buscar autoconhecimento, fazer as reflexões do que eu gosto e no que eu sou bom para que essa experiência de testar outras possibilidades possa lhe trazer algo útil; se você não reflete, a experiência passa e você não faz nada com ela”. A sugestão é do consultor Rafael D’Andrea que tem se dedicado a cuidar de profissionais que, após os 50 anos, precisam estar prontos para enfrentar o processo de transição de carreira.

 

Na entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, D’Andrea foi explicou que é fundamental que se tenha coragem de experimentar: “o medo da mudança é talvez o principal fator que nos causa esse sofrimento com relação a mudança; é muito mais o medo que causa o sofrimento do que a própria mudança. É a angustia que nos dá esse sofrimento, que acaba nos impedindo de alcançar resultados melhores nessa transição”.

 

O Mundo Corporativo vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e tem a colaboração de Juliana Causin, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.