Avalanche Tricolor: paciência, Luan é do Grêmio!

 

Grêmio 2 x 0 São Paulo (RS)
Gaúcho – Arena Grêmio

 

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Luan é craque por definição: joga de cabeça em pé, toca de forma refinada na bola, movimenta-se com elegância em campo e sempre está disposto a arriscar a melhor jogada, mesmo que seja a mais difícil de ser executada. Não tem medo de errar.

 

É, também, craque em formação. Às vezes, parece sumido do jogo e quando menos se espera aparece em um lance excepcional. Outras, parece distante da partida, o olhar corre perdido pelo gramado e a expressão some de seu rosto como se as emoções daquela disputa não o afetassem. Tem-se a impressão de que ele não faz parte daquele mundo. Talvez não faça mesmo. Foi feito para viver entre craques.

 

Luan tem um jeito diferente de jogar, pois não é espalhafatoso na disputa pela bola e quando a tem no pé dá a sensação de que é lento. Ledo engano. Tem passadas largas e por isso consegue superar a marcação quase sempre dura e violenta, faz a bola colar no seu pé e a manipula com extrema facilidade. Avança, chega perto do gol, chuta!

 

Por ser jovem, ser diferente e craque, é preciso paciência com Luan. E o torcedor, mais acostumado com aqueles que se sujam na grama para alcançar a bola perdida, não vinha demonstrando muita paciência com ele. Talvez por não entender seu jeito de ser em campo. Por não compreender sua personalidade. Por isso, os dois gols deste fim de domingo ganham importância ainda mais especial, além, é lógico, de nos manter no primeiro lugar do Campeonato, garantir a sexta vitória consecutiva e a nona partida invicta.

 

Gols de craque, registre-se. O primeiro foi uma aula, tinha todos os elementos necessários para uma cabeceada. Com um passo, tomou a frente do marcador, e subiu alto; antes da bola chegar já olhava para onde pretendia jogá-la, e assim que ela chegou, com os olhos abertos e mirando seu destino, em um movimento certeiro com a cabeça, colocou-a distante do goleiro. O segundo, ganhou dos marcadores na corrida, matou a bola com o pé direito, cortou para o lado esquerdo, com um só drible deixou o goleiro estatelado na área e deslocou os zagueiros. Teve tranquilidade para ajeitar o corpo e finalizar a jogada nas redes. Luan, que nos últimos jogos foi garçom, desta vez se serviu do bom momento de seus companheiros, pois foram primorosos o cruzamento de Everton no primeiro e o lançamento de Giuliano no segundo gol.

 

Marcando gols e jogando com o talento que lhe é natural, quem precisará de muita paciência são os adversários do Grêmio.

 


A foto deste post é do álbum oficial do Grêmio no Flickr

Clubes fingem ser ricos e jogadores, craques

 

Por Milton Ferretti Jung

Hoje vou entrar em uma área que, se não me engano, ainda não tinha sido objeto destas bem traçadas linhas: futebol. Afinal, não poderia usar a velha “mal traçadas linhas”, comum nas cartas de antanho, principalmente nas enviadas por pessoas apaixonadas, porque o computador colocou esta expressão em desuso. Creio que, mesmo nas missivas manuscritas, ela saiu de moda. Já quanto à qualidade do texto, deixo o julgamento para os leitores, se é que os possua. Aviso ao responsável por este blog, meu filho, que não pretendo concorrer com a Avalanche Tricolor, postada por ele após cada jogo do Grêmio. Tenho certeza de que, ultimamente, o Mílton faz das tripas coração para não dizer o que pensa não apenas do nosso time, mas da sua direção.

Talvez no ano que vem a Avalanche Tricolor volte a tratar de vitórias, caso o Grêmio confirme, por exemplo, a contratação de Kleber. Estou escrevendo na terça-feira, 15 de novembro. Não sei, por isso, se este será gremista em 2012. Seja lá como for, a proposta gremista a este centroavante é do nível das que os grandes clubes europeus costumam fazer, algo inimaginável por aqui não faz muito. Quem seria capaz de acreditar que um clube, até agora obrigado a vender suas revelações para a Europa, teria condições de pagar a um atacante 500 mil reais por mês e 5 milhões em luvas? De onde sai todo este dinheiro? Não consigo entender como alguns clubes que não possuem patrocinadores com cacife para ajudá-los na composição de altíssimos salários tanto para jogadores quanto para técnicos e estas novas espécies de dirigentes remunerados, obtém as verbas necessárias para cobrir as suas extraordinárias despesas, sem ir à bancarrota.

Tostão, um dos nossos craques do passado, cujas opiniões são sempre preciosas e bem-vindas, escreveu, na sua coluna na Folha de São Paulo, o que faço questão de reproduzir: “Parece até que o Brasil é campeão do mundo, que tem vários jogadores entre os melhores do planeta e que o Brasileirão está repleto de craques. Confundem bom jogador com craque. A fortuna oferecida ao Kleber, apenas um bom jogador, além de encrenqueiro, representa bem essa distorção. Os clubes fingem que são ricos e os bons jogadores, com a aprovação de parte da imprensa, fingem que são craques”. Eu, data venia do Tostão, me atrevo a acrescentar que, até para se fingirem de ricos, certos clubes gastam o que não possuem.

Avalanche Tricolor: Um craque, sem dúvida

 

Grêmio 4 x 2 Flamengo
Brasileiro – Olímpico Monumental

Ao Grêmio restavam duas decisões nestas rodadas finais, a primeira dela nesta tarde incrível de Porto Alegre, em um Olímpico completamente tomado por seus torcedores (ok, ok, havia um espaço destinado à torcida adversária). Por todas as circunstâncias bem conhecidas, caro e raro leitor, que os locutores de TV fizeram questão de repetir, irritantemente, a cada minuto de partida (ok, ok, hoje estou um pouco exagerado, não foi nesta frequência), vencer era definitivo para a temporada quase perdida de 2011. E vencemos. E de virada. E de goleada (me convence do contrário).

Dito isso, é preciso abrir aqui um parêntese. Mais um, aliás, neste texto cheio deles. Resignados, temos de admitir que o Cara é um craque. Quando não é covardemente agredido pelas costas – quantas faltas sofreu na partida de hoje -, sempre que consegue receber a bola, transforma-se. Tem um toque rápido para o colega que se aproxima, consegue se movimentar de maneira a chamar atenção da defesa inimiga, mete a bola entre as pernas do marcador, sem contar a precisão do chute. Sim, é um guerreiro, também. Isto sabíamos, faz parte da índole de quem passou pelo Olímpico Monumental. Tromba com o adversário e não se incomoda se este está no caminho do gol. O supera. Hoje, não foi diferente. No primeiro, trombou e marcou. No segundo, com talento, driblou o zagueiro e colocou no canto esquerdo do goleiro.

Evidentemente que o parágrafo (ou seria entre parênteses?) acima é dedicado a André Lima, o Guerreiro Imortal. Sei que deveria oferecer algumas linhas a outras craques que apareceram em campo, como Vítor que, aos três minutos, salvou a lavoura com uma defesa incrível ou a Gilberto Silva que anulou os atacantes no segundo tempo ou Douglas que jogou como poucos e fez o gol da virada ou a Miralles que matou o jogo com apenas uma jogada. Mas é preciso dar o braço a torcer, nas duas últimas partidas foi André quem decidiu com quatro gols e foi dele o mais bonito da tarde. Merece o título de craque nem que seja por alguns instantes.

O quê? Se não vou escrever nada sobre um outro craque? Perdão, não vi mais nenhum jogando hoje no Olímpico Monumental.

Avalanche Tricolor: L., 17 anos, craque e gremista

 

Grêmio 2 x 1 Veranópolis
Gaúcho – Olímpico Monumental

Com 17 anos ainda pensava na possibilidade de ser professor de educação física, tinha o jornalismo como excelente oportunidade e o basquete como realidade. Joguei apenas alguns anos mais, desisti de dar aulas de ginástica no segundo ano de faculdade e a comunicação se transformou na opção mais viável e apropriada como a vida profissional tem demonstrado.

Nesta idade, a maioria dos garotos ainda está em busca de uma personalidade, apesar de dar alguma pista nos palpites que arrisca e nas decisões tomadas, ambos ainda com a marca da imaturidade. Por isso, ver um guri jogando o futebol que L. tem demonstrado em campo é surpreendente mesmo em um esporte no qual a precocidade tem se tornado exigência, haja vista a quantidade de novos valores que surgem a cada temporada.

Perdão se utilizo apenas a inicial dele, mas sigo regra estabelecida nos veículos de comunicação que não citam o nome de crianças ou adolescentes que, por ventura, tenham se envolvido em prática infracional.

E o nosso L., camisa 21, hoje à tarde, cometeu o crime de querer fazer gols.

Quando o time já vencia por 1 a 0 – gol dele, registre-se – foi dividir bola com o goleiro adversário que chegou antes e teve seu braço tocado pelo pé do craque. Seu atrevimento foi punido com um peitaço do goleiro e uma reprimenda pública em rede nacional de televisão – desculpe-me, isto é apenas um jargão, pois a bronca foi no P.P.V, aquele que a gente paga pra ver e de troco tem de ouvir, também.

O comentarista era Batista, volante bastante conhecido no futebol brasileiro que com a bola nos pés teve todo nosso respeito. Ao lado do narrador da partida, fez um discurso que me causou mais indignação do que a agressão do arqueiro adversário.

Quase deram razão ao agressor. Afinal, L. tinha de ter evitado a jogada. Pouca vergonha, este guri querer chegar antes do goleiro e marcar seu segundo gol nessa tarde de domingo, que se transformaria em seu sexto gol em apenas cinco partidas profissionais.

Das muitas faltas que ele foi vítima neste e nos demais jogos nada foi declarado.

L. vai ter de ouvir muita coisa neste futebol. Dos comentaristas e dos colegas de profissão. É daquele tipo de jogador predestinado a sofrer ataques, caçado por todo canto em que tentar um drible, sempre que arriscar um passe preciso ou um chute certeiro. Alguém o acusará de querer humilhar o adversário, exagerar nas jogadas bonitas ou – como hoje – de insistir em chegar ao gol.

Até aqui, porém, deu sinais de que não vai se intimidar com esta marcação cerrada – em campo e fora dele. Tem a mania de jogar para frente nem se entusiasma com a firula sem sentido.

Tem personalidade para tomar a camisa de titular do Imortal e oferecer à torcida alegrias infindáveis … até que dure. Até que nossos dirigentes cometam a insanidade de perdê-lo para o futebol europeu como já fizeram com tantos outros craques que despontaram no Olímpico. Ou até que os toscos consigam convencê-lo de que não existe mais espaço nos gramados para quem acredita no talento do futebol.

Enquanto nada disto acontece, não percam o próximo espetáculo de L., 17 anos, craque de bola.

N.B: Apesar da prática de divulgar as iniciais de crianças e adolescentes envolvidos em atos infracionais ou submetidos a humilhação, o Estatuto da Criança e do Adolescente, desde 2003, proíbe qualquer tipo de identificação.

Faltaram os artistas da bola

 

De Ansedonia/Itália

Meninos brincam na praia

Dois irmãos brincam na praia de Tagliata, em Ansedonia, onde fica a velha casa de Puccini. Não me parecem meninos muito interessados com o que a obra criada pelo mestre da música nos oferece. Jogam futebol dentro d’água. Ou algo que se pareça com isso, pois usam muito mais as mãos do que os pés. Se divertem com uma dessas bolas de supermercado que ganham efeitos especiais com o vento que vem do Mediterrâneo.

De vez em quando, um deles tenta uma bicicleta e nas vezes que acerta, grita o nome de Ronaldo. Pela barriga do adolescente poderia pensar no Fenômeno; mas pelo malabarismo e proximidade só posso crer que se refira ao Gaúcho, que veste a camisa do Milan, por enquanto. O irmão parece torcer pela Juventus, pois se alcança a bola, narra como se fosse uma defesa de Buffon e, se espanta pra longe, chama por Cannavaro.

Tantas as vezes que ouvi da areia da praia o nome de Ronaldo que lembrei de outra figura pela qual cruzei quando estive em Cidade do Cabo, na primeira fase da Copa. Era um pintor de rua, desses que com alguns randis na mão e muita paciência para pousar fazem sua imagem nem sempre semelhante. Na espera de clientes, ele retocava um quadro que simulava uma disputa de bola entre Ronaldinho Gaúcho, com a camisa do Brasil, e David Beckham, com a da Inglaterra.

Craques na pintura

Dadas as circunstâncias desta Copa, a obra do pintor era quase uma ficção, pois os dois craques estavam fora de campo. Ronaldinho sequer foi convocado enquanto Beckham, devido a lesão, ganhou o direito apenas de desfilar seus ternos no banco inglês. Perguntei ao artista por que os dois e não jogadores que estivessem disputando o Mundial: “porque eles são artistas”, respondeu.

Têm razão, tanto os meninos de Tagliata quanto o pintor do Cabo. Se é para criarmos, idealizarmos um mundo perfeito, são as estrelas que devemos exaltar. E se algo chama atenção na Copa da África é o fato de chegar às semi-finais sem um candidato à craque.

Os mais cotados até a bola rolar frustraram as expectativas do torcedor. No Brasil, sem que a Ronaldinho fosse dado o direito de brilhar, Kaká jogou pela metade. Fez poucas arrancadas, sua jogada típica, e nenhum gol. Cristiano Ronaldo, de Portugal, ensaiou passes e dribles, mas produziu quase nada. Rooney, da Inglaterra, Drogba, da Costa do Marfim, e Etoo, de Camarões, não foram nada bem. Messi, da Argentina, foi quem mais rendeu, mas ficou devendo um gol e sumiu quando o time precisou dele, na derrota para a Alemanha.

Das quatro seleções que disputam vaga para a final, a partir de hoje, aparecem jogadores de qualidade. Na Holanda, Sneijder e Robben, e no Uruguai, Fórlan; na Alemanha, Podolski, Müller, Klose e Özil, enquanto na Espanha, Villa e Iniesta. Ressalto: são jogadores de qualidade, não craques (claro que adoraria tê-los no meu time e na seleção).

Qualquer um deles tem chances de se destacar no pôster do Campeão Mundial de 2010 – e merecem -, mas para se transformarem em personagem de uma obra de arte (ou um quadro de rua) e alimentarem a imaginação das crianças que brincam na praia precisarão ir muito além do futebol mostrado até aqui.