Por Dora Estevam

No fim de semana, recebemos um convite para jantar na casa de uns primos. O convite feito pela prima Lílian trazia um aviso especial: “o jantar será feito pelo Marcelo.” Hum ! Que delícia, convite irrecusável.
Além do menu, Marcelo também pensou no vinho adequado para cada prato servido, vez que escolheu um menu degustação. Um verdadeiro chef tem que pensar em tudo: coordenar, elaborar, planejar, criar, pesquisar e executar como se fosse um comandante de navio – é o que ensina o professor Daniel Frenda, da Faculdade de Gastronomia da Anhembi Morumbi, SP.
É interessante porque eu mesma adoro fazer jantares, receber convidados, amigos e parentes, só que na minha casa eu preciso fazer tudo, desde a elaboração do cardápio, passando às compras, até a decoração da mesa. Na hora de servir eu preciso dar atenção aos convivas e à cozinha para nada sair errado. Fico dividida entre os dois ambientes: sala e cozinha. Se contrato uma copeira, a preocupação é a mesma.
Agora, imagine-se na casa da prima Lilian. Nós ficamos conversando o tempo todo. Ela não precisou se preocupar com nada. Não é incrível?

Marcelo adora cozinha; Daniel faz a cozinha adorável
O meu marido não faz nada na cozinha, eu já sabia o motivo, mas não resisti e quis provocar a minha sogra: por que a senhora não ensinou o seu filho a cozinhar? A senhora sabia que muitos homens vão pra cozinha e fazem pratos maravilhosos?
A resposta: “minha filha, no meu tempo homem nenhum entrava na cozinha, só mulher. No meu prédio, eu chamava as mulheres pra ensinar culinária, elas aprendiam e depois faziam os almoços e convidavam os maridos. Ou seja, eles só iam lá para comer”.
A minha sogra que me desculpe, mas na longa conversa que tive com o professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi, uma das mais importantes na área em São Paulo, Daniel Frenda, soube que na história da humanidade as cozinhas sempre foram dominadas por homens. E são vários os motivos: tinha que ter força para os trabalhos braçais (grandes sacas de comidas e enormes panelas) e o domínio dos funcionários para executar a enorme equipe. À mulher estava reservada a parte leve. Fazia os doces.
Diz o professor que o homem sempre gostou de cozinhar. Note que na alimentação caseira, quando tem que preparar um churrasco ou uma paella, quem esta à frente é sempre ele. Frenda só lamenta que a cozinha caseira venha perdendo qualidade: os homens, interessados pela cozinha sofisticada e internacional, e as mulheres, com a revolução sexual, não querem saber de cozinhar, compram quase tudo pronto – comidas que vão direto para o microondas.
O professor tem razão. Veja só o cardápio que tivemos o prazer de saborear na casa dos primos Marcelo e Lílian:

Minhas anotações:
O folhado é do Fauchon (dispensa comentários); o relish da Cia das Ervas; e as torradinhas, como devem ser, sem sabor e pouco sal. O Foie gras com torradas feito com bolo de nozes da Casa Suiça, e o camarão é presente de aniversário da sogra. Sem contar a delicadeza de servir um sorbet de pitanga para mudar o paladar e depois do jantar um pouporri de doces. Além do café e do licor.
“Ir para cozinha por hobby é muito prazeroso e relaxante: começo com as compras, faço visitas em mercados, supermercados, feiras, adegas, ,mercadão e afins. Escolher o produto, ler, aprender sobre cada coisa que você pretende usar, ouvir pessoas mais experientes … Tudo isso transforma o ato de cozinhar numa mistura de sentidos, num sinergismo, inigualável: visão, olfato, audição, tato e paladar se unem e se completam com o sexto sentido que é o equilíbrio” confessa o chef Marcelo, ortopedista por profissão.
Marcelo também já fez cursos, gosta muito de ler e quando viaja sempre vai às feiras e mercados só para sentir os sabores locais: “Não sou um Bourdain que fez ‘em busca do prato perfeito’, mas procuro provar coisas que deixem minhas papilas gustativas em festa”.
Que trabalho, hein!
Como diz o professor Daniel – a propósito, um publicitário que mudou de profissão após descobrir que o talento estava na culinária -, gastronomia se aprende para sempre: 1% é aspiração e 99% é transpiração.
E como? Meu primo que o diga!
E você, querido leitor, tem algum menu especial para sugerir?
Dora Estevam é jornalista e escreve no Blog do Mílton Jung aos sábados sobre moda e estilo de vida – e está devendo um jantar para o editor.
N.E: A foto do fogão é da galeria de Alexandre Severo no Flickr; a de Daniel foi feita pela Katiuska Azevedo; e do Marcelo pela mulher dele