Prefeitura diz que Nova Luz não está atrasada

 

“Houve uns probleminhas” mas não há atraso na concessão de benefícios para quem acreditou no programa Nova Luz que tem como objetivo recuperar a área do centro de São Paulo que ficou nacionalmente conhecida como Cracolândia. É o que diz o secretário-adjunto de Finanças da prefeitura Sílvio Dias em resposta a reclamação do empresário Eduardo El Kobbi que há quatro anos abriu uma agência de propaganda no local e até agora não obteve as vantagens fiscais prometidas pela administração municipal (leia e ouça a entrevista com o empresário aqui)

Sílvio Dias disse que o processo para obtenção de benefícios pela agência de publicidade Fess Kobbi se iniciou apenas em 2008, e o “probleminha” foi em relação a apresentação de notas fiscais exigidas pela prefeitura. Das 22 empresas habilitadas para se instalar no local apenas a de Eduardo El Kobbi está por lá. Uma outra empresa teria tentado as vantagens, também, mas os fiscais da prefeitura descobriram que as notas apresentadas eram de investimentos feitos em uma sede no Paraná.

O aumento de IPTU na região – outra reclamação de El Kobbi -, de acordo com o secretário, se deve a valorização que os imóveis e terrenos tiveram devido a intenção de recuperação da área.

Ouça a entrevista de Sílvio Dias, da Secretaria Municipal de Finanças

Na Cracolândia, sem isenção e IPTU maior

 

Há quatro anos com a agência de publicidade funcionando na rua do Triunfo, 51, região rebatizada de Nova Luz, mas conhecida nacionalmente como Cracolândia, o empresário Eduardo El Kobbi ainda espera receber as isenções de impostos prometidas pela prefeitura de São Paulo. Não apenas os benefícios prometidos pela prefeitura não chegaram, como foi surpreendido, nesta semana, com o valor do IPTU que aumentou 45% em relação ao ano anterior.

Apesar de se considerar um otimista e ainda acreditar que o projeto Nova Luz vai se concretizar, Eduardo El Kobbi, da Fess Kobbi, disse que
“eles (a prefeitura) estão perdidos”.

Ouça a entrevista de Eduardo El Kobbi ao CBN SP

Liceu: simulacro e simulação

 

Por Carlos Magno Gibrail

Liceu Coração de Jesus, São Paulo

Liceu Coração de Jesus, ícone por mais de um século da Educação paulista, fundado sob a orientação de um santo – Francisco de Sales – pelas mãos de outro santo – João Bosco – com o apoio de uma princesa – Izabel -, está diante do simulacro da Cracolândia em seu entorno.

Com a intenção de neutralizar o incômodo do crack na região, cuja maior visibilidade está na Sala São Paulo, a Prefeitura realizou ação para retirar os viciados e os traficantes. E tratou de divulgar o sucesso da empreitada, a tal ponto que domingo os jornais noticiaram que a proposta de reajuste de até 60% no IPTU contemplava a Cracolândia. Simulação e dissimulação que levou os drogados para os limites do quarteirão de 17.000 m2 ocupados pelo Liceu. A tal ponto que janelas foram pregadas para que os 280 alunos remanescentes não vejam as calçadas onde os viciados estacionam.

O Liceu, fundado em 1885 para atender os filhos de imigrantes italianos para educação convencional e de ex-escravos para operadores de alfaiataria e gráficas, teve alunos como Monteiro Lobato, Grande Otelo, Zeferino Vaz, Carvalho Pinto, Vicente Feola, Noite Ilustrada e Toquinho.

Contando com a Igreja mais bonita e rica da cidade, com um teatro de 700 lugares, com múltiplas quadras esportivas, com uma estátua do Cristo com camada de ouro em sua torre principal, o Liceu embora cercado por drogados, mantêm a exuberância estética e a energia dos tempos idos, quando 3.000 alunos povoavam seus espaços. Indubitavelmente faz parte da história da cidade e como observa Mílton Jung “O Liceu é a cara de São Paulo”, símbolo significativo que sucumbe ao processo urbano em que a antropofagia daqueles que, incumbidos de construí-lo, protagonizam a desconstrução ao procurar o novo e desvalorizar o antigo.

O alargamento da Avenida Rio Branco, cortando os jardins do Palácio dos Campos Elíseos, certamente foi o golpe fatal à região ao ver transferida a sede do Governo do Estado para o Morumbi. E, incrivelmente, ainda se cogita de transferir o Palácio do Morumbi para os Campos Elíseos, o que não corrigirá o erro anterior, mas o ampliará.

A questão urbana é fortemente exemplificada neste caso dos Salesianos, pois em Santa Terezinha na região Norte da cidade, em área de classe média bem posicionada há um Colégio que está abarrotado de alunos, enquanto o Liceu prevê para 2010 apenas 200 alunos. Situação que reflete a preocupação do jornalista Clovis Rossi, no mesmo dia em que a Folha publicava editorial sobre o Liceu e o crack em suas imediações : “Mais um pedacinho da “minha” cidade está morrendo, o Liceu Coração de Jesus.”

A Congregação a par das investidas imobiliárias reage e procura se adaptar a esta fase, reformulando seus cursos deficitários e abrindo negociações com empresas como Porto Seguro e Pão de Açúcar, com intuito de manter a vocação do ensino de alta qualidade pedagógica e aliada á cultura e aos esportes.

O Liceu Coração de Jesus luta para continuar educando, quer viver essa missão que é sua há mais de 120 anos.

As crianças que aqui brincam e estudam tornam-se mães e pais, artistas e empresários, esportistas e sacerdotes, assumem muitos caminhos porque são muitos os caminhos da sociedade brasileira. Se por acaso o Liceu parasse, São Paulo perderia um pouco da sua identidade, do seu jeito de preparar o futuro.

Alunos, pais e educadores não deixarão isso acontecer, pois fiéis à herança salesiana continuaremos a educar olhando pra frente.

Que o Senhor abençoe a todos os ex-alunos que estão torcendo pela comunidade educativa do Liceu Coração de Jesus”.

Pe. Benedito Spinosa, Salesiano de Dom Bosco, Diretor do Liceu Coração de Jesus, em mensagem especial para este blog.

Como paulista de coração e ex-aluno do Liceu Coração de Jesus, onde aprendi a estudar, a praticar esporte e gostar de cinema e teatro, fica aqui a minha contribuição à cidade que amo e ao Colégio que bem a representa.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e voltou a sala de aula para escrever este artigo no Blog do Mílton Jung.


A imagem que ilustra este post é de autoria de Marcelo Isidoro Alves, conheça a galeria de fotos dele no Flickr com outras cenas de São Paulo.

Crack: A situação está fora de controle

 

Por Sebastião Nicomedes
Autor do livro Marvadas, ex-morador de rua

Praça da República

Em um único dia, acompanhando o infernal mundo do crack e seus efeitos sobre a população de rua. Inacreditável, contei 35 brigas, parte em discussões verbais, parte em agressões físicas. Brigas fortes, algumas de tirar sangue. É preocupante, pelo menos metade delas podia ter chegado ao homicídio. O que seria, indiscutivelmente, mais um massacre.

Quando a cidade fecha pelas ruas do centro, aos fins de semana, em plena luz do dia, insurgem em estado de zumbis, completamente transformados e transtornados .Principalmente na região da Luz, mas não é só.

O que outrora era termo pejorativo agora é fato, realmente a Cracolândia existe, hoje espalhada pelo país afora.

Está tudo fora de controle.

A incidência do vício entre os moradores de rua, é disparadamente maior, o grau de vulnerabilidade da rua não pode mais ser considerado médio como se faz nas conferências municipal, estadual e, principalmente, nacional de assistência social.

A segurança pública falhou, mas é também um caso de saúde. No caso dos moradores de rua, é resultante das falhas de tudo, de todas as políticas existentes e até da falta de afeto. O ponto alto porém é a falta de perspectivas.

Na caminhada que fiz entre os craqueiros, encontrei pessoas amigas, muita gente que reconhecemos e tantas outras que nos conhecem. O motivo, o mesmo, perderam as esperanças na vida, não aguentam mais discussões e debates e ações paliativas vadevindas de todas as partes.

Poder público, movimentos sociais, defensores de direitos humanos, polícia, guarda municipal, a sociedade num todo. Tem que mudar os modos de discutir os problemas, as questões, debate por debate, troca de ofensas, acusações e desmentidos, não funcionam mais. As pessoas estão cansadas, os moradores de rua estão saturados e não aguentam mais tanto bate rebate.

Essa droga empesteada, ta destruindo o Brasil, ta destruindo o Rio de Janeiro e vai avassalar São Paulo feito um tornado.

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San Patrignano aceita discutir parceria na Cracolândia

 

A Comunidade de San Patrignano está disposta a ajudar a cidade de São Paulo a combater o drama do tráfico de drogas na região central conhecida por Cracolândia, mas alerta para a necessidade de se realizar grande investimento principalmente em recursos humanos. O interesse da prefeitura paulistana surgiu após conhecer a experiência realizada com sucesso na província italiana de Rimini, apresentada em entrevista do presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falconi Walter Maierovitch para Fabíola Cidral, no CBN São Paulo, há cerca de um mês.

Monica Barzanti, encarregada de Relações Internacionais da Comunidade de San Patrignano, fez convite para que um representante da prefeitura de São Paulo vá conhecer o trabalho desenvolvido com jovens dependentes de droga.

A resposta ao ofício enviado pela administração municipal:

“De nossa parte é, portanto, grande a disponibilidade para uma possível colaboração entre nossa comunidade e a Cidade de São Paulo do Brasil. Para que isso ocorra observamos contudo ser necessário proceder a uma avaliação detalhada dos recursos necessários e disponíveis. A tarefa a executar demanda enormes recursos, sobretudo em termos de recursos humanos, indispensáveis ao intercâmbio desejado de informações e experiência recíprocas.”

Leia aqui outros textos sobre o trabalho de San Patrignano

São Paulo quer experiência italiana contra Cracolândia

Imagem publicada no site do IBGF sobre a comunidade de San Patrignano

Imagem publicada no site do IBGF sobre a comunidade de San Patrignano

Os inúmeros programas de revitalização desenhados, prometidos e, em alguns casos, aprovados na Câmara Municipal não foram suficientes para resolver um sério problema social na região central de São Paulo. A Cracolândia, que chegou a ser rebatizada Nova Luz, segue firme e forte a causar riscos à população, expor crianças abandonadas, proporcionar mercado a traficantes e constranger o poder público. Conhecer a experiência da Comunidade Terapêutica San Patrignano, em Rimini, na Itália, é o próximo passo da prefeitura que, em carta enviada à organização, propõe um trabalho de parceria.

Foi uma entrevista do presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falconi Walter Maierovitch à Fabíola Cidral, no CBN São Paulo, há uma semana, que motivou o prefeito Gilberto Kassab (DEM) a envolver o secretário de Controle Urbano Orlando de Almeida em conversa com dirigentes da comunidade que abriga cerca de 1.800 pacientes. O trabalho lá desenvolvido é recomendado pela União Europeia e ONU, mas desconhecido pelas autoridades paulistanas até então.

As informações também estão na internet, no site da sociedade, podem ser encontradas na Wikipedia, e em relatório da Organização das Nações Unidas.

Maierovitch, com quem tive o prazer de ‘bater bola’ em comentário na CBN, é dos grandes estudiosos em combate ao crime organizado, tráfico de drogas e atuação mafiosa. Quem acredita realmente que estes são temas importantes tem obrigação de consultar o site do Instituto Brasileiro Giovanni Falconi com frequência. Em 2006, por exemplo, abriu um dos seus artigos com o pensamento que resume a filosofia que impera na Comunidade Terapêutica San Patrignano: “Drogados irrecuperáveis não existem, mas também não existem drogas não danosas”. O restante sugiro que você leia por lá e aproveite para colocar o endereço do IBGF e do Blog Sem fronteiras , também assinado por ele, entre seus favoritos.