
“É importante ter um plano, sim, mas é importante a gente estar sempre sensível para novas oportunidades”
Flávio Augusto da Silva, empresário
Nem o Estado nem as multinacionais. O maior empregador no Brasil é o pequeno e o médio empreendedor, responsável pela contratação de 70% dos profissionais que ocupam uma vaga de trabalho de maneira formal. Isso significa que quanto mais a mentalidade empreendedora se espalhar mais empregos serão gerados. Apesar disso, é bem provável que você não encontre na área da educação, escolas dispostas a levar para o currículo essa mentalidade —- seja por preconceito seja por falta de visão seja por total desconexão com as possibilidades que a vida oferece aos jovens. Para o empresário Flávio Augusto Silva, entrevistado do Mundo Corporativo da CBN, o ensino tem de ir além dos caminhos convencionais:
“Não existe apenas um caminho, existem vários caminhos. Nossos jovens podem ser um atleta, um sacerdote, um artista, e, também, ser um empreendedor. Ele pode também no futuro ser aquele cara que vai investir o seu o dinheiro, o dinheiro dele, que ele economizou com muito sacrifício, com o objetivo de realizar um sonho e com isso gerar emprego”.
Flávio Augusto tem uma história que vai além do clichê “o vendedor de curso que virou dono do curso”, apesar de ter iniciado assim sua trajetória quando fundou a rede de idiomas Wise Up, em 1995. Quatro anos antes começou a trabalhar “casualmente” como vendedor de um curso de inglês, no Rio de Janeiro e, graças aos bons resultados, logo ascendeu na empresa, até entender que havia uma enorme oportunidade no ensino do idioma para adultos. Arriscou ao usar o cheque especial e os juros de 12% ao mês para abrir 24 escolas próprias nos primeiros três anos — o que não recomenda para ninguém. Em 18 anos, a rede se expandiu para 396 escolas. Um sucesso que foi vendido para a Abril Educação por R$ 877 milhões, em 2013. E recomprado, dois anos depois, pela metade do preço. Sim, ele voltou a ser o dono da Wise Up.
Antes de seguir nessa história, é bom saber o que leva um empresário a vender um negócio que está dando certo. Flávio Augusto recorre a metáfora do construtor de prédio:
“Não é muito da cultura brasileira entender que um construtor constrói um prédio para vender os apartamentos. Você não vai ver um construtor de repente olhar para o prédio e pensar: ‘eu vou ficar com esses 200 apartamentos para mim porque eu gostei muito’. O ápice do sucesso de um empreendedor é quando ele constrói um negócio a ponto do mercado desejar aquele negócio e pagar por ele. A venda de um negócio, é uma métrica de sucesso de um empreendedor”.
Para o empresário existem três possíveis destinos para uma empresa, dois deles deveriam ser evitados. O primeiro é o negócio quebrar; o segundo, o dono morrer; e o terceiro é ser vendido. Por isso, diz que, sempre quando tem um negócio, tem um plano de saída. Não entramos no tema, mas reportagens em sites de finanças e negócios dizem que Flávio Augusto estaria preparando a Wiser, empresa que comanda e investe na área da educação e da tecnologia, para um movimento estratégico que poderia ser tanto um IPO quanto a venda do grupo — plano de saída ou de expansão?
Verdade que, nos últimos anos, apesar e por causa da pandemia, Flávio Augusto e a Wiser têm se dedicado muito mais a entrar em novos negócios. Para ter ideia, comprou a Conquer, escola de negócios, e a AprovaTotal, plataforma que prepara estudantes para o vestibular, entre outros investimentos. Ter percebido o movimento que o mercado fazia em direção ao ensino online, antes do fechamento das escolas físicas, por causa da crise sanitária, permitiu que a Wiser se fortalecesse e se colocasse no mercado como “compradora”.
De volta as lições que aprendemos ao ouvir a entrevista de Flávio Augusto ao Mundo Corporativo. Ele recomenda muito cuidado na elaboração do plano de negócios da empresa, que pode ser impactado por questões tributárias, fiscais e trabalhistas.
“O erro mais comum que cometemos quando entramos no mundo do empreendedorismo é não fazer o plano de negócio ou subestimar o plano ou superestimar o plano, porque o plano vem com a necessidade de se ter um capital junto. E aí se você subdimensionar o capital no seu plano e demorar demais para chegar no seu ponto de equilíbrio, vai te faltar o capital de giro. Essa é aquela hora que o empresário, às vezes, começa a se endividar mais do que deveria. Ou aquele momento que ele vai ficar desesperado procurando um sócio. E de repente pode falir”.
Alerta aos novos empreendedores, que a empresa não é apenas uma planilha de Excel, transações financeiras ou desenvolvimento de produto. Antes de qualquer coisa —- palavras dele — é preciso saber gerir pessoas, se é que o empreendedor tenha a intenção de expandir seu negócio.
“Gente tem suas contradições, tem suas dificuldades, tem suas traições, tem um pouco de dor de cabeça, tem! Mas, também, gente tem muita alegria. Tem gente boa, tem gente talentosa, gente que quer crescer, gente que vai contribuir com você. Então, tem os dois lados da moeda. Agora, uma coisa é necessária, você tem que aprender a gerir pessoas e, infelizmente, isso não se aprende na escola”.
E como não se aprende nas escola formais, claro, Flávio Augusto foi lá e transformou isso em mais uma oportunidade.
Ouça a entrevista completa de Flávio Augusto, fundador da rede de idiomas Wise Up e CEO da Wiser, no Mundo Corporativo:
Colaboram com o Mundo Corporativo: Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Priscilla Gubiotti e Rafael Furugen.


